Um - A confissão de Rabicho

Um - A confissão de Rabicho




*note que esse capítulo, à excessão dos parágrafos finais devidamente demarcados, é uma transcrição direta do capítulo 19 de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban*




 



 



 



                                                                   --- CAPÍTULO UM ---



                                                                  A Confissão de Rabicho



 



 



 



     — Harry — disse Lupin depressa —, você não está vendo? Todo este tempo pensamos que Sirius tinha traído seus pais e que Pedro o perseguira... Mas foi o contrário, você não está vendo? Pedro traiu sua mãe e seu pai... Sirius perseguiu Pedro...



     — NÃO É VERDADE! — berrou Harry. — ELE ERA O FIEL DO SEGREDO DELES! ELE DISSE ISSO ANTES DO SENHOR APARECER. ELE CONFESSOU QUE MATOU MEUS PAIS!



     O garoto apontava para Black, que sacudia a cabeça devagarinho; de repente seus olhos fundos ficaram excessivamente brilhantes.



     — Harry... Foi o mesmo que ter matado — disse, rouco. — Convenci Lílian e Tiago a entregarem o segredo a Pedro no último instante, convenci-os a usar Pedro como fiel do segredo, em vez de mim... A culpa é minha, eu sei... Na noite em que eles morreram, eu tinha combinado de procurar Pedro para verificar se ele continuava bem, mas quando cheguei ao esconderijo ele não estava. Mas não havia sinais de luta. Achei estranho. Fiquei apavorado. Corri na mesma hora direto para a casa dos seus pais. E quando vi a casa destruída e os corpos deles... Percebi o que Pedro devia ter feito. O que eu tinha feito.



     A voz dele se partiu. Ele virou as costas.



     — Basta — disse Lupin, e havia um tom inflexível em sua voz que Harry nunca ouvira antes. — Tem uma maneira de provar o que realmente aconteceu. Rony, me dê esse rato.



     — Que é que o senhor vai fazer com ele se eu der? — perguntou Rony, tenso.



     — Obrigá-lo a se revelar — disse Lupin. — Se ele for realmente um rato, não se machucará.



     Rony hesitou. Então, finalmente estendeu a mão e entregou Perebas a Lupin. O rato começou a guinchar sem parar, se contorcendo, os olhinhos negros saltando das órbitas.



     — Está pronto, Sirius? — perguntou Lupin.



     Black já apanhara a varinha de Snape na cama. Aproximou-se de Lupin e do rato que se debatia e seus olhos úmidos pareceram, de repente, arder em seu rosto.



     — Juntos? — perguntou em voz baixa.



     — Acho melhor — confirmou Lupin, segurando Perebas apertado em uma das mãos e a varinha na outra. — Quando eu contar três. UM... DOIS... TRÊS!



     Lampejos branco-azulados irromperam das duas varinhas; por um instante, Perebas parou no ar, o corpinho cinzento revirandose alucinadamente, Rony berrou, o rato caiu e bateu no chão. Seguiu-se novo lampejo ofuscante e então...



     Foi como assistir a um filme de uma árvore em crescimento. Surgiu uma cabeça no chão; brotaram membros; um momento depois havia um homem onde antes estivera Perebas, apertando e torcendo as mãos. Bichento bufava e rosnava na cama; os pelos das costas eriçados.



     Era um homem muito baixo, quase do tamanho de Harry e Hermione. Seus cabelos finos e descoloridos estavam malcuidados e o cocuruto da cabeça era careca. Tinha o aspecto flácido de um homem gorducho que perdera muito peso em pouco tempo. A pele estava enrugada, quase como a pelagem do Perebas, e havia um ar ratinheiro em volta do seu nariz fino e dos olhos muito miúdos e lacrimosos. Ele olhou para os presentes, um a um, respirando raso e depressa. Harry viu seus olhos correrem para a porta e voltarem.



     — Ora, ora, olá, Pedro — saudou-o Lupin educadamente, como se fosse freqüente ratos virarem velhos colegas de escola à sua volta. — Há quanto tempo!



     — S... Sirius R... Remo. — Até a voz de Pettigrew lembrava um guincho. Novamente seus olhos correram para a porta. — Meus amigos... Meus velhos amigos...



     A varinha de Black se ergueu, mas Lupin agarrou-o pelo pulso, lançandolhe um olhar de censura, depois tornou a se virar para Pettigrew, com a voz leve e displicente.



     — Estávamos tendo uma conversinha, Pedro, sobre os acontecimentos da noite em que Lílian e Tiago morreram. Você talvez tenha perdido os detalhes enquanto guinchava na cama...



     — Remo — ofegou Pettigrew, e Harry observou que se formavam gotas de suor em seu rosto lívido —, você não acredita nele, acredita...? Ele tentou me matar, Remo...



     — Foi o que ouvimos dizer — respondeu Lupin, mais friamente. — Eu gostaria de esclarecer algumas coisas com você, Pedro, se você quiser ter...



     — Ele veio tentar me matar outra vez! — guinchou Pettigrew de repente, apontando para Black, e Harry percebeu que o homem usara o dedo médio, porque lhe faltava o indicador. — Ele matou Lílian e Tiago e agora vai me matar também... Você tem que me ajudar, Remo...



     O rosto de Black parecia mais caveiroso que nunca ao fixar os olhos fundos em Pettigrew.



     — Ninguém vai tentar matá-lo até resolvermos umas coisas — disse Lupin.



     — Resolvermos umas coisas? — guinchou Pettigrew, mais uma vez olhando desesperado para os lados, registrando as janelas pregadas e, mais uma vez, a única porta. — Eu sabia que ele viria atrás de mim! Sabia que ele voltaria para me pegar! Estou esperando isso há doze anos!



     — Você sabia que Sirius ia fugir de Azkaban? — perguntou Lupin, com a testa franzida. — Sabendo que ninguém jamais fez isso antes?



     — Ele tem poderes das trevas com os quais a gente só consegue sonhar! — gritou Pettigrew com voz aguda. — De que outro jeito fugiria de lá? Suponho que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tenha lhe ensinado alguns truques!



     Black começou a rir, uma risada horrível, sem alegria, que encheu o quarto todo.



     — Voldemort me ensinou alguns truques?



     Pettigrew se encolheu como se Black tivesse brandido um chicote contra ele.



     — Que foi, se apavorou de ouvir o nome do seu velho mestre? — perguntou Black. — Não o culpo, Pedro. O pessoal dele não anda muito satisfeito com você, não é mesmo?



     — Não sei o que você quer dizer com isso, Sirius... — murmurou Pettigrew, respirando mais rapidamente que nunca. Todo o seu rosto brilhava de suor agora.



     — Você não andou se escondendo de mim esses doze anos. Andou se escondendo dos seguidores de Voldemort. Eu soube de umas coisas em Azkaban, Pedro... Todos pensam que você está morto ou já o teriam chamado a prestar contas... Ouvi-os gritar todo o tipo de coisa durante o sono. Parece que acham que o traidor os traiu também. Voldemort foi à casa dos Potter confiando em uma informação sua... E Voldemort perdeu o poder lá. E nem todos os seguidores dele foram parar em Azkaban, não é mesmo? Ainda há muitos por aí, esperando a hora, fingindo que reconheceram seus erros... Se chegarem, a saber, que você continua vivo, Pedro...



     — Não sei... Do que está falando... — respondeu Pettigrew, mais esganiçado que nunca. Ele enxugou o rosto na manga e ergueu os olhos para Lupin. — Você não acredita nessa... Nessa loucura, Remo...



     — Devo admitir, Pedro, que acho difícil compreender por que um homem inocente iria querer passar doze anos sob a forma de um rato.



     — Inocente, mas apavorado! — guinchou Pettigrew. — Se os seguidores de Voldemort estivessem atrás de mim, seria porque mandei um dos seus melhores homens para Azkaban, o espião, Sirius Black!



     O rosto de Black se contorceu.



     — Como é que você se atreve? — rosnou ele, parecendo de repente o cachorro do tamanho de um urso que ele fora há pouco. — Eu, espião do Voldemort? Quando foi que andei espreitando gente mais forte e mais poderosa do que eu? Agora você, Pedro, jamais vou entender por que não reparei desde o começo que você era o espião; você sempre gostou de amigos grandalhões que o protegessem, não é mesmo? Você costumava nos acompanhar... A mim e ao Remo... E ao Tiago...



     Pettigrew tornou a enxugar o rosto; estava quase ofegando, sem ar.



     — Eu, espião... Você deve ter perdido o juízo... Nunca... Não sei como pode dizer uma...



     — Lílian e Tiago só fizeram de você o fiel do segredo porque eu sugeri — sibilou Black, tão venenosamente que Pettigrew deu um passo atrás. — Achei que era o plano perfeito... Um blefe... Voldemort com certeza viria atrás de mim, jamais sonharia que os dois usariam um sujeito fraco e sem talento como você... Deve ter sido a hora mais sublime de sua vida infeliz quando você contou a Voldemort que podia lhe entregar os Potter.



     Pettigrew resmungava, perturbado; Harry entreouvia palavras como "extravagante" e "demência", mas não conseguia deixar de prestar mais atenção à palidez do rosto de Pettigrew e ao jeito com que seus olhos continuavam a correr para as janelas e a porta.



     — Profº. Lupin — disse Hermione timidamente. — Posso... Posso dizer uma coisa?



     — Claro, Hermione — disse Lupin cortesmente.



     — Bem... Perebas... Quero dizer, esse... Esse homem... Ele dormiu no quarto de Harry durante três anos. Se está trabalhando para Você-Sabe-Quem, como é que ele nunca tentou fazer mal a Harry antes?



     — Taí! — exclamou Pettigrew com voz esganiçada, apontando para Hermione a mão mutilada. — Muito obrigado! Está vendo, Remo? Nunca toquei em um fio de cabelo de Harry! Por que iria fazer isso?



     — Vou lhe dizer o porquê — falou Black. — Porque você nunca fez nada, nem a ninguém nem para ninguém, sem saber o que poderia ganhar com isso. Voldemort está foragido há doze anos, dizem que está semimorto. Você não ia matar bem debaixo do nariz de Alvo Dumbledore, por causa de um bruxo moribundo que perdeu todo o poder, ia? Não, você ia querer ter certeza de que ele era o valentão do colégio antes de voltar para o lado dele, não ia? Por que outra razão você procurou uma família de bruxos para o acolher? Para ficar de ouvido atento às novidades, não é mesmo, Pedro? Caso o seu velho protetor recuperasse a antiga força e fosse seguro se juntar a ele...



     Pettigrew abriu a boca e tornou a fechá-la várias vezes. Parecia ter perdido a capacidade de falar.



     — Hum... Sr. Black... Sirius? — disse Hermione.



     Black se assustou ao ouvir alguém tratá-lo assim, com tanta polidez, e encarou Hermione como se nunca tivesse visto nada parecido.



     — Se o senhor não se importar que eu pergunte, como... Como foi que o senhor fugiu de Azkaban, se não usou artes das trevas?



     — Muito obrigado — exclamou Pettigrew, acenando freneticamente com a cabeça na direção da garota. — Exatamente! Precisamente o que eu...



     Mas Lupin o fez calar com um olhar. Black franziu ligeiramente a testa para Hermione, mas não porque estivesse aborrecido com ela. Parecia estar considerando a pergunta.



     — Não sei como foi que fugi — disse lentamente. — Acho que a única razão por que nunca perdi o juízo é porque sabia que era inocente. Isto não era um pensamento feliz, então os dementadores não podiam sugá-lo de mim... Mas serviu para me manter lúcido e consciente de quem eu era... Me ajudou a conservar meus poderes quando tudo se tornava... Excessivo... Eu conseguia me transformar na cela... Virar cachorro. Os dementadores não conseguem enxergar, sabe... — Ele engoliu em seco. — Aproximam-se das pessoas se alimentando de suas emoções... Eles percebiam que os meus sentimentos eram menos... Menos humanos, menos complexos quando eu era cachorro... Mas achavam, é claro, que eu estava perdendo o juízo como todos os prisioneiros de lá, por isso não se incomodavam. Mas eu fiquei fraco, muito fraco, e não tinha esperança de afastá-los sem uma varinha...



     "Mas, então, vi Pedro naquela foto... E compreendi que ele estava em Hogwarts com Harry... Perfeitamente colocado para agir, se lhe chegasse a menor notícia de que o partido das trevas estava reunindo forças novamente..."



     Pettigrew sacudia a cabeça, murmurando em silêncio, mas todo o tempo seus olhos se fixavam em Black como se estivesse hipnotizado.



     — ... pronto para atacar no momento em que se certificasse de que contava com aliados... E para entregar o último Potter. Se lhes entregasse Harry, quem se atreveria a dizer que traíra Lord Voldemort? Pedro seria recebido de volta com todas as honras...



     "Então, entendem, eu tinha que fazer alguma coisa. Era o único que sabia que ele continuava vivo..." 



     Harry se lembrou do que o Sr. Weasley contara à mulher: "Os guardas dizem que ele anda falando durante o sono... sempre as mesmas palavras... Ele está em Hogwarts”.



     — Era como se alguém tivesse acendido uma fogueira na minha cabeça, e os dementadores não pudessem destruí-la... Não era um pensamento feliz... Era uma obsessão... Mas isso me deu forças, clareou minha mente. Então, uma noite quando abriram a porta para me trazer comida, eu passei por eles em forma de cachorro... Para eles é tão difícil perceberem emoções animais que ficaram confusos... Eu estava magro, muito magro... O bastante para passar entre as grades... Ainda como cachorro nadei até a costa... Viajei para o norte e entrei escondido nos terrenos de Hogwarts, como cachorro. Desde então vivi na floresta, exceto nas horas em que saía para assistir ao Quadribol, é claro. Você voa bem como o seu pai, Harry...



     Black se virou para o garoto, que não evitou seu olhar.



     — Acredite-me — disse, rouco. — Acredite-me, Harry. Nunca traí Tiago e Lílian. Teria preferido morrer a traí-los.



     E, finalmente, Harry acreditou. A garganta apertada demais para falar, fez um aceno afirmativo com a cabeça.



     — Não!



     Pettigrew caíra de joelhos como se o aceno de Harry fosse a sua sentença de morte. Arrastou-se de joelhos, humilhou-se, as mãos juntas diante do peito como se rezasse.



     — Sirius... Sou eu... Pedro... Seu amigo... Você não...



     Black deu um chute no ar e Pettigrew se encolheu.



     — Já tem sujeira suficiente nas minhas vestes sem você tocar nelas — exclamou Black.



      — Remo! — esganiçou-se Pettigrew, virando-se para Lupin, implorando com as mãos e os joelhos no chão. — Você não acredita nisso... Sirius não teria lhe contado se eles tivessem mudado os planos?



     — Não, se pensasse que eu era o espião, Pedro. Presumo que foi por isso que você não me contou, Sirius? — perguntou ele, pouco interessado, por cima da cabeça de Pettigrew.



     — Me perdoe, Remo — disse Black.



     — Tudo bem, Almofadinhas, meu velho amigo — respondeu Lupin, que agora enrolava as mangas das vestes. — E você me perdoa por acreditar que você fosse o espião?



     — Claro. — E a sombra de um sorriso perpassou o rosto ossudo de Black. Ele, também, começou a enrolar as mangas. — Vamos matá-lo juntos?



     — Acho que sim — concordou Lupin sombriamente.



     — Vocês não me matariam... Não vão me matar... — exclamou Pettigrew. — E correu para Rony. —



     "Rony... Eu não fui um bom amigo... Um bom bichinho? Você não vai deixá-los me matarem, Rony, vai... Você está do meu lado, não está?"



     Mas Rony olhava Pettigrew com absoluto nojo.



     — Eu deixei você dormir na minha cama! — exclamou ele.



     — Bom garoto... Bom dono... — Pettigrew se arrastou até Rony — você não vai deixá-los fazerem isso... Eu fui o seu rato... Fui um bom bicho de estimação...



     — Se você foi um rato melhor do que foi um homem, não é coisa para se gabar, Pedro — disse Black com aspereza. Rony, empalidecendo ainda mais de dor, puxou a perna quebrada para longe do alcance de Pettigrew. Ainda de joelhos, este se virou e cambaleou para frente, agarrando a bainha das vestes de Hermione.



     — Garota meiga... Garota inteligente... Você... Você não vai deixar que eles... Me ajude.



     Hermione puxou as vestes para longe das mãos de Pettigrew e recuou contra a parede, horrorizada.



     Pettigrew continuou ajoelhado, tremendo descontroladamente, e foi virando lentamente a cabeça para Harry.



     — Harry... Harry... Você é igualzinho ao seu pai... Igualzinho...



     — COMO É QUE VOCÊ SE ATREVE A FALAR COM HARRY? — rugiu Black. — COMO TEM CORAGEM DE OLHAR PARA ELE? COMO TEM CORAGEM DE FALAR DE TIAGO NA FRENTE DELE?



     — Harry — sussurrou Pettigrew, arrastando-se em direção ao garoto, com as mãos estendidas. — Harry, Tiago não iria querer que eles me matassem... Tiago teria compreendido, Harry... Teria tido piedade...



     Black e Lupin avançaram ao mesmo tempo, agarraram Pettigrew pelos ombros e o atiraram de costas no chão, O homem ficou ali, contorcendo-se de terror, olhando fixamente para os dois.



     — Você vendeu Lílian e Tiago a Voldemort — disse Black, que também tremia. — Você nega isso?



     Pettigrew prorrompeu em lágrimas. A cena era terrível, ele parecia um bebezão careca, encolhendo-se.



     — Sirius, Sirius, o que é que eu podia ter feito? O Lord das Trevas... Você não faz idéia... Ele tem armas que você não imagina... Tive medo, Sirius, eu nunca fui corajoso como você, Remo e Tiago. Eu nunca desejei que isso acontecesse... Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado me forçou...



     — NÃO MINTA! — berrou Black. — VOCÊ ANDOU PASSANDO INFORMAÇÕES PARA ELE DURANTE UM ANO ANTES DE LILIAN E TIAGO MORREREM! VOCÊ ERA ESPIAO DELE!



     — Ele estava assumindo o poder em toda parte! — exclamou Pettigrew. — Que é que eu tinha a ganhar recusando o que me pedia?



     — Que é que você tinha a ganhar lutando contra o bruxo mais maligno que já existiu? — perguntou Black, com uma terrível expressão de fúria no rosto. — Apenas vidas inocentes, Pedro!



     — Você não entende! — choramingou Pettigrew. — Ele teria me matado, Sirius!



     — ENTÃO VOCÉ DEVIA TER MORRIDO! — rugiu Black. — MORRER EM VEZ DE TRAIR SEUS AMIGOS! COMO TERÍAMOS FEITO POR VOCÊ!



     Black e Lupin estavam ombro a ombro, as varinhas erguidas. — Você devia ter percebido — disse Lupin com a voz controlada —, que se Voldemort não o matasse, nós o mataríamos. Adeus, Pedro. Hermione cobriu o rosto com as mãos e se virou para a parede. — NÃO! — berrou Harry. E se adiantou, colocando-se entre Pettigrew e as varinhas. — Vocês não podem matá-lo — disse afobado. — Não podem. Black e Lupin fizeram cara de espanto.



     — Harry esse verme é a razão por que você não tem pais — rosnou Black. — Esse covardão teria olhado você morrer, sem levantar um dedo. Você ouviu o que ele disse. Dava mais valor à pele nojenta do que a toda sua família.



     — Eu sei — ofegou Harry. — Vamos levar Pedro até o castelo. Vamos entregar ele aos dementadores. Ele pode ir para Azkaban... Mas não o matem.



     — Harry! — exclamou Pettigrew, e atirou os braços em torno dos joelhos de Harry. — Você... Obrigado... É mais do que eu mereço... Obrigado...



     — Tire as mãos de cima de mim — vociferou Harry empurrando as mãos de Pettigrew, enojado. — Não estou fazendo isso por você. Estou fazendo isso porque acho que meu pai não ia querer que os melhores amigos dele virassem assassinos... Por sua causa.



     Ninguém se mexeu nem fez qualquer ruído exceto Pettigrew, cuja respiração saía em arquejos, e ele levava as mãos ao peito. Black e Lupin se entreolharam. Então, com um único movimento, baixaram as varinhas.



     — Você é a única pessoa que tem o direito de decidir, Harry — disse Black. — Mas pense... Pense no que ele fez...



     — Ele pode ir para Azkaban — repetiu Harry. — Se alguém merece aquele lugar é ele...



     Pettigrew continuava a arquejar às costas do garoto.



     — Muito bem — disse Lupin. — Saia da frente, então.



     Harry hesitou.



     — Vou amarrá-lo — disse Lupin. — Só isso, juro.



     Harry saiu do caminho.



     Antes que o professor pudesse falar qualquer coisa, um lampejo veio do outro lado da sala, onde estavam Hermione e Rony. Pettigrew enrijeceu da cabeça aos pés e caiu duro como uma  no chão de madeira velha, que rangeu em suas estruturas por todo o quarto, dando a impressão de que a casa desabaria a qualquer momento.



     — Hermione?! — disse Harry, muito confuso pois acabara de se lembrar que a amiga estava ali também.



     — Hermione, o que foi que você fez? — perguntou Lupin, calmamente.



     — Professor, me desculpa, mas eu não confio nele. Não estou querendo insultá-lo na sua escolha por amarrar Pettigrew, mas eu honestamente não confio nele, e petrificado saberemos que realmente não vai tentar nada. O senhor sabe, o caminho de volta pela passagem é bem apertado, ele poderia fugir por ali.



     — Você realmente é a bruxa mais inteligente da sua idade. — Lupin admitiu com um sorriso no rosto.


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