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– (184) –


 


– O que você está fazendo? – o sorriso que surgiu nos lábios de Astoria mostrou que ela não se importava realmente com o que a outra estava fazendo, contanto que ela continuasse por perto.


 


De fato, Gina estava bem perto. Havia acabado de tirar a revista do colo de Tori, ocupando o lugar da publicação. Uma colher estava presa em sua boca e um pote redondo de sorvete fino jazia em sua mão livre, com a outra afagava os próprios cabelos.


 


– Me refrescando. Quer?


 


– É de quê?


 


– Creme.


 


– Quero.


 


É claro que Gina não levou um pouco da sobremesa gelada à boca de Tori pura e simplesmente. É claro que ela tinha de inventar alguma forma de fazer o momento durar, de ser especial, de hipnotizar a outra. Ela era Gina Weasley, afinal.


 


É claro que Tori não conseguiu nem piscar enquanto Gina a encarava com aqueles olhos de uma cor tão ordinária, comum... mas de uma intensidade que a fazia ruborizar. É claro que Tori prendeu a respiração ao ver o sorvete ir aos lábios da ruiva antes deles chegarem lentamente aos seus. O beijo foi, literalmente, doce.


 


Não demorou muito para a fotógrafa segurar a cintura da ruiva e tentar aprofundar o beijo gelado.


 


– Não... devagar... – sussurrou Gina.


 


– Devagar?


 


– É... – aplicou um selinho demorado nos lábios de Tori. – Lentamente. – sugou–os levemente.


 


– Eu gosto disso...


 


– Gosta? – perguntou levando mais um pouco de sorvete à boca.


 


– Gosto.


 


– E disso?


 


Todos os pelos do corpo de Tori arrepiaram–se quando Gina pousou a boca em sua mandíbula, deixando uma gota gelada escorrer por seu pescoço, e logo em seguida perseguiu–a lentamente com a ponta da língua.


 


Tori fechou os olhos e suspirou. Por um breve momento, a rápida conversa que tivera com seu amigo, Draco, em seu lugar favorito no mundo, voltou à sua mente: “Porra, Tori”.


 


– Por que cada movimento seu seduz? – sussurrou com dificuldade.


 


Abriu os olhos para ver Gina sorrir para ela tomando mais um pouco de sorvete.


 


– Estou te excitando? – perguntou displicentemente.


 


– Não é desse tipo de sedução que estou falando.


 


– Não? – outra colher de sorvete. – É de qual então?


 


– Como se você não quisesse hipnotizar meu corpo, apenas, mas minha alma.


 


Gina levantou–se da cama, movendo–se lenta e vagarosamente. Passou a mão pelos cabelos deixando–os cair por suas costas naturalmente. Ela virou–se para Tori e começou a movimentar–se, dançar, lentamente. É claro que respirar, para Astoria, tornou–se uma função vital muito pesada e consciente.


 


– Não... tem música, sabe. – disse–lhe.


 


– É claro que tem.


 


– Onde?


 


– Vem cá.


 


É claro, não precisou pedir mais que uma vez.


 


– Você ouve? Seu coração, sua respiração... é um ritmo.


 


– What the...?


 


– Shhh... falar altera a respiração, que é nosso ritmo aqui. Apenas se mova... como num sussurro em forma de movimentos... Assim...


 


– Ainda não tem música.


 


– Merlim, Tori. – encostou os lábios na mandíbula da loira novamente. Tori fechou os olhos novamente, e sentiu o suave movimento da outra fazendo o som do outro lado do local soar uma música, no mínimo, angustiante. – Sua respiração é assim. – sussurrou. – Apenas sinta o ritmo...


 


E Tori se sentiu. Lentamente, como o beijo de pouco antes. No ritmo de sua respiração.


Fecharam os olhos. Gina porque gostava daquela sensação de inclinar a cabeça para trás, para aproveitar seu solo de guitarra, e Astoria que era difícil demais não alterar sua respiração tão perto de dela.


 


Um pouco mais de creme gelado com calda de morango entre os lábios. Um pouco mais de envolvimento. Tudo no mais claro estilo “coração batendo mais rápido e mais lento ao mesmo tempo”.


 


O pote foi se esvaziando, as bocas ainda desacelerando, os corpos fundindo–se, as auras misturando–se. É claro que era sexy, extremamente sexy, mas extremamente angustiante ao mesmo tempo. Cada toque, cada beijo, cada movimento arrepiava, e cada um deles era realizado pelas pontas... dos dedos, dos lábios, das línguas, das testas, dos queixos... nada tocava–se, roçava–se.


 


É claro que tudo aquilo durou apenas alguns minutos, mas pareceu durar pra sempre. E é claro que Tori tinha todos os motivos para amar Gina, apesar de não ter nenhum.

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