Verdade ou Desafio?




~*~



Hermione desejou saber um feitiço Ensurdecedor.



"Verdade ou desafio?"



"Desafio!"



"Eu desafio você a... me contar como Simas te convidou para o baile!"



Lilá dissolveu-se em risadinhas; Parvati juntou-se a ela.



Hermione lançou um olhar fulminante através das cortinas de sua cama e fez um barulho audível de nojo. Estavam assim pela última hora, desafiando-se a contar verdades que metade da escola já sabia. Nada entre elas era segredo, ou sagrado, nem interessante, e Hermione correu sua pena com força contra o pergaminho para fazer barulho, e lembrá-las que algumas pessoas estavam tentando terminar a lição de casa.



"Bem, ele esperou até que a maioria saísse do salão comunal ontem à noite..."



"Certo..."



"E aí ele disse bem rápido, sabe, já me convidou direto. E segurou a minha mão, por um minuto."



Parvati guinchou. Hermione resmungou, sem se importar em esconder o som. Não sabia se conseguiria suportar ouvir Lilá dividindo os detalhes físicos. Seu resmungo foi seguido por um curto silêncio, onde alguém soltou um muxoxo desdenhoso. Elas a ouviram. Ótimo, ela pensou, Talvez assim elas calem a boca.



Houveram sussurros abafados; Hermione não os entendeu, mas não queria realmente ouvi-los. Feliz pelo silêncio, virou a página de seu livro-texto de Aritmancia e pressionou os lábios ao ler uma pergunta difícil.



"Verdade ou desafio," anunciou Lilá bem alto.



"Desafio," respondeu Parvati.



Hermione suspirou. Devia saber que era bom demais para durar.



"Eu desafio você a me dizer qual você acha mais bonitinho," Lilá disse. "Harry Potter? Ou Ron Weasley?"



Hermione alcançou a ponta da sua cortina e puxou-a para encarar abertamente as duas. "Francamente!" disse rapidamente.



Parvati sorriu. "O que foi, Hermione? Você quer jogar?"



"É, Hermione, qual você acha mais bonitinho?"



"Não, eu não quero jogar," disse Hermione ferozmente, "E eu não sei porque vocês chamam isso de Verdade ou Desafio se nunca desafiam-se a fazer nada."



Parvati cruzou os braços. "Certo, então. Você nos dá um desafio."



"Eu desafio vocês a pararem de perguntar coisas estúpidas." E para provar seu apoio moral, Bichento subiu na cama de Hermione e curvou-se ao lado de seu colo. Lançou um olhar na direção de Lilá.



"Contente-se com isso: ou joga, ou volta para o seu livrinho idiota," disse Lilá, colocando as pernas na cama e mantendo os olhos em Bichento.



"O quarto é nosso também," declarou Parvati, "e nos desafiaremos como quisermos."



Hermione apertou a mão em volta da pena. "Imagino que não se importem se eu esteja tentando estudar!"



Parvati sorriu falsamente. "Não na sexta-feira, isso não."



"Olha, Hermione," disse Lilá de repente, seus olhos brilhando, "Vou te dizer uma coisa. Você joga uma rodada - " ela trocou um olhar com Parvati "- e nós ficaremos quietas depois disso."



Parvati inclinou a cabeça, e então concordou com a cabeça para Hermione. "Tudo bem?"



Hermione estreitou os olhos. Elas estavam sempre tentando incluí-la em seus jogos e conversas - não conseguia contar o número de vezes no ano passado em que elas a imploraram por informações sobre Krum. Honestamente não sabia porque se importavam. Ela não queria saber sobre elas. "Uma pergunta, e vocês vão parar, pelo resto da noite?" perguntou em tom de guerra.



Elas concordaram.



Hermione suspirou. "Tá," disse, colocando sua pena no criado mudo e deixando as mãos no colo. "Perguntem."



"Verdade ou desafio?" Parvati disse. Ela parecia maravilhada.



"Verdade."



"Ótimo. Então qual você acha mais bonitinho? Harry ou Ron?"



Hermione empalideceu e baixou os olhos para seus dedos. Não podia responder àquilo. Não à Parvati. Não sinceramente, de qualquer jeito. "Os dois são - sabe -" ela corou. "Bonitinhos."



Lilá rolou os olhos. "Você tem que escolher um," ela disse pacientemente. "É assim que funciona."



"Ah." Hermione abraçou as pernas e colocou a camisola por cima delas. Nunca deveria ter concordado em participar daquele jogo bobo. "E se eu não conseguir escolher?"



"Então você vai ter que correr até o alto das escadas do salão comunal e gritar 'Eu amo Neville Longbottom!" murmurou Parvati. Ela e Lilá explodiram em risadas.



"Eu NÃO vou!"



"Então responda à pergunta."



"Não!"



"Ah, vamos, Hermione," coaxou Lilá. "Não tem problema. Nós já sabemos de quem você realmente gosta."



O rosto de Hermione pegava fogo. "O que você quer dizer?"



"Ah, mas é óbvio! Com quem você passa a maior parte do tempo ajudando com feitiços e encantamentos?"



"O que - Neville?" começou Hermione. Elas não podiam pensar que gostava dele, só por causa disso.



"Ora, não banque a inocente," resmungou Parvati. "Nós a vimos beijá-lo em King's Cross."



"O quê?" gaguejou Hermione. "Quem? Eu nunca beijei -"



"Harry! Você o beijou na bochecha!"



A boca de Hermione abriu-se. Revoltada, procurou pela coberta, fechando punhos com as duas mãos. "Harry é meu amigo," ela disse claramente.



Lilá olhou-a como se soubesse das coisas. "Eu não vi você beijando Ron Weasley. Ele não é seu amigo?"



"Ron é -" começou Hermione, sentindo-se repentinamente sufocada. "É isso, Ron não passou por uma provação difícil e - ah, esqueçam!" Tirou a camisola das pernas e levantou Bichento, abraçando-o como se ele fosse protegê-la. "Eu não vou jogar isso!"



"Então não jogue." Parvati levantou uma sobrancelha para Lilá. "Ela é louca pelo Harry," ela disse, alto o bastante para Hermione ouvir, "porque eu fui com ele no baile do ano passado."



Hermione abriu a boca para protestar, depois fechou-a sem esperanças. Não havia porque fazer isso.



"Não que ela não tivesse um par!" respondeu Lilá. "Andando o ano inteiro com Vítor Krum."



"Vítor e eu somos apenas amigos," insistiu Hermione. Mas tinha dito aquilo tantas vezes que as palavras haviam perdido o sentido.



"Você é só amiga de um monte de gente, não?" respondeu Parvati sonsamente.



"Vítor Krum... Harry..."



Hermione não respondeu. Procurou pelas cortinas e começou a fechá-las. Parvati e Lilá podiam jogar o que quisessem, o quão alto quisessem. Ela não responderia mais nada.



"Ah, lá vai ela," disse Lilá, parecendo exasperada. "Não sei porque você não nos conta. Você sabe de quem nós gostamos. E todos já sabem sobre o Harry de qualquer jeito, então você só tem que admitir."



A mão de Hermione caiu e ela encarou-as. "Quem mais acha isso?"



"Todo mundo!"



"Desde aquele artigo no ano passado."



"Você está brincando." riu Hermione, aliviada. Se era apenas aquele artigo estúpido, então não havia nada com que se preocupar. "Foi a primeira vez em que eu pensei sobre o Harry dessa maneira."



"Então você admite que já pensou nele dessa maneira." sorriu Lilá. "Peguei você."



"Não - olha. É claro que eu me preocupo com Harry. Ele é meu amigo. Eu o amo."



Parvati e Lilá fizeram sons de surpresa e começaram com um ataque de risadinhas simultâneo. Hermione olhou-as, sentindo-se um pouco triste. Elas eram tão tolas quanto ao amor. "Esqueçam," ela disse. "Estou dizendo, eu nunca havia pensado em Harry como um namorado. Ele é... só o Harry."



"Só o Harry?" repetiu Parvati, sem acreditar. "Hermione, estamos falando de Harry Potter."



Hermione encolheu os ombros e procurou pela cortina novamente. Para ela, ele era, e sempre seria, só o Harry.



"O que você vai fazer?" provocou Lilá. "Suponho que você vá ignorá-lo e sair com Ron Weasley ao invés?"



Hermione corou e escondeu o rosto. Elas não sabem, disse à si mesma rapidamente. Elas estão apenas sendo idiotas.



"Ah, boa," riu Parvati. "Hermione e Ron."



"O que Padma disse sobre ele mesmo?"



"Que ele é um par terrível. Nem conversou com ela. Não que ela se importasse - você viu a roupa dele?"



Hermione enrijeceu-se. "Isso não foi -" ela começou, e parou. Não conversaria sobre a situação financeira dos Weasley com ninguém. Não era da conta delas.



"Pelo menos Harry dançou, mesmo que tenha sido só uma," continuou Parvati, jogando o cabelo para trás. "E mesmo que eu tivesse que guiar. Ron não dançou nada."



"E ele tem medo de aranhas, não tem?" perguntou Lilá. "Eu nunca conheci nenhum garoto que tivesse medo de aranhas. Quase caiu da cadeira na aula de Defesa Contra As Artes Das Trevas no ano passado, lembra? Quando Moody engordou aquelas enormes?"



Parvati riu. "Não é o grifinório mais corajoso, né!?"



Algo quente e raivoso passou pela cabeça de Hermione. "Sabem do que mais?" disse imprudentemente. "Ele já encarou uma Acromântula!"



Parvati e Lilá olharam para ela boquiabertas. "Uma... o quê?" perguntou Parvati falhando.



Percebendo seu erro, Hermione manteu a boca fechada. Ninguém ficou sabendo sobre o que aconteceu na Floresta Proibida, e ela não podia contar a ninguém mais do que devia.



"Você quer dizer na aula do Professor Lupin?" perguntou Lilá, um pouco timidamente.



"Ah. Você está falando sobre o bicho-papão?" Parvati lançou um olhar seco a Hermione. "Isso não conta. Ele nunca encarou uma de verdade - ele nem consegue pegar os filhotes, em Poções."



"Já o Harry é bastante corajoso, não é?" Lilá suspirou, lançando um sorriso significante para Hermione. "No Quadribol e tudo o mais? E ele realmente viu Você-Sabe-Quem, e passou por ele vivo. Aposto que ele lhe contou tudo." Ela suspirou novamente, e Hermione enojou-se. Elas falavam sobre a vida de Harry como se fosse uma historinha.



Parvati concordou, e suspirou como Lilá. "E ele é muito esperto," adicionou.



Hermione bufou. Elas estavam saindo do controle. "É, talvez se ele um dia fizesse a lição de casa," ela murmurou, olhando para seu livro de Aritmancia, que ainda estava aberto ao seu lado. Ela tinha que voltar ao trabalho.



"E o Ron não, apesar de tudo," apontou Lilá, enrugando a sobrancelha. "Ele sempre faz os comentários mais idiotas nas aulas - ele é tão imaturo!"



Hermione levantou a cabeça para lançá-la um olhar mal-humorado. Se ela queria chamar Ron de imaturo, era uma coisa. Ninguém mais tinha permissão.



"Lembra do que ele disse ano passado em Adivinhação?" perguntou Parvati. "Sobre os planetas?"



Lilá levantou o queixo. "Tão imaturo." ela repetiu.



"O quê?" disse Hermione, curiosa. "O que ele disse?"



Parvati olhou-a com a sobrancelha arqueada. "Ah, você quer jogar agora, não quer?"



Mas Lilá estava ávida demais para contar. "Ele disse - bom, primeiro você tem que saber que eu descobri um planeta inesperado na minha tabela, e a Professora Trelawney disse que era Urano. E aí o Ron idiota disse pra mim, 'Posso dar uma olhada no seu Urano?'* Ou algo assim."



Hermione riu falsamente.



Parvati e Lilá ficaram escandalizadas. "Bem, se isso é o tipo de coisa que você acha engraçado," disse Lilá indignada, "talvez você devesse sair com Ron Weasley!"



Em dúvida entre jogar seu livro de Aritmancia em Lilá ou esconder seu rosto no travesseiro, Hermione não disse nada.



"Ah, por favor. Tudo o que eles fazem é brigar." Parvati pegou uma mecha do cabelo de Lilá e começou a trançá-la. "Eles terminariam em uma semana."



Hermione pegou-se surpresa. "Nós não brigamos sempre," ela disse, e quando Lilá e Parvati olharam-na sem acreditar, ela ficou nervosa. "Bem, nós não brigamos," insistiu. "Nós debatemos. Nós discutimos."



Parvati levantou uma sobrancelha, e quando falou, foi num tom rápido e agudo que Hermione reconheceu ser uma imitação sua. "Ro-on, você tem que fazer a lição de casa."



Lilá riu baixinho e respondeu numa voz muito mais grave que o normal, imitando o sotaque sulista de Ron. "Ah, cala a boca, Hermione, vamos jogar xadrez."



"Não, eu tenho um trabalho para entregar daqui a seis meses então tenho que começar agora mesmo!"



"Você é muito sabe-tudo."



"Não sou! E você devia fazer seu trabalho também!"



"Nem vem!" Lilá terminou a encenação e começou a rir tanto que Parvati teve que soltar seu cabelo. As duas riram ainda mais, coradas com o esforço e a diversão.



Hermione olhou-as, chocada. Ela e Ron não soavam assim... se bem que, às vezes, eles tinha conversas horríveis... Mas Parvati e Lilá nunca foram tão observadoras. "Isso não significa nada para nós," disse fracamente. "Não é briga de verdade."



"Não - não -" interrompeu Parvati, sem ar, batendo no braço de Lilá e sentando-se ereta novamente. "A melhor delas foi depois do Baile, ano passado, sabe - Vítor Krum é um grande ogro idiota!" ela disse, sob a risada.



Lilá berrou. "Ah é - e se você não gosta disso, então você devia me convidar para o Baile primeiro da próxima vez, ao invés de esperar até o último minuto!"



Hermione boquiabriu-se e ficou de joelhos, inclinando-se tão rápido para frente que quase caiu da cama. "Vocês não ouviram isso! Como ouviram isso?"



"Vocês estavam gritando," lembrou Parvati.



Hermione fechou os olhos sob o constrangimento. Se elas ouviram, então o resto da Grifinória havia ouvido. Tentou não pensar nisso, mas era tão esmagadoramente ruim - todos sabiam. Todos ouviram-na dizer a Ron para convidá-la. Perguntou-se se conseguiria pedir transferência para Beauxbatons.



"Eu devo dizer, Hermione," continuou Parvati, soando impressionada, "foi uma ótima resposta. Eu não acho que ele soube o que o atingiu."



"Eu sei," concordou Lilá. "Às vezes com garotos, você tem realmente que insultá-los para que eles entendam."



Hermione abriu os olhos. "Huh?"



"Bem, ele gosta de você faz um bom tempo," Lilá disse compreensivamente. "Então, você sabe."



"Ele - gosta?"



"É bom você colocá-lo em seu lugar assim."



"Seu lugar."



"Se bem que," cortou Parvati, rindo, "se ele não entendeu, deve convidar você para o Baile primeiro esse ano."



A boca de Lilá se abriu em um 'o'. "Deve mesmo!" ela disse.



Hermione estava tão perdida, que dificilmente sabia por onde começar. "Como ele não... entenderia?" disse vagarosamente, pensando que eram Parvati e Lilá que não entenderam. Ela pretendeu dizer a Ron para convidá-la primeiro. Foi o que ela disse - gritou - não foi?



"Bem, ele não é muito brilhante, né!?" disse Parvati, voltando ao trabalho de trançar o cabelo de Lilá. "Ele deve pensar que você quer que ele convide você, quando você obviamente disse que ele perdeu sua chance."



Hermione olhou de Parvati para Lilá e percebeu que elas não estavam brincando. Certamente Ron sabia que era um convite, não um insulto. Mas se soou assim para Lilá e Parvati... Pensou no rosto de Ron, depois de ela ter dito aquilo - o jeito como boquiabriu-se, o jeito como ele gaguejou. Ele pareceu insultado... Hermione levou as pontas dos dedos às têmporas e massageou, tentando apagar a nova preocupação em sua mente. Talvez ele não tenha entendido. Talvez ela não tenha sido clara.



Talvez fosse por isso que ele não a havia convidado ainda.



"Tudo bem, Hermione," disso Lilá, depois de um curto silêncio. "Tenho certeza de que ele entendeu."



"Ele não vai convidar," disse Parvati, soando quase certa. "Não se preocupe, você foi bem clara. Estávamos apenas provocando. Tenho certeza de que Harry vai convidá-la. Vocês dois estão sempre juntos eu nunca o vejo com outra garota -"



"Acho que é minha vez," disse Hermione abruptamente, tirando os dedos da cabeça. "Eu faço uma pergunta, e então o jogo acaba e eu posso voltar para a lição de casa."



"Não," disse Lilá. "Você não respondeu a primeira pergunta."



"Eu disse que os dois são apresentáveis." A voz de Hermione estava desafinada.



"Não é uma resposta justa!"



"Ah, esqueça isso," disse Parvati rapidamente. "Eu tenho um desafio para você - um verdadeiro desafio, a partir do que ela diz que gosta."



"Aaaah," disse Lilá. "Ótimo."



Hermione encontrou o olhar de Parvati, mas não estava pensando no desafio. Queria falar com Ron - descobrir o que ele achava que ela quis dizer ano passado, durante aquela briga terrível. Não que houvesse um jeito de trazer o assunto à tona; não é o tipo de pergunta que uma pessoa faz.



"Hermione Granger," disse Parvati, enquadrando os ombros dramaticamente, "Eu desafio você a ir ao quarto dos meninos e bater na porta de Harry."



Na porta de Ron, Hermione pensou imediatamente. Levantou-se e pegou seu robe, sua mente voando em círculos. Convide-me antes que outro garoto faça isso, não como um último recurso. Lembrou o que disse, palavra por palavra. Aquilo passara muitas vezes em sua cabeça, de forma humilhante, antes de conseguir dormir na noite depois do Baile de Inverno. Não pôde achar furo naquelas palavras, não pôde pensar de que jeito elas podiam querer dizer outra coisa. Mas se Parvati e Lilá não haviam entendido, então talvez...



"Você não vai de verdade."



A voz de Lilá cortou seus pensamentos. Hermione olhou ausentemente para cima e terminou de apertar seu robe. "Claro que vou."



"Mas você é monitora!"



"Então ninguém vai me questionar." Hermione deixou o quarto e desceu as escadas. Pôde ouvir Parvati e Lilá seguindo-a de perto, mas seus passos pararam ao pé da escada dos garotos, e Hermione não olhou para trás. Realmente não ligava para o que pensavam. Ron deve ter entendido o que ela quis dizer - a conhecia melhor do que ninguém. Mesmo se tivessem ouvido errado, ele não teria. Mas então, e se ele tivesse? E se fosse por isso que ele estava tão distante dela, desde que o Baile for anunciado? E se aquilo o estivesse impedindo de convidá-la para ir com ele?



Bateu na porta do quarto masculino dos quintanistas, ainda perdida em pensamentos. Quando a porta abriu, Hermione se viu olhando acima para Ron, que a fitava abaixo, sua boca um pouco aberta. Ela corou, e repentinamente perguntou-se como iria se explicar.



"Hermione," disse Ron, com evidente surpresa em seu tom. "Oi," adicionou, depois de uma longa pausa. Ele soava estranho. Usava pijamas e seu cabelo estava uma bagunça.



"Oi," Hermione respondeu. Procurou algo a mais para dizer, mas nada veio. Ele ainda olhava para ela.



"Hermione?" Veio a voz de Harry atrás de Ron; Hermione não conseguia vê-lo, mas ele pareceu preocupado e alerta. "O que foi? Algo errado?"



"Ah, nada," respondeu rapidamente, perguntando-se porque sua voz estava tão aguda. "Erm... Ron? Posso falar com você por um segundo?"



Houve um grande "oooh" por trás de Ron, seguido por muitas risadinhas. Simas e Dino eram tão ruins quanto Lilá e Parvati, percebeu Hermione, e ela silenciosamente agradeceu Ron por fechar a porta atrás de si enquanto andava até o corredor.



"Deixe aberta!" gritou Dino. "Nós queremos ouvir!"



Ron fez um gesto rude por trás que Hermione preferiu não reparar, e bateu a porta. Suas orelhas estavam vermelhas, e manchas avermelhadas cresciam em suas bochechas. Hermione olhou abaixo para seus pés, que estavam nus e eram pálidos e sardentos. De algum jeito, eram bonitinhos.



"Então..." disse vagarosamente. "O que foi?"



Hermione engoliu. "Nada. Eu estava apenas me perguntando se... sabe aquela briga que nós tivemos ano passado?"



"Qual das?" Pausa. "Espera, isso é sobre o fale, é?"



Hermione levantou os olhos. "Não!" ela disse, chateada. "Nós não realmente brigamos sobre os elfos, brigamos? Nós não brigamos tanto assim, brigamos? Você acha que a gente briga demais?"



Ron coçou a cabeça. "Uh... não?"



"Nós só tivemos uma única briga ano passado, lembra? Depois do Baile de Inverno."



Ron ficou púrpura e Hermione olhou de volta para o chão. Nenhum dos dois nunca havia discutido a briga. Eles estavam educadamente ignorando-a por um ano, e ela sentiu-se quebrando um tabu entre eles, mencionando isso agora - mas ela tinha que saber.



"Ah," disse Ron. Sua voz parecia longe. "Certo." Encolhia seus grandes dedos, um de cada vez, no gasto e vermelho carpete.



Hermione cavou fundo por coragem. "Bom, quando eu disse... o que eu disse," ela começou, sentindo-se muito idiota, "talvez eu não tenha sido clara. Digo, eu pensei que fosse, mas - hoje eu percebi - que eu, eu não estava pensando nisso, mas aí - de qualquer jeito, na verdade, eu não quis dizer nada do que eu disse aquela noite, então é quase certo que você não entendeu o que eu realmente disse." Ela falava tão rápido que quase não entendia suas próprias palavras.



"Não, eu - acho que eu entendi," murmurou Ron. Ele pigarreou. "Então, sobre o baile... você quer -"



Mas Hermione tinha se esforçado tanto que nem estava ouvindo. "Olha, Ron," falou sem pensar, "apenas vá ao baile comigo, tá bom?"



Silêncio no corredor. Hermione ouvia sua própria respiração; pensou poder ouvir até mesmo seu coração, batendo atrás de suas orelhas. O silêncio pareceu durar uma eternidade.



"Ron?" disse rapidamente, e quando Ron não respondeu Hermione desejou virar-se e sair correndo. Ao invés, inspirou profundamente. "Esquece," disse rápido, "se você já fez planos com outra pessoa, então tudo be-"



"É - tá bom. Eu vou." disse Ron.



"Ah!" Hermione se atreveu a olhar para ele. Ele a encarava, mas quando ela alcançou seus olhos, eles desviaram de seu rosto. "Bom. Então tá."



Ele abriu a boca, e fechou novamente.



Hermione estava desorientada. "Boa noite, então," disse finalmente. E antes das coisas ficarem mais desconfortáveis, virou-se e saiu andando sem olhar para trás. Ouviu-o abrir a porta do quarto e encolheu-se de vergonha ao ouvir altas e falsas imitações de sons de beijo.



"Eu te amo, Hermione!" disse uma voz que soava suspeitamente como Simas, em mais uma imitação. Todos os garotos riram maldosamente. Ron mandou-os fazer algo tão rude que fez os olhos de Hermione se estenderem. Harry riu alto.



"Cala a boca, Harry," resmungou Ron. A porta dos meninos bateu.



"Cala a boca, Harry," ecoou Hermione, por sua respiração. Sentiu a testa com as costas da mão. Estava quente. Desceu as escadas para seu próprio dormitório, seu coração batendo num ritmo irregular. Batera em sua porta no meio da noite com seu pijama, e convidou-o para o Baile de inverno.



E ele disse sim.



"Aquilo foi tão fofo!" Lilá disse alegremente, um segundo depois de Hermione ter entrado em seu quarto. Hermione lançou-a um olhar sem expressão.



"Ouvimos você da escada," explicou Parvati, sorrindo. "Você convidou Ron!"



"Você não estava brincando sobre o Harry!"



"Ron realmente é mais bonito que ele, eu acho."



"Bem, de qualquer jeito, ele é mais alto."



"E você viu o irmão mais velho dele no torneio, ano passado?" Parvati fez um ruído apreciativo. "Se ele ficar assim..."



Hermione escalou sua cama e agarrou Bichento, que, por uma vez na vida, não protestou. Nem Hermione, enquanto Parvati e Lilá continuavam a falar com entusiasmo sobre coisas de garota. De algum jeito, aquilo não a incomodava tanto agora. Além do mais, ela não teria de responder a nada se não quisesse.



"Ei, Hermione, o que você vai usar? A roupa que você usou ano passado era linda."



"Não... substituí aquela."



"Suponho que Ron vai usar as velhas dele," disse Parvati em voz baixa. "Isso porque, ele é-"



"Shh," disse Lilá. "Não."



"Não... Ele tem uma roupa nova," murmurou Hermione, escondendo-se embaixo das cobertas, ainda segurando seu gato firmemente. Ficou lá e fechou os olhos, sentindo-se tonta. Parvati e Lilá continuaram a conversa, mas ela não ouviu muito do que elas falaram. Ela iria ao Baile com Ron. Ele entraria com ela no Salão Principal. Dançaria com ela... provavelmente. Enrugou as sobrancelhas. Ele talvez não queira dançar. Talvez ele nem queira ir. Percebeu o quão silencioso ele ficara, quando o convidou - talvez estivesse pensando num bom jeito de chateá-la. Ela o deixara na mão. Porque havia feito aquilo?



"... é claro. É óbvio que ele diria sim," dizia Parvati sensatamente.



"Ah, eu soube que ele iria com ela no momento em que ela convidou."



O estômago de Hermione doeu. "Vamos como amigos," ela disse, tentando convencer a si mesma que não se importava. Mas Lilá e Parvati riram.



"Ah, certo," disse Parvati. "Aposto que ele não sabe disso."



"Eu disse a você," falou Lilá, "ele gosta de você."



Hermione abriu os olhos. "Porque você diz isso?" perguntou, sentindo que corara. Nunca havia tido uma conversa assim antes, mas queria tanto acreditar em Lilá que a curiosidade levou a melhor sobre ela.



"Primeiro, ele está sempre olhando para você."



Hermione corou mais ainda. "Ele teria de olhar pra mim às vezes, se nós somos amigos."



"Amigos não se olham assim," disse Parvati, e lançou a Lilá um olhar imobilizante e exagerado.



Hermione riu baixo. "Ele não faz isso," disse, torcendo para que ele fizesse.



"E ele estava assustadoramente com ciúmes de Vítor Krum," observou Lilá.



"Ele a levou para a Copa Mundial, não levou?"



"Você passou metade do verão na casa dele? Ele convidou você?"



"Aposto que ele beija você no Natal."



Hermione arfou e sentou-se rapidamente; Bichento ficou tão assustado que foi embora, sibilando. Se Ron a beijasse... Teve uma repentina lembrança de estar perto dele no corredor, em frente ao seu quarto. Ele era tão alto, e tinha seu próprio... cheiro. Sua própria quentura. Ele era como... um grande aquecedor, lá com seus pijamas. Ele era muito amigo seu, mas era um garoto, também. Ela já sabia como era estar perto dele, contra ele, abraçando-o. A idéia de que ele poderia descer - Ron - e tocar seus lábios nos dela... Era quase insuportável. "Ele não beijaria!" sussurrou.



Lilá sorriu. "Você quer que ele beije?" disse sonhadoramente. "É a coisa mais fofa do mundo."



A boca de Parvati abriu-se e ela se virou para Lilá. "O que? Como você sabe?"



Lilá deu uma risadinha esganiçada e bateu com a mão em sua boca. "Porque ontem à noite," ela disse através dos dedos, "aconteceram mais coisas do que mãos dadas. Eu ia esperar para te contar depois -"



"Conte-me AGORA," mandou Parvati.



Hermione rolou e deixou-as falar, sem se esforçar em fazê-las pararem. Agora, suas vozes falharam para longe de seus pensamentos, que consistiam na maior parte sobre Ron... e como foi a sensação de estar perto dele... e como seria quando ele colocasse suas mãos sobre ela e dançasse com ela... e em como era possível que no final de tudo, ele a olharia como olhou no corredor dos meninos... e então talvez ele desse um passo à frente...



Hermione caiu no sono tentando imaginar a sensação exata de estar sendo beijada. Em algum lugar fora de seus sonhos, ela sentiu um pequeno peso ser tirado de seu colchão, seguido por um curto tud de um livro sendo fechado e o som de duas pessoas gentilmente fechando suas cortinas, uma de cada lado.







* Como não tinha como traduzir isso para o português, vou explicar aqui. Seria algo como ‘ver seu ânus’. Bem Ron, não!? -_-‘

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