Novidades em Hogwarts



Todos os alunos prenderam a respiração à abertura do portão. Mas nenhum deles ficou mais surpreso do que Alvo. quando um homem baixinho de barba e cabelos encaralados e ruivos. Usava o inconfundível barrete marrom e a capa de pelo de urso castanho, sob o terno carmim. "Perfeito", pensou o garoto. Era o que faltava para garantir a inimizade do Vice-Diretor de Hogwarts.


– Muito obrigado, Rúbeo – o baixinho ofereceu a mão para um aperto. A diferença de tamanho era tão ridícula que Rúbeo precisou se inclinar levemente para pôr as mãos a alcance de Ravus. Hagrid chamou o professor para o canto. “Ele está falando de mim e do Escórpio” pensou acertadamente Alvo, tentando o máximo ficar fora de vista. Depois, Ravus voltou-se aos alunos – Boa noite. Sigam-me, porfavor.


Ele escancarou as portas (com da varinha, naturalmente), levando os alunos adentro. O Saguão de entrada era muito, muito amplo. Tinha paredes altas de pedra, sustentando um teto tão alto que as luzes dos archotes de fogo dançante não alcançavam, deixando acima um vão escuro. A frente de Alvo, via-se escadas de mármore, cujos jogos de degraus iam até uma outra porta de carvalho deveras alta. A direita, outro portão cerrado transpassava o som de centenas de vozes. Mas Ravus não os levou para aquele lado, senão o oposto.


Em um prédio anexo ao saguão, os alunos foram agrupados em uma sala apertada demais para caber todos confortavelmente. O professor baixinho acendeu os archotes da sala com magia e subiu em uma caixa emborcada e fez-se ouvir sobre murmurinhos curiosos dos alunos.


– Primeiranistas, bem-vindos a Hogwarts – ele disse simpático – Eu sou Aleph Ravus. Podem me chamar de Vice-Diretor Ravus. Dentro de alguns minutos eu os encaminharei para o tradicional banquete de abertura do início do ano letivo. Antes de tudo, vocês precisarão ser selecionados para uma das quatro casas de Hogwarts. E isso será o primeiro grande passo de vocês por aqui.


“Corvinal, Lufa-lufa, Sonserina e Grifinória. Vocês serão selecionados para uma delas. Cada casa é dotada de uma história magnífica e todas produziram bruxos e bruxas geniais. Uma vez selecionados, a casa a qual vocês pertencem será literalmente suas famílias durante todo o período acadêmico de suas vidas. Assistirão aulas com os seus colegas de casa, dormirão nos dormitórios que cada uma delas comporta e se reunirão aos seus iguais no Salão comunal respectivo. Em Hogwarts, cada aluno pode contribuir para a honra de suas casas. Atos ilustres e acertos renderão pontos e os seus erros (quando disse isso, Alvo sentiu-se fuzilado pelos olhos dourados de Ravus), enganos e desrespeitos para com o regulamento interno o farão perde-los, naturalmente. Desta forma, a casa que acumular mais pontos no fim do ano letivo receberá a Taça das Casas. Vocês irão aprender a amar a sua casa que pertencem e com toda a certeza desejarão que as cores dela enfeitem a festa do fim do ano letivo”


Fez-se um silêncio sepulcral. Os alunos fitavam Ravus, que ficou calado por um tempinho, até continuar.


– Toda a escola presenciará a seleção de vocês. Voltarei daqui a pouco, quando estivermos prontos para recebê-los.


Dizendo isso, o Vice-diretor Ravus virou-se, sem nem fechar a porta. Ele abriu o portão à direita e várias vozes por um instante aumentaram de intensidade, e baixaram novamente, quando ele a fechou. Então os primeiranistas começaram a murmurar inquietos, sobre a perspectiva de serem escolhidos e a dúvida de como seria a cerimônia. Alvo pode ouvir Nelson se gabando “Obviamente meu pai me falou como é que somos selecionados, mas não vou falar, não adianta insistir. Não vou estragar a surpresa”.


Alvo também sabia. Seu pai tinha contado na noite, após o incidente em Juperos, mas não estava nem um pouco a fim de falar ou ser visto por ninguém. Olhou para si mesmo. Continuava completamente ensopado. Alguns alunos ainda lançavam olhares risonhos para ele e Escórpio, que estava do outro lado, balançando a capa para ver se conseguia secar à tempo antes de serem chamados novamente. Isobel não estava a vista, mas Rosa estava ao lado de Alvo, olhando apiedada para o primo e quase rosnando para Escórpio do outro lado.


Um grupo de estudantes relativamente numeroso de repente passou pelo lado da porta onde os primeiranistas se apertavam. Eram veteranos, com toda a certeza. Eles portavam violinos, violoncelos, flautas de prata e papéis nas mãos, que deveriam ser partituras e letras. O homem alto, com as roupas roxas berrantes e o cabelo vermelho de topete branco disse, com uma voz agudinha e histérica:


– Vamos, Calliu, pare de rir dos garotinhos e ande logo! Pé a pé, pé a pé, vai vai! – e o grupo de musicistas entrou pela porta que Ravus também tinha passado.


Isso era ótimo. Alvo esperou muito o momento de ser selecionado e agora ia ter que enfrentar a gargalhada geral, não só de Calliu, mas de todos os outros alunos. Tiago não ia deixar ele se esquecer disso nunca. Todavia Escórpio não tinha conseguido se enxugar a tempo – no máximo molhara um grupo de meninas indignadas que se afastaram dele quando ele balançara as vestes na esperança de secá-las, revelando uma Isobel com a cara azul de quem havia comido algo que não lhe caíra bem.


– Bem, estamos prontos – disse uma voz. Era Ravus, ele tinha votado – Façam uma fila indiana e aguardem só mais um pouco. Preciso falar com dois alunos – o baixinho se referia a Escórpio e Alvo. O menino engoliu a seco.


Ravus acompanhou um Alvo nervosíssimo e um Escórpio desafiadamente plácido para de volta a sala que todos os alunos estavam a pouco. Ele fechou a porta, deixando tudo escuro. Então fez um movimento circular e todos os archotes acenderam novamente, refletidos na poçinha de água debaixo dos pés dos dois garotos.


– Muito bem – começou o vice-diretor, contraindo as sobrancelhas, rígido, obtendo um impressionante efeito de respeito, apesar de estar olhando os garotos quase da mesma altura – Rúbeo me informou parcialmente sobre o ocorrido. Quando o banquete acabar, peço que aguardem. Vocês visitarão a minha sala, onde conversaremos melhor, garotos – Alvo olhava para baixo, incapaz de encarar Ravus e Escórpio não fazia outra coisa senão fitá-lo, topetudo. Alvo pensava que já não bastava a pré-opinião do vice-diretor sobre “O bisbilhoteiro Alvo Potter”, agora ele completava a ficha com “O desordeiro Alvo Potter”. O homem continuou – Mas, por enquanto acho que isso deve bastar...


Ravus apontou a varinha para Alvo. A sobrancelha do garoto foi às alturas de susto e Escórpio recuou por instinto. Alvo não podia fazer nada. Fechou os olhos, esperando o impacto do feitiço-castigo...


– Impervius – disse o vice-diretor. As roupas de Alvo secaram por completo, até seu cabelo, rosto, enfim, toda o aguaceiro que era o menino se foi. O baixinho também secou Escórpio, dizendo – Vocês não podem ser selecionados com roupas molhadas dessa forma.


Mas Alvo não teve tempo de agradecê-lo. Subitamente um grupo de pessoas irromperam as paredes, transpassando-as como se não fossem nada. Mais de vinte fantasmas brancos-aperolados e ligeiramente transparentes atravessaram a sala à vôo. Alvo levou um susto tremendo, no entanto Escórpio mais uma vez recuou instintivamente, pondo-se em posição de defesa. Aleph apenas mirou-os, dando um olá vago. A maioria ignorou os três, passando a outra parede em direção ao Saguão ao lado (alvo ouviu os gritos de susto dos outros alunos). Mas um deles olhou para Alvo e estacou no ar.


– Não acredito. Harry Potter? – o fantasma que usava gola de tufos engomadinhos e uma roupa da nobreza clássica, com meiões e tudo, se aproximou de Alvo – Não, não pode ser, claro. Fazem exatos dezenove anos que eu não vejo... – O fantasma falava para si, como que atribulado e confuso - Não pode ser, é muito parecido... Venha cá menininho, qual o seu nome?


– Alvo... Alvo Potter – disse o garoto, muito acanhado.


– Alvo Potter... Alvo? Alvo, igual ao Professor Dumbledore é? Só podia ser o filho de Harry Potter... Os olhos, o jeito... E veja só, a miniatura de Draco...


– Sir. Nicholas, estamos atrasados. Eles precisam se juntar aos outros para serem selecionados.


– Ah! – Sir. Nicholas abriu um sorriso ainda maior para Alvo – Bem, então, Alvo... Nossa, é tão estranho chamar de Alvo a cópia de Harry... Bem, Alvo, sou o fantasma da Grifinória, hm? A mesma casa que seu pai foi e que seu irmão Tiago está. Vejo você lá, então? – Alvo concordou meio amuado – Excelente!


O fantasma então atravessou a parede.


Escórpio e Alvo se juntaram ao fim da fila. Os alunos quase quebraram o pescoço para olhar para eles e cochichar sem pudor algum. Alvo podia sentir a energia negativa vindo de trás, emanando de Escórpio Malfoy. Neste momento, apenas queria se enterrar e desaparecer da vista de todos...


– Bem, chegou a hora! – exclamou o vice-diretor, posicionado na cabeça da fila de alunos nervosamente cochichantes – Sigam-me!


Alvo seguiu o garoto gorducho a sua frente (o que tinha caído no trem). Parecia que ele tinha engolido três pedras de gelo e que alguém tinha colocado uns pesos a mais em sua perna. Foi andando pouco à vontade, seguindo o fluxo de alunos que já atravessava a porta dupla de mogno talhado. Iam dizendo “noooosssa”. Quando ele passou por ela também, sentiu sua mandíbula desligar levemente da maxila.


Era um salão muito amplo e longo, iluminado por centenas, milhares de velas que flutuavam muito acima, mas não alcançavam o céu, quer dizer, o teto... Não. Não havia um teto. Os garotos miraram abobados acima, vendo a noite nebulosa e azulada, com estrelas cintilantes no céu anil-escurecido. O teto do salão abria-se para o infinito.


Alvo também observou que as velas acimavam quatro mesas longuíssimas, já lotadas de alunos, todas prontas com pratos, taças e talheres dourados, cintilantes à luz imponente das velas. O vice-diretor Ravus levou os garotos pelo caminho largo entre as duas mesas mais centrais, até a ponta destas. Eles puderam ver que mais no fundo do salão, encontrava-se uma outra mesa longa, em um patamar acima do nível das outras quatro, as quais os professores ocupavam, de costas às janelas de vitrais belas e longas. Os fantasmas flutuavam desparelhados pelo salão, conversando com alguns estudantes, professores, um com uma aparência particularmente assustadora conversava com uma velha corcunda de óculos escuros que também não parecia nada amigável.


Os alunos do primeiro ano esperaram, nervosos. Alvo procurou Rosa ou Dominique, encontrando encarão de Isobel, um pouco mais à frente da fila. Ele também tentou achar o irmão Tiago, mas apenas conseguiu dar de cara com Escórpio, com expressão de quem lhe daria um soco se ele não ficasse quieto. Alvo então fitou mais a frente, procurando ver o que acontecia.


Havia um banquinho de quatro pernas um pouco diante deles, o qual o vice-diretor aproximou-se e colocou em cima um chapéu pontudo de bruxo marrom. Era cheio de rasgos e remendos, todo engelhado. Alvo sabia exatamente do que se tratava. Mas notou que nem todo mundo, pois surgiram novas conversas paralelas. Mas todos calaram-se e até Alvo se assustou quando o chapéu se mexeu. Um rasgão na base como uma bocarra mal costurada, ele cantou alto um poema para todo o salão:


Há muitos anos atrás, quando seus bisavôs nem sonhavam em existir


E os bisavôs dos seus tataravôs não sabiam nem andar ou falar


Aqueles quatro que criaram essa escola muito antiga, milenar,


Criaram o chapéu dos chapéus, ninguém mais, o papaizinho aqui.


Vocês podem me ter como decrépito, velho e acabado


Podem pensar que não sirvo para nada, estou fora do prazo.


Mas nesse castelo nada envelhece, nada fica ultrapassado


E dou de dez a zero em qualquer chapéu bonito e bem bordado.


Eu sou o Chapéu Seletor de Hogwarts e já passei por poucas e boas


Já vi tudo ruir e tudo reconstruir de novo, tudo se levantar e cair


Mas aqui estou eu, fazendo o meu trabalho: espiar a cabeça das pessoas


E dizer para qual das quatro casas de Hogwarts deverão ir.


Ah, podem apostar que eu sei quando vejo um Grifinório


Pois sei discernir muito bem quem évalente ou inglório


O ousado ou covarde, o nobre ou sangue-de-barata


Só os de verdadeira coragem podem habitar essa casa.


Ou será Lufa-Lufa, o próximo que verei e selecionarei?


Justiça, lealdade, paciência e sinceridade na cabeça encontrarei?


Pois se tudo isso tiver na cabeça, há também de suportar a dor


Se da casa do texugo, de fato, sem dúvida alguma, for.


E se for um crânio o próximo a passar em minha avaliação?


E da sábia-anciã, viva e talentosa Corvinal atrair a atenção?


Mente veloz e afiada, guardando tudo, sem esquecer nada


Os sábios encontrarão no ninho da Águia uma morada.


Ah, mas quem pode esconder o seu coração Sonserino?


Aqueles que tem grandeza e poder como verdadeiro caminho?


As astutas serpentes são capazes de tudo e nunca desistirão


De provar o seu valor, o desejo puro de um Sonserino coração.


Tudo o que precisam fazer é sentar no banco, e ficar parados


Me coloquem em suas cabeças e aguardem o resultado


É bem fácil, não precisam se preocupar, será rápido!


(Na maioria das vezes, mas demora muito em alguns casos)


Todos aplaudiram o poema do chapéu seletor. O chapéu baixou a ponta para cada uma das quatro mesas e depois manteve-se parado novamente, como se fosse apenas um chapéu velho comum. Alvo pode escutar alguns alunos suspirando aliviados, comentando, sibilando entre si, cutucando uns aos outros para falar que "Ah, então é só experimentar o chapéu velho". Mas Alvo não queria que ninguém falasse com ele nesse momento, por que ele não queria pensar no que o poema dizia, ele não queria pensar... Não queria. E foi com um certo alivio e ao mesmo tempo um enorme “Q” de pânico que Alvo ouviu Ravus dizer, segurando um pergaminho que ia até o chão.


– Vou chamar vocês em ordem Alfabética. O aluno chamado deverá colocar o Chapéu e se sentar no banquinho, naturalmente.


– Alikanderix, Elliot.


O garoto gorducho que caíra no trem correu até o banquinho. Ele sentou-se nervosamente e o banco rangeu perigosamente (os alunos caíram em gargalhada, mas Ravus mandou eles fazerem silêncio). Elliot pôs o chapéu até cobrir os olhos. Passou-se um bom tempo até ele anunciar alto e em bom tom:


– GRIFINÓRIA!


A mesa na extrema esquerda prorrompeu em aplausos. Elliot correu sorridente até ela e sentou-se (ocupando um espaço considerável). O fantasma de gola engomada apressou-se a aproximar-se do garoto, dando os parabéns para o mais novo membro da Grifinória. Tiago desarrumou o cabelo de Elliot e Letícia deu um tapão forte na costa do menino, fazendo-o massagear depois que ela tinha ido embora.


– Archimenes, Walfran!


– CORVINAL!


A mesa do canto à Direita que comemorou dessa vez. Alvo reconheceu o rapaz alto, esguio e de cabelos lisos e negros, que tinha conhecido no aniversário de casamento dos seus pais. O gêmeo Lissandro apertou a mão de Walfran. Tiago tinha dito que ele era o monitor... Então era o monitor da corvinal.


Enquanto Alvo estava prestando atenção em Lorcan, Beatriz Bathory foi selecionada para a Corvinal. Era uma menina pálida, muito magra e pequena, parecendo que ia desmontar na primeira lufada de vento (o que parecia muito promissor, pois seu jeito desligado sugeria que a menina pertencia a outro planeta e deveria imediatamente se reunir a voo com seus conterrâneos de marte). Beatriz tinha os cabelos lisos pretos e picotadinhos, e uns óculos enormes pretos, que lhe somavam definitivamente sua aparência marciana, além de sua expressão fática de “To nem aí”. Quando ela notou que Alvo a fitava, deu um encarão feio, fazendo o menino assustar-se e desviar o olhar.


Beatriz sentou-se ao lado de Walfran, no momento que Reggie Boot era escolhido para a Grifinória também. Já April Brandlewis foi a primeira escolhida para ser da Lufa-Lufa, causando uma onda de vivas dos alunos da mesa à direita mais próxima.


A medida que os alunos iam sendo selecionados, Alvo ia se sentindo ainda mais inquieto. O nervosismo piorou quando Lexie Carmina foi escolhida para a Sonserina. A Mesa mais à esquerda felicitou-a. O outro gêmeo, Lissandro Scamander, que era monitor também, deu os parabéns para a menina e ela sentou-se ao lado dos companheiros.


Alvo não viu nada de mais na mesa dos Sonserinos. Pareciam como os demais estudantes, nem melhor nem pior. Quem sabe Nelson estava certo ao dizer que era “Opinião de babaca” taxar os sonserinos como “mal-carateres”. Mas Alvo voltou a atenção à seleção, para ver Umma Charlies ser selecionado para a Grifinória. Ele não queria pensar numa coisa dessas nessa altura do campeonato.


Ele percebeu que, como dito, não havia um tempo padrão para o chapéu seletor escolher a casa do aluno. Para Rhanna Cooper, a decisão de colocá-la na Corvinal fora bem rápida até, mas Yohana Coy-bonhart, ele levou um bom tempo até decidir colocá-la na Lufa-Lufa. Alvo ia se aproximando de pouco em pouco do início da fila. Ele viu Nelson Derwent ser selecionado para a Sonserina. O menino foi sentar-se com os demais Sonserinos com um sorriso estampado no rosto.


Raphael Für-Riddley foi para a Corvinal... Alvo já queria que chegasse a sua vez... Mallone Hirase era da Corvinal também... Afinal, quantos alunos novos iriam entrar em Hogwarts esse ano?...Dedâmia Lethveely era da Sonserina... Que bom para ela... Juliana Licaster também... Ótimo, as duas poderão ser melhores amigas...


– Malfoy, Escórpio! – chamou o Vice-diretor Ravus. Alvo observou o menino loiro de óculos vermelho sair de trás dele e experimentar o chapéu, que demorou um tempo anormal para finalmente dizer:


– SONSERINA!


Alvo não ficou nenhum pouco surpreso quando Patrichio e Mathew também foram para lá. Era o que eles queriam, afinal de contas. Mas... O que ele queria?


Bem, ele sentia uma certa ‘obrigação’ de ir para a Grifinória, a casa que toda sua família ocupou em várias e várias gerações. Mas será que ele tinha as qualidades que o chapéu seletor cantara? Com certeza ele não era um garoto corajoso como o irmão. Nem era inteligente como Rosa, muito menos prático e impetuoso como Isobel. Alvo era uma ameba: covarde, chato e caricato. O pobre filho do meio de Harry Potter... Um fracassado. Se todos os boatos estivessem certos, de fato ele seria um ótimo aluno da Lufa-Lufa...


– ...Otter, Alvo. POTTER, ALVO!


O garoto voltou a terra com o susto de ter ouvido seu nome. Ele arregalou os olhos e ficou pálido, estacado no lugar. Todas, Todas, TODAS as pessoas do salão olhavam para ele ("Ele disse Potter? O outro Potter?). Ele sentiu que iria vomitar. Não estava preparado... Não estava mesmo.


– Por favor, senhor Potter – Ravus disse – você poderia vir?


Alvo engoliu a seco e concordou. Fazia um silêncio mortal. Ele andou duro como uma tábua, seus passos ecoando horrivelmente no salão. Sentou-se no banquinho. Antes de pôr o chapéu na cabeça ele viu as primas Rosa e Dominique no grupo de estudantes que restara. Também identificou Tiago no meio da mesa da Grifinória, acenando para ele, fazendo “O.K” com o polegar. O fantasma Nick dera um "Olá" de lá da mesa também. O resto dos alunos apenas o fitava, provavelmente tentando dar uma boa olhada no recém-conhecido outro filho de Harry Potter. O coração de Alvo batia a mil.


As pessoas cochichavam muito. Alvo desejou que elas parassem de apontar ou fuzilá-lo com os olhos. Talvez por isso que ele pegou o chapéu e o afundou até os olhos verdes ficarem totalmente cobertos, de modo que só o que viam era uma semi-luz atravessando o forro escuro do Chapéu seletor.


– Interessante... Interessante, interessantíssimo – a voz do chapéu adentrava seus miolos, como um eco que só ele podia ouvir. Isso não foi novidade para Alvo. Os luduans falavam da mesma forma, mas não tinham esse tom de curiosidade - Hmmm... – continuou a voz do chapéu – Ah! Muito bom. Não é nenhum gênio, mas vontade de ser é o que não falta. Onde será que eu devo colocá-lo?


Alvo sentiu a cabeça indo a mil, tentando sentir-se corajoso, tentando pensar que não era um medíocre, louco para provar que merecia ser da Grifinória...


– Pensando na Grifinória? – de repente a voz mental do chapéu perguntou – Sem dúvida alguma é um lugar para grandes bruxos. Mas será que é esse o seu lugar? Pode ser, muito embora, neste momento... Eu não estou lendo nada de indômito nessa sua cachola oca...


Alvo ficou em pânico. Ele sabia o que ia acontecer! O chapéu ia colocar ele na Lufa-Lufa a qualquer momento! Isso não podia, ele não ia deixar. Lembrou-se do que seu pai havia lhe dito e apelou para sua última esperança.


– Por favor... – Alvo disse baixinho, de modo a não deixar ninguém mais ouvir, somento o chapéu – Por favor, eu não sou da Lufa-Lufa, eu quero...


– Não é da Lufa-lufa? – A voz do chapéu veio à tona novamente - Ah, e não é mesmo. Querer o que você quer não o faz um bom texugo... – Alvo, ao ouvir isso, suspirou aliviado – Alvo Potter, sei exatamente o lugar que o tornará grande, famoso, lendário, tão lendário... E até mais que o próprio pai, veja só. Sim, sim, sim, está tudo dentro da sua cabeça. Hmmmm, é. Eu sei exatamente o que fazer com você. Seja muito bem-vindo à...


SONSERINA!


Alvo perdeu o chão. Parecia que ele estava caindo eternamente. Caindo, caindo, com aquele frio que vinha do peito se espalhando por todo o corpo, de modo a congelá-lo por completo. Ele não podia acreditar que isso tinha acontecido. Ouvira o engasgar incrédulo e uníssolo de todos os outros alunos, que também estavam estupefatos, porque Alvo, Alvo Potter era agora da... Não queria tirar o chapéu seletor da cabeça. Queria desaparecer, explodir, virar pó, sumir e reaparecer em outro lugar. Por favor, para qualquer outro lugar...


Mas os pés do vice-diretor Ravus se aproximavam pela fresta do chapéu. Ele o fez flutuar para fora da cabeça do menino, revelando a cara perplexa de Alvo para quem quisesse ver. Mas ela não era nada comparada a expressão de puro choque de Tiago Potter, pregado na mesa dos Grifinórios, tão distante e alheia à Alvo.


Alvo não conseguia despregar os olhos de seu irmão mais velho. Tiago também o fitava, com a face pálida e a boca semiaberta. Então a mesa à esquerda pareceu que tinha explodido. Os Sonserinos levantaram-se, aplaudindo e ovacionando o garoto pregado à cadeirinha de quatro pernas. Eles sorriam para ele, falando “Ganhamos um Potter! Um Potter Sonserino!” e coisas do gênero. Mas Alvo ainda estava hipnotizado, os olhos verdíssimos ainda vidrados nos azuis do irmão. Os olhos de Tiago traduziam à Alvo algo terrível. Era como se ele estivesse acabado de ficar órfão.


Ravus obrigou o menino se levantar da cadeira. Alvo caminhou até a mesa da Sonserina, um percurso curto que, porém, pareceu ter levado horas. O garoto finalmente encontrou Rosa e Dominique em meio ao grupo de estudantes que restava ser selecionado. A expressão de Dominique não era melhor do que a de Tiago e Rosa pareceu que simplesmente não acreditava.


Alvo primeiramente recebeu os fervorosos cumprimentos de Lorcan. Sentou-se ao lado de Mathew Owen, que parabenizou-o, parecendo, apesar disso, impressionado. Dedâmia dava gritinhos estressantes, ao mesmo tempo que Nelson sorria com a velha simpatia automática de sempre. Juliana, como era de se esperar, não esboçou nenhuma reação digna de nota. Escórpio estava mais para a frente de Mathew, procurando não se misturar com a comemoração babaca; Mas um veterano levantou-se para lhe dar um tapa de tirar o fôlego. Mas o garoto não estava de fato na mesa. A cabeça dele estava a mil, tentando entender o que havia acabado de acontecer. A ficha tinha acabado de cair.


Alvo tinha sido selecionado para a Sonserina. Alvo POTTER, o filho de Harry Potter e Gina WEASLEY, um Sonserino? Isso simplesmente não podia estar acontecendo. Ele fitava o chão, apenas concordando com a conversa vaga das pessoas que falavam ao seu redor, sem, contudo, compreender de fato o que elas estavam falando. Agora, ciente de que era um Sonserino, que seus piores pesadelos haviam se realizado a alguns minutos atrás, a última coisa que ele conseguia era falar com alguém. Sentia que tinha algo preso, entalado na goela. Não conseguia virar o pescoço para a mesa ao lado, onde os Grifinórios, tão próximos e distantes ao mesmo tempo, comemoravam... Era insuportável.


E sua família? O que os Weasley pensariam disso. O que os tios falariam? O que Ted acharia disso? Alvo lembrava-se de tio Rony dizer que deserdaria Rosa se ela não fosse da Grifinória. Será que ele podia já se considerar um exilado?


O que seu pai e sua mãe pensariam disso? Sua mãe... Ela compreenderia, ela com certeza... Será? Uma legítima Grifinória, que contava as suas diversas aventuras em Hogwarts, todas mencionando orgulhosamente a casa da Grifinória e a rivalidade intrínseca com a Sonserina. Mas e o seu pai? Alvo lembrara das últimas palavras dele antes de zarpar no trem.... Ele disse que Alvo tinha os dois nomes inspirados em antigos diretores. Alvo, do gênio Alvo Dumbledore, que era, muito acertadamente, um Grifinório. Já Severo, como Juliana havia citado, um Sonserino. E seu pai Harry tinha dito que ele fora Um dos homens mais corajosos que já conheci. Só que Juliana tinha dito que Harry o detestava... Isso não fazia o mínimo sentido. Se você for, a Sonserina ganhará exelente jovem bruxo. Será que ele tinha dito isto de boca para fora, apenas para tranquilizar o garoto, tendo a certeza de que o filho seria da Grifinória.


Alvo tinha vontade de baixar a cara na mesa e ficar ali, escondido até a cerimônia acabar. Mas isso era algum tipo de conforto. Depois ele teria que ir para o Salão Comunal da Sonserina... O que Alvo queria mesmo era voltar no tempo e gritar “Sonserina não” para o chapéu seletor. Até lufa-lufa era uma opção, tudo menos Sonserina...


Ele ia ficar longe dos primos, da família, sendo obrigado a ficar totalmente só nas aulas. Na verdade não só nas aulas. Rosa e Dominique ainda não tinham sido selecionadas... O garoto desejou muito secretamente que ambas fossem para a Sonserina, mas procurou não alimentar esse sentimento, pois o fazia se sentir culpado. Quem era ele para, por puro egoísmo, amaldiçoar as primas. Foi quando Alvo levantou o olhar para prestar atenção um pouco mais na cerimônia, ainda forçando o desejo sujo para o fundo da mente, onde ninguém encontraria...


– River, Kyle.


– LUFA-LUFA! – disse o chapéu seletor. Alvo sentiu uma espécie de acidez no estômago quando olhou o chapéu. Era raiva.


– ...nunca ia pensar, mas olha aqui. Isso pode até sair nos Jornais – disse Patrichio, entusiasmada - Já estou até vendo a manchete: “Um Potter Sonserino”. O que acha, Alvo?


– Não é? – concordou Dedâmia, mexendo no cabelo – pode mesmo. O


Alvo queria que eles simplesmente calassem a boca. Jornal? Já não bastava a reportagem do circo? Ele não queria pensar nisso, então concentrou-se com todas as forças a ouvir Thabata Ravenborn ser escolhida para... Ah não, Sonserina de novo. Olhou para o outro lado da mesa da Sonserina para fugir da conversa dos primeiranistas. Os veteranos também conversavam excitados. Alvo identificou a menina de cabelo negro e liso com a partilha, que aparentava ser mais velha, mas sempre estava perto de Isobel, tanto no dia do circo quando no trem.


A menina conversava com outro veterano da Sonserina que era muito forte e alto. O olhar de Alvo se encontrou com o dele e o menino falou alguma coisa no ouvido dela, então a menina virou-se para Alvo e deu um sorriso de puro deboche, batendo o cabelo e voltando a conversa com o grandalhão da Sonserina. Lorcan estava próximo a menina também, mas concentrava-se em uma conversa com uma loira mais à frente que ria... Deveria estar rindo de Alvo... O garoto já estava achando que estava paranoico, então resolveu voltar a olhar para a seleção. Mika Sulivan era da Lufa-lufa também, mas Raphaela Tephelles era da Corvinal... Uma menina chamada Phandora tinha o sobrenome ‘Ugarte’, assim como a boticária da Travessa do tranco. Era uma menina de aparência maligna, com os cabelos bem desgrenhados e os olhos castanhos claros, quase âmbares.


– Waldorf, Isobel.


Houve um murmúrio súbito quando o sobrenome de Isobel foi citado, mas desta vez não veio dos alunos, mas sim do corpo docente. Volgelweide falou algo no ouvido da professora Aileen, que lhe lançou um olhar repreendedor. Depois ela concentrou-se em fitar longamente Isobel. Será que Adhara Aileen conhecia a garota de alguma forma?


Isobel sentou-se na cadeirinha e, parecendo desconfiadíssima, colocou o chapéu seletor e esperou. Alvo queria que Isobel fosse para outra casa, pois não gostaria de ter que levar patadas do amanhecer de cada dia até a aurora do outro. No entando, ele sentiu um estranho conforto quando o chapéu seletor falou para todos ouvirem “SONSERINA!”, mas nunca poderia explicar o porquê. Talvez algo com os Waldorf o atraísse, pois, com as descobertas durante as férias de verão, Alvo teve uma estranha certeza de que eles e os Potter tinham algum tipo de história compartilhada, a qual ele deveria conhecer para entender Integra e todos os fatos que se desenrolavam atualmente.


Quando foi selecionada, a primeira pessoa a qual Isobel recaiu o olhar foi para Alvo. Era um olhar indecifrável. Ao mesmo tempo, ambos os garotos cortaram a ligação de olhar. Isobel sentou-se no lado oposto da mesa da Sonserina, onde estava Escórpio. Foi cumprimentada por Lorcan e desde então ficou em silêncio.


– Weasley, Dominique – chamou Ravus.


Alvo viu a prima esperar a decisão do chapéu. Não deu outra.


– GRIFINÓRIA!


Muitos aplausos vieram da mesa ao lado. Mas Alvo não queria olhar. Ele fechou os olhos e esperou até a ovação acabar. Isso por que a próxima a ser selecionada era...


– Weasley, Rosa.


Alvo sabia o que ia acontecer, mas quando aconteceu, foi pior. Rosa era da Grifinória também. Era como se ele tivesse engolido três pedras de gelo. O estômago estava congelado. O olhar dele encontrou com o de Rosa e quando ele viu a prima ser abraçada pelo irmão ele teve uma certeza: o ano seria muito, muito difícil.


O último a ser selecionado foi um Sonserino chamado Dorian Zabine, um garoto mulato de olhos tão verdes quanto Alvo.


O vice-diretor Ravus fez o banco e o chapéu flutuarem até uma porta no fundo do grande salão.


– Antes da nossa diretora iniciar o discurso de boas-vindas, iremos escutar a apresentação do clube de canto lírico de Hogwarts, liderado pelo professor Buchanan Garfield.


O homem de cabelo branco e topete vermelho levantou-se da mesa dos professores e postou-se em frente do púlpito de coruja prateada. Os alunos que Alvo tinha visto antes apareceram da porta dos fundos do grande salão. Os instrumentistas ficaram mais à esquerda, portando Harpas enormes, flautas esquisitas e dulcimeres. Já os membros do coral, de garotos e garotas em número igual, ocuparam centralmente os três degraus da escada do patamar elevado. Cada membro do coral trazia corvos que se empoleiravam obedientemente nos ombros deles.


O professor Garfield veio gingando até a frente do coral e contou com a varinha a balançar:


– E um e dois e três e...


Primeiramente os instrumentistas tocaram uma melodia harmoniosa e carregada de um profundo mistério. À maestria do professor, o coral então começou a cantar com vozes de ópera. Ao compasso, os corvos crocitavam, como legítimos cantores.


Dom dondonrin, dom dom, dondonrin dom dom


Onde estará, onde estará? (crá, crá, crá crá!)


Dondonrin, dom dom, dondonrin dom dom


O sol se vai


A noite cai


As estrelas cintilam no céu (crá-crá!)


Perfurando o vasto e negro véu (crá-crá!)


Mas traga-me as luzes,


E eu expugno a escuridão


Pois a noite é longa


A floresta é densa


Segure a minha mão...


O tempo é frio


O vento, esguio


Mas, coragem! Temos de seguir! (crá-crá!)


Temos tempo até o dia emergir (crá-crá!)


Ele fareja os ventos


E segue todas as pegadas


Ela não fugirá


Ele a encontrará


Seguirá até a alvorada


Eu juro, a encontraremos


E não descansaremos


Até achar! (crá-crá-crá!)


Até achar! (Crá-crá-crá!)


Dom dondonrin dom dom!
Dom dondonrin, dom dom, dondonrin dom dom


Onde estará, onde estará? (crá, crá, crá crá!)


Dondonrin, dom dom, dondonrin dom dom


Hei de encontrar... Onde estará?


Ao fim da música os corvos crocitaram com ainda mais vontade, indo para o braço dos estudantes e batendo as asas, excitados com as palmas da plateia. O professor e o corpo musical e curvou-se em reverência aos aplausos e se retiraram. Subitamente os aplausos sumiram. Estava de pé atrás da mesa dos professores a bruxa muito velha e alta de longas vestes verdes, com os cabelos brancos em coque, acimado por um chapéu coco preto de bruxo, cuja a base tinha algumas esmeraldas no bordado dourado.


Alvo já tinha visto aquele olhar sério sob os óculos quadrados retinindo sob as chamas das velas. Era uma amiga dos pais que já tinha visto algumas vezes em casa. Tinha aprendido a associar a presença dela com algum problema ministerial, pois sua visita sempre significava que o pai deveria ir ao Ministério, até mesmo em dia de folga. A última vez que ele tinha visto aquela senhora foi um pouco antes da Copa do Mundo na Patagônia, quando o pai voltara para a casa com uma nova cicatriz no rosto.


A diretora Minerva Mcgonagall esperou todas as conversas paralelas acabarem então, quando o silêncio estava como ela gostava, sua voz austera ecoou pelo salão.


– Boa noite e, aos primeiranistas, sejam bem-vindos – e deu um sorriso mínimo de canto de boca – Antes dos avisos de início de ano letivo, primeiramente, o banquete. Sirvam-se e... – a diretora fez um gesto abrangente com a varinha e acrescentou – Bom Appétit – sentando-se novamente.


Alvo notou que a mesa agora estava repleta de pratos de comidas estonteantemente cheios. Camarões a canapé com molho branco, rosbife com grãos, caça selvagem, tortas salgadas, costeletas com cogumelos, gordas galinhas assadas, brilhantes ao óleo, ladeadas por massala em um ensopado vaporoso. Pudins de carne à moda de Yorkishire, presuntada com salva e queijo frito. Cenouras, alfaces, cebolinhas, e couves embebidos em óleo de oliva, enfeitando uma travessa de porco assado, lagostas e moluscos em rodelas de frutas tropicais. Uma pilha de almôndegas e as fatias de cordeiro com fatias de batatas fez Alvo esquecer da Sonserina e lembrar que não tinha comido nada desde o trem. Estava faminto.


Alvo encontrou na comida a distração que precisava, por que de boca cheia não podia participar da conversa animada que os demais Sonserinos desenvolviam ao redor.


– Eu sabia que eu entraria na Sonserina – pode-se ouvir Nelson falando – a Juju também, claro. A gente sempre ta junto desde pequenininhos, imagina primos tão unidos como a gente se separarem?


Juliana concordou enquanto mastigava um pedaço simples de cogumelo. Alvo sentiu-se um pouco incomodado com aquelas palavras. Sentia que fosse para ele. Nelson continuava a falar para Mathew, que comia uma coxa de frango e purê.


– A Isobel, nossa prima, também está na Sonserina. Isso é fantástico. Apesar dela não ser irmã da Deby de verdade, as duas são da Sonserina. Deborah Waldorf é a outra filha da tia Integra, não é Juju?


Juliana concordou novamente, mas acrescentou:


– Apesar da tia ter dito que era da Corvinal.


– É, tinha esquecido disso – riu-se Nelson – mas acho que você sacou o que eu quis dizer. A nossa família está em peso aqui na mesa. Sem contar com a mesa dos professores. Se bem que...


– Nelson – repreendeu Juliana. E o menino se calou.


Então a outra garota, a mais velha, era outra “filha” de Integra Waldorf... E ele estava na mesma casa dela. Mas Integra era da Corvinal e, segundo Nelson, havia outro parente deles entre os professores. Seria o vice-diretor Ravus? Fazia sentido, pois ele havia levado Isobel para as compras... Isso piorava bem mais as coisas.


O olhar de Alvo recaiu para a mesa dos professores, que comiam também os seus próprios banquetes. Ravus estava à direita de Minerva. O seu banco deveria ser mais alto, pois estava quase no mesmo patamar que ela. Aileen, agora com os cabelos verde-ácido, puxava papo com um homem que Alvo tinha visto no aniversário de casamento e agora percebera que era o mesmo que estava no camarote com a professora no dia do Juperos. O loiro alto, com os olhos meio puxados, loiro, forte e alto, com aquele velho sorriso sacana. David Ruffeil... Que aula será que ele ministrava?


O senhor Slugorn falava com o tio Rúbeo, muito conhecido de Alvo. O gigante de cabelo vasto, já esbranquiçado e muito desgrenhado parecia estar ouvindo um assunto interessantíssimo, pois ambos haviam abandonado os pratos ainda cheios. O professor Garfield, por sua vez, insistia em falar com o professor Vogelweide. Mas o albino parecia estar mais desconfortável do que um urso polar em um deserto escaldante.


Neville, o tio Neville, muito conhecido de Alvo, um homem de rosto redondo e corado, parecendo um garotão simpático, conversava, por sua vez com uma figura estranha. Era uma mulher branca meio amarelada, com a pele lisa e desprovida de rugas, mas o jeito de quem não era uma jovem.


Os cabelos eram longos e negros, muito lisos, mas ao mesmo tempo cheios, fazendo uma franja repicada e rebelde. O resto das madeixas desciam pelas costas, com alguns penduricalhos de estrelas prateadas presos no cabelo, usados normalmente em dreadlocks. Ela tinha os olhos puxados, com grossos cílios e olheiras marcantes. As sobrancelhas bem delineadas e pontudas, numa expressão eterna de desconfiança. Na verdade, na verdade, os olhos transferiam uma noção de que aquela mulher tinha bebido demais (e iria continuar bebendo, pois enchia o copo de vinho pela segunda vez até a boca).


Para completar o visual, tinha aquele brinco com um desenho de um olho numa mão, só de um lado da orelha e um vestido longo azul brilhante, detalhado por estampas de dragões orientais dourados. O vestido cobria muito além dos braços, ficando um afofamento no punho. Além das mãos, mostrava apenas uma parte do busto pálido e liso, que continha um colar de folhas vermelhas.


A conversa parecia muito boa, pois ela soltou uma gargalhada que mais parecia um grito e todos da mesa a fitaram, a diretora lançando um olhar de reprovação. Ela pareceu nem ligar, pois encheu o terceiro copo de vinho, oferecendo para Neville um gole, que recusou, dando um sorriso meio amarelado de vergonha.


Nesse momento o fantasma da Sonserina (um de aparência pavorosa, com correntes e todo coberto por um sangue prateado) flutuou acima da mesa deles, mas não desceu para falar com os alunos, mas com o outro fantasma, o Nick, entre as mesas da Sonserina e da Grifinória. O outro lançou um olhar para Alvo e saiu, parecendo verdadeiramente arrasado.


Dorian conversava animadamente com Thabata quando a sobremesa chegou. No lugar dos pratos, os doces mais variados surgiram magicamente. Pãezinhos açucarados, Brownies compactos com molhos de morango, tijoletes de sorvete com os sabores mais estranhos e estupendos e inimagináveis, tortas e tortinhas recheadas de molhos suculentos de maçã, biscoitos com tabletinhos de chocolate, baunilha e castanhas. Geléias em muffins fofos ocupavam um montinho excepcional, sem falar do bolo de cheese com ameixas ou o Crumble recheado de cerejas. Lorcan ficou realmente contente, abandonando o jeito pomposo para exclamar:


– Hmmmm! Pudim!


– Eu não gostei dessa cereja, parece meio estragada – reclamou Lexie, fazendo cara feia ao Crumble, o qual Alvo pareceu achar muito gostoso.


– Claro, você comeu um pedaço de papelzinho junto, sua anta – disse Isobel.


Alvo sentiu vontade de rir pela primeira vez. Mas sentiu o encarão de Isobel, e pensou que era melhor não. Mas Patrichio não se conteve. Riu alto até notar que todos estavam calados. As sobremesas tinham desaparecido.


A diretora Mcgonagall havia se levantado e ficou logo atrás do púlpito da coruja, o olhar dela cintilou em direção a Patrichio, que estava vermelho como um pimentão, afundado na cadeira, querendo sumir dali.


– Agora que estamos todos bem alimentados, penso que toda mensagem será um pouco melhor recepcionada – disse a diretora com o tom eficiente - Os avisos.


“Madame Brendon, a zeladora, pediu para avisá-los que a lista de objetos proibidos inclui a maioria das novidades da franquia Weasley de logros e brincadeiras. A lista dos itens está afixada nos quadros de avisos dos salões comunais e peço que aos que quiserem infligir as regras, explodindo banheiros ou coisa do tipo (os lábios da diretora crisparam quando ela deu uma longa fitada em Fred, Tiago e Letícia), saibam que há punição e detenções para os que ainda se preocupam com seu futuro acadêmico.


“Além disso, é de conhecimento geral dos veteranos, quero acreditar, e será agora dos primeiranistas que é proibido andar na floresta negra. Ela oferece inúmeros perigos e só em ocasiões especiais os alunos poderão adentrar para aulas ou como detenções, acompanhados por professores qualificados. O povoado de Hogsmeade, por outro lado, poderá ser frequentado apenas em datas específicas por alunos que atingiram a terceira série que estiverem devidamente munidos do termo de consentimento assinado por um pai ou responsável”


“É proibido também aos alunos, caminharem pelo castelo após o toque de recolher. Isto é uma infração grave que muitos dos alunos novos desrespeitam, pensando que não serão punidos. Alguns alunos antigos também devem se lembrar dessas proibições, observando que não possuem privilégio algum ao avançar de série.”


“Os testes de quadribol tradicionalmente são realizados na segunda semana de aulas. O professor de vôo, David Ruffeil, deverá ser procurado pelos alunos, exceto os do primeiro ano, que se interessarem em ocupar alguma posição do time de suas casas.”


Tonto com tantas regras, Alvo ficou novamente amuado. Quer dizer que ele não poderia participar do time de Quadribol... “Peraí” pensou Alvo. Ele agora era da Sonserina, se ele almejasse algum dia ser jogador de quadribol, jogaria contra o Tiago, que era batedor junto com Fred. Isso era um pesadelo... Se bem que, pensando melhor, Alvo concordara que ser selecionado para ser jogador de quadribol tinha as mesmas chances de ele se tornar Diretor de Hogwarts algum dia... Completamente impossível.


– Por último – continuou a diretora – gostaria de informar que teremos grandes novidades em Hogwarts esse ano.


“Primeiramente, houve grandes mudanças no corpo docente. O professor Flitwick, que aposentou-se e irá viver em uma praia em Acapuco; Professora Sinistra nos informou a algumas semanas que irá trabalhar como metereolobruxa no triângulo das bermudas. Portanto, queiram dar as boas-vindas à Adhara Aileen, que ministrará feitiços (A professora Aileen levantou-se da mesa, recebeu as palmas) e à professora Talyshen Fang, que ensinará astrologia (Talyshen levantou-se e derrubou o pote de cobre que continha vinho, agora vazio. Ela sorria abobada dando “olás” para os alunos. A diretora fechou os olhos irritadiça, mas reabriu-os, controlando-se).”


“Além disso, é com grande prazer que os informo da volta do curso de teatro e artes bruxas, há muito adormecido em Hogwarts. O professor Buchanan Garfield irá informa-los melhor como acontecerá o curso na abertura das aulas de Artes bruxas que acontecerá nessa sexta.”


O professor Garfield levantou-se e recebeu as palmas, rindo-se e dando palminhas contentes. A professora fez-se sobrepor, conseguindo facilmente um novo momento de silêncio para falar.


– Agora, avisos dados, hora de dormir. Os monitores os guiarão até os seus respectivos salões. Boa noite.


Alvo estava novamente ciente, de maneira dolorosa, que ele era um Sonserino. Ele olhou para a mesa da Grifinória, procurando as primas e o irmão, mas com todos se levantando em um fuzuê, foi difícil ver alguém conhecido. Lorcan também levantou-se e pediu para que todos o seguissem em fila.


Alvo ia levantar-se quando ouviu uma voz que já lhe causava desagrado só de identificar.


– Ei, Potter, temos que visitar o Vice-diretor, esqueceu? – disse Escórpio, sentado na mesa enquanto todos os outros já estavam levantados.


Alvo lembrou-se disso amargamente. Ainda tinha que enfrentar o sermão de Ravus. Olhou para os lados, esperando em vão que sua prima ou seu irmão viesse falar com ele. Mas claro que eles não vieram... Alvo era um Sonserino agora. Ele teria que ir só, receber a punição por algo que não fez, junto com Escórpio, a companhia mais indesejada que poderia ter em Hogwarts. O outro garoto o fitava com um olhar mortífero. Não é como se Alvo gostasse dele também, mas era melhor não encará-lo.


A mesa estava vazia quando Ravus chegou e disse:


– Sigam-me, garotos.


Alvo e Escórpio saíram pelo grande salão e dobraram a esquerda, seguindo o vice-diretor Ravus. Havia uma outro aposento muito amplo e altíssimo, repleto de lances de escadas com a engenharia mais diversa que o garoto já tinha visto. Eles galgaram as escadarias, aos passos do Vice-diretor. Haviam muitos, mas muitos quadros na parede que moviam-se e conversavam entre si. Via-se também uma janela enorme na outra parede, que dava para a noite escura fora do castelo. O garoto olhou mais acima e viu os Grifinórios subindo as escadas mais altas... É, ele provavelmente nunca acompanharia os garotos...


– AHHH!


De repente, quando Alvo pisou em um degrau, sentiu-se desequilibrar, quase caindo. A escada tinha se movido! Ela estava tomando outra direção, se desencaixado do eixo normal para se dirigir a outro ponto, que dava para um outro lance de escadas totalmente diferente de antes. Mas antes dela encaixar no outro eixo, Ravus apontou a varinha para a escada e ela voltou ao seu andar anterior.


– Tenha cuidado – disse Ravus - As escadas gostam de trocar de posição.


Alvo subiu mais um lance de escada (segurando-se firmemente no corrimão, para caso a escada resolva dar um novo passeio), até dobrar em uma das entradas que a escada levava, devendo estar no primeiro andar daquele prédio.


Eles atravessaram um arco de pedra e entraram em um corredor caminhando cegos, até encontrarem novos archotes flamejantes e abrirem uma porta pesada, mostrando um novo corredor. Ravus os liderava.


O novo corredor de parede de pedra tinha aberturas laterais em arcos que mostravam uma espécie de pátio ou jardim a céu aberto, enquadrado pelos quatro corredores. Os garotos atravessaram o pátio que tinha gramados, bancos e algumas plantas trepadeiras aderidas à parede do outro lado, a qual abria-se em uma outra entrada, oferecendo acesso ao corredor do outro lado. A luz os archotes tremeluziam, fazendo sombras das árvores. Era um tanto assustador.


O outro corredor tinha uma porta, Ravus os fez entrar por ela primeiro. Estava totalmente escuro, até Ravus acenar a varinha e acender tochas aderidas à parede e velas em candelabros altos. Viu-se uma sala larga e redonda, cheia de gaiolas com pássaros como tucanos, andorinhas e papagaios, todos adormecidos com a cabeça de baixo das asas. Alvo e Escórpio atravessaram a sala, seguindo Ravus, e subiram junto a ele em uma escada em caracol no fundo da sala.


O segundo andar era menor. Estava, provavelmente, em uma torrinha anexa a outra torre que era a sala de aula. A parede era repleta de estantes de livros e o chão, baús e uma estátua de um Manticore assustador, parecendo muito real à luz de velas. Havia também um espelho grande logo atrás de Ravus, que não refletia ninguém, só vultos escuros e indistintos. Logo a frente, havia uma mesa de mogno, com um pergaminho contendo um desenho de vários círculos e formas geométricas, alinhados por letras estranhas. Um jornal também estava em cima da mesa, aberto na página da matéria com a imagem dos Inomináveis apontando varinha para os aurores e vice e versa. Alvo ficou imediatamente enjoado em saber que Ravus tinha lido aquilo.


O vice-diretor fez a cadeira de assento alto baixar-se para ele sentar-se e ela novamente subiu depois. Ele mirou os garotos profundamente com aquele olhar dourado refletindo o dançar das velas e disse:


– Soube que vocês se derrubaram no lago de Hogwarts.


Os garotos continuaram calados. Escórpio encarava o vice-diretor, já Alvo mirava - com um vivido interesse - os cadarços dos seus sapatos. Ele não dizia nada, pois Ravus tinha um estranho poder de manter todos sem vontade alguma de dar um pio sequer enquanto ele falava.


– A diretor Mcgonagall leva muito a sério a educação dos alunos e acredita que indisciplinas não devem ser estimuladas, por isso, o quanto antes, merecem consequências.


“Senhor Potter e senhor Malfoy, eu trouxe vocês para a minha sala, pois eu entendo e temo o desentendimento de vocês. Por isso eu gostaria de cortar o mal pela raiz. Não desejo uma espécie de guerra entre os senhores, portanto eu quero acreditar que terei essa e apenas essa conversa com vocês, de hoje em diante e para até todos os anos.”


“Vocês possuem suas diferenças, seus desentendimentos, mas quero que saibam sobre o dever que têm de se respeitarem. Todos nós temos o direito de detestar alguém por enes motivos, e eu sei muito bem que não foi por nada que vocês resolveram lançar um ao outro no lago. Contudo, guardem essas minhas palavras. Não gostar de alguém não significa ter que ser indelicado, mal-educado ou indiscreto. Simpatia, bom-senso e cordialidade não conceitos primorosos da boa convivência. Até os piores inimigos, se forem nobres respeitam e reconhecem uns aos outros. Vocês dois terão que conviver juntos, sendo da mesma casa. Ambos ainda não se conhecem, ainda tem muito o que descobrir sobre si e sobre os outros. Podem até se tornarem amigos, se derem uma oportunidade uns aos outros. Pensem nisso. ”


Alvo concordou com a cabeça baixa.


– E a punição? – disse Escórpio. Ravus suspirou, parecendo bem decepcionado com o garoto.


– Sim, sobre a punição. Quando vocês se empurraram no lago, ainda não tinham sido selecionados para nenhuma casa, então nenhum ponto será descontado da Sonserina. Vocês apenas receberão detenções para o primeiro domingo. Quanto a natureza dessa detenção, pedirei para o diretor da Sonserina, o professor Slugorn, informa-los assim que...


Toc-toc-toc­


Alguém batera na porta. O vice diretor Ravus mandou entrar. Era Lorcan, o garoto alto de cabelos morenos que era monitor da Sonserina.


– Boa noite, vice-diretor Ravus. Notei que dois alunos estavam faltando e me informaram que eles estavam aqui conversando com o senhor. O professor Slugorn pediu para vir aqui... Então.


– Sim, sim – respondeu Ravus – quero que leve-os para o salão comunal da Sonserina. Sem ajuda, talvez eles se percam.


Alvo e Escórpio, liderados por Lorcan, voltaram as escadas novamente. Dessa vez uma delas se moveu e os garotos tiveram que dar uma volta maior do que imaginavam.


– O que vocês fizeram para receber detenções no primeiro dia de aula – perguntou Lorcan, descendo os lances de escada para voltar ao caminho original.


Alvo não respondeu. Escórpio murmurou:


– Joguei ele no lago e eu consegui cair junto.


Alvo mirou Escórpio. Como ele podia ser tão cara de pau?


– Sei – disse Lorcan, quase rindo, mas mantendo a compostura. Eles chegaram ao andar térreo do castelo. Eles estavam novamente na frente do portão para o grande salão. Mas Lorcan não foi para ali.


O garoto abriu o portão que dava acesso a saída do castelo. Alvo sentiu-se tremer à brisa congelante de lá fora. O ar serenal e totalmente escurecido era amedrontador e ao mesmo tempo bonito. Antes de continuar a caminhar, lorcan balançou a varinha e disse:


– Lumus maxima – então uma luz azulada emanou fortemente de sua varinha, iluminando os arredores – fiquem perto de mim.


Eles seguiram um pátio de pedra com muitas estátuas, enquadrado por cobertores cobertos. Eles ganharam um deles, seguindo até uma abertura no outro lado. Alvo viu que estavam em uma das sacadas do castelo de Hogwarts e via-se o lago negro muito abaixo do penhasco. O horizonte trazia já a escuridão estrelada de uma noite sem nuvens. O garoto identificou a escadaria que eles tinham subido quando saíram da doquinha mais abaixo. Mas eles não seguiram para aquele sentido.


Ladearam o parapeito de pedra do castelo, atravessando uma pequena ponte, até encontrarem outro prédio de pedra que ficava mais à direita. Eles cruzaram um novo portão. Havia um novo pátio com dois acessos: uma escadaria aos andares superiores do prédio e uma porta mais atrás, a qual os garotos seguiram.


Eles desceram uma escada grande encaracolada, o bastante até saírem da torrinha subterrânea e encontrarem os corredores do subsolo. Poucos archotes iluminavam o local. Havia muitas sombras se formando nas paredes e no solo, formados por uma rocha mais escurecida e áspera, trazendo um clima mais horripilante aos vários corredores que os garotos seguiam, sob a luz da varinha de Lorcan.


– Estamos nas masmorras – informou o garoto - Aqui é muito fácil se perder. Tentem memorizar esse caminho. Vocês andarão muito por aqui.


Memorizar? Alvo já nem sabia onde estava. Dobraram tantas vezes, passaram por tantas portas, desceram mais e mais que era quase impossível se saber se estavam mais pro norte, leste, oeste ou quem sabe sul? Não tinha certeza nem se estava no castelo! O garoto sempre fora péssimo com localizações. Já estava começando a sentir um certo pânico. Já Escórpio mantinha-se calado, olhando para trás e para frente. Não era possível que ele estivesse realmente entendendo aquele labirinto...


Mas Lorcan continuou caminhando até encontrarem um corredor que não tinha saída. Ele aproximou-se da parede que, agora Alvo notava, tinha a lapidação de uma serpente em alto relevo. Ele passou a mão na parede de pedra lisa e úmida abaixo da serpente e disse:


– Ninho de Víbora.


E se afastou. Houve um pequeno tremor, os olhos da escultura da serpente brilharam em verde. Ao lado surgiu uma porta de pedra escondida que saiu do caminho deslizando. Lorcan deixou os garotos entrarem primeiro.


– Bem, sejam bem-vindos ao salão comunal da Sonserina.


Alvo sentiu a verdade pesar ainda mais dolorosa do que antes. O garoto olhou para trás, como que se perguntando se não deveria correr de volta e implorar à diretora que o pusesse na Grifinória, dizer ao chapéu que aquilo era um engano.


Escórpio tomou a frente e deu uma boa olhada ao redor.


O salão comunal era aposento fundo e comprido. Alvo teve que descer mais uma escadaria de pedra negra reluzente para ver-se no centro dele. No teto pediam correntes prateadas, cada uma sustentando luzes verdes e redondas, suficientes para tornar o clima do local... Único.


Muitas poltronas luxuosíssimas espalhavam-se pelo salão, assim como estantes, mesas contendo tabuleiros de xadrez, luminárias de globos que emitiam luzes esverdeadas, cadeiras de estrutura medieval, sustentadas por um tapete muito elegante e bem bordado. Na parede mais à frente crepitava uma lareira muito, mas muito parecida com a que tinha em sua casa, no Largo Grimmauld 12. Sendo sincero, Alvo notava que todo o salão parecia com os pontuais aposentos de sua casa.


A parede acima da lareira era como a das masmorras: rústica, enegrecida e úmida. Havia um brasão de uma serpente sobrescrito “Sonserina”. Alvo sentiu que iria enjoar. Mas outra coisa chamou a atenção de Alvo. Havia janelas de vidro. Estranho...


– Eu já vou deitar – informou Lorcan – todo mundo já está dormindo também. Eu aconselho vocês a dormirem logo. Amanhã as aulas começam cedinho.


Dito isso, Escórpio seguiu Lorcan por outra escada que dava para o patamar onde as portas dos dormitórios se encontravam.


Sozinho, Alvo se aproximou da janela baixa e sentou-se.


Ela não revelava o céu, mas emitiam uma luz verde-azulada fantasmagórica e um ondear esquisito. Então Alvo entendeu quando viu passar pela janela um peixe nadando. Ela dava para as profundezas do lago de Hogwarts. Então se ele não tivesse nadado ele passaria por aqui, pensou deprimido.


Alvo ficou sentado ali, agarrando o próprio joelho. Ficou observando o fundo magicamente clareado do lago. As criaturas subaquáticas passavam... Ele ficou observando um bom tempo, sentindo-se em um camarote de um navio naufragado. Viu passar a lula gigante que Escórpio tinha se referido, nadando preguiçosamente entre as cortinas de algas que balançavam no solo mais abaixo...


Mais um tempo e identificou uma menina esbranquiçada-transparente a flutuar entre as águas. O fantasma da menina de óculos também notou Alvo e aproximou-se, atravessando a parede.


– Você está chorando? – perguntou com a voz esganiçada.


– Não... – respondeu Alvo, limpando o rosto com a manga.


– Se estiver pode falar pra...


– Não, obrigado – disse ele – eu quero ficar sozinho. Pode me deixar sozinho?


– Tá bom, então fica aí, seu moleque grosso!


E atravessou a parede, choramingando e desaparecendo novamente nas águas esverdeadas...


Alvo ficou sentado ali por mais um tempo, observando o fundo do lago e pensando no que tinha dito para o fantasma. É... No fim das contas, ele que tinha pedido para ficar só desde o início.

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