A pior vassoura




Alvo Potter abriu os olhos às dez horas da manhã do primeiro sábado em Hogwarts. Mas não fora apenas ele que dormira até mais tarde. Patrichio ainda estava derrotado na cama à esquerda. Nelson nem se fala. Tinha o braço estirado para fora da cortina da cama, em um sono tão profundo que Alvo poderia achar que estava morto e gritar por ajuda. Mas estava sonolento demais para salvar vidas...


Ficou sentado na cama, observando um Grindylow


a nadar preguiçosamente e bater no vidro da janela, arreganhando os dentes para Alvo. Demorou apenas alguns minutos para o menino dar-se conta que não deveria estar ali. Tinha marcado de se encontrar com Rosa às nove da manhã na Biblioteca para pesquisar sobre os Luduans e Nefilantes. Estava atrasadíssimo.


Saltou da cama e arrumou-se em tempo recorde. Estava tão apressado que esquecera-se da capa preta do uniforme de Hogwarts. Quando desceu para o salão comunal, encontrou Deborah, Lorcan e outros garotos mais velhos que Alvo não conhecia. Todos estavam com as vestes de jogadores da Sonserina e rodeavam a única menina que estava sentada em uma poltrona negra, rasgando um embrulho comprido.


— Não acredito... Uma Raiden! — assoviou um garoto de cabelo loiro e um tanto grande, arregalando os olhos profundamente azuis. Deborah mostrou a vassoura para todos — É o olho da cara... Sua mãe deve gostar muito de você...


—E qual ser pensante não gosta de mim, Desmond? — riu-se a menina, jogando os lisos cabelos negros, fazendo charme. Todos os garotos concordaram. — Ela supera a Firebolt em muitos aspectos, além disso, combina com a luva prateada que a minha mãe Integra me deu...


— Tiago e a maioria dos Grifiotários não vão nem um pouco com a sua cara, Waldorf — brincou um outro menino, este era alto, grande, forte e tinha o cabelo curtinho. Usava um brinco prateado de um lado da orelha.


— Eu falei ‘ser pensante’. Eles têm raiva por que sou linda e talentosa. Aliás, soube que o Potter está querendo ser apanhador. Eu quase começo a sentir pena dele....


— Falando em Potter... — um menino alto e magro, com os dentes proeminentes e o cabelo ruivo apontou para Alvo que observava tudo de longe. — o irmão do traste ali, ó...


— Não impliquem com ele. — ralhou Lorcan — E aí, Al, tudo bem? Estamos indo fazer os testes para as vagas do time de Quadribol. Quer dar uma olhada?


— Tá louco, Scamander? — exclamou um garoto de cabelos castanhos, baixinho, mas forte, como que entroncado — ele vai ver nossas técnicas e falar tudo pro time da Grifinória!


— Claro que não! — Lorcan defendeu o garoto, sem nem dar chance dele abrir a boca — O Alvo é um dos nossos agora. É um legítimo Sonserino. Não é mesmo, Alvo? Fala pra eles!


Alvo engoliu a seco e gaguejou:


— Si-sim, claro... Sonserino até o dedinho do pé... Mas, não posso ver a seleção, obrigado... Er... Preciso ir, hã, para a biblioteca. Mas... Posso acompanhar vocês até o grande salão?


A verdade é que Alvo ainda não tinha decorado o labirinto que era as masmorras. Mas a senha tinha decorado ontem à noite, assim que chegou da aula. “Poder é Poder”, o que fazia muito sentido, se você fosse pensar nisso.


Alvo acompanhou os aspirantes às vagas do time da Sonserina. Eles riam, xingavam os Grifinórios, falavam de jogadas do ano passado, xingavam os Grifinórios, elogiavam a vassoura Raiden, ofendiam um pouco mais os jogadores da casa do leão... Mas Alvo estava alheio à tudo isso. Seu pensamento estava distante.


O garoto não podia negar que se sentia um tanto mais leve depois de reatar com as primas Domi e Rosa. Tiago também estava aparentemente falando normal com ele... As coisas estavam começando a se ajeitar. Apesar disso, ainda se sentia deslocado. Não se sentia um Sonserino nem mesmo na ponta do dedinho do pé.


Os jogadores deixaram o menino no salão principal. “Até mais Potter, mande os meus pêsames para o seu irmão!” despediu-se Desmond com um acenar irônico. Alvo perguntou em particular para Lorcan como chegar na Biblioteca. Recebeu uma explicação até satisfatória: “Vai no segundo andar pela grande escadaria e segue o corredor de feitiços. Sobe três andares e no fim do corredor você está lá”.


O salão estava lotado de alunos. Alvo comeu rapidamente e dirigiu-se à biblioteca. Já eram dez e meia quando ele chegou, após ter pego dois corredores errados e ser ajudado por uns terceiranistas da Corvinal que estavam indo para a biblioteca.


Rosa estava no mesmo lugar de ontem, mergulhada em uma dezena de livros.


— Você demorou, hein?


—Tive Astrologia ontem de madrugada e acabei dormindo demais, desculpe...


— Tudo bem. Não tem muito o que procurar. Alguém fez o favor de emprestar todos os livros que tratavam de animais mágicos estrangeiros...


— Sério? Quem faria isso?


— Sei lá. Vai ver alguns alunos estão estudando justamente isso... Vou mandar uma carta para a minha mãe, pedir para ela conseguir um livro do Newt Scamander chamado “Minhas aventuras no Oriente”.


— E esses livros que você está lendo?


— Ah, isso é só para passar o tempo antes de você chegar...


— Passar o tempo?


Dominique chegou nesse instante.


— Sabia que iria te encontrar aqui, Rose. O Al é uma novidade. E aí, o que estão fazendo?


— Lendo sobre Esconjuro. Dever de Defesa contra as artes das trevas para Segunda.


— Hoje vamos ter duas aulas, não é?


— Hã? Mas hoje é sábado — impressionou-se Alvo.


— Ah sim — lembrou-se Rosa — uma aula de Voo e outra de Artes Bruxas. Mas é só a tarde... Inclusive vamos assistir as duas com a Sonserina, Al. Você pode ficar com a gente até lá...


— A não ser que ele queira ficar com os amiguinhos famosos da Sonserina — ironizou Dominique.


— Para com isso... — emburrou-se o garoto — Não tenho amigos lá.


— E você acha isso legal? — ralhou Rosa — Tem que se enturmar!


— Se enturmar com aquelas cobrinhas? Al tá muito bem com a gente — riu-se Dominique.


Neste momento, Juliana passou ao lado deles, soltando um bufar de indignação. Ela sentou-se e uma mesa próxima a uma estante, lançou um olhar feio para Alvo e perdeu-se na leitura.


— Quem é essazinha? — Dominique quis saber.


— Juliana Licaster — meramente disse Alvo — prima e melhor amiga do Nelson Derwent. Eles são sobrinhos da Integra Waldorf.


— Então... — começou Rosa.


— Sim, são primos da Isobel — completou Alvo — assim, em teoria, já que ela é adotada.


— Não é isso que eu ia dizer, Al — Rosa deixou claro — quer dizer que eles devem saber muito sobre a inimiga do seu pai. Você poderia se aproximar deles e buscar informações.


— Está pedindo pra eu bancar o falso? — perguntou um Alvo ofendido.


— Vamos pôr da seguinte maneira: você utilizará a amizades dele para obter dividendos — disse a prima, cautelosa.


— É a mesma coisa!


— Rosa, calma lá. Isso não é forçar a barra do Alvo? Ficar amiguinhos desses garotos...


— Se ele quiser ajudar o pai...


— Não, ela está certa — Alvo suspirou. — A Rosie, digo. Vou tentar falar um pouco com o Nelson. Ele tem sido meio simpático comigo...


— Mas não seja tão simpático — disse Domi. — vai que você se contamina pelo jeitinho dele. Olha isso! Parece um retardado... — a menina apontou.


Nelson e Mathew tinham acabado de chegar na biblioteca. Nelson andava todo emblemático, com um sorriso metido na boca. Eles se sentaram junto a Juliana e ambos começaram a conversar baixinho. Nelson olhou para Alvo apertando os olhinhos pretos. Quando notou que o menino estava olhando para ele, mandou um olá e deu um sorrisinho metódico.


— Não prometo nada, mas vou tentar.


Os garotos revisaram através dos apontamentos de Rosa. Como Alvo gostava mais de defesa contra as artes das trevas, Rosa perguntou tudo menos sobre esse assunto. O menino percebeu assim que deveria estudar muito.


— Mas Rosa... Nelson e os garotos disseram no trem que eu deveria ensinar para ele DCAT. Não acha que devo me concentrar mais nessa matéria?


— Não. Você tem que aprender tudo. Mas se quiser estudar só DCAT, O.K. Não vou obrigar você a nada. Então vamos lá... O que é um bruxedo?


— Hmm. Lembro do Vogelweide falando que era um tipo de azaração, só que não se usa palavras mágicas...


— É por aí — confirmou Rosa — A gente usa a nossa má intenção em forma de energia negativa.


— Ai meu deus — suspirou Domi — quanto tempo falta para o almoço?


— Bem, já são onze e meia. Meio dia a gente vai pro Grande Salão...


— AINDA BEM! — gritou a menina, comemorando.


“Shhhhhh” fez Juliana. Domi mandou um gesto feio com os dedos. Juliana ficou boquiaberta de indignação.


— Para, Domi! — disse Rosa, fazendo a menina recolher os dedos. — lembra que eles são amigos do Al.


Ravus, Vogelweide, agora os Licaster e Derwent... Alvo ficou pensando em quanto problema iria se envolver até conseguir informações suficientes para ajudar o pai...


Depois do almoço todos os garotos da Sonserina e Grifinória seguiram seus respectivos monitores. Alvo andava com as primas e isso trazia muitos comentários negativos a seu respeito. Pareciam não aceitar o fato de um Sonserino andar no meio dos Grifinórios, bem como os Grifinórios olhavam torto para Alvo. Isso já estava começando a incomodar, apesar de Domi dizer “Desencana”.


Para ela era fácil de falar. Domi não se preocupava com praticamente nada. Além disso, Dominique não se privava a rir das piadas que Lionel fazia sobre os Sonserinos, mesmo estando Alvo ao lado. Talvez ela tenha se esquecido de um detalhe: o primo era um deles.


Os garotos entraram no segundo bloco de prédio do castelo de Hogwarts. Eles passaram por todo o bloco. Chegaram até o corredor dos tapetes persas, com vasos vazios e o chão sujo de terra. Desceram as escadarias do antro retangular que tinham quadros de plantas, com a enorme pintura da menina pastora que fez uma reverência para Al quando ele passou por ela.


Os Sonserinos e os Grifinórios atravessaram uma porta rústica e atravessaram o campo até as estufas. E foram mais, encontrando um muro alto. O arco de pedra que atravessaram revelou um campo bem maior com grama batida.


O campo de treino era um local muito aberto rodeado por muros. Delimitados por eles, muitas ruínas se distribuíam mais distante do centro do campo. Os monitores levaram os alunos até próximo a um paredão com uma bandeira de um pomo pintado.


O professor ainda não tinha chegado. Os alunos aproveitaram esse intervalo para conversar.


Lionel gabava-se por ter jogado muito quadribol nas férias.


— Garen, meu irmão mais velho, sempre falou que eu sempre fui um ótimo goleiro. Não há o que me derrube da vassoura.


Rosa também conversava entusiasmada. Apesar de nunca ter sido uma boa voadora, achava interessante e imprescindível o ato do voo para todo e qualquer bruxo. Dominique, que era mais versada em coisas radicais, parecia simplesmente feliz pela perspectiva de poder atravessar o castelo a voo. O garoto estava muito confortável ali com as primas, mas na hora que o professou chegou, achou por bem voltar para a sua verdadeira turma: os Sonserinos.


Ele era até jovem. Deveria ter uns vinte e cinco anos. Tinha o cabelo moreno caprichosamente bagunçado; a pele rosada, os olhos apertados, uma barba muito bem feita delimitando um sorriso canalha. Ele tinha uma camisa de manga comprida vermelha e uma calça branca. Carregava de baixo dos dois braços um monte de vassouras, jogando elas no chão quando estava próximo dos alunos. Tirou também do bolso de trás da calça duas bandeiras, uma vermelha e uma verde.


— E aí, manos e maninhas? — disse o professor, colocando as mãos na cintura — sou Roydric Ruffeil e vou levar vocês às alturas — e sorriu, canalha.


Dedâmia soltou um gritinho incontido. Rosa não gritou, mas ficou igualmente vermelha.


— Não acredito! — sussurrou Rosa para o primo. — Eu já vi esse cara antes. Em um pôster do papai. Ele é jogador dos Chudles Cannons! Ruffeil, camisa sete!


Alvo confirmou. Era verdade. Acabara de notar que ele já tinha visto a cara dele em um pôster no seu quarto. Mas sentia que o conhecia de algum lugar...


“Hoje eu me sinto inspirado. Quero ver sangue e tragédia, hahaha... O.K, é brincadeira... Apenas se separem por Grifinória e Sonserina e vejam a mágica rolar, hahahaha... Estou brincando, mas se separem mesmo. Tudo bem, às vassouras. Cada um pega a sua e coloca no chão, do lado direito. Deem uma distância de pelo menos cinco passadas. Não quero que ninguém bata com o cabo da vassoura na cara do coleguinha... Pelo menos não no solo.”


Foi uma correria. Todos queriam pegar as melhores vassouras. As Moontrimmer e as Nimbus 2000 que o professor disponibilizou de sua coleção acabaram num instante. No fim, Alvo acabou tendo que ficar com justamente aquela que Tiago tinha dito para o irmão evitar: uma Cleansweep 8 deveras lenta. E para piorar, infelizmente, ficou ao lado de Escórpio Malfoy. Que lhe disse:


— Acho melhor você se esforçar dessa vez, Alvo... Até eu estou começando a sentir pena.


Alvo ficou irritado, mas internamente começou a imaginar já suas peripécias trágicas no ar. Ele sempre foi péssimo com vassouras desde o incidente que teve com os primos, há muitos anos atrás, o qual caiu da vassoura e adquiriu o trauma de não querer passar de trinta por hora, ganhando o apelido de “Senhor prudente”.


Isobel estava do outro lado, próxima à Tabatha e Dorian. A menina parecia estar muito deslocada e olhava desconfiada para sua vassoura.


— Hmmm — avaliou o professor enquanto andava, coçando a barbicha do queixo. Depois bateu uma palma revigorante — Tudo certo. As vassouras não são nenhuma ‘Raiden’, mas dão pro gasto. São de minha coleção milhardária... Vão ser o suficiente para o aprendizado. Agora... Vocês vão levantar a mão direita e gritar “SUBA”. Mas façam com vontade.


Alvo obedeceu. Olhou um pouco desconfiado para a vassoura e gritou “SUBA!’.


A vassoura deu uma mexidinha preguiçosa.


Por outro lado, a de Escórpio voou prontamente até sua mão e o menino a agarrou, lançando um sorriso para Alvo. A vassoura de Nelson e de Mathew também obedeceram bem ao comando, porém as de Patrichio e Rosa estavam um tanto receosas. A de Domi obedeceu até demais. Voou pelos ares e perdeu-se no céu. Mas depois de uns segundos veio zipando e pousou perto da menina, que deu os ombros sem entender a reação exagerada da vassoura.


— As vezes acontece, quando elas querem dar um showzinho... — disse o professor. Ele esperou que todos conseguissem fazer suas vassouras subissem (a de Alvo obedeceu na terceira chamada) e só depois continuou a falar — Agora vou mostrar como montar. Me imitem.


Roydric passou a vassoura pelo meio das pernas e flexionou-se com as costas retas para frente, deixando os joelhos arqueados.


“Ceeerto, manos! Olha, vassouras sentem o medo de quem as monta. Então, é melhor vocês alimentarem pensamentos seguros enquanto tiverem à centenas de metros do chão, hahahaha. Não, é sério. É por isso que muitas vassouras não subiram. Elas sentem suas inseguranças e acabam preferindo ficar no chão mesmo do que voar com um maricas. Sem ofensas. Certo. Agora vamos sair do chão um pouquinho. Vocês vão dar um pequeno impulso com os pés e elas vão entender que vocês querem voar. Apoiem os pés do escorão e segurem firmemente no cabo com as duas mãos separadas. E lembrem-se: vocês querem voar. Por favor, não quero que aconteça nenhum acidente. Fiquem só uns três metros do chão, é sério”


Alvo já tinha sua vassoura entre as pernas e encontrava-se levemente inclinado para frente. Ele deu um impulso. A vassoura tremeu um pouquinho, mas não saiu do chão. Ele tentou de novo, dessa vez ela vibrou mais. O garoto olhou para Escórpio, que já estava no ar, com os braços cruzados, bem como Nelson e Mathew. Isobel, lá no fundo, até ela, voava segurando muito firmemente o cabo, parecendo ainda desconfiada com a lealdade da vassoura.


Alvo deu um impulso mais forte, decidindo-se não se deixar vencer. A vassoura entendeu o recado. Talvez exageradamente bem.


Alvo subiu aos ares e ultrapassou dez metros muito rápido. Quando deu por si, estava à uns trinta metros do chão. O menino ofegava e tremia. Só não gritou por que tinha perdido a voz. Alvo nunca mais tinha voado desde quando tinha caído da vassoura na corrida dos primos. Agora estava ali, dezenas de metros do chão!


As pessoas lá de baixo gritavam alguma coisa. O menino segurou firmemente no cabo e manteve o pé grudado no estribo. Eu não vou cair. Era o que estava muito claro em sua mente.


O professor Ruffeil logo ganhou os ares e rapidamente pôs-se ao lado do garoto.


— Alvo Potter, não é? Olha Al, você consegue ficar firme na vassoura? Fica calmo...


O menino confirmava tudo o que o homem falava com um aceno nervoso.


— Certo — continuou Roydric. — Presta atenção. Mantenha sua mente limpa, só pensa em quanto é legal voar. Você tá livre, nada te prende. Pensa no que eu to dizendo. Você e a vassoura são um único ente. Fecha os olhos.


Alvo obedeceu, tentando com todas as forças pensar no que o professor estava dizendo.


De repente sentiu uma brisa bater em seu rosto. Era tão bom... E pensou em como estava livre, ali, longe de todos, inalcançável. Alvo abriu os olhos lentamente... Tinha um olhar decidido.


— Certo. Agora você vai inclinar a vassoura para baixo, só um pouquinho. E vai ganhando velocidade, até pousar. Acha que pode fazer isso? (Alvo fez que sim) Certo, Al, eu acredito em você. Tem sangue Potter nas veias. Sua mãe é uma artilheira de responsa. Agora vamos!


Alvo inclinou com as mãos o cabo da vassoura para baixo. Desta vez a vassoura o obedeceu de primeira. Foi descendo levemente, ganhando proximidade do solo... Até que, quando eles estavam bem próximos, o professor disse:


— Agora você tira um pé de cada vez do estribo e apoia os dois juntos no chão.... Certo.


Alvo pousou com maravilhoso sucesso.


O professou puxou uma salva de palmas, a maioria dos Sonserinos o acompanhou. Nelson se pôs ao lado do garoto e deu dois tapinhas no ombro do menino.


— Mandou bem, Al! A gente pensava que você ia cair lá de cima, mas...


— Para com isso, Derwent! — exclamou Endy.


E Nelson fez um gesto brincalhão, bagunçando os cabelos de Alvo (mais para dissipar o constrangimento), voltando em seguida para o seu lugar.


— O.K, galera! O Al aqui teve momentos nervosos no ar, mas quem nunca teve? Se recuperou bem. E até antecipou a lição de como pousar, que eu já ia mostrar para vocês. Bem... Certo. Voem até uns poucos metros, sério, por favor, poucos metros. O Al pode ficar no chão. Ele já sabe pousar.


As crianças foram ao ar novamente. Enquanto o professor esperava que todas estivessem mais ou menos alinhadas, falou para Alvo, que estava meio pálido.


— Não sei se você lembra de mim. Eu estava no aniversário de casamento da sua mãe. Gina... Uma jogadora esplêndida. Tiago voa muito bem, mas falta humildade, entende? Mas quem sou eu pra falar isso. Só que o princípio de um bom montador de vassouras é entender seus limites e os limites de sua vassoura. Não tem nada de errado ter medo, basta você saber que pode chegar onde quer chegar, sem cair.


Alvo confirmou com a cabeça. Roydric, de primeira, tinha parecido ser a pessoa mais nojenta, orgulhosa e petulante que se podia conhecer. Mas ele era muito legal. Uma ótima pessoa. Estava mais seguro de si agora. Sentia que podia voar direito, sem cair.


O Professor Ruffeil deu os comandos de como pousar da maneira correta para os demais alunos. O garoto gordinho (sendo eufêmico) da Grifinória, que se chamava Elliot, caiu da vassoura, rolando pela grama. A Gargalhada foi geral: Mathew foi o primeiro a soltar “Parece uma bola de praia rolando pelo barranco!”. O Professor zangou-se e passou umr sermão no menino, mas isso não impediu que o seu comentário causasse uma crise séria de riso nos amigos de Mathew. O professor conseguiu novamente a concentração minutos depois, e mesmo depois de um tempo Elliot ainda estava vermelho da vergonha, humilhação, além da assadura na potranca arranhada pela queda. Roydric pegou as duas bandeiras, a verde e a vermelha e mostrou para os primeiranistas.


Naquele momento, dois alunos mais velhos tinham acabado de chegar. Cada um tinha as vestes de quadribol, um da Sonserina e outro da Grifinória. Victoire, a prima mais velha de Al, estava segurando uma vassoura lustrosa. Tinha os cabelos maravilhosamente loiros amarrados em um rabo de cavalo, esbelta e bela, como a mãe Fleur, mastigava alguma coisa. Do lado dela, o rapaz que Alvo tinha conhecido hoje de manhã, o loiro de olhos claros que Deborah havia chamado de Desmond.


— Agora é sério. Peguei emprestado os dois capitães dos times de Quadribol das suas casas para me ajudarem. Quem é da Grifinória vai pra perto da belíssima senhorita Victoire Weasley. Sonserinos, com esse distinto rapaz, Desmond Padalecki.


Alvo aproximou-se do Capitão.


— Ora, ora, se não temos o famoso Potter, a nova sensação de Hogwarts! — disse um Desmond irônico. Os Sonserinos riram gostosamente. — estou ficando com ciúmes. Antigamente eu era o rei Sonserino, agora os papos não estão mais se concentrando sobre mim, mas sobre você, Potter. “Sonserino até o dedinho do pé”, não é? Victoire é a sua prima, pelo que sei. Agora é a capitã da Grifinória. Claro que está lá por que o babaca do Tedd Lupin deixou o posto para a namoradinha. Seu irmão, o Potter, está querendo substituir a posição dele... A mãe de vocês era a famosa camisa Um das Harpias. Ai ai... Sua família é bem famosa no Quadribol, mas será que você também saca alguma coisa? Duvido muito...


Alvo ficou vermelhíssimo. Todos os Sonserinos olhavam para ele. Eles não sabiam o quanto garoto era tímido? Talvez Desmond tivesse feito isso de propósito.


O Professor Ruffeil logo pediu a atenção de todos.


— Quero fazer uma pequena dinâmica com vocês, para acostumar logo na marra vocês a voarem. Acho que aqui é pequeno demais para jogarmos... O que acham, Vick, Desmond?


— Pra aquilo que o senhor me falou, Professor, acho melhor irmos pro campo mesmo...


— Pela primeira vez, concordo com você, Weasley... — disse Desmond rindo-se.


— E está desocupado agora? — quis saber o professor.


— Positivo. Acabamos nosso treino agora a pouco — gabou-se Desmond.


— Desocupado. Ninguém vai treinar hoje à tarde lá. — confirmou Victoire, ajeitando o rabo de cavalo e dando uma piscadela com os olhos cinza-esverdeados e um sorriso pra o primo Alvo. O menino deu um olá, mas este não pôde deixar de notar que Desmond a fitou com um olhar meio abobalhado, mas logo deu-se por si e limpou a baba, fazendo a cara séria de costume.


— Yep. Então vamos lá pro campo de Quadribol.


Todos os primeiranistas vibraram, soltaram vivas e deram saltinhos.


— Vamo jogar Quadribol, professor? — perguntou um Mathew excitadíssimo.


— Não, não. Vamos fazer uma adaptação de um jogo que eu aprendi com uma namorada trouxa...


— Qual, qual? — quis saber Dedâmia, que ouvia tudo o que o professor dizia com brilhinho nos olhos.


— Pega bandeira!


— Hã? — soltou Nelson, com uma cara perplexa — que é isso?


O professor Roydric sorriu.


— Primeiramente vamos à quadra, o.k?


Ruffeil levou os garotos para uma área mais adiante. Lá encontraram uma escada de pedra rústica que descia ao compasso de uma depressão. Ela tinha dois lances de escadaria até encontrar um prédio anexo a uma formação montanhosa que servia de muro para o campo de treino.


O rapaz Padalecki e a jovem Weasley guiavam os alunos das respectivas casas para uma que ficava dentro do prédio. Era cheia de tabelas, datas, cartazes e pôsteres, tudo relacionado com o esporte do Quadribol. Os baluartes das quatro casas estavam pendurados na porta de ferro mais à frente. Apesar de haver duas entradas laterais, muito provavelmente davam para corredores com acesso às arquibancadas, eles não seguiram por ali.


O professor Roydric destravou a grade com um feitiço; ela se elevou liberando o caminho para um corredor escuro que revelava a saída luminosa. Os alunos caminharam pelo túnel que dava acesso ao outro lado do monte.


“Nossa”, foi o que Alvo deixou escapar.


O diafragma, que era o campo de Quadribol, era enorme. O gramado baixo se delimitava por um campo oval (por isso não era quadra) com as arquibancadas ladeando-os. Nas pontas mais agudas haviam pequenas áreas com três balizas altas, sendo a central a maior delas.


— Estranho — comentava um Mathew desconfiado, enquanto cruzava o campo na companhia dos Sonserinos até o centro do diafragma — não to vendo bolas. Como vamos jogar alguma coisa sem bola?


Posicionaram-se rodeando um círculo cortado por uma linha que se estendia por todo o campo, dividindo-o ao meio. Todos os alunos ficaram olhando para os arredores, estupefatos pela grandeza do campo de quadribol.


— Tá — disse o professor — como eu disse, é uma brincadeira de trouxas que vou dar uma adaptada.


— Trouxas? — comentou Dedâmia em voz baixa para Mathew, fazendo uma careta — eu hein.


Isobel deu um carão para Dedâmia. Sabido que Izzie era nascida trouxa. Mas Escórpio comentou algo nos ouvidos de Isobel e ambos gargalharam olhando para Dedâmia.


— E as regras? — quis saber Endy, o garoto da sonserina que tinha a eterna cara de "não to nem aí". — Acho que regra é mais importante do que bola pra jogar qualquer coisa...


O professor pediu para os capitães separarem os alunos em Sonserinos e Grifinórios. Alvo olhou para o outro lado, com uma sensação ruim. Teria que ser adversário das primas. Era a primeira vez que isso acontecia diretamente.


Pressentindo isso Tabatha, a menina que tinha recebido o vômito do Pirraça, aproximou-se e deu um “oi” alegre. Alvo ficou um pouco mais confiante. Mas essa confiança muchou novamente quando viu Desmond Padalecki se aproximando, andando com aquele jeitão e mexendo nos cabelos de ouro.


— Parceiros, o professor Ruffeil pediu para eu explicar as regras do joguinho. Prestem atenção que eu não vou repetir...


“Grifiotários contra Sonserinos. Vocês podem ver ali em cima (Desmond apontou para o céu e os alunos viram o professor fazendo uma espécie de linha no ar. Marcava o campo na metade em várias alturas, ficando claro que o campo estava dividido em dois) o professor Ruffeil está delimitando o campo. Vamos ficar com um dos lados. Na linha de fundo, onde ficam os aros, eu vou pendurar essa bandeira verde. A mesma coisa do outro lado: vai ter uma bandeira Vermelha. O Objetivo do jogo é bem simples: vocês tem que invadir o campo dos Grifiotários, pegar a bandeira deles e voltar para o nosso campo.


“Mas claro que não é tão simples, né, espertões. A professora Aileen enfeitiçou as vassouras. Se você estiver invadindo o campo dos Grifiotários e eles te tocarem, sua vassoura vai congelar e você vai ficar parado no ar, preso no campo deles até algum amigo vir e te tocar, quebrando o feitiço, sacou? A mesma coisa com vocês. Se virem um Grifiotário voando no nosso campo, peguem nele e eles vão ficar congelados. De preferência derrubem logo da vassoura (Desmond deu uma piscadela para Alvo).


“Bem, quando vocês pegarem a bandeira dos aros, vocês podem ficar atrás deles. Lá nenhum Grifiotário pode entrar, é tipo uma zona de proteção. Aí, vocês podem esperar o melhor momento para cruzar o campo com a bandeira e vencer o jogo.”


Quando Padalecki terminou de falar, os garotos ficaram fitando-o com uma cara confusa, mas ao mesmo tempo ansiosa. O jogo parecia ser realmente divertido. Até Mathew que não achava que existia um jogo legal sem ter bola, parecia excitado e cheio de expectativas.


— Todos estão com suas vassouras, não é? Sacaram tudo? Se não, vão ter que entender na prática. Vamos voar até as nossas posições.


Desmond deu um impulso com a Firebolt dele. Os Sonserinos o seguiram. Todos voaram até o meio do campo, mais ou menos há uns vinte metros do chão. Ruffeil esperou os Grifinórios chegarem seguindo a prima Victorie.


— Ceeerto — disse o professor — todos sabem as regras, agora vamos ver quem vai escolher o lado do campo.


Ruffeil tirou um Sicle do bolso e olhou para Escórpio. O garoto entendeu a mensagem e disse:


— Cara — enquanto fitava com um sorrisinho a prima Dominique.


— Coroa — disse Dominique, sem desgrudar os olhos do garoto.


O professor jogou a moeda no ar. Ela girou, girou, girou...


Malfoy sorriu antes mesmo do professor revelar a moeda.


— Certo, Soserinos escolhem o lado do campo.


Escórpio escolheu o lado onde o sol era mais favorável: no caso, o lado da Esquerda. O professor em seguida disse para os alunos se reunirem e discutirem estratégias, sem ajuda dos Capitães.


Alvo direcionou sua vassoura para o meio do campo Sonserino. Os garotos fizeram um círculo. Isobel, Escórpio, Nelson, Juliana, Endy, Dedâmia, Patrichio, Lexie, Phandora, Dorian, Tabatha, Karoena, além de outros meninos e meninas que Alvo não conhecia o nome, ficaram olhando um pro outro, esperando que algum tomasse a iniciativa e montasse alguma estratégia. Juntos, deveriam formar um grupo de uns quinze ou vinte Sonserinos. Todos calados.


Escórpio pôs a mão na cabeça por um segundo... E começou a falar:


— Tá bom... Vamos lá... Eu tenho um plano. Vamos nos dividir em grupos... Lexie e Dorian, vocês...


Escórpio ficou falando por alguns minutos. Juliana também ajudou no plano, fazendo algumas idéias decolarem. Nelson também deu boas dicas, somente Alvo ficou calado, apenas ficou desconcertado quando Escórpio disse que ele e Alvo iam fazer dupla.


— Potter, você está com a vassoura mais lenta e eu com a mais rápida. Vai ser perfeito para o plano.


Alvo ficou olhando para Escórpio, desconfiado. Mas Tabatha disse no ouvido de Al:


— Escórpio pode ser F.D.P como for, mas quando se trata de vencer pra Sonserina, ele é capaz de tudo. Confia nele e faz o que ele diz, pelo menos hoje.


De contra gosto, o garoto teve que concordar. Ao menos sabia que não cairia da vassoura enquanto estivesse perto de Escórpio, por mais irônico que isso soasse.


O Sol já estava a pino. Alvo e os demais Sonserinos se posicionaram na linha vermelha que demarcava no meio do ar o lado do campo que cabia para os Sonserinos e o lado dos Grifinórios.


Lado a lado a Escórpio e Isobel, o garoto encarava Lionel, o presunçoso Grifinório. Ao lado dele, Dominique. Rosa estava mais distante, quase na ponta da linha. Do outro lado, Elliot, parecendo preocupado com a distância que ele estava do chão. Quando todos terminaram de se posicionar, o Professor passou voando pelo meio do verdadeiro túneo formado pelas linhas de Grifinórios e Sonserinos. Ele veio batendo a mão nos cabos das vassouras, deu duas idas e vindas e parou no meio.


— Certo. Vamos jogar limpo. Nada de jogar o amiguinho das vassouras. Retirem todos os pensamentos homicidas da cabeça — o professor riu e deu um tapinha nos ombros de Alvo. O garoto fez um sorrisinho meio amarelado de preocupação — agora é sério. Eu, a Senhorita Weasley e o senhor Padalecki iremos ajudar em qualquer tipo de imprevisto no jogo... Então, no Já, o jogo começa...


O professor começou a contar:


— Um....


Alvo olhou ao redor. Não tinha como passar pela guarda de Grifinórios...


— Dois...


Dominique olhava para Alvo com uma expressão intrigante. O que será que eles estavam planejando? Será que o plano de Escórpio daria certo?


— Três...


O garoto engoliu a seco. Olhou para sua esquerda. Escórpio o fitava com aqueles olhos acinzentados, profundos e gelados. O garoto sorriu de um jeito estranho e moveu os lábios, formando nitidamente as palavras:


“Foco, Potter”.


— JÁ!


Todos se posicionaram como Escórpio tinha dito. Alvo e Escórpio se separaram: Alvo ficou bem mais abaixo de todos, descendo uns cinco metros, enquanto Escórpio subiu a mesma distância. Por sua vez, Isobel ficou parada, ao lado de Dorian, Karoena e Phandora e mais dois garotos. Os cinco faziam a guarda da linha. Já Dedâmia, Lexie, Patrichio e Juliana se espalharam no meio do campo, esperando alguém que tentasse passar.


Nelson e Mathew ficaram ziguezagueando atrás da linha formada por Isobel e os demais, provavelmente esperando a melhor oportunidade. Mais outros garotos se posicionaram nas laterais.


Os Grifinórios também cobriram grande parte do campo, fazendo uma proteção eficaz. Rosa estava mais no fundo, e junto a outros garotos, protegiam o meio de campo, enquanto Domi estava ziguezagueando junto Reggie, Lionel, Jocosus e mais outros quatro garotos. Pelo visto o ataque da Grifinória era considerado mais importante, enquanto que Escórpio prezou mais pela defesa e incumbiu apenas Alvo, ele mesmo, Nelson e Mathew, para atacar.


A linha de defesa da Grifinória também continha cinco alunos. Alvo só reconheceu Rebecca Osgood e Elliot dentre eles.


Tudo estava meio parado. Mathew fingia investidas, mas parando antes de cruzar a linha, enquanto um Jocosus imitava os movimentos. Lionel era o que mais se movia, fingindo querer tentar invadir a todo momento, mas Nelson apenas uma cobertura discreta. Por trás, Juliana cobria as costas de Nelson, aguardando a chance de congelar quem, por ventura, passasse por Nelson.


Mas o jogo realmente estava começando na linha de frente. Isobel provocava Rebecca para elas fazerem uma espécie de cabo de força. A sonserina oferecia a mão, fazendo uma cara desafiadora, enquanto dizia:


— Será que você é mais forte que eu?


Rebecca não aceitava a provocação, apenas tentava manter-se a par de todo o jogo.


Mas Elliot estava nervoso e distraído demais. Quando Isobel chamou o garoto de bola de banha, o garoto irritou-se e olhou para ela, sendo este segundo de distração o suficiente para Phandora, a menina descabelada e de aparência selvagem o puxar com toda a força que tinha.


Talvez os Grifinórios tivessem achado que, por ser mais gordo e respectivamente pesado, seria difícil de tirar Elliot do lugar. Porém eles não conheciam a força violenta de Phandora Ugarte. Só bastou um puxão para o gordinho ser trazido para o campo dos Sonserinos e ficar congelado a mais ou menos um metro da linha.


Rebecca tentou fazer algo, mas Isobel se posicionou para cobrir os movimentos da rival, dizendo:


— Já era. O gordo é nosso.


Phandora ficou fazendo guarda, na ânsia de impedir que alguém recapturasse Elliot. Os Grifinórios agora tinham o primeiro rombo na defesa. Alvo ficou aguardando... Ainda não era o momento de agir...


No momento seguinte Isobel ofereceu a mão novamente para Rebecca:


— Covarde... Não quer ver quem é mais forte?


— E o que me garante que esse seu amigo não vai te ajudar? — ponderou Rebecca, apontando para Dorian, o garoto que ladeava Isobel.


— Eu posso te puxar com o dedinho — respondeu Isobel, mostrando o dedo mindinho — não preciso da ajuda do Zabine.


— Não acredite nela, Becks — disse um garoto de cabelo curtinho — esses sonserinos são todos sujos e mentirosos...


— E eu pensava que os Grifinórios fossem corajosos — riu-se uma Dedâmia irônica — Mas to vendo que são só papo...


— COVARDES! — gritaram Dedâmia, Lexie e Isobel ao mesmo tempo.


Nesse momento um garoto de cabelo grande, com jeito de torpor, irou-se e puxou Dorian, que estava rindo distraidamente. Dorian foi roubado pro campo dos Grifinórios e Isobel bufou:


— Só podia ser o burro do Zabine...


— Foi golpe sujo! — reclamou Dorian Zabine, que era rodeado pelo garoto de cabelo grande cobrindo os olhos.


— Ah, e foi de um enorme espirito esportivo quando vocês puxaram o Elliot? — ponderou o garoto de cabelo curto.


— Não sei, pergunta pra sua namoradinha, Rebecca... — ironizou Isobel.


Rebecca nem pensou. Pegou a mão de Isobel e tentou puxá-la, mas Lexie e Dedâmia puxaram a menina antes de qualquer outro adversário reagir. O garoto de cabelo curto que havia tentado ajudar também foi puxado. Os Grifinórios tinham a linha muito mais desfalcada agora.


— Vocês são SUJOS E TRAPACEIROS! — cuspiu uma Rebecca paralisada.


— E vocês são muito otários, GRIFIOTÁRIOS!! — comemorou Isobel, enquanto rodeava a rival.


Aconteceu muito rápido. Jocosus subiu para os ares e invadiu o campo dos Sonserinos. Nelson imediatamente deu um loop e dois giros verticais para perseguir Jocosus. Nelson era muito habilidoso com a vassoura, Alvo constatou impressionado.


Nesse segundo de distração dos Sonserinos, o garoto de cabelo grande e volumoso puxou de volta Rebecca antes de Isobel conseguir reagir a tempo.


Juliana voou também para ajudar Nelson na perseguição. E foi aí então que Reggie também invadiu o campo dos Sonserinos, sendo perseguido por Patrichio e Lexie. Alvo imediatamente olhou para Escórpio. O garoto fez um gesto que dizia “Espera”, e Alvo manteve-se parado, mas aflito.


Nelson, Juliana e mais um Sonserino que Alvo não falava conseguiram cercar Jocosus e paralisá-lo, mas Dedâmia, Lexie e Patrichio deixaram escapar Reggie. Ele acabou chegando nos aros, pegou a bandeira verde e ficou atrás dos aros, no lado seguro. Dedâmia ficou fazendo guarda para não deixar Reggie passar.


Mas Dominique e Lionel passaram para o campo dos Sonserinos. Patrichio e Lexie voaram em direção a Dominique, Enquanto Dedâmia e Mathew foram atrás de Lionel.


Mas Nelson fez algo que ninguém esperava: cruzou o grande buraco que era o campo da Grifinória. Rosa e outros dois garotos foram atrás dele, enquanto Rebecca ficou parada, impedida de fazer qualquer coisa, pois Isobel estava a ponto de bala para entrar no campo dos Grifinórios, além disso, Elliot e o garoto de cabelo curto continuavam congelados.


Ninguém estava conseguindo pegar Nelson, então dois garotos que defendiam as laterais e as partes superiores dispararam atrás dele.


Alvo respirou fundo. Esse era o momento.


Alvo e Escórpio cruzaram o campo dos Grifinórios. Estava praticamente vazio, pois a maioria dos jogadores haviam invadido o campo deles, enquanto os outros defendiam a linha e uma grande parte ainda perseguia Nelson. Este reverteu o percurso, distanciando-se do fundo do campo de quadribol e ganhando as laterais, próximo as arquibancadas. Os outros defensores estavam distraídos demais para notar que Alvo e Escórpio estavam lá.


Dois guardiões da lateral notaram os garotos e partiram a toda velocidade. Alvo mergulhou uns dez metros, nervoso demais para olhar para qualquer lado. Ele sabia que Escórpio devia estar o mais longe possível dele, afim de separar o máximo as defesas dos Grifinórios. Porém Alvo não conseguiu resistir: olhou para trás. O que ele viu quase fez o coração do garoto voar pela boca.


Os cabelos loiros da prima Dominique lideravam a perseguição de dois Grifinórios contra Alvo. A prima voava cada vez mais rápido. Ele sabia que não podia ganhar dela, pois a vassoura de Alvo era a pior vassoura, a mais lenta. O garoto olhou para cima e viu Rosa a perseguir Malfoy. Mas ele desvencilhava-se facilmente dela, fazendo giros com a vassoura. Alvo e Escórpio eram o coração do plano, não poderiam ser pegos. O nervosismo e a pressão fez Alvo a pensar rápido demais.


Ele apontou a vassoura para os lados, de um lado, de outro, de um lado, de outro... Mas não estava dando certo. Dominique estava alcançando-o. “Mais rápido, por favor... Só um pouco mais rápido...”.


Nesse momento Nelson se jogou na frente de Dominique e gritou:


— VAI, ALVO!


Os dois garotos que perseguiam Nelson deram de encontro com os outros que seguiam Dominique. Esta conseguiu desviar e voou em cima de Nelson. Ele fora pego.


Mas era exatamente dessa distração que Alvo precisava. Faltava apenas cinco metros para ele cruzar os aros... O garoto empinou a Comet e começou a fazer uma subida íngreme, vendo as nuvens... Engraçado, uma tinha forma de baleia... Três metros... Já avistava Escórpio sendo perseguido por Rosa e outros quatro garotos... Um metro do aro... Escórpio estava ao seu lado.


Eles cruzaram os aros. Estavam seguros. Escórpio pegou a Bandeira Vermelha e riu entre respirações ofegantes.


— Primeira parte concluída.


Analisando a situação, estavam em dificuldades.


Rosa, Dominique e três garotos faziam guarda, apenas aguardando os dois saírem de trás dos aros para pegá-los.


— Vamos, Al... Foi um bom vôo, parabéns, mas vocês estão em desvantagem — disse uma Dominique ofegante. — Acabamos de pegar o Nelson e Mathew. Eles eram os melhores... Vocês nunca vão passar por nós.


— Ah, vamos sim — disse Escórpio. — E eles não são os melhores. Não viu como eu voei? Cinco tiveram que vir aqui pra tentar me pegar. E nem isso conseguiram. Agora eu estou com a bandeira de vocês aqui na minha mão — o garoto balançou a bandeira vermelha na mão — e vou cruzar aquele campo bem debaixo do nariz de vocês.


— Você se acha demais, esse é o seu problema, Malfoy — disse uma Rosa desdenhosa.


— Não — disse Dominique — esses Sonserinos todos é que acham que são os “bambambans” e na verdade não são de nada...


De repente a prima percebeu que tinha tocado em um ponto desagradável.


— Eu sei que não sou bom, Domi, não precisa humilhar — disse um Alvo tristonho. Ele virou de costas, incapaz de encarar a prima.


— Não, Al, eu não quis, quer dizer, eu...


De repente Escórpio se aproximou de Alvo, segurou o ombro dele e disse:


— Na verdade, eu acho que não tem que ter vergonha de ser da Sonserina.


As primas Rosa e Dominique ficaram boquiabertas. Escórpio olhou para Rosa e disse:


— Alvo não tem que viver na sombra de ninguém. Ele tem que ser grande do jeito dele. Ele provou isso hoje, montando na vassoura mais lenta e conseguindo cruzar o campo todo.... Agora, presta atenção, Alvo. Eu vou levar a bandeira deles pro nosso campo e provar que a época da Grifinória acabou assim que ganhamos o Potter.


E Escórpio disparou com a vassoura com toda a velocidade. Foi tão repentino que todos ficaram aturdidos. Dominique mais os três garotos foram atrás de Escórpio, gritando:


— PEGA ELE, ELE TÁ COM A BANDEIRA! PEGA ELE!!


Rosa foi a única a ficar de guarda.


— Sabe, Al... A Domi não quis dizer aquilo. É que estamos competindo, então... Sem ressentimentos?


Alvo ainda estava de costas. Ele virou-se e disse:


— Sem ressentimento algum.


E voou com o máximo de velocidade que pode, passando pela prima, que só foi atrás dele depois de um segundo de processamento cerebral.


Alvo era perseguido apenas por Rosa, enquanto Escórpio tinha em seu encalço praticamente todo o time da Grifinória. E nenhum deles escutava os gritos de Rosa:


— PAREM, QUEM ESTÁ COM A BANDEIRA É O ALVO! PAREM, VOLTEM AQUI!


Alvo estava focado no vôo. A adrenalina em seu sangue, parecia que toda sua vida dependia daquilo. A bandeira vermelha estava na mão de Alvo, ele precisava passar ela em segurança para o seu campo.


Tinha sido o plano perfeito. Escórpio tinha deixado claro que Alvo tinha a pior vassoura, além de se gabar que sabia voar muito melhor. Era óbvio que ninguém ia suspeitar que naquele momento tão inusitado de demonstração de amizade foi quando Escórpio deu a bandeira disfarçadamente para Alvo.


Rosa voava “O.K”, mas não era suficiente. Alvo não entendia muito bem, na verdade nem estava pensando, mas os seus instintos diziam exatamente o que fazer. Alvo deu um giro hélice duplo, desviou lindamente de Rebecca e passou zunindo por um grifinório. Mas Rosa continuava em seu encalço. Alvo lembrou-se da estratégia de Nelson assim que passou por ele, que estava congelado. Alvo encontrou a lateral do campo e saiu rente às arquibancadas, pois ali não poderiam lhe seguir de maneira segura. De alguma forma ele sabia que se entrasse no buraco do solo das arquibancadas, estaria livre de Rebecca, Rosa e o outro garoto.


E foi isso que ele fez. Invadiu o buraco na lateral do solo do campo. Lá viu-se na parte interna das arquibancadas. Rosa, Rebecca e os demais ainda seguiam ele teimosamente.


Alvo precisou gastar cada pensamento, cada pericia, cada segundo de concentração para desviar dos paus da estrutura da arquibancada. Uma pena Rebeca e o garoto não terem a mesma sorte. Eles bateram numa ripa e ficaram para trás gemendo, enquanto Rosa ainda desviava com maestria.


Alvo saiu do buraco e ganhou o gramado de forma tão repentina que Rosa não conseguiu segui-lo a tempo. Faltava só um pouco para ele cruzar o campo... Avistou Isobel parada, fitando o garoto com a expectativa estampada no rosto... Elliot tentou fazer alguma coisa, mas não tinha tanta mobilidade quanto o magrelo do Alvo... Estava prestes a cruzar a linha feita pelo professor... Alvo olhou para trás e avistou um Escórpio congelado, sendo guardado por Domi, que agora tinha percebido a mancada e voava em direção a Alvo...


Tarde demais. O garoto tinha cruzado a linha. Imediatamente todos os Sonserinos que estavam congelados foram ao encontro de Alvo, gritando vivas e comemorando loucamente, enquanto rodeavam o garoto com a vassoura.


Alvo mergulhou e chegou ao solo do campo, onde estava o professor e os Capitães. Todos os demais do time Sonserino também pousaram. Isobel gritava "Engulam essas, GRIFIOTÁRIOS!". De repente Nelson pegou Alvo pelo ombro e Mathew puxou a perna de Alvo, o garoto perdeu o chão: estava sendo carregado enquanto os outros alunos gritavam:


— POTTER! POTTER! POTTER!


Alvo agora sorria radiante, balançando a bandeira vermelha no ar. Alvo sentiu um tapa da orelha esquerda. Era Escórpio. Em meio à zoeira, a voz do menino disse:


— Pode ficar com as glórias, como sempre... Mas o plano foi meu, eu que fiz você ganhar. Não se esquece disso: você continua um inútil.


Quando Alvo olhou para Escórpio, assustou-se por não ver a expressão de raiva que esperava. O loiro sorria, presunçoso. Era como Tabatha tinha dito... Quando se trata de vencer, Escórpio é capaz de tudo.

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