Bela época para se casar



- Eles não fazem ideia de quem somos, mas estão constantemente sendo afetados pelos nossos erros. Talvez tenham sorte por não conhecer os nossos medos. Talvez não.
Creio que conhecimento e valores sejam os pontos aqui. Se conhecemos algo, sabemos porque temos que temer, se temos nossos valores, sabemos  o que fazer a respeito. Conhecimento e valores irão determinar nossas escolhas e infelizmente as conseqüências das mesmas. Quem desejamos ser, já é outra questão. Podemos escolher o certo, mas isso não é nada se não fizermos algo a respeito. Ser indiferente já é escolher o errado. O ficar imparcial diante de uma situação me parece muito pior. A ignorância não é uma benção.
Embora seja verdade que a partir do momento que somos abençoados com o conhecimento, provavelmente também estamos sendo amaldiçoados a carregar um fardo, talvez pesado demais. Talvez o conhecimento seja sim, a coisa mais maravilhosa que nos aconteceu, mas não vai acontecer a eles. Não podemos colocar nas costas de outrem um fardo que é nosso. Muito menos a culpa pelo o que nos acontece.
E quanto aos que aleatoriamente são convidados a terem esse conhecimento tão de repente, só nos resta esperar que seus valores elevem-no de maneira que não sucumba a este fardo. Mas, afinal, se são dignos de tal conhecimento, eu tenho certeza de que o mereceram. E quem não tem valores, não pode merecer.... O que me leva a pensar que não existe real conhecimento onde não há valores. O que torna o pensamento de ‘conhecimento roubado’ errôneo diante do fato do nosso conhecimento ser, na verdade, confiado a alguém perante seus valores. Ser merecido afinal. Concluo que então é errado acusar alguém de roubar tal conhecimento, o único crime aqui é assistir alguém utilizá-lo de forma perversa e errada e não fazer nada sobre isso.


A sala permanecia em silêncio absoluto. No púlpito parei de falar, segurando em suas extremidades, sem coragem o suficiente para levantar a cabeça. Mantive os olhos no pergaminho a minha frente, como se houvesse realmente algo escrito nele, quando na verdade estava em branco. Eu não tinha feito aquela tarefa estúpida por não acreditar em seu objetivo, mas também não esperava que fosse contemplada a apresentar minha opinião sobre o assunto alto no momento. Todo dia aquilo se tornava um obstáculo, uma discussão maçante que não nos levava a lugar algum. Fazia com que eu sentisse um aperto no peito, eu preferia estar lá fora mostrando o que penso disso, não vou ajudar ninguém entrando em discussões baratas, eu queria ir onde me fazia ser necessária. Mas não, a guerra era lá fora e tentávamos trazê-la para nós todos os dias, de forma banal. Pessoas desapareciam todos os dias e nós nos sentíamos seguros aqui, confortáveis. Eu não desejava mais isso. O professor Ling coçava seu queixo de forma curiosa. Finalmente, levantei os olhos para a sala, me deparando com sonserinos balançando a cabeça negativamente, corvinais sorrindo de maneira pensativa, lufanos sussurrando entre si. Procurei olhos verdes acolhedores, sentindo o pânico tomar conta de mim.


- Bem senhorita Vance, foram palavras encantadoras. Porém, fugiram de certa forma ao nosso tema... – Mas antes que o professor desse continuação a sua avaliação, uma grifinória ruiva de olhos verdes e brilhantes se levantou e começou a aplaudir, acompanhada por uma loira também grifinória e em seguida por vários garotos. Sorri levemente aliviada, mas senti minhas bochechas arderem enquanto voltava ao meu lugar.  Lily e Lene estavam sentadas na frente, mas viraram por um momento para me lançar sorrisos calorosos antes da aula recomeçar. A minha direita, logo atrás alguém me sussurrou um “Gostei”, olhei de soslaio e vi um sorriso encantador, assenti com a cabeça e voltei para a aula.


 
 


-Garota, eu achei que você seria mutilada ao vivo pelo grupo do Nigel. – Marlene Mckinnon era um mistério para mim desde que nos encontramos no Expresso de Hogwarts no meu primeiro ano. Ela e Lily eram minhas melhores amigas. Lene era sempre tão despojada, linda e destemida, que às vezes até me doía olhá-la e saber que eu não poderia ser assim. Sério, Lene era loira, alta, de olhos muito escuros, mas bem alegres. Aonde chegava, marcava presença e eu, bem, entre minhas irmãs eu era a que menos causava impressão. Não sou baixinha, mas também não sou o que poderia ser considerado acima da média, uma pele sem cor, olhos que não se decidem entre castanho e verde e um cabelo ondulado que graças a poções milagrosas consegue ser domado. E Lily, não havia o que não gostar nela. Uma vez declarei Lily Evans a pessoa mais legal do mundo. E não era só linda por dentro – Mas foi bom, muito bom na verdade. Eii, to falando com você. Ta esquisita desde que voltou do casamento.


- Não sei de onde tirei tudo aquilo, acho que o fim de semana foi meio pesado. Finalmente concluí que minha família não é normal - Brinquei e me levantei para atirar uma pedra no lago,  Lene estava sentada ao lado de Lily, fiquei de costas para elas.  – Sério, Evangeline saiu de Hogwarts praticamente casada com o Edgar, e em menos de três anos teve dois filhos. Emily saiu de Hogwarts faz apenas alguns meses e já está casada com aquele esquisito do Rogers.


Pode soar como inveja, mas não é. Veja bem, meu falecido pai era um bruxo e tanto, porém minha mãe é trouxa. Papai sempre dizia que mamãe é muito corajosa, conheceu o mundo dele sem medo e até então não havia se surpreendido o suficiente com a magia como deveria. Acho que esse era o problema, mamãe não compreendia a magnitude do que acontecia ao mundo mágico no momento e como isso poderia nos afetar. Ela ainda estava conectada aos costumes trouxas e não descansaria até ver todas as filhas casadas, o que queria dizer que agora os holofotes estavam em mim. Ainda não consegui mostrar para ela que não possuo intenção alguma de me casar no momento. Ou habilidades para conseguir um noivo em tempo.


- O que diabos isso tem a ver?- Lene me trouxe de volta.


- Tem a ver que minha mãe fica me pressionando para conhecer meu namorado-que não existe- e tudo o que eu consigo pensar é no que está acontecendo lá fora... Onde, me diz onde ela consegue espaço para isso?


- Não sei, a gente consegue espaço para muita coisa quando quer...Não é Lily?- Lene riu maldosamente e se virou para nossa querida ruivinha, que parecia um pouco perdida no momento. Eu mesma me virei, afinal àquela altura Lily já estaria nos amolando por discutir. Encontrei uma ruivinha dispersa, olhando para um lugar próximo ao Castelo onde vários meninos estavam reunidos, provavelmente discutindo sobre o próximo jogo de Quadribol. Mas reconheci seu olhar, ri e Lene aparentemente não entendeu, porque a cutucou, que a olhou assustada.


- Queridinha, o que acontece?


- Você quis dizer “quem acontece”, não?- Provoquei e as sardinhas de Lílian sumiram em meio a vermelhidão do seu rosto. Lene olhou para o castelo e caiu na gargalhada, James Potter não tirava os olhos da direção de nossa ruivinha. – Bem, mesmo que você nos negue a dar detalhes sobre seus ‘recentes’ encontros com um ‘certo’ jovem, eu tenho um informante muito bom a respeito da visão dele sobre isso.


- Oh Merlin, Emme. Vocês não deveriam, aquele James... Foi apenas um! E não sei como pude aceitar, ele é tão urgh... OH espera, Remus sabe? Ele contou?


- O namoradinho da Memme sabe de tudo. – Olhei brava para Lene. Ela sempre insistia que Remus e eu tínhamos algo, embora eu explicasse toda vez que só éramos amigos e só.


- Ah Marlene Mckinnon, acho melhor você cuidar dos seus negócios. E quando digo negócios, me refiro a Sirius Black. Ta demorando pra vocês rolarem por aí brigando e reatando esse ano.


Aparentemente atingi o ponto certo, ou não. Lene suspirou e lançou um olhar para Black. Rolei os olhos e voltei a atirar pedras no Lago. Eu não acreditava que Lene e Sirius teriam um fim, na verdade não tiveram nem um começo. Era um meio de algo que desconheço. Ela adorava ser cortejada, por qualquer um que a interessasse, e ele adorava fazer o mesmo com várias meninas. Já Lily eu jamais imaginaria com o Potter, mas aparentemente estava sendo vencida pelo cansaço, como ela bem diz. Porém creio que ela tenha enxergado algo que não compartilhou conosco. Apesar de estar cética em relação ao romantismo, eu acreditava que Lily e James tinham um longo caminho cheio de amor e felicidade. Pelo menos eu tentava acreditar nisso, era o que eles mereciam.

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