George e Angelina



-Mamãe, papai! É oficial – Roxanne falou abrindo a porta do quarto dos pais com um estrondo.


-O que foi filhinha? – George perguntou.  Ele e Angelina estavam sentados na cama fazendo planos para o dia do natal.


-Eu não vou mais comemorar o natal! – ela falou emburrada e fechou a porta com outro estrondo.


-É a sua vez – George falou.


Roxanne era uma menina muito determinada e nem parecia ter apenas oito anos. Às vezes ela agia como uma adulta. Outras vezes como uma bebezinha. Nunca se sabia o que esperar. Mas uma coisa era certa: ela era muito tagarela e fazia amizade com todos.


-Eu fui lá ontem quando ela fechou o dedo na porta – Angelina respondeu com um sorriso – sua vez.


-Eu fui hoje de manhã quando ela e o Fred brigaram por causa dos bolinhos – George falou com um sorriso maior ainda.


-A gente devia ganhar um galeão toda vez que essa menina fizer uma coisa dessas. Estaríamos ricos – Angelina falou se levantando e indo para a porta.


-Volta logo – George falou piscando pra mulher – ainda temos alguns assuntos para resolver.


-Voltarei assim que puder – Angelina respondeu dando um beijo no marido e indo procurar a filha.


Entrando no quarto da filha, Angelina encontrou Roxanne sentada no meio do chão do quarto.


-Roxy, conte pra mamãe o que tá havendo – Angelina sentou do lado da filha.


-Eu não vou mais comemorar o natal.


-E por que essa decisão tão de repente?


-Não foi “derrepente” – Roxanne falou – eu acabei de decidir.


-É isso que de repente quer dizer, filha – Angelina falou rindo – agora falei pra mamãe por que essa decisão que você acabou de decidir.


-Eu não tenho como ir para o natal.


-Claro que tem! A gente vai pra casa de vovó de carro como a gente faz todo ano.


-Não é isso.


-Então o quê é?


-Eu não roupa pra ir.


-Claro que tem! A gente comprou um montão de coisas – Angelina falou – não se lembra? A gente comprou aquelas botas e aquele cachecol listrado.


-Mas nenhuma roupa nova! E eu não posso ir para o natal de roupa velha! Por isso vou de pijama – Roxanne falou convencida.


-Pijama? – Angelina falou rindo.


-Sim – Roxanne respondeu tirando o robe que estava usando e mostrando para a mãe o pijama.


-Não tem graça, Roxy – Angelina falou dando uma risadinha.


-Eu não disse que era pra ter graça – Roxanne falou séria.


-Eu tenho certeza que iremos achar alguma coisa pra você usar.


-Não vamos. Eu já procurei, olha.


Roxanne abriu a porta do guarda roupa e foi atingida por uma pilha de roupas.


-Roxanne! Como você fez isso?


-Eu disse. Não tenho nada. Não vou para o natal.


-Já sei – Angelina falou tendo uma ideia – que tal se a gente fosse lá no porão e revistasse umas caixas antigas. Talvez eu tenha guardado alguma roupa minha que caiba em você. O que você acha?


-O que eu acho? – Roxanne falou e saiu correndo. Angelina só a achou novamente descendo as escadas do porão – cadê? Cadê? Cadê? Cadê?


-Calma, Roxy. Vamos procurar – procura uma caixa que tenha dizendo “roupas Angelina criança”.


-“Roupas Angelina criança” – Roxy repetiu e começou a procurar pelas caixas – olha essa! “Fotos de família natal 1997 até verão 1998.” Por que essas fotos não estão lá em cima?


Antes da mãe responder, Roxanne começou a abrir a caixa.


-Roxy não! – Angelina falou se jogando em cima da caixa e relembrando os acontecimentos daqueles anos.


-Calma mamãe. Por que eu não posso ver?


-Roxy, você sabe que seu pai tinha um irmão gêmeo não sabe?


-Sei.


-E você sabe que ele morreu há muito tempo atrás, não sabe?


-Sei.


-Então, filha. Você ainda é muito pequena. Quando você e o Fred crescerem, o papai e eu contaremos tudinho pra você desde o natal de 1997 até o verão de 1998, tá bom?


-Mas eu já sou crescida.


-Você ainda tem 8 anos, Roxanne. Quando você fizer 11 anos eu conto.


-Promete?


-Prometo. Agora vamos procurar mais caixas.


No segundo que a mãe virou para procurar mais caixas Roxanne abriu a caixa das fotos e levou um susto. Logo em cima havia uma foto do seu pai com um curativo em volta de toda a cabeça todo machucado e em roupas sujas. Ao redor dele estavam seus tios também em roupas sujas e todos machucados.


-Roxy, achou alguma coisa? – Angelina falou virando e Roxanne escondeu a foto dentro da blusa que estava vestindo.


-Achei!  - Roxanne falou vendo que ao seu lado estava a caixa com “roupas Angelina criança.”


-Então vamos procurar alguma coisa – Angelina falou animada, mas Roxanne havia perdido toda a animação. Porque estavam todos sujos e machucados? Ela queria logo ficar sozinha para olhar melhor a foto.


-Mamãe, eu preciso ir lá em cima no banheiro – ela falou.


-Tudo bem, eu vou procurar uns vestidos do seu tamanho e vou levar pro seu quarto – Angelina falou em meio a um monte de roupas.


Roxanne subiu as escadas em disparada até a sala de estar. Quando estava tirando a foto de dentro na blusa o Fred apareceu e ela rapidamente escondeu a foto de novo.


-Você vai de pijama para o natal? – Fred falou saindo da cozinha. Ele já estava todo pronto de cabelo penteado e vestindo roupas novas.


-Não, bobão – Roxanne respondeu. O que ela não percebeu é que a foto caiu de suas mãos e foi parar no chão – eu vou me arrumar.


Roxanne saiu correndo para o quarto, mas Fred percebeu que ela deixou cair alguma coisa. Ele chegou mais perto e percebeu que era uma foto. No começo ele não entendeu, mas quando ele percebeu quem as pessoas eram, ele levou um susto.


-Fred? – Angelina falou subindo as escadas do porão e fazendo Fred esconder rapidamente a foto.


-Oi mãe.


-Você tá lindo filho. Cadê seu pai?


-No quarto se arrumando.


-E a Roxy?


-No quarto dela.


Angelina subiu as escadas para o primeiro andar e Fred voltou a examinar as fotos.


George saiu do quarto, já pronto para sair e começou a descer as escadas silenciosamente. Ele e o irmão gêmeo haviam aprendido anos atrás que o principal na hora de fazer alguma pegadinha era ser bastante silencioso. Quando estava na metade da escada, conseguiu ver a ponta do sofá onde o filho estava sentado segurando alguma coisa. George imediatamente reconheceu a foto. Havia sido tirada no velório de Fred. Como a batalha ainda estava ocorrendo, os únicos na foto eram os Weasley, Harry, Hermione e Angelina. George se arrependia até o dia de hoje de nunca ter dado ao irmão o velório que merecia. Perdendo noção de tudo ao lembrar-se da morte do irmão, George cambaleou o resto da escada.


-Pai? – Fred falou levantando-se – tá tudo bem?


-Tá, filho – George falou ainda meio tonto. A morte do irmão era a pior memória que ele tinha. Ele tinha visto tudo de perto. E não havia nada que podia ter feito. Ele se culpava todos esses anos – onde você conseguiu essa foto?


-Que foto? – Fred falou sentando em cima da foto no sofá.


-Eu já vi – George falou – como você conseguiu?


-Não sei. Quando vi já estava aqui em cima.


-Fred.


-É verdade!


George que estava sem paciência para discutir com o filho no momento resolveu sentar-se.


-Pai, posso te pedir uma coisa? – Fred perguntou.


-Você quer saber o que essa foto mostra, não é?  - Fred concordou com a cabeça.


-Você lembra das histórias que eu já lhe contei do seu tio Fred, não lembra?


-Lembro. Você nunca me contou como ele morreu.


George se lembrou do mês que seguiu o fim da batalha de Hogwarts. Todos reunidos na toca. Na primeira semana ninguém nem se falava. Não tinham coragem de conversar sobre o que tinha acontecido. Principalmente George. Ficou trancado no quarto que dividia com um irmão por quase uma semana. Foi um tempo muito difícil.


-Ainda é difícil falar sobre ele. Ele era o meu melhor amigo. Nós fazíamos tudo junto – George falou mais do que pra ele mesmo do que para o filho.


-Pai, tá tudo bem? – Fred achou que tinha visto uma lágrima saindo pelo rosto do pai, o que era estranho, porque pais nunca choravam.


-Tá sim – George falou fungando – olha filho, você ainda é muito pequeno para entender toda essa história. Quando você estiver prestes a ir pra Hogwarts eu lhe conto.


-Você promete?


-Prometo. Mas eu também quero que você me prometa uma coisa.


-Eu prometo – Fred falou.


-Espere eu dizer o que é – George falou olhando nos olhos do filho – hoje à noite, na noite de natal, eu quero que você olhe para o céu antes de dormir. Vai ter uma estrela bem brilhante. Ela pode não ser a maior, mas ela vai ser a mais maluca. Brilhando de formas diferentes. Fazendo todas as outras estrelas se divertirem. Ache essa estrela no céu e lembre-se do seu tio Fred. Era assim que ele era. Maluco. Mas sempre fazia todos se divertirem – e novamente, essa última frase foi mais pra ele do que pro filho.


-Prometo – Fred falou.


-Agora me dê essa foto que eu vou guarda-la num lugar bem especial. E quando você tiver 11 anos eu tiro ela de lá de novo – George falou pegando a foto e levantando-se bem na hora que Angelina e Roxanne apareceram na porta.


-Como estamos? – Angelina respondeu.


-Lindas – George falou guardando a foto no bolso do casaco – tô vendo que alguém não desistiu de comemorar o natal no fim das contas. Você tá linda, Roxy.


-Eu sei, papai – Roxy falou convencida, mas dando um abraço de agradecimento no pai.


-E você tá magnífica – George falou para Angelina fazendo-a rir.


-Te amor, amor – Angelina respondeu mandando um beijo pro marido que estava ocupada fechando a porta de casa.


-Te amo também – George sorriu – agora vamos pra casa da vovó que tem um monte de comida gostosa esperando a gente.

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