Anjo Protetor




Durmo em cima do telefone,


São duas da manhã e eu estou sozinho esperando


Me diga, por onde você tem andado?


Eu encontrei um bilhete com outro nome


Você manda um beijo, mas ele simplesmente não parece o mesmo


Porque eu posso sentir que você se foi


Eu não posso morder minha língua para sempre


Enquanto você tenta fazer isso parecer legal


Você pode se esconder atrás da suas histórias


Mas não me faça de idiota


 


Enfurecida – e ignorando a dor –, caminho até a saída deste quarto maldito, mas uma coisa me chama a atenção. Um bilhete. Um bilhete rosa cálido com um coração no centro jaz em cima da cama de Harry. Vencida pela curiosidade me aproximo da mesma e imediatamente sinto um perfume feminino forte presente nele. O que será que há ai dentro?Penso curiosa, e logo abro o bilhete que estava dobrado no meio. Quando leio o conteúdo o meu mundo desaba novamente.


Amor, sinto saudades. Quero me encontrar com você novamente, sem a songa-monga da Hermione para atrapalhar o nosso amor. Quero sentir seu corpo sobre o meu, sentir seus beijos espalhados pelo meu corpo todo, sentir você dentro de mim. Por favor, se sente a mesma necessidade que eu venha me encontrar na casa dos gritos agora! Estarei esperando por você ansiosamente.


De seu amor e somente seu, G.W


Releio varias vezes o mesmo bilhete, incrédula. Quero chorar de raiva, quero gritar para o mundo o meu ódio pelo Potter, quero quebrar tudo dentro deste quarto para ver se esse ódio e rancor somem do meu coração, mas, não, eu não irei fazer isso. Farei pior.


Ando até o quarto que dividia com a Gina e começo a juntar as minhas coisas. Faço um feitiço de expansão indetectável em minha bolsa de contas que me foi dado com tanto amor pela minha mãe e jogo tudo lá. Não ficarei mais um dia dentro desta casa. Não mesmo.


Assim que pego todas as minhas coisas ando decidida até a sala, mas encontro uma surpresa na mesma. É, talvez eu não esteja tão sozinha nesta casa quanto pensei, penso ao ver os Gêmeos sorrindo para mim, despreocupados, sentados no sofá da sala. Será que eles participaram do complô contra mim o tempo todo? Será que eles os ajudaram? Todos aqui são suspeitos, eu não posso confiar em ninguém, apenas em mim mesma.


Olho para eles e dou um sorriso irônico. Eles, quando percebem a minha presença na sala, me olham estranhamente como se um ser de outro planeta estivesse me possuindo. Eu deveria estar estranha para eles me olharem assim, mas... Quer saber? Eu não me importo, nem com eles, nem com ninguém; eu não me importo com nada, não mais.


Sorrio mais uma vez, veneno e raiva eram destilados em meu sorriso. Engraçado! De manhã eu não era assim, mas agora... Tudo em mim ficou era amargo, venenoso, raivoso, não doce como antes. Eu mudei, mas quem poderia me culpar? Depois de tudo o que eu passei e descobri hoje tenho o direito até de andar pelada dentro do Ministério... Quer saber? Foda-se.


Ando em direção a porta, decidida. Tenho certeza de que se encontra um brilho estranho em meus olhos, não como antes onde eles eram castanho-avelãs leitosos, agora é diferente, é mais... Sombrio. Sempre acontece isso quando eu estou... Desguiada desse jeito. É, eu tenho mais segredos do que aparento. Quem diria não é?


Antes que eu possa até mesmo chegar na porta sou segurada por dois braços fortes. Os dois braços por mais fortes que sejam não são o suficiente para conter a minha fúria... Acabo por conseguir me soltar daqueles braços, sigo em frente sem olhar para trás, mas logo sou presa novamente por, em vez de dois, quatro braços fortes. Mas que Diabos! Eu não posso mais nem fugir desta casa idiota? Inferno Sangrento!


Me debato o máximo que posso, mas eles juntos são fortes demais. Idiotas! Eles devem ser comparsas daqueles miseráveis que me passaram a perna, que me enganaram sem medo nenhum... Ah, mas eu não vou deixar a minha memoria ser apagada novamente. Não mesmo!


Calma, Hermione. Use o cérebro que Merlim deu a você! Penso tentando ver além da minha fúria incontida, tentando fazer o meu cérebro funcionar. Pense Hermione. Pense!


Paro de me debater, e logo sou presa no sofá com magia por dois Gêmeos furiosos cheios de hematomas vermelhos. Sorrio maliciosa porque eu sei que esses foi eu que fiz. Bem feito!


– O que querem? – Pergunto fria. Eles se entreolham confusos, e depois me lançam olhares inquisidores, querendo saber o porquê da mudança. Hmmm, por que será? Ah, não sei... Talvez seja porque eu fui usada por aqueles que eu mais amava e que eu daria a minha vida, traída pelo meu, agora ex, namorado, humilhada por todos já que a maioria sabia de tudo, e agora eu não posso mais confiar em ninguém. É, talvez seja por isso... Talvez... Penso irônica e maliciosa, arqueando as minhas sobrancelhas para os dois.


– O que será que deu nela, George?


– Não sei Fred... Será que ela ficou louca?


– Nem fale uma coisa dessa Gêmeo 2... É capaz de a mamãe nos matar se alguma coisa acontecer com ela!


– É verdade, mas eu sou o Gêmeo 1, esqueceu? – George suspira, suor escorre pela sua testa. Ele parece tenso, eu nunca o vi tão tenso assim. – Eu sou muito novo e mais bonito que você para virar panqueca de bruxo tão cedo. Estou preocupado com ela! Será que ela está delirando depois do que aconteceu no banheiro? Acho que ela deve estar com febre, Fred.


– Não, acho que não – Fred chega a minha temperatura, mas eu logo o afasto. Não quero ele – e nem ninguém daquele lugar imprestável – tocando em mim. Sei que estou ardendo, o fogo está me consumindo, é verdade, mas não é de febre. Ah, não, o que me consome agora é o fogo de raiva, rancor, e ódio que cresce cada vez mais em meu coração. Eu estou meio ensandecida não é? Eu sei, mas não consigo confiar mais em ninguém. Mil coisas se passam pela minha cabeça a cada segundo; desconfianças e descobertas recentes estão me rondando onde quer que eu vá. Tento afastar tudo isso da minha cabeça, mas é em vão... Na verdade, tudo o que eu fiz foi em vão. Tudo o que eu me dediquei foi em vão. Eu sou em vão.


Fico triste com a minha constatação, mas me recupero rapidamente e começo a analisar Fred e George. Uma pergunta fica se repetindo em minha cabeça: o que eles querem comigo afinal?


Eles estão preocupados comigo, posso ver logo de cara. Nunca os vi tão sérios antes, vincos se formam em suas testas, preocupação é esbanjado em seus olhos, o sorriso e o olhar antes brincalhão e zombeteiro haviam sumido, nunca pareceram tão velhos antes – pelo menos para mim  quanto agora. Talvez não tenham nada ver com isso, talvez eles estejam mesmo só tentando me ajudar... São tantos talvez... Minha cabeça dá um verdadeiro nó; será? Há tanto tempo eu não identifico mais o que é verdadeiro ou falso... Será que essa atitude deles é verdadeira?


Suspiro e antes que possa segurar a minha boca digo:


– Me desculpem meninos – Droga, Hermione! Você não segura mais a língua não? De repente eu me sinto cansada demais para falar ou até mesmo me mexer. Eu estou exausta tanto fisicamente quanto mentalmente. A dor volta, e, misturado com a exaustão, tudo vira turvo. De repente dou graças a Merlim que estou sentada no sofá; tombo a cabeça para o lado, exausta, e fecho os olhos tentando tirar tudo da minha cabeça. Eu preciso urgentemente de umas férias! Penso cansada.


– Tudo bem, Mione. Não tem problema, apesar de eu estar todo vermelho por sua causa... Qualé, porque me machucou?


– Ah, jura que não sabe? – Pergunto irônica, mas depois sinto uma pontada no coração. Suspiro, como dói pensar em tudo isso. E de repente a fúria se esvai, consigo pensar melhor assim, mas a melancolia me invade mais uma vez.


Será que eu não fui boa o suficiente? Será que eu não fui uma boa namorada? Será que eu sou tão intragável assim? Será que é por isso que ninguém gosta de mim? Coloco a mão em meu rosto, não quero que me vejam em meu momento de fraqueza.


‘‘Por que ele me traiu? Ele não poderia me amar como eu o amava?’’ Essa é uma das perguntas que mais predominam em meus pensamentos desde aquele bilhete. É uma das perguntas que mais me ferem do jeito mais doloroso possível. Não sei como explicar essa dor, apenas sinto... Como explicar se nem a diferenciar das várias que parecem ser marcadas a ferro em mim eu consigo? Todas doem, todas machucam, todas ainda são feridas abertas. Ponto final. Claro, sempre tem uma que é maior do que a outra ou que está aberta a menos tempo, aquela que ainda arde quando pensamos nela ou a vemos. Essa é aquela na qual nós ainda não conseguimos lidar. É a dor que se sobrepõe a todas as outras. Eu tenho uma assim?


O bilhete ainda é tinta fresca em minha memória, ainda é vívido em mim. Ele ainda dói, até mais do que os outros. Vive me atormentando desde que li seu conteúdo, mas... Como não lembrar dele afinal? Impossível, pelo menos para mim. Ainda lembro perfeitamente do que havia escrito nele, palavras essas que parecem me perfurar de dentro para fora a cada vez que voltam a minha memória. A ficha cai. É, parece que eu tenho uma ferida que se sobrepõe as outras, mas porque tinha que ser justamente essa? Por que não outra? Suspiro, passando a mão em meus cabelos cacheados. Pensando bem, essa foi uma escolha obvia, não sei como não percebi antes vendo de outro ângulo agora. Ela é a maior que todas as outras feridas que eu tenho, é a mais recente. Ela dói a cada vez que meu coração pulsa. Parece infinita. Me destrói por completo. Ela me desestabilizou muito mais do que as outras, mas por quê?


Harry, aquele idiota! Tudo isso é por causa dele! E minha também, tenho que concordar... Se eu não tivesse entregado o meu coração em uma bandeja de prata a esse desgraçado isso nunca teria acontecido. Meu coração estava sucumbindo as chamas e só eu que não tinha percebido, chamas estas que o meu ‘‘querido’’ – ex – namorado causou. Os outros? Só colocaram lenha no fogo. Agora, depois que todo o fogo se apagou, o meu coração está como eu. Negro, cheio de feridas e cicatrizes, e o pior é que eu sei que, por mais que eu tente, elas nunca vão sarar. O que eu posso tentar fazer é lutar para que ela fique suportável com o tempo, e, se eu tiver sorte – coisa que eu não tenho – talvez possa virar quase inexistente um dia... Quem sabe? Sei que ela não irá sumir, não totalmente, porque sempre terei a minha memória me relembrando de tudo o que eu passei, me fazendo reviver esse dia tenebroso. Mas posso tentar superar, não é? Passar por cima de todos esses problemas, quem sabe? Talvez fique amarga, vazia, e sem vida caso continue assim, dramática e quase entrando em uma profunda depressão, ou não, vai saber? Talvez eu fuja de tudo o que um dia eu senti aqui, mas como fugir se meus pés e o meu coração, não querem. É, eu devo ter sérios problemas em todo o meu ser, mas que culpa eu tenho? Nenhuma, eu digo... Eles querem ficar aqui me lembrando do que um dia eu vivi, dos momentos bons que tive com os meus ditos amigos – farsantes –, e do que eu sofri. Acho que estou virando masoquista, mas como evitar?


Sentimentos são tão frustrantes. Nunca sabemos quando ele muda, quando continua o mesmo, ou quando é apenas uma doce – e amarga – ilusão. Eles não se prendem em horários, dias, ou lugares como nós, humanos. Não, eles são descontrolados, livres para ir a qualquer lugar, a qualquer hora, da maneira que eu nunca fui. Nunca sabemos quando e onde ele se transforma, se oculta de maneira que até mesmo nós não o encontramos, ou simplesmente nos abandona deixando apenas a doce lembrança de sua presença; quem sabe afinal?


Nunca se sabe quando e onde uma doce e singela amizade se transforma em amor, mas acontece. Nunca se sabe quando e onde uma pessoa tão boa vira obsessiva, mas acontece. Nunca se sabe quando e onde uma amizade de longa data vai embora só deixando rastros de ódio e rancor, mas acontece. Nunca se sabe quando e onde um amor – que na verdade não é amor, e sim paixão – acaba, mas acontece. A paixão chega de mansinho, e vai te conquistando aos poucos sem você perceber, quando você vê já é tarde demais. Não há mais como escapar, só basta aceitar. É indescritível no começo, um sonho se realizando, mas depois... Tudo começa a pegar fogo, você tenta se iludir que vai melhorar, mas tudo vai de mal a pior, e quando você vê já está sozinho nesse infinito de dor. Esse é o meu caso. Eu estou caindo na escuridão. O problema é: como sair dela?


Sinto um gosto amargo na boca e sei quem o causou. Harry, que desprazer em te conhecer! Se eu soubesse que um dia iria sofrer tudo isso por sua causa nunca teria me aproximado de você. Agora, por causa da idiotice de ter te aceitado em minha vida, você está me deixando louca!


Ah, como eu queria esquecer essa minha paixão por você, Harry. Merlim sabe como eu quero, mas tudo é tão recente... É quase impossível para mim neste momento me esquecer de seus sorrisos encantadores, dos momentos bons que passei a seu lado, de seus beijos quentes, de sua proteção para comigo. Mas eu sei que tudo foi apenas uma atuação bem feita, uma mentira bem contada. Não irei me iludir, não mais... Rá! Quem diria que eu iria acabar enganada por quem mais amava? Que vida injusta, não?


Meu coração dá mais uma pontada. A dor parece nunca acabar... Será que já não é demais? Eu sou humana afinal de contas, cometo erros, mas tenho que pagar tão caro assim por eles?


Esqueço que estou acompanhada. Esqueço que estou na sala. Eu esqueço de tudo, menos, é claro, da dor que estava me invadindo cada vez mais. Começo a chorar, e logo me sinto sendo deitada em um colo enquanto outra mão faz carinho em minha cabeça. Choro tudo o que tinha para chorar nos braços daqueles Gêmeos malucos... É, talvez eles não estejam do lado do ‘‘mal’’ como eu pensei desde o começo. Talvez eles gostem de mim, e se gostarem... É, eles são os primeiros desta casa.


Assim que choro tudo o que tinha para chorar me sinto revigorada. Minhas forças se renovam e eu sinto que posso seguir em frente sem desmaiar no meio rua. Talvez não seja pelo choro, talvez seja porque agora eu sei que eu não estou tão sozinha quanto eu pensei. Talvez agora eu tenha onde me apoiar quando as coisas ficarem feias, mas não toda a hora como eu fazia com eles – só de pensar neles sinto um gosto horrível em minha boca – já que agora eu realmente aprendi minha lição. Finalmente, não é? Já estava na hora... E sem talvez desta vez, já há muitos ‘‘ talvez’’ em minha vida. Agora eu tenho mais é que viver por mim mesma, e somente por mim.


Sorrio para eles, mesmo eles não vendo já que a minha cabeça está escondida no vão da perna de um deles. Assim que me sinto em condições mentais melhores do que antes levanto a cabeça cautelosamente. Meus olhos devem estar vermelhos e a minha cara inchada de tanto chorar, mas eu não me importo. Os abraço, os dois ao mesmo tempo, e sussurro no ouvido de cada um ‘‘obrigado’’. Vejo eles sorrirem e me sinto em casa. É, com certeza esses são os meus Gêmeos preferidos!


– O que foi que aconteceu, Mione? Nunca te vi assim por ninguém; sempre foi tão forte, mesmo nas piores situações... Alguma coisa grave deve ter acontecido, não é? Quer contar pra gente? Olha, se não quiser contar, tudo bem. Quer dizer, não, nada tá bem! O que aconteceu? – Ele bagunça os seus cabelos mais do que já estavam antes e franze o cenho como se fosse difícil falar o que viria a seguir. – É... Olha, eu sei que nós nunca fomos muito próximos, mas eu sempre tive uma grande consideração por você. Você é para mim como uma irmãzinha mais nova que precisa ser protegida. Sempre tive uma ligação de irmã com você que eu não sei explicar, é verdade, então não me pergunte como já que eu não sei, tá legal? E bom... Sempre te afastaram da gente, mas... – Fred tagarelava meio embolado, nervoso e preocupado, mas eu o interrompi com uma gargalhada. É, eu realmente não estou tão sozinha quanto pensei!, penso extremamente feliz com a minha descoberta. Isso é tão bom que eu acabo rindo de pura felicidade. O riso logo vira uma gargalhada contagiante quando olho a expressão facial de Fred e George ao mesmo tempo. Eles me olhavam com cara de ‘‘ será que ela tá chapada e não nos contou?’’. Era hilário. Nunca os vi com uma expressão tão engraçada no rosto... Coloco a mão na minha barriga, que doí de tanto rir, e tento parar, mas não consigo.


– A cara de vocês estão hilarias – Rio mais um pouquinho com os meus olhos lacrimejando a cada meio segundo pelo riso – Deviam se olhar no espelho – Falo mais calma, limpando os resquícios de lágrimas que ainda restavam e com a minha barriga doendo pela gargalhada. Eles se entreolham e me prendem novamente no sofá com magia. O que eles estão fazendo?


– Merlim, tire esse espírito malvado de dentro do corpo da Mione. Ela não merece isso! Santificado seja a vossa calça listrada, com o amor do pai, do filho, e do poder do espírito bom – Eles olham param mim com expectativa, mas ela logo se esvai – É, não funcionou. Sai coisa ruim... Deixa a nossa Hemione em paz! Se você sair eu te arrumo um encontro com uma gata da Corvinal, sério, mas sai deste corpo que não te pertence, coisa feia! – Eu começo a rir de novo do jeito desesperado que o George fala. Só eles mesmo para me fazerem esquecerem tudo, eles sim são bons amigos!


– Hey, esta tudo bem comigo. Ninguém me possuiu, só recebi noticias que me... Desestabilizaram um pouquinho. Só isso, esta bem? – Dou um sorriso meio forçado a eles. Os mesmos que parecem conversar pelo olhar se sentam do meu lado e me lançam novamente um olhar inquisidor. Suspiro, será que eu posso mesmo confiar neles?


– Hey, pode confiar na gente. Tenha certeza que sempre vamos estar ao seu lado. É uma promessa, – Eles falam ao mesmo tempo. Arqueio a sobrancelha para os dois; será que eles são legilimens? Se não, como eles leram o meu pensamento?


– Tudo bem... – Respiro fundo tentando me acalmar para a contar minha infeliz história, e, ignorando a dor de relembrar tudo aquilo mais uma vez, conto tudo o que aconteceu durante todos esses anos e, principalmente, o que aconteceu hoje. Eles me ouvem atentamente, e suas expressões se tornam cada vez mais duras, indignadas para dizer a verdade, a cada palavra dita por mim. É, acho que eles não sabiam afinal, não é?


– Eu não acredito que esses filhos de uma... – Fred diz, seus olhos estão negros em vez de castanhos como sempre foram, imediatamente sei o que ele está sentindo. Ódio, raiva, decepção e... Traição? Não era eu que deveria me sentir traída aqui?


– Calma Fred, não xingue a nossa mãe. Ela não tem nada a ver com isso. Ah, mas eles vão pagar por isso, Hermione. Vão pagar por tudo o que fizeram com você. Ah, se vão – George fala tentando acalmar o irmão, que está andando de um lado para o outro na sala com um olhar perdido falando coisas sem nexo e sentido. Olho para George e imediatamente sei que ele esta sentindo o mesmo que o Fred, mas a... Traição é a sensação que mais predomina nele? Como assim traição? O que eles estão me escondendo?


– O que eles prometeram a vocês... Vamos, me contem. – Eu falo fria como um cubo de gelo assim que a ficha cai. A traição que eles sentem não é por nada, não é? Fred começa a se acalmar e senta novamente a meu lado no sofá. Os dois olham para a sola dos pés, envergonhados, e, quando eu penso que eles não irão falar mais nada, Fred levanta a cabeça de repente e sussurra:


– Nos desculpe, Mione. Nós realmente queríamos te proteger, mas pelo visto a minha tentativa não deu muito certo. Eu queria... Eu-u realmente queria... Eu prometi... Ele nos prometeu, deu a palavra dele... Que idiota eu sou. Ele me fez de idiota. Arg! Um misero idiota – Fred puxou os seus cabelos mais uma vez, desiludido. Franzi o cenho. O que ele quer dizer com isso? Como assim me proteger?


– Como assim me proteger, Fred? O que vocês fizeram? Vamos, me explique... – Falei, mas quem respondeu minha pergunta não foi o Fred, e sim o George.


– Por favor nos deixe explicar até o final, depois você fala, tudo bem? – Ele falou parecendo tão acabado quanto Fred ou até mesmo eu. Não pude negar a ele este pedido, então apenas acenei com a cabeça em sinal de concordância. Ele se sentou do meu lado, e segurou a minha mão. – Hermione, há muito tempo, mesmo que você não esteja lembrada agora, nós nos conhecemos. Eu e o Fred quando crianças fugimos de casa por uma semana e fomos parar no mundo trouxa.


‘‘ Não sei como fomos parar no mundo trouxa, é verdade, apenas aconteceu. Fugimos de casa na calada da noite... Não me pergunte o porquê, tudo bem? Até hoje eu não sei o que deu na gente para fugir de casa... Loucura? Ou alguma coisa sobrenatural? Talvez...


Perdidos e sem nenhuma noção de como voltar para casa após a fuga, andamos sem rumo pelas ruas bruxas, até encontrar um muro falso que nos levou para um lugar estranho e totalmente desconhecido por nós dois. Era tudo tão estranho, tão... Trouxa. Quando a ficha finalmente caiu eu gritei para o Fred ‘‘ Fred acho que a gente se meteu numa furada bem grande... Aqui é o mundo trouxa seu tapado!’’. Ele, como o idiota que é, me convenceu a procurar algum bruxo naquela cidadezinha pequena. Eu sabia que era melhor voltar para o muro, mas acabei aceitando a ideia de Fred, afinal ele é a minha cópia quase perfeita, não é? Ele não iria errar, e nem me levar para uma furada maior do que essa que já estamos. Acreditava nisso piamente, mas errei completamente na minha decisão. Andamos pelas ruas trouxas atrás de algum bruxo que pudesse nos fornecer alguma ajuda, mas não achamos nenhum. No final estávamos mais perdidos do que antes, e agora sem saber como voltar até o muro que nos trouxe para cá. Estávamos ferrados!


Continuamos a andar por aquelas ruas vazias – por isso não estranharam duas crianças andando sozinhas na calada da noite pelas ruas – até parar num beco escuro e fedido. Já estava bastante escuro, devia ser uma da manhã a essa hora, as estrelas estavam brilhando no céu, estávamos perdidos, em lugar totalmente diferente do nosso cotidiano, com medo, com frio, com fome...E, pelo amor de Merlim, éramos duas crianças na época. É, estávamos no fundo do poço, e eu não sabia, mas estava para piorar ainda mais.


Logo fomos encurralados por cinco pessoas, bem... De má índole. Quando pensei que iria virar panqueca de Gêmeo vi uma luz no fundo, atrás daquele pessoal sujo e fedido a bebida que estava nos encurralando. Era linda, brilhante, pura. E eu não sei porque, mas me senti impelido a ir atrás dela. Quando virei para o Fred e vi que ele estava do mesmo jeito que eu fizemos uma conexão de Gêmeos. Conseguimos conversar pelo olhar, e logo já sabíamos o que tínhamos que fazer. A gente passou por entre as pernas dos bêbados que já estavam cambaleantes e com álcool demais na cabeça para nos seguir, e fomos atrás da luz misteriosa que parecia chamar os nossos nomes a cada minuto. Era hipnotizante, era puro, eu me senti bem seguindo ela, e sei que o Fred também. Seguimos a luz até uma pequena praça onde ela, tão de repente como apareceu, sumiu.


Nós começamos a procurar aquela tal luz estranha que nos levou até lá, mas só o que achamos foi uma linda garotinha de mais ou menos três ou quatro anos, de cabelos cacheados volumosos e lindos olhos castanhos avelã brincando em um balanço, conversando com alguém que era invisível para nós. Essa pequena garotinha era você, Hermione. Assim que você nos viu, sorriu para nós e nos convidou para sentar no balanço ao lado – sendo que você estava no do meio. Foi amizade a primeira vista.


Assim que nos sentamos no balanço ao lado, você disse que estava esperando por nós dois. Eu estranhei, afinal não é todo dia que uma garotinha desconhecida fica esperando a gente numa praça abandonada no meio da madrugada não é? Mal eu sabia que você tinha mais surpresas para nós dois. Você sabia os nossos nomes, você sabia que nós viríamos, você sabia o horário em que nós nos encontraríamos, você sabia que nós estávamos perdidos, você sabia que nós éramos bruxos. Você sabia de tudo, mas como? Eu estava confuso com todas essas revelações que você tinha nos contado, mas você apenas sorriu angelicalmente para a minha cara de confuso e nos disse:‘‘ Foi o meu anjinho protetor que me contou’’. E então sorriu novamente como se soubesse mais do que a gente– sorriso esse que encantou tanto a mim, quando ao Fred – e nos levou para a sua casa.


Não sei como, mas você deu um jeito de nos esconder na sua casa sem que ninguém soubesse... Rá! Me lembro das nossas palhaçadas em conjunto, aprontamos muito com os seus pais. Eles nem sabiam quem nós éramos, e pensavam que a casa era mal assombrada.


Você agia de um jeito... Diferente, Mione. Todo o dia você se sentava no seu quarto e ficava conversando com alguém que, para nós, não existia ou era coisa da sua imaginação. Com o passar do tempo, nós começamos a acreditar. Era inacreditável como você sabia das coisas antes mesmo de acontecer ou de nós te contarmos, e você sempre dizia ‘‘foi o meu anjinho protetor que me contou’’. Como você sabia? Era uma coisa sem explicação, então achamos melhor acreditar no que você dizia.


Com o passar do tempo começamos a sentir saudade de casa, da mamãe, do pai, dos meus irmãos, e você percebia isso. Ficava triste junto com a gente. Você diminuiu o tempo que falava com o seu ‘‘anjo protetor’’, ficou mais calada, mais triste, e quando a gente perguntava o porquê você dizia ‘‘ quando chegar a hora certa vocês vão saber’’.


Certa noite, quando estávamos nos preparando para ir dormir, aquela luz estranha apareceu novamente, brilhando agora mais do que nunca dentro daquele quarto. Eu fiquei com medo; para onde ela iria me levar agora? pensei.


Você, que já estava dormindo a essa hora, se levantou da cama rapidamente e sorriu para a luz. Eu fiquei confuso, mas logo tudo se encaixou quando você chegou mais perto do mesmo e o chamou de ‘‘meu anjo protetor’’. Ele nos levou para lá, ele fez com que nós nos conhecêssemosEssa não era uma pergunta, e sim uma afirmação, mas por quê?


A luz começou a tomar formas de um homem alto, mas sem rosto... Só formas. Você nos falou que era para seguir a luz novamente, que ela iria nos proteger e nos levar para casa, mas que iria sentir a nossa falta. Essa foi a nossa despedida, Mione. E desde ai você se tornou a minha irmãzinha do coração que eu faria de tudo para proteger... Ah, como eu queria ver você de novo depois disso, mas como?’’ – George falou com um olhar perdido, emocionado. Já eu estava zonza com a quantidade de informações que eu recebi hoje e agora... Nós já tínhamos nos conhecido? Se tudo o que ele disse foi verdade, por que eu não me lembro? Eu não me lembro de nada do que ele disse, se é que realmente aconteceu, mas por quê? Começo a revirar a minha memória a procura de algum sinal de que essa historia seja real, mas essa época para mim é turva; só me lembro dos meus seis anos em diante, nada dos quatro ou dos cinco anos. Como assim? Eu deveria me lembrar pelo menos disso, sei que sim... Por que eu esqueci?


Fico tão imersa em meus pensamentos turvos girando sobre esta história que nem percebo que estão contando o resto. Ainda tem mais? Já não acabou?, Penso extremamente confusa e com o saco cheio de tantas descobertas, ouvindo atentamente cada palavra dita por, em vez de George, Fred.


– A luz estranha nos guiou direto para o muro, e depois para a nossa casa. Nós a seguíamos, o que mais poderíamos fazer? Ficar perdido naquelas ruas escuras novamente? Nunca. Quando encontramos nossa casa ficamos imensamente felizes, foi uma festa para todos com a nossa volta, todos sentiam a nossa falta, quem diria não é?


A mamãe até esqueceu de nos colocar de castigo de tanta felicidade em nos ver, mas eu sentia que faltava alguma coisa importante, e sei que George também. Você. Faltava você nessa festa.


Toda a noite, tanto eu quando o George, sonhávamos com a mesma luz estranha que nos trouxe de volta para casa, que, agora eu sei, era o seu anjo protetor. Toda a noite eu o ouvia dizer as mesmas palavras: ‘‘ Sei que sente saudade, mas o destino é mais misterioso do que você sonha em pensar. Há mistérios em volta de tudo, inclusive vocês... O reencontro entre vocês está próximo, mas devo avisar que há perigos a espreita. Peço que cuide bem do meu Anjinho, Fred, conto com você’’. Eu sempre respondia a ele com uma promessa. A promessa de que não iria decepcionar, que iria te proteger. Ele sorria, e então sumia como num passe de mágica, me deixando em um breu de escuridão.


Era estranho, sempre o mesmo sonho, nunca mudava, mas eu gostava deles porque eles matavam, pelo menos um pouco, a saudade que eu sentia de você. Só de pensar que eu poderia ver novamente a minha irmãzinha de coração eu ficava sorrindo, feliz e esperançoso, com a ideia... Não sei por quê, Mione, mas sinto que nós, tanto eu quanto o meu irmão, temos uma ligação especial com você. É inacreditável, mas desde que os sonhos começaram alguma coisa aconteceu com a gente. Não me pergunte o que é, não posso lhe responder essa pergunta, pelo menos por enquanto, saberá na hora exata...


Sabe quando você sente que é o seu destino proteger aquela pessoa? Era assim que eu e George nos sentíamos em relação a você. Mas, como tudo não é um mar de rosas, de repente, como começou, terminou. Os sonhos pararam de acontecer, eu comecei a me esquecer de você com o passar do tempo, mas uma coisa não mudou: a saudade, mesmo esquecendo de quem especificamente, que eu senti daquela aquela garotinha que eu conheci na praça, e sei que meu gêmeo imperfeito também sentia-se da mesma forma que eu.


Quem será essa pessoa que me faz tanta falta?, Eu pensava toda a noite, até que... Finalmente... Nos reencontramos.


Quando vi você pela primeira vez, ao lado de Rony e Harry, imediatamente as lembranças daqueles dias que passamos juntos e o sonho voltaram. E de repente eu já sabia que era você a garotinha que eu encontrei a tantos anos atrás e que eu sentia tanta falta. George e eu ficamos tão felizes de ter a nossa Hermione de volta que nem sabíamos como agir perto de você.


Nós ficamos por dias tentando fazer uma abordagem sutil, tentando chamar a sua atenção, mas você ficava sempre tão grudada naquele dois idiotas que nem dava a chance de nós nos reaproximarmos de você... E quando conseguíamos ter pelo menos a sua atenção eles davam um jeito de nos separar. No fim, depois de varias tentativas falhas, desiludidos e com uma saudade enorme de ter você só para gente, decidimos te proteger de longe. Pelo menos você estaria bem e feliz, e era isso que importava para nós dois, por mais que doesse.


Ficamos te protegendo às escuras por muito tempo, sempre de longe – porque não conseguíamos chegar perto de você –,sempre a espreita, procurando qualquer sinal de que alguém queria lhe machucar. Até que... Bem... Noticias se espalham não é, Hermione? Eu não sei quem espalhou essas informações, mas logo o colégio todo sabia que você era usada por aqueles dois babacas. Todos na escola comentavam sobre você, era a ‘‘fofoca do século’’ – assim que as meninas fofoqueiras se referiam ao assunto. E... Até Rita Skeeter postou sobre você no jornal, mas aqueles canalhas fizeram questão de esconder isso de você.


Nós fomos tão ingênuos! Tão idiotas! Arg... Não sabíamos se esse boato era verdadeiro, quando fomos tirar a limpo sobre esse assunto com Harry, Rony e Gina eles nos disseram que os boatos eram falsos, que eles iriam garantir que esses boatos sumiriam, e me prometeram de pés juntos que tudo não passava de um terrível mal entendido. Tanto eu como meu Gêmeo imperfeito acreditamos; meus irmãos não mentiriam para mim não é?, eu pensava... Ah, como estava errado!


A cada ano que se passava os boatos pioravam, você passou a ser motivo de chacota em toda a Hogwarts. Nós tentamos te defender, fazíamos questão de exterminar qualquer boato que houvesse sobre você, brincadeiras pesadas com os alunos que caçoavam de você e que riam pelas suas costas eram – e ainda são – a nossa especialidade, e quebramos tantas vezes a cara do Malfoy por te chamar de Sangue-Ruim que eu até perdi a conta. Por que você acha que eu e o George sempre íamos parar na sala do diretor, hum?


Eu realmente acreditei naqueles... Naqueles... Arg! Não consigo nem achar um xingamento adequado para eles. Eu estou me sentindo tão mal com tudo isso. Falhei com você, falhei com a minha missão de te proteger, falhei comigo mesmo. Eu fui traído, não tanto quanto você, é claro, mas eu fui. Olha... Não sabe como eu estou arrependido de ter acreditado na palavra daqueles três, me desculp...’’ – Ele não pode terminar a sua frase. Me joguei sobre ele e dei um abraço de urso no mesmo, emocionada.


 N/A: Hey amores... estão gostando da fic? espero que sim.... esse capitulo eu fiz para quebrar um pouco aquele momento tenso, mas logo ele volta no proximo... Gente, comentarios me motivam em? há há há, o proximo vai demorar um pouco por que ele (mesmo eu não querendo) vai ser grandinho; por que, tia mandy? ele vai ser decisivo... Finalmente vai ter o porradal huhu! e uma certa garotinha que está na capa vai aparecer, para ficar, mas se me mandarem comentarios sai mais rapido.... hehehe, e eu quero que ele seja perfeito. Mesmo eu não me considerando uma boa escritora, eu quero dar o melhor de mim para vocês e ele com certeza nescessita disso... é isso amores kkk
RiemiSam: tenso né! Eu tambem fiquei horrorizada com a minha imaginação fertil! eu não queria, mas foi necessario. Safados! Filhos de... uma pessima mãe que não soube criar os filhos direito. Ah, linda com certeza ela vai e pode apostar.... Vingança é um prato que se come frio, e eles vão comer gelo *olhar malvado*... tenho cada coisa planejada para eles que cê nem imagina háhahá! Pode me ajudar com ideias que eu sei que você vai ter no proximo capitulo. BJS LINDA, CONTINUE ACOMPANHANDO VIU!!!! u.U O.o 
Então é isso gente. Quem quiser me mandar ideias para uma vingancinha basica eu não me oponho, vai ser de grande ajuda e se vocês estão tão envolvidos com a fic quanto eu, com certeza vão ter ideias. Vai ser barbaro! (tem duplo significado essa palavra, basta a vocês descobrirem)... Besos amores, sonhem com Draco Gostoso Tesão Malfoy em! U.u 


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Comentários (2)

  • Flor do Inferno

    aaaah Fred e Jorge são tão fofos!!!! Eles sim são verdadeiros amigos da Mione!!! adorei essa ideia, foi muito original, ameii!

    2014-01-11
  • RiemiSam

    A Hermione tera que mudar por fora e por dentro. Vinganças devem ser friamente planejadas. Fazer os dois amigos da onça rastejarem por ela e enfiar  um salto 15 na goela da amiga traira. Aguardo esse momento.

    2013-08-02
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