Perdas



Fiquei imaginando se aqueles que dizem que “é melhor ter amado e perder do que nunca ter chegado a amar” perderam aqueles que amaram.


(A Promessa - Richard Paul Evans)


     
      
Lílian entrou sorridente no Salão Principal, para tomar café. Nem se incomodou ao ver suas amigas sentadas junto dos Marotos. Nada poderia estragar aquele dia.


      Pelo menos era o que ela pensava.


      Era dia 26 de novembro. Por um estranho motivo, ela sempre gostara desse dia. Ele sempre parecia ser melhor que os outros para ela…


      Ela se sentou ao lado de Tiago, sem prestar muita atenção.


     — Por que a animação, Lil? - perguntou Júlia, estranhando que a amiga não tivesse reclamado sobre o lugar que elas escolheram para tomar café.


     — É 26 de novembro. Se recorda? - disse a ruiva, sorrindo.


     As amigas de Lílian se entreolharam e abriram um grande sorriso: o humor de Lily sempre melhorava no dia 26 de novembro.


     — O que tem dia 26 de novembro? - perguntou Sirius, sem entender.


     — Nada. - respondeu Lily, com um grande sorriso.


     Os Marotos se entreolharam, confusos.


     — Então por que você está tão feliz? - perguntou Remo.


     — Não sei. Sempre fico mais contente no dia de hoje. Vai saber o por quê. - respondeu a menina, ainda sorrindo.


     — Olhem, o correio! - exclamou Clara, apontando para cima.


     Milhares de corujas entraram pelas janelas, e começaram a descer indo em direção aos seus donos.


     Atena, a coruja de Lílian, desceu graciosamente, pois era elegante, assim como a dona.


     Ela pousou no ombro esquerdo de Lily e ergueu a perna, no que Lílian desamarrou a carta que ali havia prontamente.


     Ao ver o envelope trouxa, ela abriu um grande sorriso, e falou, quase pulando de alegria:


     — Deve ser de casa. Só papai e mamãe me mandam cartas em papel sulfite. - e ao ver a cara de desentedimento dos amigos, completou: - Papel trouxa.


     Os amigos de Lily assentiram, entendendo. A menina abriu o envelope sorrindo, acariciando distraidmenamente as penas de Atena.


     Tiago a achou magnifica daquele jeito. 


     No entanto, a cada linha lida por Lílian, o sorriso dela ia desaparecendo, até não estar mais em seu rosto. Lágrimas encheram-lhe os olhos, e ela levantou de um pulo, e saiu correndo pelo portão, pensando seriamente em se jogar no lago e tentar um suícidio.


     Tiago se levantou e correu atrás da garota.


     Ele viu que o portão que levava para fora da escola estava aberto, e sentiu o coração apertar. Teria ela fugido? 


     Ele já respirava com dificuldade, com medo de tal coisa. De repente, ele ouviu um soluço. Baixinho, tímido e triste. Muito triste.


     Tiago se virou bruscamente e viu, sentindo o coração apertar ainda mais, Lílian.


     Ela estava encolhida na beira do Lago Negro. Tinha a cabeça entre os joelhos, e chorava silenciosamente, deixando apenas alguns poucos soluços escaparem.


     Tiago viu uma coisa completamente estranha acontecer: nuvens negras cobriram o céu, e uma forte chuva começou a cair.


     Seria Lílian fazendo aquilo? Mas… Como?


     Deixando isso de lado, ele começou a correr em direção a ruiva, tomando cuidado para não tropeçar.


     Se sentou ao lado da garota, que tremia violentamente.


     — Lil? - perguntou ele, cautelosamente. - Lil, que foi que houve? Você estava tão feliz e de repente…


     Não foi necessário dizer mais nada. Lílian tirou do bolso a carta que Atena trouxera. Tiago a pegou, receoso, e, espantado, viu que a carta não molhou quando entrou em contato com a chuva.


     Tiago abriu a carta e começou a ler.



"Querida Lílian,


     Gostaria de te dizer uma coisa. Eu planejava te contar quando voltasse para o Natal mas… Acho que merece saber. Afinal, somos filhas das mesmas pessoas.

     Vou explicar tudo por partes.

     Primeiramente, quero que se recorde das férias, quando você comentou com papai, mamãe e eu sobre uns tais de Comensais da Morte. Você nos disse que eles eram seguidores de um cara que não presta. Óbvio que tinha de ser da sua laia… Certo, certo. Perdão. Não é hora para eu te dizer umas verdades.

     Lílian, eles atacaram Londres. Eu só não estou morta porque eu e Válter estávamos passando e fim de semana na casa dos avós dele, em Bristol.

     Ah, Lílian… Papai e mamãe… Papai e mamãe foram mortos por Comensais. Apenas aquela menina lá, que mora do outro lado da rua sobreviveu ao ataque. Não me lembro do nome dela… Ela disse que nossos pais lutaram bravamente. Que papai estava desmaiado, e mamãe entrou em sua frente, tentando salvá-lo…

     O enterro vai ser no próximo fim de semana, 4 de dezembro. Imagino que o diretor de sua escola já saiba do ocorrido, pois já me mandou uma carta dizendo que você está liberada para ir ao enterro, caso queira fazê-lo.

           
                                                Atenciosamente,
                                                             Petúnia"



     
Tiago ficou simplesmente paralisado, contemplando a carta… 


     Então, uma mistura de emoções se apoderou dele: raiva, ódio, pena e tristeza.


     — Eu… Eu… Não sei o que dizer. - declarou ele depois de um tempo.


     Lily levantou a cabeça, e Tiago se sentiu péssimo ao ver a face dela lavada de lágrimas…


     Ele se aproximou cautelosamente, e passou o braço pelos ombros da menina, abraçando-a. E, para seu espanto, a ruiva aconchegou-se a ele, escondendo o rosto em seu peito, agora chorando abertamente.


     Agora a chuva aumentara, encharcando-os.


     Queria tomar todas as dores dela. Queria chorar no lugar dela. Queria matar os malditos Comensais que agora faziam Lily sofrer.  


     — Vai ficar tudo bem… Shh… Vai ficar tudo bem… Só… Só não chore, está bem? Se você continuar assim, quem vai chorar sou eu… - sussurrou ele no ouvido dela, e Lílian deu uma risada fraca.


     Ela então, levantou o rosto, e o encarou.


     Tiago passou os dedos pela face da garota, limpando as lágrimas que insistiam em sair.


     Então, a chuva começou a diminuir… Ao mesmo tempo em que as lágrimas dela paravam de cair… Quando a última lágrima rolou pelo rosto de Lílian, a chuva parou. O céu continuava nublado, mas a chuva havia cessado.


     Ele se levantou e estendeu a mão de Lily, que pegou a mão dele sem hesitar e eles ficaram simplesmente olhando um nos olhos do outro… 


     Uma bela coruja de penas bege apareceu voando, e pousou no ombro da dona, tirando-os de seus devaneios.


     A ruiva acariciou Atena, que esfregava a cabeça em Lily, como que querendo consolá-la. Atitude que levou Lílian a rir um pouco.


     Lílian levantou os olhos e os fixou nos olhos de Tiago, que a observava.


     Tiago tremeu com a intensidade daquele olhar, ao mesmo tempo em que Lily falava, com a voz falha:


     — Vamos voltar para o castelo? Quero avisar Dumbledore que vou ao enterro de meus pais. E também quero ir pro dormitório. Não devia ter saído da cama hoje. 


      Quando chegaram aos portões do Salão, Dumbledore os abriu, e sorriu para Lílian.


     — Você está bem, não está, Lílian? - perguntou bondoso. 


     — Melhor do que cinco minutos atrás. - falou ela, olhando de esguelha para Tiago.


     Ele sabia que ele causara essa melhora, e isso o deixou contente.


     — Que bom, minha querida.


     Alguns segundos se passaram, até Lílian dizer:


      — Eu vou ao enterro deles. 


     Dumbledore assentiu e os deixou entrar no Salão Principal. 

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