Timidez




N/A:  
É uma song com a música Timidez de uma banda antiga, chamada Biquíni Cavadão. As músicas deles são muito boas e rendem boas ideias para fics. Espero que esteja razoável. Boa leitura!


Timidez


Toda vez que te olho,
Crio um romance 
Te persigo, mudo 
Todos instantes 


 


Era um amor diferente. Um amor platônico. Ele era o tímido, ela mais falante. Ele não chamava atenção, ela recebia assovios só de passar nos corredores. Ele era inteligente, ela também. Ele costumava calar-se na presença de desconhecidos, ela abria seu lado extrovertido de imediato. 


Eram os opostos, por natureza. Ainda assim, ou talvez por isso, ele a amava. Sim, amava! Não era paixonite. Era amor. Mas platônico.


Seu olhar corria a escola à procura dela desde que pisava no interior do colégio. Muda e discretamente ele a observava, nas aulas, no intervalo, no laboratório, na quadra...



Falo pouco, pois 
Não sou de dar indiretas 
Me arrependo do que digo 
Em frases incertas 


 


Quando ela vinha falar com seu grupo de amigos, ele se calava e escondia o rosto entre as pilhas de livros, às vezes saía no segundo que a via se aproximar, apenas para fugir dos inquisidores olhos da menina.


- Toma coragem e fala com ela, Aluado!


- Fala com quem, Pontas?


- Não se faz de desentendido, Aluado. Vai logo atrás da menina. Está mais que óbvio que você cai de amores pela Melhissa.


- Ouvi meu nome? Hello, meus amigos!!! – Ela cumprimentou dando um beijo na bochecha de James e Sirius.


- E... Eu... Limpeza... Laboratório... Química... 3º andar... Tchau! – E Aluado correu para longe dos demais, fugindo da Menina.



Se eu tento ser direto, o medo me ataca 
Sem poder nada fazer 
Sei que tento me vencer, acabar com a mudez 


 


- E ai, Remo... Falou com a Mel?


- Que nada, Lily. Parece que travo, somem as palavras.


- Nossa amiga não é um bicho para ter medo dela, Remo!


- Sei que não Lene, mas adianta? Perco a direção, a noção. É incrível, a reação perto dela é a mesma de quando eu tinha os debates de sociologia. Tenho um pânico. Nada me controla.


- Eu sinto muito, de verdade. Preciso ir, tenho dois períodos de Física. Vejo vocês mais tarde, galera. Vão ao cinema hoje?


- Eu vou, Lily. Combinei de ir com o Sirius às 19h. E você, Remo?


- Vou de carro às seis e meia.


- Então nos vemos na seção das 19:15 no shopping.


- Com quem você vai, Lil?


- Com o Jay. Até mais pessoal. – Lily saiu da sala de Gramática, rumo a Física, Lene para Biologia e Remo para Francês Avançado.



Quando eu chego perto, tudo esqueço 
E não tenho vez 
Me consolo, foi errado o momento, talvez, 
Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez 


 


Como chegou cedo ao shopping, esperou pelos amigos, passeando e olhando vitrines. Teria meia hora para dar uma volta pelas lojas. Quando passou pela praça de alimentação do 2º andar, viu Melhissa, sentada na lanchonete com duas garotas.


- Mel, aquele não é o gatinho das suas turmas de Química, Biologia e Matemática?


- Quem? Ah! O Remo? É sim, prima.


- Não vai chamá-lo?


- Eu não. O coitado é tão tímido.


Remo não ouviu a conversa, pensou em trocar algumas palavras com ela, seguindo o conselho dos amigos. Respirou.


Oi, Melhissa. Sou o Remo, da sua turma de Biologia. Tudo bem?. – É, vou falar isso”


Dirigiu-se a ela, caminhou um pouco e quando estava perto, ouviu uma das que a acompanhava dizer:


- Meninas, Tia Polly está lá fora esperando a gente. Vamos?


- Tá, vamos! – As outras duas responderam.


Virou-se muito rápido para não ser notado e as observou irem embora.


“Perfeito seu Aluado!! Perdeu a chance! Não foi o momento certo! Nunca é o momento certo!”



Eu carrego comigo a grande agonia 
De pensar em você, toda hora do dia 
Eu carrego comigo, a grande agonia 
Na verdade nada esconde essa minha timidez 
Na verdade nada esconde essa minha timidez 


Os amigos chegaram ao shopping pouco mais tarde e ainda que estivesse um clima agradável entre todos, Remo estava para baixo. Agoniado, frustrado. Queria ter largado a timidez e falado com ela. Ela... Que mexia com seus pensamentos, confundia suas atitudes, fazia acelerar seu coração... Melhissa, a dona dos olhos castanhos mais brilhantes que ele conhecera, dos cabelos mais sedosos que ele já vira, a detentora da voz mais doce e do toque mais delicado.


Era graciosa em tudo que fazia, membro do grupo de dança clássica do colégio, estrelava todas as coreografias que participava e fazia tudo com paixão. Dedicada ao extremo... Remo seria capaz de passar horas enumerando as qualidades da menina, mas algo o impedia.


Não, ela não tinha namorado, nem irmão ciumento tampouco. Ele não era orgulhoso, racista ou preconceituoso. Nenhuma das razões normais que impedem uma história de amor se aplicava a ele. Não havia rixa entre ambos, pelo contrário, nunca tinham trocado mais que uma dúzia de palavras, a questão era mais facilmente justificável, mas também era uma barreira mais difícil de ser vencida... A timidez


 



Talvez escreva um poema 
No qual grite o seu nome 
Nem sei se vale a pena 
Talvez só telefone 


 


- Certo turma, já chega de bagunça! Hoje quero fazer um projeto de literatura com vocês. Sei que já estudaram poema, poesia, rima e cordel em gramática. Então, por que não unir o útil ao agradável? Sexta-feira que vem teremos a III Feira Escolar de Livros e Literatura, eu vou trabalhar com vocês e quero usar o que já sabem. Façam para casa um gênero literário de composição rimada e me tragam até terça. Os melhores serão escolhidos para o mural e para recitação dos versos. Bem, é isso voltemos à aula. – Explicou o professor de literatura.


Remo aproveitou o fim de semana para fazer o seu, sentou-se com lápis e papel. Nada saía. Horas de tentativa e algumas rimas surgiram em sua mente, anotou-as.


Nuvens


Olho para céu tentando perceber


Quando foi que ocorreu


De me apaixonar por você


 


Enlouquece-me seu olhar


Sem palavras ei de ficar


 


Um dia, quem sabe...


Me surja uma rima


Para falar de você


Oh, bela menina


 


Meu dia fica cinza


Quando te vejo passar


Porque sei que ao teu lado


Nunca poderei estar


 


Mas ainda só tenho


Nuvens para observar


Espero que um dia


Tu possas me notar



Eu me ensaio, mas nada sai 
O seu rosto me distrai 
E, como um raio, 
Eu encubro, eu disfarço, eu camuflo, eu desfaço


 


A apresentação das poesias chegou e Remo fora escolhido. “Isso é castigo! Não mereço!” foi o que pensou. No auditório da escola os alunos de todos os anos do ensino médio se reuniram para assistir a recitação dos poemas. Minutos antes de subir ao palco, Remo cruzou, no corredor, com Melhissa.


- Remo! Você vai recitar hoje, né?


Ele assentiu corado.


- Bem, boa sorte então!


Foi chamado, subiu até o púlpito e pegou o microfone. Encontrou, na platéia, seus amigos. Viu Melhissa e travou, a língua enrolou e não pode falar.  Disfarçou o erro com uma tossida, desviou o olhar de cima dela e pigarreou. Leu suas rimas, sem olhar para o público. Foi ovacionado, todos de pé aplaudiam-no, sorriu tímido e desceu do palco.



Eu respiro bem fundo, 
Hoje eu digo pro mundo 
Mudei rosto e imagem, 


Mas você me sorriu, 
Lá se foi minha coragem, 
Você me inibiu


 


- Aê, Aluado! Boa, cara. Parabéns.


- Valeu, Pontas!


Os cumprimentos dos amigos vieram aos montes. Embora estivesse se divertindo, seu olhar buscava Melhissa.


- Ela foi ao refeitório, Aluado.


- Você não existe, Almofadinhas!


E correu para encontrá-la. Viu uma menina sentada em um dos bancos do pátio, bebendo água, e seu coração deu um solavanco. Linda! Estava linda como sempre. Pensou dois segundos antes de ir até ela e concluiu: “De hoje não passa. Melhissa, você vai ser minha! E nenhuma timidez vai me impedir.”


Mas ao chegar a ela, as coisas foram meio diferentes. Ela nada falou apenas um sorriso brotou de seus lábios vermelhos e, para ele, o mundo ruiu. As pernas tremeram e a coragem sumiu como fumaça.
 


Eu carrego comigo a grande agonia 
De pensar em você, toda hora do dia 
Eu carrego comigo, a grande agonia 


 


Semanas e semanas passaram, quando notou, era a da formatura do 3º ano. Nunca mais a veria. Uma infelicidade surgiu sabe-se lá de onde e ele nem mais queria ir ao baile. Os amigos fizeram-lhe a cabeça para mudar de ideia até que ele repensou e decidiu ir. Comprou um terno negro e confirmou a presença. Buscou suas senhas e, de ultima hora, foi chamado pela direção do colégio.


- Sr. Lupin, qual a viabilidade de o senhor ser o orador das turmas de formandos?


- É... Bem, é total. Será uma honra representar minha turma senhor diretor. Obrigado.


E saiu da sala perdido e desorientado. Três dias para fazer um discurso, era uma loucura total! E sua timidez? Como falaria diante da escola? Bem, esse era o menor dos problemas até agora!  Montou seu texto e separou-o, julgou-o uma porcaria, mas não havia tempo para fazer outro.



Na verdade nada esconde essa minha timidez 
Na verdade nada esconde essa minha timidez 


No dia da formatura Almofadinhas e Pontas foram até sua casa, decidiram que se arrumariam em um só lugar, de modo que Remo pudesse ajudá-los com o nó da gravata.


- Este terno ficou bom? Digo, foi a Lily quem escolheu para mim, mas... Não acho que combine com a gravata e...


- Está bom, Pontas. Não enrole e saia de frente do espelho de uma vez.


-Ui! Almofadas estressado, cuidado!!


Quando finalmente saíram de casa e chegaram ao colégio, faltava pouco para que se iniciasse a cerimônia. Chamaram os nomes dos formandos e, um por um, assentaram-se nas cadeiras demarcadas. Todas as categorias de estudantes foram homenageadas.


- Chamamos agora para fazer a homenagem às turmas de formandos, o aluno Remo John Lupin, do 3º ano 1C324.


Ele levantou com a folha nas mãos e se dirigiu ao microfone.


Boa noite! Hoje, completamos mais um marco em nossas vidas. Outro estágio do crescimento, outra etapa que vencemos. Sim, vencemos. Todos somos vencedores. Sabemos as dificuldades que enfrentamos nesses três anos, horas de sono cedidas aos estudos, refeições interrompidas para dar lugar a uma olhada no conteúdo da prova... E nessa hora, só tinha uma pessoa ao nosso lado, talvez duas... Nossos pais! O apoio incondicional que nos deram foi a base para tudo que conquistamos até aqui! Três anos, para quem olha de fora, não é mais que um curto lapso de tempo, porém para quem viveu esses anos, foi um tempo que parecia não ter fim. Mas esses anos “inacabáveis”, terminaram! Tudo que vivemos aqui, acaba hoje. A partir de agora, temos outra etapa para cumprir. Não se pode prever como será, mas sempre podemos lembrar de que, com esforço, venceremos. Durante esses anos, fizemos amizades que, certamente, não se desfarão com o tempo, marcamos vidas de pessoas sem percebermos. Um gesto, uma palavra, algo que tocou um colega sem mesmo nos ter dado a chance de notar. Dizem por aí, que amor de colegial não dura, será? Podemos fazer a diferença no mundo e mostrar que amor sincero não tem prazo de duração. Podemos ser quem quisermos, como quisermos... Nossas atitudes formam o amanhã. Que tal montarmos um futuro melhor pondo em prática tudo o que aprendemos?


Aplaudiram-no de pé, Melhissa sorriu e piscou para ele. Foram entregues os diplomas e todos se dirigiram ao salão para o baile. Remo observava de longe os amigos, Sirius desaparecera no meio da multidão, arrastando Marlene, e Lily estava na ponta das sapatilhas rosadas para alcançar a nuca de James que era absurdamente mais alto que ela. Sorriu ao ver a alegria dos amigos. Virou-se para ir em direção à porta e sair, mas uma figura feminina postou-se em sua frente.


- Vai a algum lugar, Remo?


Me consolo, foi errado o momento, talvez, 
Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez 


 


- Quem... Quem é?


- Não reconhece a voz? Pensei que pudesse me distinguir das outras garotas...


- Melhissa?


- Eu sei, Remo. Sei o seu segredinho...


- Que... Que segredinho, Mel?


- Não seja bobo. Só não entendo porque nunca veio falar comigo. Eu sempre te via com o James e o Sirius, mas toda vez que tentava conversar contigo, você desaparecia!


- Melhissa... É que eu...


- Tímido, eu sei! Todos sabem! Mas, preciso de uma resposta ou vou ficar louca! Disse o que achava para a Lily e a Lene, me chamaram de doida, mas... O poema de literatura... Ele era para mim?


- Eh... Bem... Se - sendo sincero... O po – poe – poemaeraparavocê!


- Que?


- Eu disse que sim, o poema era para você.


Ela abriu um sorriso largo, mostrando todos os seus dentes claros. Remo corou e sentiu queimar inteiro de tanta vergonha. Fugiria o mais rápido que pudesse, se ela não estivesse bloqueando a passagem. Um sorriso maroto brotou nos lábios vermelhos da menina.


- Então, quer dizer que o Sr. Remo John Lupin anda me escrevendo poemas de amor, é? Olhe bem, Sr. Romântico Incorrigível, Don Juan da modernidade, Romeu do século XXI...


A cada parte da frase, dava um minúsculo passo em direção à ele, que estava pálido de susto com o tom de voz da amada.


... Que fique muito, mas MUITO claro, que eu... Estou perdida, incorrigível, louca e completamente apaixonada por você, loirinho lindo!


E venceu a distância entre os dois, selando seus lábios aos dele, que correspondeu delicadamente ao beijo, passando uma de suas mãos pelos cabelos castanhos da menina e repousando a outra em suas costas. Ela por sua vez, mantinha uma de suas pequenas mãos apoiada nos ombros dele e a outra o acariciava a bochecha, que permanecia quente e corada de constrangimento. Sorriu e separou-se dele, abraçou-o e uma valsa de Sttraus começou a tocar.


- Eu também te adoro, Mel! – E depositou um beijo em seus cabelos perfumados antes de puxá-la para mais perto e deixá-la repousar a cabeça em seu ombro e permiti-lo guiá-la na dança lenta.



Eu carrego comigo a grande agonia 
De pensar em você, toda hora do dia


Quem poderia dizer que um simples poema levaria alguém a superar a timidez? Ou, talvez, o poema não tenha feito nada, mas sim o amor. O amor prega peças e, às vezes, quebra barreiras. Quem sabe você não ache um Amor Tímido algum dia? Quem sabe ele não quebre barreiras? Quem sabe... Ninguém sabe! Talvez... Talvez você mesmo (a) saiba!


Eu carrego comigo, a grande agonia 
Na verdade nada esconde essa minha timidez 
Na verdade nada esconde essa minha timidez 

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