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Era um dia comum. O despertador tocou, como sempre, às 7 e, como sempre, ela esperou até 7:15 para levantar.


 


Astoria Greengrass não era o tipo exemplar, mas era responsável. Aos 18, saiu de casa; aos 19 já havia dado entrada em seu próprio flat; e, aos 24, trabalhava com o que mais amava, embora não na perspectiva certa.


 


Queria ser artista. Fotografar árvores, pedras, tampinhas de refrigerante e corpos nus. Infelizmente, pra sua decepção e depressão artística, isso não dava dinheiro. E Astoria Greengrass precisava de dinheiro para pagar as contas no fim do mês.


 


Os Greengrass eram ricos, todos sabiam. A cada ano que se seguia eles esbanjavam grandes doações às instituições de caridade do Mundo Bruxo. Mas Astoria não vivia mais com a família e ela era orgulhosa. E pessoas orgulhosas têm suas próprias regras.


 


Foi brigando como saiu de casa. Mal falava com a irmã, Daphne. Coisas sobre puro–sangue. Poucos entendiam, na verdade. Mas Astoria não pensa mais nisso, há muito sua preocupação com a família não a preocupava. Sua maior inquietação no momento era chegar às 8:30 na redação do Profeta Diário, onde era fotógrafa.


 


O banho fora rápido, como sempre. O café, com leite, duas colheres de açúcar, uma pitada de canela, hortelã e baunilha, como sempre. E a toalha molhada jogada em cima da cama, como sempre.


 


Saiu às 8:15. Como seu apartamento não tinha lareira, teria que aparatar, como sempre. Andou até o corredor, segurou firme a varinha e rodopiou no ar.


 


Com um “crack” apareceu na movimentada Brompton Road, uma rua marcada por grandes e importantes prédios comerciais em Londres. Andou pelo familiar caminho até um dos prédios mais vistosos e cumprimentou o porteiro, também, sem nada diferente.


 


Estava cerca de 10 minutos atrasada e entrou no elevador aos tropeços. A porta começou a fechar quando, não como sempre, a figura de uma ruiva corria em sua direção.


 


– Segura!


 


Astoria reagiu instintivamente, apertou um dos botões do elevador e, antes que ele se fechasse, a ruiva chegou à porta.


 


– Obrigada... – agradeceu meio sem ar.


 


– Weasley?


 


 – Greengrass?


 


 – É...


 


O elevador fechou as portas e começou a subir.


 


– Como está?


 


– Eu... to ok. E–e–e você?


 


– Estou ótima. – respondeu e sorriu.


 


 


O elevador parou no 12º andar e Astoria desceu. Gina Weasley seguiu. A loira andou até sua escrivaninha, deixou a bolsa verde e velha na mesa e correu para a cafeteira.


 


Era viciada em cafeína, sabia disso.


 


Enquanto se servia de café, lembrou do recente encontro. Conhecia Gina da escola, ela era um ano adiantada. Mas não se lembrava o quão linda ela era. Ou estava. Que seja.


 


 “O Quadribol fez muito bem a você, Weasley.” – sorriu.


 


E aquilo não saiu da sua cabeça o resto da manhã, quando foi despertada de seus desvarios por Denis Creevey, seu colega em Hogwarts, seu grande amigo no Profeta Diário.


 


– Ta sabendo que fomos escalados para cobrir a Copa Mundial de Quadribol? – o amigo perguntou.


 


Yuppie! Meu maior sonho... – O tom passava longe disso.


 


– Vamos esticar mais tarde? Umas cervejas?


 


– Claro.


 


– Creevey, Greengrass... Conferência com o chefe. – Mandy Stewart, uma das jornalistas (no top 10 das mais gostosas, na opinião de Astoria), os chamou de longe, já se dirigindo para a sala de reuniões.


 


Os amigos se entreolharam. Odiavam essas reuniões de pauta nas sextas. Andaram juntos até a sala indicada e nela todos os editores estavam presentes. Para surpresa geral da nação, Gina Weasley, artilheira premiada do Harpias de Holyhead, estava sentada ao lado de Thomas Smith, o dono do jornal.


 


Após todos se acomodarem ao longo da extensa mesa, Thomas fez um grande monólogo sobre o jornal, as vendas, as projeções e o foco que dariam na Copa Mundial de Quadribol, que seria realizada na Holanda.


 


Quando começou a tagarelar sobre todas as responsabilidades da equipe no evento, aproveitou para apresentar a Weasley, a mais nova Editora e correspondente da seção de esportes. O que foi acompanhado de “Parabéns, Weasley”, “Ótimo gol naquela final...”, “Parabéns pelo último campeonato.”.


 


“Fuck.” – Os pensamentos de Astoria comumente eram audíveis.


 


– Disse alguma coisa, Greengress? – Thomas perguntou.


 


– Eu–Eu–Eu? Não, chefe. Na–nada. – As palavras de Astoria comumente se atropelam quando fica nervosa.


 


 


Foram liberados algumas horas depois e lá se foi a manhã de sexta–feira. Astoria respirou fundo, realmente odiava essas reuniões.


 


– Topa um almoço? – Denis a segurou pela cintura.


 


– Definitivamente.


 


– Viu a Gina?


 


– Quem não viu?


 


– Ela está muito...


 


– Eu sei...


 


– Acho que a Mandy vai perder o posto de mais gostosa do Profeta.


 


– Cachorro. – sorriu.


 


– Astoria? – era Gina. Mas Astoria estava de costas e não percebeu.


 


– Quem me quer? – respondeu como sempre fazia.


 


– Hum... eu?


 


– Quê? Ah, Weasley... desculpa! – Astoria queria se enterrar. Denis gargalhou sem constrangimento.


 


– Sem problemas...


 


 – Hm...


 


– Acho que vamos precisar conversar a tarde... Você vai cobrir a abertura da copa... temos que combinar horários, hotel...


 


– Sim, claro. – Astoria respondeu ainda vermelha.


 


 – Estamos indo almoçar, Gina. – Denis interrompeu. – Quer se juntar a nós?


 


– Estou faminta! Não estarei atrapalhando?


 


– Claro que não! – Denis respondeu encarando furiosamente sua amiga que, por trás de Gina, fazia gestos nervosamente negativos. Claro, todos ignorados por ele.


 


 


Em minutos, os três estavam em um dos restaurantes de Brompton Road. Era discreto, mas na moda. Denis pediu qualquer massa, Astoria a salada de sempre e Gina, um peixe grelhado qualquer.


 


Não podiam, mas dividiram uma garrafa de vinho branco.


 


– Por que saiu do Harpias, Gina? Posso te chamar de Gina? – Denis perguntou.


 


– Pode... se eu puder te chamar de Denis. – sorriu. – Sai porque...


 


– É o tipo “pare enquanto todos te amam”, Denis. – Astoria falou e virou o resto vinho de seu copo. Gina a encarou. – To mentindo? – defendeu–se.


 


 – Não está. – Gina continuou a encarar a loira com um olhar enigmático. – e você... por que fotografia? Por que jornal? Sempre achei que se casaria com algum tipo milionário ou algo assim.


 


 – Ela só trabalha pra pagar a droga. – Denis sorriu. Gina não entendeu.


 


 – Eu gosto de fotografia.


 


 – e é lésbica.


 


 – Denis! – Astoria indignou–se.


 


 – Quê?


 


 – Não fique espalhando minha vida por ai.


 


 – Só estou explicando porquê você não se casou com um puro–sangue podre de rico.


 


 – Eu não me casei porque não seria eu!


 


 – Que seja...


 


 – Então quem é você, Astoria Greengrass? – Gina olhou profundamente para os seus olhos.


 


 – Eu sou só... eu. Não tenho nada demais. E vamos, já está na hora de voltar à Redação.

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