Olhe para eles



  Nada era mais desgastante que você ter que acordar muito mais cedo que todos os dias de suas férias, apenas para ir para Hogwarts. Era um fato que Rose Weasley, como uma filha de Hermione Weasley, adorava estudar e adquirir conhecimento por meio dos livros, mas ela não era nenhum robô. Suas mãos, pequenas e magras, brincavam com a colher, enquanto a ruiva esperava o seu irmão e o seu pai salvarem o dia.


 


  Algo que Rose não contou para ninguém, nem para sua melhor amiga em Hogwarts, eram os pesadelos que ela estava tendo ultimamente. Ela realmente esperava ver Alice no trem, porque não queria ter que procurar uma cabine quase cheia, para dividir com pessoas que ela mal conhecia. Isso havia acontecido o ano anterior, e Rose estava torcendo para que não acontecesse esse ano novamente. Bem, ela precisa dividir os seus pesadelos assombrosos com sua prima, Roxanne, e com Alice. As duas, sem dúvida nenhuma, eram as pessoas que a ruiva mais confiava em toda sua vida.


 


  Sua mãe, Hermione, olhava desesperadamente para o relógio em seu pulso. Ela mordia o lábio inferior, frustrada com a demora do seu filho e do seu marido. Sinceramente, até Rose estava cansada de esperar os dois. Depois ainda chamavam as garotas de demoradas... Sinceramente, qual é o problema com eles?


 


  Quando ouviram alguém descendo as escadas, ambas olharam ansiosamente para as mesmas. Seu irmão e seu pai desciam as escadas calmamente, sem nenhuma pressa. Conversavam animadamente sobre algo, que logo depois a garota conseguiu definir como Quadribol. Hermione levantou da cadeira, irritada com a calma que ambos os homens estavam expressando naquele momento.


 


  Seus passos faziam com que a casa quase fosse destruída, literalmente. O seu olhar fuzilava os dois com uma irritação que apenas a mãe de Rose era capaz de dar. Quando ela se aproximou dos dois, ambos pareciam que se encolheram no pé da escada. Rose quase teve um ataque de riso naquela hora, mas sabia que irritaria sua mãe mais do que ela já estava. Desviou os olhos, enquanto uma discussão começava com os três. Hermione falando o quanto eles eram irresponsáveis, e os dois tentando se desculpar.


 


  "Bem, estamos atrasados agora. Ron, você vai dirigir hoje. As malas de todos já estão dentro do carro. Vamos, vamos." Falou Hermione, quando terminou a discussão, falando para todos.


 


  "Mas Mione..." Ele começou, mas logo parou, sabendo que não poderia e nem queria começar mais uma discussão com sua esposa. O olhar que Hermione dirigiu para ele não foi um dos seus mais amigáveis, e então todos foram para o carro, silenciosos.


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  A estação de King's Cross estava movimentada aquela manhã. Vários bruxos, assim como os Weasley, haviam se atrasado por algum motivo. Atravessavam, com muita pressa, a plataforma nove e três quartos, enquanto conversavam distraidamente entre si. Rose olhou em volta, tomando cuidado para ver se nenhum trouxa estava a vendo. Ela apertou Eva em seus braços, uma gata que havia ganhado de sua mãe, como uma recompensa pelas suas notas excelentes em todas as matérias.


 


  Começou a correr diretamente para a plataforma, fechando os olhos. Apesar de ela saber que não bateria na parede, era uma sensação estranha atravessar com os olhos abertos. Rose tentou isso um ano, e sentiu um enjoo repentino quando chegou ao outro lado. Obviamente, a garota tentara disfarçar, dizendo que era apenas nervosismo com o novo ano na escola que se iniciara. A verdade, era que não ficava mais nervosa com sua ida desde o seu primeiro ano. Ainda lembrava das palavras do seu pai para ela, e era o que ela estava fazendo toda hora. Sendo melhor que Scorpius. Ela era a monitora da Corvinal, algo que ela tinha orgulho.


 


  Hermione pegou a mão da filha que não estava ocupada com a gata, puxando-a para um abraço um tanto desajeitado, mas muito emocional. A mulher segurou o rosto da filha com as duas mãos, enquanto espalhava beijos pelo rosto da ruiva. Rose passou os braços em volta do pescoço da mãe e beijou levemente a bochecha da bruxa mais velha.


 


  "Juízo em Hogwarts, Rosinha. Lembre-se que nós te amamos e tenha um ótimo ano, querida." Hermione falou, enquanto se afastava da filha com um grande sorriso no rosto. Ela deu uma batidinha no ombro da garota, enquanto Ron se aproximava.


 


 "Querida, tenha um ótimo ano e não faça nada que nós não aprovamos." Disse o homem, dando um abraço de urso, fazendo com que Rose perdesse o ar por um segundo. Se ele continuasse a abraçar mais forte, os ossos dela poderiam quebrar facilmente. Por sua vez, a garota apenas concordou com a cabeça uma vez, dando um rápido beijo na bochecha do pai.


 


  Ao se desvencilhar dos braços de seu pai, os Potters entraram na visão da ruiva, fazendo com que um sorriso largo se espalhasse pelo seu rosto. Obviamente, a senhora e o senhor Potter já haviam saído, já que não estavam desfrutando do tempo com seus filhos. Provavelmente havia ocorrido algum problema no trabalho, como várias vezes já ocorrera. Rose amava os seus tios, mas afinal, quem não amava?


 


  Albus, James e Hugo conversavam animadamente, enquanto Lilian ficava conversando com Roxanne, com um sorriso tímido nos lábios. A garota, silenciosamente, foi até eles, os encarando com seus olhos claros. As mãos dela balançavam de um lado para outro, enquanto ela cantarolava uma canção de qualquer. Roxanne acenou animadamente na direção da garota, convidando-a para se juntar na conversa.


 


  Porém, no meio do caminho, algo chamou a sua atenção. Ela pensou ter visto, algo bem grande, para falar a verdade, entre um grupo de pais que conversava. Porém, quando ela piscou, não estava mais lá. Ela balançou a cabeça e se apressou até o grupo de jovens bruxos, com um sorriso agradável nos lábios.


 


  "O que foi?" Roxanne perguntou, quando ela chegou. A garota morena olhou em direção para onde a ruiva havia olhado anteriormente, franzindo o cenho.


 


  "Preciso falar com você." Sussurrou para a garota, e logo virou-se para o grupo que conversava. "Nós temos que entrar e procurar uma cabine, antes que todas fiquem lotadas. Não há quase mais alunos aqui, então devemos nos apressar." Rose anunciou para todos, olhando em volta, observando cada canto.


 


   Todos concordaram com um aceno e se puseram a caminhar para dentro do trem, e logo depois começou uma busca por uma cabine vazia. Quando acharam, colocaram suas coisas no chão, enquanto se jogavam nos bancos. Menos Rose e Albus. Ambos estavam com faces culpadas, e todos olharam para elas com uma confusão clara. Albus pegou a mão de Rose, incentivando-a falar o que eles tinham que dizer.


 


  Os monitores tinham que se sentar em uma cabine especial para eles, mas esse fato não fez com que a garota não se sentisse menos culpada. Desde o seu primeiro ano em Hogwarts, eles sentaram-se juntos, dividindo todas as primeiras memórias. Rose não queria se separar deles, mas ser monitora significava algo. A garota mordeu o lábio inferior, e inspirou lentamente, tentando arranjar coragem.


 


  "Hum... Nós..." Ela começou, desviando os olhos para a gata em seu colo. "Nós somos monitores agora. Temos que ir lá na cabine nos monitores. Sabem como é. São as normas, sentimos muitos. Nós... Hum... Nos vemos em Hogwarts. Até mais." Ela disse, e se apressou em sair da cabine, puxando Albus junto consigo. Rose não queria chegar sem ninguém lá, e estava de um jeito encabulada e orgulhosa de si mesma.


 


  Rose colocou a gata no chão, acreditando que ela os acompanharia até o vagão correto. Ela olhou para trás uma vez, vendo se Albus estava realmente a acompanhando. Um sorriso calmo se espalhou pelo seu rosto quando viu que ele ficava encarando o corredor, logo atrás dela. Continuou caminhando, nervosa com quem ela era seria obrigada a dividir o vagão.


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  Ao chegar no tão esperado vagão, o coração de Rose já estava batendo acelerado. Eva caminhava entre suas pernas, miando e ronronando, como se estivesse perguntando o motivo de ela não estar no colo de sua dona. Os olhos claros de Rose foram instantemente para o seu primo, que ainda estava perdido em seus próprios pensamentos. Ela hesitou em abrir a porta para o vagão em sua frente.


 


  Por um momento, ela se perguntou se esse não fora o motivo de ela ter sido escolhida para a Grifinória. Ela não era corajosa o suficiente para fazer coisas simples, sem realmente ter ajuda. Rose era uma medrosa inteligente, pelo menos. Suas mãos, pequenas e magras, enfim abriram a porta, de uma vez por todas. Rose sentia seu coração bater acelerado, enquanto dava o primeiro passa para o vagão dos monitores. Alguns olhos os encaram, e ela sentiu seu rosto queimar.


 


  Albus finalmente foi ao lado da ruiva, enquanto pegava a mão dela e a guiava até um assento, onde se sentaram. Rose aconchegou-se no estofado e logo depois Eva pulou ao seu lado, aconchegando-se ao lado. Ela logo pegou um exemplar de um dos seus livros preferidos, abrindo-o e o lendo. A ruiva sentiu-se uma cotovelada em sua costela e fechou o livro brutalmente, pronta para xingar Albus quando ela percebeu o motivo quando o garoto dos olhos azuis apontou com a cabeça discretamente para dois alunos da Sonserina.


 


  Scorpius Malfoy e Dominique Weasley. Scorpius provavelmente sentiu os olhos de ambos, porque olhou diretamente para onde eles estavam sentados. A boca dele se voltou em um sorrisinho muito irritante e, quando ele se levantou, Dominique franziu os lábios para ele, em um beicinho. Ela cruzou os braços e encarou Rose com um olhar de raiva.


 


  "Rosinha..." Zombou ele, rindo. "Parece que conseguiu o que sempre quis, não é mesmo? Finalmente toda as horas na biblioteca funcionaram." Falou ele, olhando diretamente para ela. "E é claro, onde a dona vai, o cachorro vai atrás. Como vai, Potter? Tá enjoadinho? Precisa de um saquinho?"


 


  Rose teve vontade de levantar-se e socar a cara do Malfoy naquela hora. Albus ficou com o rosto vermelho, enquanto olhava através da janela. Era óbvio que Rose sabia do que Scorpius estava falando. Era um jogo comum de Quadribol, e Albus era o apanhador da Grifinória, enquanto Scorpius era o apanhador da Sonserina. Obviamente Scorpius havia ficado com raiva quando o moreno agarrou o pomo, mas Albus acabou vomitando ao chegar ao chão.


 


  A ruiva pegou a mão de Albus quase por instinto, enquanto encarava Scorpius com o rosto cheio de raiva. Ela logo a largou, e olhou pelo canto dos olhos para Albus, antes de se levantar para ficar mais alta. Rose não sentia-se confortável naquele momento, mas sabia que precisava se defender das coisas cruéis que foram ditas.


 


  "Você não tem o direito de falar de qualquer um, Malfoy." Ela começou, cruzando os braços. "Todo mundo te odeia, não sei como você ainda não percebeu isso. Se fosse, sei lá, mais confortável de se conversar, talvez eu pensasse na probabilidade de realmente ter uma conversa com você." Disse, com um sorriso nos lábios. "E é melhor você se apressar, a sua garota de esquina está quase girando a bolsinha lá." Ela apontou para Dominique. Apesar de ser uma Weasley, Rose a odiava mais que tudo. A ruiva sabia que Scorpius não dava a mínima para ela, e tinha quase dó da forma como ele a desprezava.


 


  O garoto olhou para trás e logo passou a mão pelos cabelos pálidos. Seus olhos se fixaram nos dela, e por um momento Rose pensou que havia visto algo sofrível passar pelo olhar no loiro, mas esse desviou os olhos rapidamente e foi sentar-se com Dominique, que por sua vez agarrou-se no braço dele e apoiou a cabeça no ombro dele. A garota revirou os olhos, enquanto voltava os próprios olhos para Albus, que estava com os punhos cerrados e olhava através do vidro.


 


  "Ei, você está bem?" Perguntou ela, enquanto tocava de forma carinhosa o ombro do primo. "Vamos, Albus. Não acredite na merda que o Scorpius diz. Todo mundo sabe que a opinião dele não conta."


 


  "Eu estou bem, vamos só... Esquecer isso, okay?" Albus disse, ainda fitando o nada através do vidro.


 


  "Albus-"


 


  "Eu estou bem, Rose!" Ele falou, parecendo aborrecido. "Só... Eu não quero falar sobre isso agora, ok?" Terminou, tentando se acalmar.


 


  A garota abriu a boca para se desculpar, mas resolveu apenas permanecer em silêncio, sabia que falar naquele momento poderia resultar na raiva do garoto. Rose gostaria de fazer com que ele esquecesse as palavras horríveis que Scorpius dissera para ele, queria xingar o loiro das piores coisas do mundo. Principalmente, a ruiva queria fazer com que seu primo e melhor amigo se sentisse melhor.


 


  Ela apenas abriu o seu livro, voltando a leitura. Talvez, se apenas se afogasse em um mundo que não fosse o real, faria com que se tornasse parte dele.


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  Assim que o trem parou, todos levantaram e apressaram-se para serem os primeiros a sair do trem. Obviamente, haviam apenas uma saída, isso quer dizer que todos começaram a se empurrar, querendo sair daquele lugar. Até mesmo Rose levou algumas cotoveladas que alunos deram nelas. Bem, aquilo não era uma surpresa, ocorria todo o ano. Em meio a tanta bagunça, a garota acabou se perdendo de Albus. Ela suspirou e começou a abrir espaço entre todos os alunos.


 


  Ela ouviu muitos "Ei, olha por onde anda" ou "Ai, acabei de quebrar minha unha" no caso de algumas garotas. Ao ouvir esses comentários, a garota apenas revirou os olhos. Demoraram alguns minutos até conseguir sair do trem e a única coisa que pensou foi "São e salva". O fato de ser pequena não ajudou muito, por isso ela subiu em um banco e observou sobre as cabeças, tentando achar alguém familiar. Seus olhos, imediatamente, focalizaram em Hogwarts.


 


  "Mais um ano, mais uma história." Murmurou para si mesma.

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