Capitulo único



Os azuis se misturavam em meio ao horizonte, estando no alto daquele morro, o garoto alto e magro, de cabelos de fogo, se recordava de tudo que havia se passado pelos anos de sua vida. Não tinha orgulho do homem que havia se tornado, apenas via-se percorrendo em um vazio infinito onde as almas se foram para sempre deixando a saudade. E naquele sangue que percorria em suas veias não havia mérito, não havia nada, pois havia se tornado alguém sem coração por aqueles que o amavam e tudo pela ideia de ordem, o desejo de poder.


Águas vermelhas que percorriam como uma chama a queimar-lhe por dentro. O órgão que havia naquele peito parecia inapropriado por continuar a bater enquanto o de outros havia parado.


O que mais desejava era retornar, rasgar todas as páginas dessa história dolorosa, usar uma borracha para limpar as palavras de seu livro tão amargo. Antes um livro apenas citando regras e respeitando pudores, sem sentimentalismo na maioria de suas simples frases. Arrogante. Era assim que poderia se escrever. Talvez devesse rasgar sua pele e escrevendo para se lembrar que era apenas isso, um orgulhoso e nada mais.


De que adiantara toda essa hipocrisia se perdera parte de seu próprio sangue?


Não se sentia digno de sua família, nem daquelas batidas repetidas que ele ainda podia sentir. Vestido com roupa negra, luto, ele estava a caminho agora de uma despedida eterna.


Mesmo que o amor daquela que lhe concebera fosse mais forte que qualquer outra coisa e que essa mesma mulher sempre tivesse acreditado e tivesse orgulho do filho ser responsável, para ele isso tudo havia sido inútil. O orgulho lhe venceu o amor e as veias que o unia àquela mulher, o mesmo orgulho que se fez grandioso demais para deixá-lo logo pedir perdão as pessoas que ainda o amavam, o orgulho que aos poucos o destruía.


A pena caminhava mais livre pelo pergaminho se tudo pudesse ser diferente, se o preço a se pagar não fosse algo tão doloroso, se não fossem gotas vermelhas derramadas de seu olhar marinho.


Quem sabe um vira-tempo não seria a solução?


Talvez sim, talvez não; se ele pudesse encontrar algum, já que aqueles do Ministério haviam sido destruídos.


Passos de volta para A’ Toca, onde uma senhora ruiva lhe esperava de braços abertos. Como uma criança carente ele corre com todas as forças em suas pernas, e se atira aos braços calorosos de sua mãe, um abraço de choro de ambas as partes. Ele por saber que aqueles braços sempre estiveram ali para que abraçasse, mas que ele nunca assim desejou. Ela porque seu filho pródigo havia retornado a casa, estava bem, estava ao seu lado agora e principalmente nesse momento tão difícil.


Os olhos fechados lhe traziam a lembrança daquele corpo ruivo caído no chão, aquele que primeiro o perdoara por toda a sua idiotice em ficar contra a família. O choro aumenta. A expressão correta para seu sentimento seria culpa.


-Perdão- ele repetia, por mais um das incontáveis vezes que já dissera isso a sua mãe, esta o afasta para olhar em seus olhos profundamente.


-Eu sempre irei te perdoar, Percy, porque você é meu filho, e se eu não puder ter-lhe ao meu lado seria como perder um pedaço desse meu coração. E entenda, também, querido, que o sangue que nos une não significaria nada se eu não lhe amasse como eu amo, e com isso nada mais importa.


E outro abraço que se prolonga por vários minutos.


Devem estar ainda se perguntando quem é este ser que lhes conta todos esses acontecimentos, sendo que tudo se passa dentro do peito e da cabeça do ruivo. Se você imaginou que sou algo dentro dele já errou, nem mesmo tenho relação com ele. Sou apenas um observador, um contador das horas e controlador do tempo. Mas voltemos à história que é o que realmente nos importa.


Aquele garoto, aquele homem que agora chorava como uma criança desafortunada não era o mesmo que há dois anos havia renunciado suas próprias veias pela arrogância, nunca mais poderia voltar a ser o mesmo. Os testrálios agora eram vistos por aqueles olhos, mas ele preferia que não fossem, pois isso significava que tudo era real e aquele ruivo, seu irmão, havia mesmo morrido ao seu lado com um último sorriso estampado na face, o primeiro perdão que recebera era daquele que seria sepultado naquela tarde.


Oh, páginas molhadas dessa história amarga!


A culpa ainda lhe cobre em forma de sombra negra e espessa sobre seu corpo, a tristeza, lágrimas, sangue...


O pior bruxo já existente havia sido derrotado, mas o preço havia sido caro.


Tinha pena daquela mulher que agora o abraçava, a mesma esta que se sacrificou inúmeras vezes por seus sete filhos (sete até antes da guerra).Diziam-lhe (e ele sempre concordava) que sua família não merecia ser sangue puro pois manchavam essa pureza com suas companhias, mas na verdade descobriu que ele que realmente o manchou, ele era o mais sujo, o mais canalha, na verdade era o único que poderia ser definido como sujo naquela família.


Quem seria tão estúpido para cortar os laços de sangue que o unem a sua preciosa família? Provavelmente se essa pergunta lhe fosse feita ele se entregaria a essa justiça como culpado.


Os oito Weasley aparatam para a entrada daquela velha escola (a mesma onde tudo acontecera e que estava sendo reconstruída) e entram com as cabeças baixas, lágrimas nos olhos e flores brancas nas mãos. Molly Weasley chorava descontroladamente no ombro do marido que a abraçava com um dos braços enquanto caminhavam e tentava a consolar, mesmo que nem ele mesmo pudesse ser consolado.


Traiçoeira morte, ataca nos momentos mais inoportunos e imprecisos.


Estavam agora próximos ao Weasley morto, junto a outros corpos e pessoas que velavam por seus entes queridos. E em meio ao sofrimento vê alguém, uma garota alta e bonita, a pele bronzeada e de olhos e cabelos em um castanho intenso. Percy a conhecia, mas não achou que estava numa boa hora para apresentações. Mas a ela isso não era necessário, ela vem ao seu encontro e logo o abraça ao que ele corresponde ficando quase tão vermelho quanto seus cabelos.


-Sinto muito, amor. Não se esqueça de que eu estou ao seu lado para tudo o que você precisar.


-Obrigada Audrey- ele a abraça mais forte e se aprofunda em seus cabelos que estavam caídos ao ombro.


Talvez aquele não fosse o correto instante para aquilo que vinha a seguir, mas ela não sabia como consolar o ruivo (o que poderia ser impossível), não sabia nem como fazer cessarem as lágrimas que lhe desciam a face tão branca, então ela simplesmente resolveu as secar com um beijo.


Tristezas e alegrias se misturando, o gosto tão salgado e estranho das lágrimas se misturando ao doce gosto de mel do beijo que eles se davam naquele momento. Um sabor estranho e bom.


E a história continua por muitas outras páginas, com cada um seguindo o seu caminho. Não posso continuar a lhes contar, porque seria longa demais e o final realmente não existiria, já que antes mesmo de uma história poder ter seu fim outra já se inicia para ser toda contada. É um ciclo vicioso de canções e páginas viradas, escritas com lágrimas de sangue e palpitadas de corações.


 

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