OneShot



31.10.1981


- Dumbledore o chama.


Elevei os olhos e a observei. Seu rosto estava frio, inexpressivo, eu conseguia ver nitidamente que ela não confiava em mim.


- Já estou indo, obrigado.


Minerva McGonagall virou as costas e saiu da sala fechando a porta atrás de si. Juntei os pergaminhos em um canto da mesa e levantei. Para Dumbledore me chamar tão tarde assim, presumi ser um assunto urgente.


- Lumos.- Sussurrei e segui silenciosamente em direção à sala do diretor.


Os corredores da escola estavam vazios. Todos os alunos e quadros estavam dormindo. Meus passos ecoavam e minha capa farfalhava. Era mais tarde do que eu pensava. O que ele fazia acordado?


- Grito de Mandragora. – Murmurei a senha e a gárgula logo tratou de abrir caminho. – Nox.


Ao chegar à sala ampla o vi em pé, imóvel, de frente para a grande janela de vidro gradeada olhando tristemente e cabisbaixo para fora. Fawkes dormia em sua gaiola, os quadros dos antigos diretores estavam cobertos por suas respectivas cortinas.


- Chamou-me, senhor?


- Voldemort conseguiu o que queria, Severus, Lily e James Potter estão mortos.


Um frio assustador percorreu meu corpo. Não, não podia ser verdade, contudo, mesmo sem aceitar, eu sabia que era, Albus não me falaria algo assim se não fosse. Escorei-me na soleira da porta com um baque. Meu corpo começava a tremer gradativamente, lagrimas ameaçavam cair, mas consegui segura-las.


- Você disse que a manteria segura. – Falei em desespero.


- Lily e James confiaram na pessoa errada, Severus. Assim como você.


Dumbledore virou-se para mim com os olhos velhos e cansados.


- O menino sobreviveu.


- Mas ele não precisa de proteção, o lorde das trevas voltará. – Ele revelou. – E então o garoto estará em grande perigo.


Por que ele esta falando comigo sobre o filho do imundo do Potter? Ele não vê que eu não me importo com o garoto?


- Ele tem os olhos dela – continuou, conseguindo, enfim, prender minha atenção nele. – Se você realmente a amou...


Ele parou de falar deixando o pedido em aberto. A dor em meu peito aumentava cada vez mais. Tornando difícil segurar as lagrimas. O filho dela... Da minha doce Lily... O sorriso brilhante da única que amei invadiu meus pensamentos e eu sabia a coisa certa a fazer, para me redimir, que a faria feliz.


- Ninguém. Pode. Saber. – Virei às costas e abri a porta. Eu tinha que sair dali.


Porem, antes de sair suas palavras me atingiu.


- Não devo revelar o que há de melhor em você?


- Tenho sua palavra. – Respondi com a voz abafada batendo a porta atrás de mim.


Comecei a andar o mais rápido que consegui. Ela se foi. Eu não queria acreditar, eu nunca mais a veria. Um soluço violento escapou de meus lábios, acordando alguns dos quadros. Nossos momentos na infância, em Hogwarts, todos passavam livremente pela minha mente.


Parei na entrada para as masmorras. Eu tinha que vê-la. Albus logo mandaria alguém ir até lá, se já não mandou. Eu tinha que ter minha certeza. Virei e corri o mais rápido que pude. O vento açoitava meu rosto, secava minhas lagrimas, mas eu não me importava. Corri como se minha vida dependesse daquilo, e no fundo dependia, deixando o castelo para trás. Assim que atravessei os portões da escola, aparatei.


Abri os olhos em Godric’s Hollow, mais especificamente em frente a uma casa em ruinas. Focos de fumaças eram vistos em algumas partes. Felizmente estava tudo vazio, somente um choro de criança era ouvido. Caminhei apressadamente entrando nos escombros com minha varinha em punho.


A sala estava destruída e vazia. Passei direto para a escada, e no topo dela o primeiro corpo. James Potter olhava para cima com um olhar vidrado e vazio. Mal dei atenção a ele, continuei seguindo o choro. Vinha do quarto à minha frente.


Nada poderia ter me preparado para aquele momento.


Ela estava lá. Deitada, imóvel, e com o mesmo olhar do Potter. Ela estava sem vida. Senti meus joelhos fraquejarem e meu rosto molhar. Eu não conseguia desviar os olhos da figura que jazia morta aos meus pés. Ajoelhei-me a trazendo para meu colo. Um grito de sofrimento saiu da minha boca. A dor atingira o auge. Permiti-me chorar como nunca havia feito antes. Não tinha como negar agora...


Ela realmente se foi.

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