Eu esbarro no Afilhado do meu

Eu esbarro no Afilhado do meu



Notas da autora:

1 – “Afilhado” é uma tradução de “Godchild”, o título da última saga do mangá de Count Cain. Desculpem pelo trocadilho infame!/o

2 – “Aniki” é a palavra japonesa para “irmão mais velho”. Eu não ia por a Merry gritando “Irmão mais velho!!”, aniki soa bem melhor!xD

Capítulo II – “Eu esbarro no Afilhado do meu tataravô!” (ou “Eu sou desastrado sim e daí, porra!”).

Era como se tivessem tomado um porre realmente espetacular de vodka. Ou simplesmente batido a cabeça bem forte na quina da cama. As cores frias giravam e tudo o que podiam distinguir era o céu nublado e escuro de uma cidade estranhamente familiar. Sirius foi o primeiro a se levantar, com a mão esfregando a testa.

- Onde diabos estamos?! – resmungou, o tato reconhecendo tijolos a sua direita.

- Provavelmente não em Nova Iorque... – um Remo muito atordoado, ajeitando a mochila nas costas, respondeu, se virando depois para ajudar o garoto de óculos que resmungava palavrões inteligíveis.

- Mmmfwhatafucffnnnn.... PUTAQUEOPARIU! Isso não é Nova Iorque nem que eu quisesse! Remo!! O que você fez?!

- Er...Nada? Eu ajustei direitinho os ponteiros, ora!!

- Eu não perguntei da porra dos ponteiros!! O que você pôs no meu suco do jantar?! Tá tudo rodando, cacete! – Tiago massageava as têmporas, procurando enfocar algo no beco onde estavam, quando uma carruagem passou trotando na rua de pedra bruta.

- Carruagem? Estamos em algum vilarejo bruxo, por acaso? – Sirius foi tirado de seus devaneios de cálculos quando sentiu a mão do lobisomem puxar sua camisa e, em seguida, apontar para o alto.

As badaladas do Big Ben anunciavam seis da tarde quando o grito dos três amigos ecoou em um beco de Londres.

- Eu não acredito! Eu não acredito! Isso não Londres! Mas também não é Nova Iorque! Onde raios estamos? – ao som das reclamações de Sirius, os três saíram do beco. Realmente, o barulho que ouviram era mesmo o de carruagem, algumas passando pela avenida principal há alguns metros do beco, postes de metal escuro adornando as bordas da calçada e pessoas vestidas de um modo peculiar passando pra lá e pra cá apressadas. Os vestidos, ternos e cartolas responderam as dúvidas do animago. Sirius abaixou a cabeça ante o risinho de escárnio de Tiago, já antecipando o sermão.

- Você sabe que Remo fez algo errado por sua idéia maluca, não?

- Sei.

- Você sabe o quanto a minha vontade de te esganar está gritando dentro de mim “Me use! Me use!”, não?

- Sei.

- Você sabe que nós voltamos no tempo, não?

- Sei.

- Você sabe que estamos em Londres, no século XIX, não?

- Sei.

- O que você tem a dizer sobre isso?

- Que minha coleção de relógios antigos vai ficar muito grata com esta viagem?

- Resposta errada. Comece a correr. – murmurou o garoto de óculos, entre os dentes, apesar de que o moreno nem precisava deste aviso para disparar ao som das gargalhadas de um Remo que quase se dobrava no chão.

Reto, esquina, esquina, reto de novo, “Desculpe, madame!”, “Que mulher estranha, usando roupas de homem!”, “Viu o cabelo dela? Tem tinta prateada neste tempo?”.

- OUCH! – a voz de Sirius anunciou o óbvio, alguns metros depois de ter dobrado para a esquerda, poucos segundos depois de ser encontrado por Tiago e Remo. A cena era linda demais: dois seres de cabelos extremamente negros no chão, tecido negro sujo de lama, cartola que voou três metros de distância. Tiago podia até ver as estrelinhas de desenho animado em volta da cabeça dos dois.

- Desculpe-nos, moço, o nosso amigo aqui tem sérios problemas mentais... – disse um Remo sem graça para o rapaz caído de bruços, levantando Sirius e espanando suas roupas. Sussurrou baixo, com tom de raiva. – Almofadinhas, você tem noção da vergonha que estamos... – parou, assim que levantou o rosto e fitou a cara de ponto de interrogação de um “Sirius” de olhos absurdamente verdes. Gargalhadas ao fundo.

- Remo... – Tiago quase não conseguia falar, o corpo arqueando com o riso. – o nosso adorável cãozinho estava vindo de trás...

Um tomate arregalou os olhos âmbar, paralisado. Segundos que pareciam milênios.

- Hey, Aluado, eu te desculpo por ter tirado uma casquinha do “almofadinha” aí! – disse o animago em um tom sutil de sarcasmo enquanto Remo se afastava do rapaz, ainda em estado de choque, gaguejando desculpas a cada meio segundo.

- Almofadinha? – o dono dos olhos verdes se levantou espanando a cartola, fitando Sirius que estava pondo o casaco para esconder a mancha de lama da rua. – De onde...

- Senhor Hargreaves!

- Aniki! – duas vozes, uma masculina e outra feminina, interromperam as palavras. Um homem de aparentes vinte e cinco anos, cabelos curtos e prateados, vestindo algo parecido com um terno branco, ajudou Cain a prender de novo a capa, murmurando algo preocupado. A dona da voz feminina era uma garotinha de uns dez anos de cabelos longos e loiros, usando um vestido vinho adornado por renda branca.

- Aniki, o que houve? Porque você correu assim? – a menina segurava um urso de pelúcia e olhava do irmão para Sirius. – Quem são eles?

- Nada, Merry, nada. – e virando-se para o rapaz de cabelos prateados. – Vamos voltar, Riff? Eu preciso ver algumas coisas na biblioteca...

- Espere um pouco! – a voz de Sirius foi ouvida, junto com um gemido de vergonha de Remo, que cobria o rosto com as mãos. Nunca se sentira tão sem graça. – O tiozinho aí te chamou de um nome!

- Claro, esperava o que, que eu não tivesse um?

- Não, tonto, se eu ouvi bem, você é Sei-lá-quem-mal-educado Hargreaves, não?

- Sim, Cain Hargreaves para sua informação Sei-lá-quem-ainda-mais-mal-educado. Porque?

- Por acaso, somente por acaso... – Sirius estreitou os olhos cinzas. – Você conhece o sobrenome Black?

- Quem é... – Cain repetiu o gesto do animago, confuso, antes de ser interrompido por Tiago.

- Peraí! Não vai me dizer que vocês se conhecem! Não! Deus não vai deixar isso! Não agora! Vai? – perguntou, olhando desesperadamente para o céu cinzento. Uma trovoada e pingos d’água começaram a embaçar os óculos do animago. – "timo!! "timo! Fique com suas coincidências animalescas, Senhor Deus!! Eu me acerto contigo quando for praí! Você vai ver!!!

Desta vez foi Remo a falar, a voz já mais calma e o rubor apenas corando de leve as bochechas.

- Desculpe por isso tudo, senhor Hargreaves, nós acabamos de chegar de uma viagem muito longa e cansativa, mas as pessoas que nos esperavam não vieram nos buscar no local combinado... – sussurros inaudíveis de Sirius: “E eu ainda me surpreendo com a capacidade dele criar desculpas”.- E como estou vendo, vocês parecem conhecer a família um do outro, não? – diante do aceno positivo e confuso dos dois morenos, Remo continuou. – Será que dava para irmos para algum lugar seco e conversar sobre isso sem que haja a possibilidade de pegarmos um resfriado?

Cain analisou lentamente os três de cima a baixo. Realmente, para vestirem aquele tipo de roupa, devem ter vindo de um lugar particularmente longe, mas isso não o convencera muito. Porém, aquele menino mencionou a família Black. Abaixou a cabeça e, com um aceno de mão, mandou Riff pegar a carruagem para a mansão Hargreaves.

- Tiago, quer fazer o maldito favor de parar de secar o espelho ou seu ego não permite? – um sussurro quase inaudível veio de Remo, acomodado ao lado dos dois amigos em um elegante sofá vinho na sala de estar da mansão Hargreaves.

- Então, acho que devemos algumas apresentações antes de tudo, não? – Cain falou quebrando o silêncio solene quando Riff acabara de entrar com uma bandeja de chá. Se levantou e estendeu a mão a Tiago, que, junto com os outros, havia o imitado. – Conde Cain Hargreaves, a minha irmãzinha se chama Merryweather Hargreaves e pode chamá-lo de Riff. – acenou para o pseudomordomo com um sorriso.

- Tiago Potter.

- Remus J. Lupin.

- Sirius Black. – o animago notou um pequeno sorriso nos lábios do conde.

- E então... – Cain se sentou de novo, pegando a xícara oferecida. – Podem explicar como chegaram aqui. Não pensem que acreditei naquela história, acho que nenhuma pessoa correria pelas ruas de Londres com as calças rasgadas e não demonstraria qualquer respeito a um nobre se esbarrasse nele como você o fez. Ademais, a esta altura, vocês já deveriam saber o endereço daqueles que os esperavam.

“Mentiras impecáveis, hein, Remo?”

- Nós não podemos lhe explicar. – antes a um arqueio de sobrancelha de Merry, Remo continuou, engolindo em seco. – Escutem... Na verdade...

- Somos espiões. Estamos fazendo um serviço altamente secreto e nossos objetivos...

- Podem parar de achar que somos idiotas? – bufou a menina, cruzando os braços.

- Está bem, você pediu.... – sorriu um Sirius com uma expressão triunfante no rosto. – Na verdade, viemos do futuro. Somos uma raça alienígena que procura cérebros humanos altamente perturbados, como é, obviamente, o caso de nosso anfitrião, para pesquisas. Para depois comê-los com batatas, isto é meio óbvio.

Silêncio.

- Passou um anjo... – comentou Merry, absorta em observar o relógio tique-taquear.

- Sirius Black. – começou o conde, abrindo os olhos que pareciam tem um brilho estranhamente dourado. – Porque não perguntou logo se somos trouxas ou bruxos? A sua indireta foi um tanto quanto desnecessária. Eu sei que vocês tem feitiços de memória bastante potentes para terem se saído bem desta situação, caso não soubéssemos nada sobre a sua “sociedade ultra secreta de magia”. Mas vou responder de acordo com você. Sobre vocês terem vindo do futuro, não duvido. Munidos de um vira-tempo, ou algo parecido, isso é bem fácil. Mas a parte de seres alienígenas, acho que se fossem tão evoluídos como sua teoria indica, não teriam tanto mau gosto na hora de se vestir.

Os três pararam de fitar o chão/teto/espelho para voltar os olhos ao anfitrião que vestia seu sorriso mais cínico.

- Você...é bruxo?

- Na verdade, não. Mas existem n outras maneiras de um trouxa saber da existência desta sociedade, não acham? Por exemplo, eu poderia ser casado com uma bruxa...

- Não, não poderia. A família Hargreaves se orgulha de ser puro-sangue. Já teriam tirado seu nome da árvore genealógica, se você fosse um aborto.

- Então é por isso que Sirius...? Oxit, e eu pensando que o intelecto dele fosse um pouquinho maior do que uma ameixa por cinco minutos!

- Remus!

- Pode falar então o que você é, Cain, se não é trouxa, nem bruxo e muito menos um aborto?

- Black, se tivesse lido com mais afinco o livro que provavelmente tem em sua casa, saberia. Mas bem, eu disse que não era bruxo, na verdade é apenas uma convenção. No meu sangue e no de Merry corre a magia tão “nobremente protegida” pela nossa família, mas eu não fui instruído. Não freqüentei escola alguma de magia e sequer sabia de qualquer coisa até os doze anos.

- Mas porque...?

- Tudo com seu tempo, Potter. Está ficando tarde, Merry precisa ir dormir e vocês precisam descansar. Riff vai providenciar seus quartos e... ahn... roupas decentes. Amanhã teremos muito a conversar. – e saiu, levando uma protestante Merry pela mão.

- Mas que filho de uma...

- O que disse? – o pseudo-mordomo indagou com admirável respeito, ou inocência, abrindo a porta e os conduzindo aos quartos.

- Eu disse “Mas que linda lua!”.

- Meu mestre acorda às nove, vou acordá-los a esta hora. Boa noite.

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