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Quando eu tinha dez anos freqüentava um curso especial na mesma escola trouxa que minha mãe estudou antes de ir pra Hogwarts. Os outros alunos não sabiam que eu e meus colegas de turma éramos bruxos. O que pra mim soava sem sentido já que estávamos lá para aprender coisas de trouxas e sobre trouxas! Por que trouxas não se interessavam em conhecer e entender coisas sobre bruxos? Enfim, uma das minhas lembranças mais fortes daquela época foi quando conheci meu grande herói.


Sempre fui louco por futebol tanto quanto por quadribol! Acompanhava a liga inglesa e isso tornava meu convívio com os garotos da escola mais amigável. Numa manha um de meus colegas trouxa chegou dizendo que o pai o levaria para o jogo semifinal da liga inglesa. Pedi a minha mãe para comprar os ingressos. Iria com meu avô materno e meu tio Harry! Passei a contar os dias para o jogo tanto quanto contava para ir para Hogwarts. No meu quarto havia um grande pôster do jogador revelação da liga naquele ano. O cara deixava zagueiros no chão com suas arrancadas e dribles dentro da área! Em quinze jogos foram dezoitos gols! Um recorde! Minha camisa do Arsenal tinha seu nome nas costas. Queria muito que ele a autografasse.


Meu pai estava viajando a trabalho naqueles dias; chegou tarde e demorou conversando com minha mãe. Sai para vê-lo e ouvi minha mãe insistindo pra que ele fosse comigo ao jogo.


Papai não gostava de futebol; não tinha paciência em assistir a um esporte que tivesse tempo para acabar, que podia acabar em empate sem gols ou pior: ninguém sair do chão.


– Tenho certeza que Hugo prefere ir com seu pai e Harry!


– Você deveria levá-lo Rony. Vocês não têm passado muito tempo juntos.


– Eu sei, mas...


– Não me venha com a desculpa de ninguém voar.


– Está bem! Eu vou! Agora podemos... foi uma longa viagem Hermione!


– Vá dizer ao Hugo que vai com ele ao jogo primeiro; depois poderá fazer o que está pensando.


Papai me deu a noticia e percebi o esforço que fazia para que eu pensasse que ele adorou a idéia desde o começo. Fiquei pensando que assistir a esse jogo não parecia um sacrifício para os pais dos meus amigos. Isso me deixou realmente aborrecido.


No domingo à tarde chegamos ao estádio e encontrei logo a turma da minha escola. Um ex-colega da minha mãe e o filho; meu pai não gostava dele e eu sabia que o filho não gostava de mim por nenhum motivo. O garoto vivia me perturbando porque me achava estranho e até meio retardado, mas o pai era muito legal comigo. Mais uma coisa que só fui entender tempos mais tarde...


– Se esse cara perguntar da sua mãe de novo... – meu pai resmungou.


– Calma Rony – disse meu tio Harry – o ignore. Estamos aqui pro Hugo se divertir!


– Olhe papai o jogador que te falei.


Tio Harry e meu pai observavam o jogador mais aplaudido a entrar em campo; o cara acenou para a multidão. Os garotos da escola olhavam meu pai curiosos.


– Seu pai é esquisito como você! – comentavam alguns garotos.


Meu pai realmente destoava dos outros; além de ruivo e muito alto usava nos últimos tempos uma barba engraçada. Tio Harry também usava, mas passava mais despercebido. Até ali eu nunca tinha comentado o que meu pai fazia para viver; era proibido comentarmos sobre atividades bruxas na escola. Outra coisa que eu não entendia.


O jogo foi bem movimentado no primeiro tempo; meu time vencia por três a zero. Gols do meu jogador favorito! O craque! O cara! Eu estava já rouco de tanto gritar o nome dele.


No intervalo saímos para comer. Estávamos animados falando da goleada que e aproximava e a festa que faríamos quando fossemos campeões. Os torcedores agitavam bandeiras e contavam em coro o hino do clube. Meu avô pagou cervejas para meu pai e o tio Harry. Parecia que papai tinha entrado no clima do jogo.


– Vai ser uma goleada! – diziam todos os garotos.


– Ainda têm o segundo tempo – disse meu pai e todos olharam para ele. – Se eu e o técnico adversário vimos o mesmo jogo ele vai fazer algumas modificações para mudar o placar.


Mais uma vez os garotos olharam meu pai espantados e depois se viraram para mim.


– Você disse que ele não se liga em futebol! Do que ele está falando?


– É só a opinião dele.


– Se ele não entende de futebol não devia falar muito não é?


O grupo virou as costas para mim.


– Espere! Meu pai não entende mesmo de futebol! Ele não sabe o que diz!


Em poucos minutos do segundo tempo o jogo já estava empatado. O estádio quase veio abaixo em vaias. Eu gritava feito um louco, mas parecia que o jogador principal estava completamente perdido. Praticamente não corria; ficou parado pedindo que lhe passassem a bola, mas quando isso acontecia desperdiçava a chance chutando para fora.


– O que está acontecendo? Parece que seu pai jogou uma praga no time.


Não respondi nada, mesmo porque se quisesse papai poderia azarar o time inteiro.


No final saímos todos de cabeça baixa inconformados com a derrota do que parecia ser o jogo do ano.


Quando chagamos em casa minha mãe perguntou se tínhamos nos divertido. E papai respondeu que tinha sido interessante. Subi correndo para o meu quarto; achava que tudo o que tinha acontecido naquele dia, de alguma forma, era culpa dele.


Ouvi quando tio Harry chegou de madrugada; papai e mamãe o acompanharam para algum lugar. Vovó Weasley que me deu café da manha e vovô Granger me levou pra escola.


– Ainda temos a copa da Inglaterra – comentavam meus colegas trouxas – Vamos ver o jogo. Weasley você vai com a gente? Se você for peça a sua mãe pra te acompanhar.


Meus pais discutiram a respeito.


– Você não vai levar Hugo a nenhum jogo Hermione! Ainda mais na companhia daquele seu ex-colega... Hugo não vai.


– Rony, os garotos vão conhecer aquele jogador que Hugo admira; conseguiram marcar um encontro para depois do jogo.


– Hermione...


– Rony, você sempre admirou jogadores de quadribol!


– Eu o levarei então!


– Você tem certeza? Ele disse que você não gostou do jogo... Papai pode levá-lo.


– Eu mesmo levo meu filho, obrigado.


Corri até meu quarto, mas papai não apareceu para dar a noticia... Esperei até cair no sono. Minha avó me acordou de madrugada e me levou à Toca. Ela não disse o que havia acontecido, mas eu sabia que alguma coisa estava errada. Passei o resto da noite no antigo quarto do meu pai e só pela manha vovô Weasley me deixou sair. Papai estava deitado no sofá; estava ferido nas costelas. Eu ia correr até ele, mas minha mãe não deixou.


Ficamos na Toca mais uns dias até ele se recuperar.


– Sinto muito pelo jogo – disse ele enquanto jogávamos uma partida de xadrez – iremos outro dia e você poderá conversar com esse jogador que tanto gosta.


– Como sabia que o outro time ia virar o jogo pai?


– Foi só reforçar marcação nos... lançadores. Ele não tinha muito que fazer se a bola não chegasse até ele. É a vantagem de ser goleiro. Enxergamos a partida de um ângulo privilegiado.


– Eu não tinha pensado nisso, desculpe pai.


– Eu o levarei para ver outros jogos Hugo... Prometo. Estou começando a gostar de futebol.


– Não tem importância papai. Por favor, só fique bom logo...


De fato não me importei quando fomos desclassificados mais uma vez. O encontro com o jogador acabou nem acontecendo; aos poucos o time foi desmanchado e meu jogador favorito acabou sendo negociado para outro país e nunca mais foi o mesmo. Pra ser sincero acho que nunca mais ouvi falar dele.


Só soube o que tinha acontecido com meu pai naquela madrugada algum tempo depois. Quem e o que o machucaram tanto. Foi assustador...


Essa descoberta despertou alguma coisa em mim... Nos anos que viriam pela frente me pus a registrar nossas aventuras, mas nunca esqueci aquele dia jogando xadrez na Toca... ali com meu único e verdadeiro grande herói.

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