Noite sem estrelas



Tudo começou num domingo monótono de férias. Mas não um domingo qualquer, não senhor, era o último dia de férias e minha avó acabara de me mandar comprar pão na padaria da esquina. No momento em que saí para a rua reparei algo estranho, ventava mais do que deveria e o brilho do sol estava diferente, era como... Como se de algum modo, como se pudesse, é claro, ele se sentisse triste. Talvez uma guerra, pensei, um pouco longe daqui, ou então até mesmo uma atitude estúpida humana. Típico já que atitudes estúpidas são o nosso forte. E então, na esquina vi um gato malhado de marcas ao redor dos olhos me olhando de esgueira. Eu simplesmente detesto gatos, longa história, era só isso, eu detesto e ponto, por isso tratei de sair de lá, mas, é claro, sem tirar os olhos do bichano. Não gostava do jeito com que ele me olhava me deixava constrangida. Era quase como se pudesse ver através de mim, portanto, se eu não tinha razão para detestar gatos, aquele olhar que o gato me lançou já seria o suficiente. Assim que chego a casa, meu celular toca. Era Marisa, minha melhor amiga da escola.


     -Que queres de mim, ó mortal? – disse com a minha voz enfática e séria imitando a de um deus grego


     -Palhaça – retrucou ela – Pronta pra amanhã?


     -Escola? Nunca. Não sou como vocês – Disse me referindo ao resto da escola. – Não estudo tanto.


     -Mas deveria. Serve para o...


     -Futuro e blá, blá, blá. – Disse numa imitação patética da voz dela – foi pra isso que me ligou?


     -Eu ia dar uma notícia, mas já que você não quer...


     -Fala. – disse impaciente.


     -Diretores novos, sistema novo.


     -Fala mais.


     -Tchau, até amanhã. – E desligou na minha cara.


Passei a tarde pensando nisso e depois fui pra casa, que é na mesma rua da casa da minha avó, e, na hora de dormir, com tudo já arrumado para o outro dia fui olhar para o céu.


     -Triste uma noite sem estrelas. – Disse quando percebi que uma porta se abria atrás de mim.


     -Boa noite priminha – Na mesma hora soube quem era. Era meu primo, o Sirius, ele era um ano mais velho do que eu. Tinha olhos verdes e cabelos castanhos e era um tanto mais alto. Era bem irritante quando queria também, mas, meu melhor amigo. Morávamos todos em um mesmo terreno. Eram dois duplex, o meu, meu pai, seu Luiz, minha mãe, Dona Adjane, e minha irmãzinha de três anos, Cris. E no outro o Sirius, a Vivi, irmã dele dois anos mais nova que ele, e Ceci, a irmãzinha de um ano deles, Tia Adriana e Tio Marcelino. Juntos eles eram os Lima, e nós os Rodrigues. Minha mãe é irmã da mãe do Sirius. Ele foi até a janela onde eu estava e pôs a cabeça para fora (a janela do meu quarto é enorme) – Olhando o que?


     - O céu ué. – Disse como se fosse óbvio.


     -Mas está quase sem estrelas, só da pra ver uma. – Disse ele apontando para a única estrela que insistia em brilhar fervorosamente no céu cálido iluminado pela lua.


     -E é a sua!


     -Quê?


     -Seu nome. Foi em homenagem a estrela Sirius na constelação de Órion, que tem a forma de um enorme cão. Sirius é a estrela mais brilhante de todo o céu – disse olhando pra ele e em seguida para a lua.


    -Nossa. Você decorou o livro de astrologia garota?


    -Na verdade não. Só procurei o que é por que é o mesmo nome do Sirius Black, de Harry Potter. E você sabe como eu amo o Harry Potter – Ele murmurou em concordância e alguns minutos se passaram em silêncio. – Sempre tive inveja de você. – com o olhar ainda fixo na lua.


    -Por ter o nome de um personagem?


    -Por ter o nome de uma estrela!


    -Isso é ridículo – Debochou ele


    -Não, não é. Você tem uma estrela só sua, uma conexão com o mundo lá fora. Eu queria ter uma.


     - Às vezes eu acho que você é maluca.


     - Às vezes eu tenho certeza.


     - SIRIUS! – Ouvi um grito, era a Vivi. – Mamãe ta te chamando pra jantar.


     -Já vou. – Gritou ele de volta. – É bom arrumar as suas coisas. A sua prisão interna começa amanhã. – disse á mim.


     -Já arrumei. Aquela droga de colégio está sob nova gestão. Aposto que vão ser uns tiranos.


     -Relaxa. Eu vou antes que a Viviane decida gritar de novo. –Ele se desencostou da janela – Tchau – e saiu.


     -Tchau. – Na mesma hora baixei o olhar para os portões da casa da minha vizinha da frente, e, para a minha surpresa eu vi um gato, (Isso aí, o mesmo gato do comecinho) e ele, assim como da última vez me olhava estranho. É talvez minha mãe tenha razão, talvez eu esteja lendo de mais. Me chame de louca, mas por um momento achei ter visto aquele gato virar uma mulher. – Devo estar com sono de mais. – Disse, balancei a cabeça e fui me deitar.


 


Ah, mas que falta de educação a minha, nem cheguei a me apresentar. Chamo-me Jessica, tenho dezessete anos e estudo no AES, tenho cabelos ruivos ondulados pela cintura, olhos verdes e AMO ler. Não sou como os outros da minha escola que sequer já leram algo fantasioso na vida, e não, eu não estou exagerando. Amo coisas irreais e gasto meu tempo tentando fingir como o mundo seria se existissem. Boa noite, até amanhã. 
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Espero que gostem. Dêem uma chance a fic. Vai ficar legal, eu garanto 

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