Capítulo 14: O Último Segredo



Harry e Hermione estavam sentados juntos na cela, sem falar nada. Ele estava no chão, apoiado na parede com os braços em volta dela, que estava sentada no colo dele com a cabeça apoiada na junção entre o ombro e pescoço. Allegra os deixara ali sem nada o que fazer além de pensar e ninguém por perto além daquele maldito guarda que agora não só tinha a expressão estóica, como também irradiava fúria por ter sido incapacitado tão facilmente


-Tudo bem se conversarmos agora? – ela finalmente disse.


-Não tinha problema nenhum de conversarmos antes.


-Ah, pensei que estávamos quietos por algum motivo.


-O que temos mais a dizer?


Ela sentou direito e olhou pra ele, surpresa. –Bem, eu tenho algumas perguntas, se você não se incomodar.


Ele suspirou. –Vá em frente.


-Por que ela nos deixou aqui juntos? Isso não viola alguma seção do Código de Conduta dos Vilões?


-Se existisse alguma coisa assim, Allegra desviaria seu caminho só pra provar que poderia violá-lo. E se vai nos matar, quer nos deixar juntos para saborear a deliciosa agonia de saber que estamos passando nossos últimos momentos juntos. Ela não tem medo que a gente formule um plano de fuga. Essa possibilidade não entra em seus cálculos agora que tem nós dois presos aqui, sem poderes.


Ela colocou a cabeça de volta no ombro dele. –Poderia ter me matado de verdade.


-Ah não. Nem em um milhão de anos.


-Por que não?


-Porque já foi feito. Ela já viu minha cara quando te matou pela primeira vez, repetir isso seria apenas cansativo. De qualquer forma, quanto mais eu tiver que pensar em sua morte... Sem falar na minha... Melhor. Ela vai tentar me derrotar de qualquer maneira. Sua morte falsa não funcionou, então talvez saber de sua iminente morte verdadeira seja o suficiente. Tenho certeza que sempre teve a intenção de capturar mesmo tendo fingindo sua morte... Talvez agora ela possa te usar como vantagem mais uma vez. Se eu cooperar ela vai te soltar, e assim por diante.


-Pretende cooperar se ela propuser algo assim?


O queixo dele ficou tenso. –Minha cooperação dependeria de minha crença na sinceridade dela em te deixar ir. Se eu acreditasse nela, poderia... Mas precisaria de muita coisa para eu acreditar nela nesse ponto.


-Não quero que coopere, não importa as circunstâncias. – ele não disse nada. –Se você morrer, não me importa o que aconteça comigo.


-Não diga isso – falou ríspido. –Hermione, tenho que saber que você vai ficar bem se eu morrer e por algum milagre ela te deixar ir embora.


-Não vou ficar.


Ele a abraçou mais forte. –Sim, vai ficar. É mais forte que isso.


Ela pressionou o lábio no pescoço dele. –É você que me faz forte.


-Isso são apenas suas emoções falando. – ele deu um suspiro irregular. –Temos que ser realistas. É provável que eu não sobreviva a isso. – Hermione apertou os braços em volta dele e fechou bem os olhos. –Não, de verdade. Posso lutar muito, mas não contra tantos de uma vez. Ela vai tentar tirar qualquer vantagem minha. – inclinou a cabeça sobre o ombro dela. –Quero que prometa que se eu morrer, vai fazer o que puder para escapar. – um único soluço rouco escapou da garganta dela. –Tem que prometer! – ele sussurrou com urgência. –Vá até Quinn, ela pode ter uma admiração por você. Tenho uma sensação que ela usa sua vilanidade meio relutantemente, pode ser vulnerável. Encontre Sorry se ela não o tiver matado também. Corra, se esconda, use maldições imperdoáveis, faça o que precisar para sobreviver. – Ele recuou um pouco e segurou o rosto dela entre as mãos. –Se você sobreviver, então uma parte de mim também terá vivido.


Ela fechou os olhos e concordou com a cabeça. -Certo, prometo.


-Bom.


Ela baixou os olhos e falou baixo. –E se a Passagem funcionar?


-Então o mundo todo provavelmente vai mudar de uma forma imprevisível e possivelmente um pouco triste. Em outras palavras, não é uma coisa boa.


-Bem sucinto.


-Bem, se não consigo ser direto mesmo de frente com a morte, então quando vou ser?


Hermione colocou uma mão no rosto dele. –Realmente queria que esse guarda não estivesse ali.


-Por quê? Quer dizer, além do óbvio?


-Bem, se estes são os nossos últimos momentos juntos, posso pensar em maneiras melhores de passá-los.


Ele deu um pequeno sorriso. –Ah, pensei que isso fosse o óbvio.


Ela ficou reta. –Talvez a gente deva fazer assim mesmo. Quem se importa com o guarda? – as bochechas dela coraram com essa oferta tão estranhamente aberta.


Harry levantou as sobrancelhas. –Me deixa entender isso. Você que eu faça sexo com você numa cela com um guarda olhando enquanto nossa arquiinimiga prepara nossa morte iminente?


-Bem... Com você falando desse jeito...


-Entendo. E tem mais algum clichê de livros ruins de comédia romântica que gostaria de invocar no momento?


-O único que consigo pensar é te implorar pra que me engravide para que eu possa ao menos ter seu filho após sua morte. – ela não podia acreditar que estavam fazendo piadas numa hora como essa, mas o que mais havia pra se fazer? Não dava pra ficar olhando os dedos por muito tempo sem ficar maluco.


Harry riu. –Ah, é claro. Mas você não deveria estar usando uma blusa com decote muito baixo e uma saia caída pela cintura?


-Só se deixar o cabelo até o meio das costas e colocar uma camisa de pirata desabotoada até o umbigo. E então teríamos que nos abraçar dramaticamente em frente a uma máquina de vento, preferencialmente com a barra de meu vestido ficando bem no limite da decência e com uma montanha escocesa ao fundo.


-Como vamos chamar isso? Não, espere, já sei... "Ela usou roupa preta de vinil."


-Não, não... Desavenças do Coração em Hogwarts.


-Paixões e Poções!


-Bruxos selvagens com varinhas muito longas! – ela falou de vez, tendo uma crise de riso. Harry apertou a barriga, lágrimas escorrendo pelos cantos dos olhos. –Ai, céus... Vamos morrer, não é?


-Provavelmente – Harry conseguiu dizer entre o riso. As risadas deles vagarosamente se transformaram num silêncio tenso; ficaram sentados quietos, sem se olhar. O ataque momentâneo de risos não superando a situação que era no mínimo delicada. Ela ficou anestesiada, consciente apenas das pedras geladas sob eles e a mão dele fazendo círculos pelas costas dela.


-É muito cedo – Hermione finalmente disse. Harry não respondeu, apenas a apertou mais forte. Ela se apoiou contra ele, tentando lembrar se alguma vez na vida se sentira tão exausta. Parecia que uma vida tinha se passado desde que acordaram na casa de Dana naquela manhã. –Há tanta coisa que ainda quero te dizer – ela sussurrou.


-Eu sei – ele respondeu. Ela o olhou nos olhos e viu ali milhares de sonhos que não ousava ter e que secretamente desejava. O resto do mundo sumiu e tudo o que existia eram os olhos deles, suas íris verde-brilhantes cheias de uma expressão que não podia descrever. Esperei a vida inteira que um homem me olhasse desse jeito, pensou. Passou os braços em volta dos ombros dele e o abraçou com força, apertando bem os olhos e tentando tirar um pouco de conforto da segurança do abraço dele. Um braço a envolveu em resposta, o outro se enganchando em seus cabelos. A lã bruta da capa dele arranhava a bochecha dela, ela a segurou entre os dedos como se fosse uma linha da vida. –Não era pra ser assim – ele disse rouco.


-Shhh – ela falou. –Não fale sobre isso.


-Devíamos ter anos...


-Não podemos mudar o passado e talvez não tenhamos futuro. Só o agora, vai ter que ser suficiente.


-Eu te amo – ele sussurrou em seu ouvido. –Se tivesse cem anos e todas as palavras escritas, não poderia dizer o quanto.- colocou a bochecha contra o cabelo dela. –E agora é minha culpa que está aqui.


-Não – ela repetiu. –Tudo o que fiz, eu fiz por vontade própria. Não é sua culpa.


-Por que não ficou longe? – perguntou, sua voz sem nenhuma esperança.


-Não podia. Sabe por que? – ela recuou e olhou pra ele. –Porque, por mais brega que isso soe você é o único homem que já amei e te amei a vida inteira. Pronto, isso é o que eu precisava que soubesse. – suspirou como se a última declaração tivesse levado suas últimas forças. –Certo, podemos morrer agora.


O canto da boca dele se mexeu num meio sorriso. –Sim, que venham as Passagens e destinos piores que a morte, estamos prontos.


Apenas alguns minutos antes, a leviandade tinha conseguido quebrar a tensão... Agora, parecia tediosa e sem vida e só servia pra lembrar o tópico que tentavam evitar. Hermione fechou os olhos, evitando as lágrimas com muita força de vontade. Sentiu Harry se inclinar para frente e depois os lábios dele sobre os seus. Grata pela distração, respondeu ao beijo, relaxando em seus braços. Por alguns momentos se beijaram gentilmente, com cuidado, como se cada um tivesse medo que o outro pudesse quebrar. De repente, ele parou e recuou. Hermione abriu os olhos, confusa, e viu uma expressão muito estranha no rosto dele... Como se não tivesse certeza de onde estava ou do que estava fazendo. Ela se sentiu hipersensibilizada, os pequenos movimentos da mão dele em suas costas amplificados para grandes gestos arrebatadores. Ela podia sentia a pulsação dele acelerando e a dela correndo para acompanhar. Um calor passou entre eles; ela o segurou pelos ombros ao mesmo tempo que ele a apertou contra o peito, seus lábios se encontrando no meio com força quase suficiente para deixar roxo.


Qualquer observador com um pouco de sensibilidade ficaria com o rosto vermelho ao se deparar com o ardor dessa cena. Se continuasse a observar, tentaria pensar num tempo quando tivesse recebido um contato tão apaixonado quanto este, pois estava claro que as duas pessoas envolvidas não conseguiam o suficiente uma da outra. Beijavam-se com tanta fome que pareciam querer se devorar. O homem segurava a mulher tão forte que parecia querer fundir os dois corpos em um; o braço dela o segurava como se fosse a única coisa que evitasse sua queda num abismo fundo e escuro.


Mas Hermione não via nada disso com tanta objetividade, só se sentia queimar. Sentia a boca dele na sua e os músculos das costas dele sob seus braços; sentiu a mão dele se enfiar sob sua camisa, seus dedos quentes contra sua pele. Sentia a respiração dele contra seu rosto e ouvia seu pulso rugindo em seus ouvidos e ouviu a pergunta zumbindo em sua mente mesmo quando sua língua mergulhou na boca dele e quando sentiu a mão dele sobre seu seio a pergunta ainda persistia, uma que ela não tinha certeza se queria a resposta, mas que precisava perguntar. –Harry – murmurou contra sua boca.


-Hummm – respondeu, sem parar. Ela colocou as mãos contra o peito dele e se forçou a afastá-lo. O rosto dele ganhou uma expressão confusa. –O que? Qual o problema?


Ela não parou pra recuperar o fôlego, com medo de perder a coragem. –O que você é? – respirou. –O que você é?


Ele apenas ficou olhando pra ele por um longo tempo, depois murchou e deixou a cabeça cair contra o peito. –Como é?


-O que você é? – repetiu. –Ela disse que você... era único de seu tipo. – ele concordou sem força. –Por Deus, Harry, o que você é?


Quando ele levantou a cabeça, sua expressão era tão nua de preocupação que ela temeu ainda mais a resposta. –O que você acha que sou?


-Não sei o que Allegra quis dizer, mas vou falar o que sei que você é. – alisou os cabelos dele. –Você é um bom homem, mas tem seus defeitos. É um herói, mas um herói modesto. Vive no perigo, mas é cuidadoso. É poderoso, mas inseguro. Você me faz rir e me abraça quando estou triste. É muito bom em quadribol e um ótimo dançarino e é bom com crianças e adora sorvete e eu te amo.


Ele se inclinou pra frente e deu um beijo vagaroso, deliberado em sua testa. –Nada do que eu sou vai mudar nada disso – falou.


-Por que tem tanto medo de me contar? O que pode ser tão horrível?


-É isso, não tem nada de horrível. Poderia até ser maravilhoso. Não é que esteja com medo de te contar, é que tenho medo do que sou. Levou a maior parte de minha vida pra saber e aceitar o fato que... A maioria das coisas ruins que aconteceram comigo na verdade são minha culpa.


-Não são! São...


-Shhh, me escute. Por causa do que eu sou, meus pais morreram. Rony morreu. Dumbledore e Hagrid morreram. Por causa do que eu sou, sou perseguido. Outros foram feridos nessa perseguição e outros provavelmente serão feridos, talvez até você. Por causa do que sou, neguei meus sentimentos por você durante anos, mesmo depois de muito tempo sabendo em meu coração que não conseguiria viver sem você.


-Certo, esse suspense está me matando! Me diga logo ou juro que...


Foi até onde conseguiu ir. A porta do corredor abriu com força e os bruxos de vestes verdes começaram a entrar. Harry e Hermione levantaram como um só; ele ficou parcialmente na frente dela e de frente para a porta da cela. Os bruxos se alinharam de cada lado da porta e então Allegra entrou, sorrindo muito satisfeita. Tinha mudado as roupas; usava um longo vestido branco de um material estranho, diáfano que fluía como água em volta de suas pernas. Seu cabelo estava solto e caia sobre suas costas como um rio de tinta. Perto de sua beleza fria e perfeita Hermione repentinamente se sentiu como um sapato velho.


-Ah – Harry disse enquanto Allegra destrancava a porta da cela. –È sua roupa de morte? Muito acolhedor, mas sabe... Branco não é muito prático pra matar. As manchas de sangue nunca saem.


O sorriso sereno dela ficou debochado. –Sabia que podia contar com você, Harry. Mesmo de frente com a morte ainda tem um comentário irônico a fazer.


-Está na hora então?


-Sim – fez um gesto para alguns capangas. –Traga-os.




Harry e Hermione foram levados de volta pro salão circular escavado com as mãos presas atrás das costas. Andavam em silêncio cercados pelos bruxos de vestes verdes de Allegra, com ela liderando a procissão com suas vestes flutuando atrás de si. Algumas lágrimas escorreram pelas bochechas de Hermione quando pensou na probabilidade do fato que o homem a seu lado ser o amor de sua vida, essa percepção chegando cruelmente tarde no relacionamento deles e que ela tinha falado e tocado nele pela última vez.


O corredor se abriu no palco das execuções, como Quinn tinha chamado. O queixo de Hermione caiu, pois o salão não estava como lembrava. O teto tinha sumido, ou sido encantado para desaparecer, deixando apenas o céu azul da meia noite e as estrelas brilhantes sobre eles. O salão estava circundado por tochas que não brilhavam com chamas, mas sim com um etéreo fogo verde, iluminando o salão com uma luz fria e misteriosa. Na plataforma elevada do outro lado do salão havia apenas a cadeira de retenção e o imponente pódio, no qual estavam duas tábulas de pedras cobertas com densas inscrições. Esse, só podia supor, era o ritual da passagem retirado da câmara sob a Filadélfia. Sorry estava atrás do pódio, as mãos juntas na frente, o rosto parcialmente coberto pelo capuz da capa. Em pé formando filas de frente para a plataforma estavam várias dezenas de bruxos encapados, presumivelmente os membros do Círculo e outros bruxos das trevas.


Quinn e Draco estavam esperando logo na entrada do salão e quando Allegra e sua trupe entraram, Quinn avançou e segurou o braço de Hermine, puxando-a para longe do grupo. Os guardas bruxos se afastaram e se juntaram aos outros; Draco segurou Harry e o conduziu até a plataforma. Hermione lutava pra se soltar de Quinn, que segurava tão forte quanto algemas de ferro. –Não! – ela gritou, inutilmente. –Harry!


-Shush!- Quinn sibilou. –Não pode ajudá-lo agora. – ficou de pé com uma mão sobre o ombro de Hermione, mantendo-a no lugar. Hermione olhava sem poder fazer nada, lágrimas escorrendo por seu rosto e seus dentes rangendo em frustração.


Harry pensava muito rápido enquanto Draco o arrastava para plataforma. Poderia subjugar Draco, pensou, mas onde isso me levaria? Tem um exército de bruxos aqui e todos me odeiam. Ele viu Allegra tomar seu lugar na frente do pódio; Draco parou e olhou pra ela. Ela olhou pra Hermione, que estava de pé ao lado de Quinn. –Se certifique que ela fique bem aí – Quinn concordou. Allegra virou para um de seus guardas. –E você pode acorrentá-lo também. – ela disse, apontando com a cabeça na direção de Sorry. Depois de alguns segundos de um acatamento vazio, Sorry apenas suspirou e revirou os olhos, não parecendo estar muito surpreso.


-Eu ia te dizer... – Harry começou, olhando pra ele.


-Que ela já sabia de mim? – Sorry respondeu enquanto o guarda o levava até a plataforma. –Eu já desconfiava mesmo. Mas pensei que ela fosse usar toda minha ajuda na passagem antes de me prender no quintal.


-Posso ficar muito bem sem sua ajuda – Allegra falou. –Você nunca me ajudaria voluntariamente na passagem de Potter, como poderia confiar em você? Além disso, sempre arrumo uma segunda opinião para meus especialistas. – Ela inclinou a cabeça para um dos bruxos do outro lado do salão; ele deu um passo pro lado e uma mulher usando vestes azuis escuras avançou. Harry não a reconheceu. Olhou para Sorry, cujo queixo estava caído devido ao choque.


-Winter? – Sorry sussurrou. Harry fechou os olhos por um momento, outra peça do quebra-cabeça se encaixando. Devia saber, pensou. De que outro modo Leland teria passado exatamente pela mesma Passagem que Laura? Rios de sangue e florestas de espinhos e o "tam htab"? Os dois rituais foram feitos pela mesma pessoa e provavelmente no mesmo lugar. O choque parecia ter mandando Sorry de volta à infância enquanto ele olhava pra sua avó. –Winter... Como pôde ajudá-la? – Winter não respondeu. –O que fez com ela? – Sorry rosnou para Allegra.


Não é obvio? Harry pensou. Olhe pros olhos dela, está sob uma maldição Império. Allegra explicou, dando um sorriso indulgente para Winter. –Quando comecei minhas pesquisas sobre a passagem e consegui minha primeira cobaia, queria repetir as circunstâncias de uma passagem bem-sucedida pra maximizar as chances de uma passagem de sucesso, então levei Leland pra Nova Zelândia, pra casa de sua família, Sorry. Sua mãe eu estuporei, sua avó, alistei pra me ajudar. Ela fez o mesmo ritual em Leland que tinha feito em Laura até os mínimos detalhes. Não preciso dizer que não funcionou, mas o conhecimento que ela tinha do ritual me impressionou então a trouxe pra casa. Imagine minha surpresa quando o neto que tinha foto por toda casa e de quem ela falava tanto apareceu na minha porta dizendo ser um grande bruxo mal. – Sorry mordia os lábios, provavelmente se xingando mentalmente. –Então nunca teve chance de me enganar, lamento dizer. Especialmente porque Winter deixou escapar que sua namorada de muitos anos morava na mesma casa que meu amiguinho Harry Potter.


-Por que me manteve por perto?


-Curiosidade, acho. Você também foi um meio muito útil pra dar informações a Harry que o trouxeram até mim. E se eu ia manter Winter em segredo até do Círculo, eu precisava de alguém que estivesse trabalhando visivelmente nos documentos sobre a Passagem. – ela acenou para o bruxo que o segurava. –Coloque-o com a Drª Granger. – Sorry foi colocado ao lado de Hermione, seu guarda se mantendo a seu lado. Allegra se voltou para Harry.


-Então, onde está aquele seu mestre? Vamos ter o prazer de sua presença? – Harry perguntou.


-Provavelmente não. Meu mestre escolhe quando nos visitar, não mando convites. Essa ocasião é de grande importância para nós, mas meu mestre pode facilmente nos observar à distância. – ela olhou para Draco. –Coloque-o na cadeira. – ela virou para o pódio e ela e Winter se concentraram na preparação.


Draco empurrou Harry na cadeira de madeira. Harry manteve o olhar fixo em Hermione, observando-a do outro lado do salão enquanto Draco fechava as algemas embutidas sobre seus tornozelos. Ele removeu as correntes e segurou os pulsos de Harry sobre as algemas dos braços da cadeira, fechando-os. Harry observou enquanto Draco movia seus dedos sobre as barras de metal pra colocar os pinos da trava no lugar... só que ele não fez isso de verdade, apenas fingiu. Os pinos das travas ficaram onde estavam. Ele tinha deixando as algemas fechadas, mas não trancadas. Harry manteve sua expressão cuidadosamente neutra enquanto observava Draco repetir o mesmo processo em seu outro pulso, até o último movimento, eliminando assim a possibilidade dele simplesmente ter cometido um desastroso erro. Quando Draco terminou, Harry fez um pequeno movimento com o pé esquerdo e sentiu a algema sobre seu tornozelo ceder um pouco; também estava destrancada.


Antes mesmo que pudesse tentar imaginar o que isso significava, Harry sentiu alguma coisa sendo enfiada sorrateiramente dentro de sua manga sob seu antebraço esquerdo, algo longo e estreito... Era sua varinha. Harry, abismado, encarou os olhos claros de Draco e foi então que a situação deu uma guinada repentina.


A pálpebra esquerda de Draco caiu numa piscada bem rápida, mas bem intencional.


Harry desviou o olhar imediatamente com medo de denunciar alguma coisa em sua expressão. Draco fingiu estar checando as algemas, depois levantou e deu um passo pro lado. Harry tentou manter sua compostura enquanto sua mente corria. Draco estava ajudando. Ele tinha deixado suas algemas destrancadas e escondido sua varinha. E se ele estava do lado deles então... Seus olhos foram pra Quinn, ao lado de Hermione. Se Draco e Quinn estavam do lado deles então essa situação não estava tão desesperançosa. Tudo o que tinha que fazer era escolher o momento certo e talvez tivesse chance.




Hermione observava enquanto Draco prendia Harry na cadeira, sua visão bloqueada momentaneamente pelo corpo esguio dele. A mão de Quinn continuava firme sobre seu ombro e Sorry estava de pé, em silêncio, a seu lado. Hermione se sentia anestesiada com desespero e inevitabilidade do que estava pra ver. Perguntou-se se conseguiria fisicamente ver, mas sabia que Allegra faria tudo o que pudesse pra forçá-la a assistir.Hermione observava enquanto Draco prendia Harry na cadeira, sua visão bloqueada momentaneamente pelo corpo esguio dele. A mão de Quinn continuava firme sobre seu ombro e Sorry estava de pé, em silêncio, a seu lado. Hermione se sentia anestesiada com desespero e inevitabilidade do que estava pra ver. Perguntou-se se conseguiria fisicamente ver, mas sabia que Allegra faria tudo o que pudesse pra a assistir.


Apesar de seu desejo desesperado de não pensar nisso, sua mente fazia círculos ao redor da idéia de como seria viver sem ele. Mal podia entender o conceito, nunca ficara longe dele mais do que durante as férias de Hogwarts. Enquanto imaginava essa possibilidade sinistra, não era na ausência do homem que amava em que ela mais pensava, ao invés disso, não queria perder o homem que era seu companheiro, seu amigo, a parede onde se apoiar. Em todas as maneiras que ele afetava sua vida no dia-a-dia, pequenas coisas que coletivamente formavam o relacionamento mais importante que ela tivera. Como poderei passar por um dia sabendo que ele não me dará boa noite ao fim? Como poderei escrever outro trabalho ou ler algum outro livro sabendo que ele nunca me trará chá ou me fazer parar e ir dormir? Ele é parte de tudo que faço, de tudo que sou. Como posso passar pela minha vida sozinha sem a outra metade de mim?


Enquanto Draco prendia Harry na cadeira, Hermione sentiu Quinn soltando as correntes de seus pulsos. Ela não disse nada enquanto longos dedos abriam a trava nas correntes; foi necessário todo o controle que tinha pra ficar quieta e em silêncio enquanto as correntes eram vagarosa e silenciosamente levantadas de suas mãos. Quinn segurou seus dois pulsos com uma mão e os apertou juntos rapidamente, a mensagem muito clara. "Mantenha as mãos assim como se ainda estivessem acorrentadas". Ela sentiu Quinn colocar alguma coisa no bolso de sua capa. Não era sua varinha, mas não estava claro o que realmente era. Hermione olhou a seu redor pra ver se havia o perigo de estarem sendo observadas, não tinha ninguém atrás delas e o bruxo vigiando Sorry estava do outro lado do prisioneiro, sua visão bloqueada por Quinn.


Hermione pensou rápido. Quinn estava tentando ajudar. O que diabos ela está fazendo do lado de Draco? Talvez esteja trabalhando disfarçada pra prendê-lo. Mas me deixar solta não vai ajudar muito. O que posso fazer contra um salão cheio de bruxos das trevas?


Draco estava agora de pé ao lado da cadeira de Harry, as mãos atrás das costas. Harry olhava para frente, o rosto estranhamente tenso e firme. Allegra virou para encarar os bruxos reunidos, dando as costas para Hermione. Winter estava de pé quieta ao lado do pódio.


-Meus amigos. – Allegra disse. –Obrigada por vir. Estamos prontos para começar. – Winter entregou –lhe um cálice de pedra que estava numa estante atrás do pódio. Allegra puxou uma pequena faca e ficou ao lado de Harry. Segurou um de seus dedos e fez um pequeno corte na ponta; o rosto de Harry não demonstrou nenhuma dor. Ela segurou o cálice sob o dedo e deixou uma gota de seu sangue cair no recipiente. Misturou o conteúdo e segurou contra o lábio de Harry. Ele apenas olhou feio pra ela, que sorriu. –Sabe que posso fazer você beber.


Harry suspirou, olhando o cálice. –O que é?


-Apenas vinho e agora um pouco de você. É um símbolo.


-Então pra que? Continue logo.


Allegra deu os ombros e guardou o cálice. Pegou alguns pequenos objetos que Hermione não conseguiu identificar e os pressionou contra a mão de Harry. Mergulhou um pequeno pincel numa lata e se inclinou sobre ele, levando o pincel até seu rosto... Mas o objeto não o tocou.


De repente, o braço direito de Harry subiu, as algemas caindo inertes a seu lado; numa fração de segundos, sua mão avançou e apertou com força a garganta de Allegra. O cálice caiu de sua mão e se esmigalhou no chão, molhando as vestes dela de vinho.


Os bruxos reunidos por todo salão avançaram como se estivessem com pressa de ajudá-la, mas num segundo Draco puxou sua varinha de seu cinto e se colocou entre eles e a cadeira. –Nem tentem – sibilou. O queixo de Hermione estava caído de choque.


Harry chutou as correntes do tornozelo e vagarosamente levantou, os dedos firmes no pescoço dela. Balançou o outro pulso e sua varinha caiu em sua mão. Hermione percebeu num piscar de olhos que Draco tinha apenas fingindo prendê-lo na cadeira e provavelmente tinha lhe escondido a varinha... E agora o protegia. Sua cabeça começava a doer; as variáveis estavam mudando rápido demais.


O rosto de Harry era uma máscara de fúria enquanto segurava Allegra com o braço esticado. –Apenas me dê um motivo – rosnou. Winter estava pacificamente ao lado dela, seu rosto vazio. Draco observava os bruxos reunidos, seus olhos abertos e alertas, cada músculo tenso.


Um dos bruxos de vestes verdes avançou um pouco e jogou o capuz para trás; era Lúcio Malfoy. –Me dê a varinha, Draco. – falou. –Não quer proteger Potter depois de tudo o que fez com você.


Os lábios de Draco se curvaram num sorriso sarcástico. –O que ele fez não é nada em comparação ao que você fez. Para trás, pai... Ou então vai encontrar todos aqueles que mandou para morte. – Lúcio hesitou.


-Está blefando.


Draco nem piscou. –Quer descobrir? – Lúcio recuou.


As mãos de Allegra apertaram o pulso de Harry, o rosto dela já meio azul. Hermione sentiu uma ponta de satisfação observando isso. Não havia misericórdia no rosto de Harry, os dentes cerrados expostos e seus olhos verdes pareciam fazer buracos através dela.


-E agora o que?- ela falou. –Pode me matar, Harry, mas até onde acha que chegaria? – a sobrancelha esquerda de Harry levantou um pouco ao ouvir isso; ele levantou os olhos pro rosto de Hermione e depois por cima do ombro dela até Quinn. Hermione viu pelo canto do olho Quinn fazendo que sim com a cabeça.


-Draco – disse baixo. Draco fez que sim, sem tirar os olhos dos bruxos preparados pra avançar na plataforma, impedidos apenas pela ameaça da ponta de sua varinha e pela crença de Lucio na determinação do filho. Ninguém queria ser o primeiro. Harry olhou de novo para Allegra. –Um – sussurrou. –Dois. Três!


No "três" várias coisas aconteceram ao mesmo tempo, mas quase foram imediatamente perdidas no meio do pandemônio que se espalhou. Harry soltou o pescoço de Allegra, a pegou pela cintura e a jogou na multidão de leais seguidores, fazendo vários deles cair. Ao mesmo tempo, Draco pulou da plataforma e se perdeu no meio dos bruxos surpresos, estuporando qualquer um que o tocasse com um movimento de sua varinha. Quinn foi para o lado e abriu as correntes de Sorry com a varinha e Hermione correu pra encontrar Harry enquanto ele pulava da plataforma, enfiando a varinha no bolso da capa. O feitiço, o feitiço, ela pensou. Se pudermos fazer o feitiço agora, teríamos uma enorme vantagem. Pela expressão no rosto dele, tinha pensado a mesma coisa.


Infelizmente nenhum dos dois chegou muito longe. Ela foi imediatamente agarrada pela cintura por alguém atrás dela, e Harry foi derrubado por um bruxo que veio voando da esquerda. Quem a capturou arrastou-a de volta pelo salão e se cercou com vários outros bruxos; ela não podia fazer nada a não ser assistir a lutas e ao caos que surgiu.


Toda câmara parecia cheia de gritos, enquanto feitiços e maldições voavam como bolas. Ela viu quando Quinn desviou e rolou pra evitar uma e depois estuporou outro bruxo que ainda estava levantando a varinha pra ela. Draco usava os punhos e a varinha pra abrir caminho pela confusão, tentando chegar até Harry, que estava em estado bem pior. A maioria dos bruxos do Círculo estava logicamente se concentrando nele, que era atacado de todos os lados por varinhas. Os que Draco estuporou se recusavam teimosamente a permanecer estuporados, levantando toda hora.


-Harry! – Hermione gritou. Ele estava rapidamente desaparecendo sob uma pilha de bruxos de vestes verdes.


Draco se desvencilhou das mãos que o seguravam e avançou até Harry, mas quando chegou lá, não conseguia nem encontrá-lo no que estava começando a parecer uma pilha como no rugby, com Harry embaixo.


Quinn avançou apressada, mas de repente encontrou Allegra de pé em sua frente, parecendo furiosa como o diabo... Antes que Quinn pudesse reagir se viu recebendo um forte murro que a deixou no chão. Allegra virou e acertou Draco nas costas com sua varinha. Ele virou, apertando o machucado, tropeçou nos próprios pés e caiu. –Pegaram ele? – perguntou em direção à pilha.


-Eu peguei! – alguém gritou. –Espere, perdi... Que inferno! – O bruxo gritou. A pilha estava... tremendo, parecendo absurdamente como se estivesse em trabalho de parto. Como se, Hermione percebeu, alguém estivesse empurrando de baixo. Os gritos dos bruxos ficaram confusos, perplexos, surpresos.


Os cabelos da nuca dela começaram a se eriçar. Alguma coisa estava acontecendo, pensou. O próprio ar parecia eletricamente carregado. A magia estava muito densa nessa câmara e algum sentido além dos cinco nos quais confiava fazia cócegas na base de sua espinha, sussurrando que ninguém estava preparado.


De uma vez, a pilha foi empurrada com força para cima; alguma coisa explodiu no meio dela e voou pelo ar... Hermione ficou pasma ao perceber que era Harry. Olhou pra cima, abismada.


Ele estava flutuando no ar a uns seis metros de altura, e parecia meio louco. O queixo de Hermione caiu ao vê-lo, porque estava diferente. Ele estava... Bem, brilhando foi o adjetivo mais próximo que sua mente conseguiu encontrar, apesar de não estar totalmente certo. Ele parecia vagamente iluminado por holofotes, seus cabelos e capa se mexiam apesar de não haver vento e o verde de seus olhos estava tão brilhante que pareciam pegar fogo.


Alguém levantou a varinha e tentou acertá-lo, mas ele foi mais rápido. Foi para frente movimentando-se facilmente pelo ar, sem dar nenhuma pista de como estava fazendo isso. Os bruxos do Círculo não pareciam muito interessados; entre Sorry, Draco e Quinn a maioria deles tinha sido estuporada várias vezes, mesmo assim continuavam a não ligar para o efeito.


Harry estava... Voando. Sem vassoura. Sem carro enfeitiçado. Sem nenhum traço evidente de ajuda mágica. Sem varinhas, sem feitiços, sem encantos. Apenas no ar e percorrendo a sala como os pomos que tanto treinara para pegar. Não era levitação era vôo de verdade. O cérebro de Hermione doía de ver isso. Pensou no guarda de Grunnings deixando-os passar. Pensou na confiança dele que podia entrar no cofre nas catacumbas mesmo sem os feitiços pra abrir. Pensou na incapacidade de Voldemort de matá-lo mesmo quando ele era apenas um bebê supostamente indefeso.


E pensou em Allegra dizendo que ele único de um tipo.


Allegra correu até a plataforma, olhando com raiva pra seu oponente repentinamente à prova de gravidade. –Belo show, garoto voador! Pareço impressionada?


-Não – ele disse e depois deu um mergulho pra baixo, enfiando os dois pés no peito dela, fazendo com que batesse as costas contra a parede da câmara. Ele pousou na plataforma, suas botas tremendo contra as pedras. –Parece patética.


Ela deu um sorriso sarcástico para ele. –Bem, pelo menos eu posso contar com meus amigos.


Antes que Harry pudesse ao menos abrir a boca pra responder, foi derrubado no chão por um bruxo que se jogou em suas costas. Não era hora de um intervalo para chá? Hermione pensou. A luta continuava inalterada. Bruxos de vestes verdes estavam no chão, correndo perigo extremo de serem pisoteados até a morte. Quinn, tendo acabado de se levantar com esforço depois de ter sido derrubada, estava de pé, de costas para Draco, desviando das azarações e jogando algumas em qualquer um que se aproximasse dela.


Harry levantou e encarou o bruxo que o derrubara. Era Lúcio Malfoy. –Olá, Lucio. – ele disse. –Legal de seu filho supostamente morto ter me dado uma mão.


-Não tenho medo de você – Lucio disse, puxando a varinha. Enquanto Hermione olhava, Harry esticou o braço e segurou a testa de Lúcio entre os dedos. Não podia ver o que ele fez, mas Lúcio teve um tremor convulsivo e caiu como uma pedra.


-Devia ter – Harry murmurou, depois virou e foi na direção de Hermione com passos largos. Eles se olharam, pensando como se fossem um só. Pronto? Sim. Harry levantou a mão e então apontou pra ela. Agora.


Ela começou a falar a primeira estrofe do feitiço, vendo os lábios dele se moverem enquanto fazia o mesmo. Ele levantou as duas mãos enquanto se aproximava dela e os bruxos que a seguravam foram jogados como que por uma onda, deixando-a sozinha de pé. Enquanto a segunda estrofe passava por seus lábios, Hermione começou a sentir uma vibração passando por seu corpo, como se estivesse sentada no capô de um carro que estava correndo e sua mão direita começou a formigar. Um bruxo do Círculo correu até Harry pelo lado... Sem nem trocar o passo, Harry levantou as mãos na direção do atacante e ele voou pra longe.


Hermione teve que resistir à vontade de recuar quando ele se aproximou. Ela não sabia o que pensar dele. Não tinha muita certeza se sabia quem ele era... mas tinha certeza que uma parte dela tinha medo dele.


O bruxo que a segurava antes levantou atrás dela. Sem nem pensar, Hermione se curvou e pegou uma varinha que alguém deixara cair e a apontou, estuporando-o. A varinha desconhecida enviou um choque pelo braço dela e ela largou de vez, virando para Harry. Dois bruxos viam na direção dele por lados opostos e ele pulou no ar, fazendo com que se batessem sob si.


Ele estendeu a mão na direção dela e ela sentiu os pés deixando o chão. Hermione respirou de vez e se forçou a ficar calma enquanto subia vagarosamente até a altura dele. Eles se encararam enquanto diziam a terceira estrofe. A magia que sentira correndo por seu corpo começou a passar pra seu braço até sua mão direita, que brilhava com uma luz vermelha. Podia ver que Harry estava sendo afetado do mesmo jeito. Quando a última palavra deixava seus lábios, podia sentir a magia lutando pra fugir de seu controle e correr selvagem, ela se forçou a se concentrar no feitiço que estava fazendo.


Tudo isso levou mais que meio minuto. Ela arriscou uma olhada lá pra baixo... Nada parecia estar muito bem pela direita. Os bruxos do Círculo se recusavam a ficar no chão e toda hora faziam novos ataques. Sorry estava inconsciente no chão. Quinn estava utilizando seu braço esquerdo, o direito mole e sem movimento. O rosto de Draco estava pálido, mas não ia demorar muito até que fosse derrotado. Esses bruxos tinham uma proteção poderosa contra estuporamento e outros ataques mágicos, nada podia afetá-los por muito tempo. Um murro na cara era quase mais eficiente. Allegra estava na plataforma olhando, aparentemente sem considerar o final disso incerto o suficiente a ponto de merecer que se cansasse.


Hermione olhou de novo para Harry. Puxou-a para frente até que estivesse a meio metro dele. Ela o encarou e tentou se concentrar, tentou pensar somente na forte ligação que tinha com ele, que a bibliotecária falou que era tão necessária. Ele levantou a mão e ela fez o mesmo; depois de um sinal implícito eles as colocaram entre si. Pelo canto do olho ela podia ver que Allegra os observava com raiva.


Suas mãos se encontraram fazendo o barulho de palmas, o brilho vermelho envolvendo os dois. Hermione gritou de dor quando o choque que pareceu de milhares de volts passou por seu corpo. O rosto de Harry estava contorcido numa careta assustadora e seus cabelos estavam arrepiados, a capa dos dois se enrolando neles. Allegra agora tentava detê-los. Estava com a varinha em punho, jogando maldição atrás de maldição neles, mas todas eram inexplicavelmente desviadas. Ela gritou para um bruxo próximo fazer alguma coisa, apontando agitada na direção deles.


Hermione apertava os dedos de Harry com força, a outra mão segurando o próprio pulso pra manter as mãos dos dois juntas. Ouviu-se dizendo a quarta estrofe sem nem perceber que estava abrindo a boca; só podia presumir que Harry estava fazendo sua parte. A cada sílaba o circuito mágico que tinham formado ficava mais forte. Hermione lutava pra continuar segurando a mão dele e seu cérebro pedia pelo amor de Deus que ela soltasse.


Abriu os olhos enquanto a última palavra passava por seus lábios, aliviada ao ver que ele falava ao mesmo tempo em que ela. Quando o feitiço foi concluído, uma onda de luz vermelha se espalhou por todas as direções partindo das mãos unidas, inundando todo o salão com um brilho cor de sangue. O fluxo de magia desapareceu tão rapidamente quanto surgiu e ela ficou simplesmente segurando a mão de Harry a alguns metros do chão.


Os bruxos do Círculo de vestes verdes ainda lutavam, mas para seu espanto, suas varinhas não funcionavam mais. Um a um, foram recuando, repentinamente hesitantes. Allegra balançava a cabeça como se não pudesse acreditar. Draco, com um sorriso de pura satisfação no rosto, prontamente estuporou vários bruxos... Eles ficaram no chão dessa vez. Com a varinha em punho, juntou o resto de um lado do salão. Hermione soltou a mão de Harry e desceu vagarosamente até o chão. Os outros ficaram apenas olhando pra Harry que flutuava suavemente até o chão.


Encarou Allegra, suas mãos na cintura. –Ok. Agora o que?


Do nada, um dos capangas anônimos de veste verde de repente deu um grito e avançou até Harry pela esquerda. Harry deu um passo pro lado desse kamikaze e enfiou o pé em sua barriga, depois segurou a cabeça do capanga e a esmagou contra seu joelho, jogando-o pro lado. Recuou e encarou os outros, vermelho. –Certo, quem é o próximo? – gritou. –Querem continuar isso? Por mim tudo bem! Mais alguém quer tentar? – Ninguém aceitou o desafio. –Bom. Então todos vocês vão viver pra ver uma cela legal, confortável.


Allegra ainda parecia meramente envergonhada com o rumo dos eventos. Não parecia nem remotamente assustada ou furiosa. –Você presume demais, Harry.


-O que vai fazer? Dizer "bu" e balançar os dedos pra mim?


-Meu mestre...


-Ah, já chega de falar de seu maldito Mestre! Ainda não vimos nenhum fio de cabelo dele! Sabe, estou começando a me perguntar se realmente existe um Mestre, Allegra. Talvez seja só você.


-Potter – Draco murmurou. –Odeio interromper seu melodrama, mas não podemos ficar aqui o dia todo. E agora o que?


Harry olhou rapidamente pra ele. –Bem, já que você parece ser o mágico tirando coelhos da cartola por aqui, prefiro pensar que você se planejou pra essa situação.


-Não pensei tão longe. Pra dizer a verdade, não tinha muitas esperanças que você ia viver tanto.


Harry deu um riso abafado. –Seu voto de confiança é comovente. – Hermione olhava de um para o outro, pensando como era reconfortante ver que Draco e Harry estavam tão longe de ser amigos quanto antes, o heroísmo inesperado do primeiro não foi suficiente pra isso. Dava certo sentido de ordem e estabilidade ao universo o fato deles não estar correndo pra se tornarem irmãos de sangue. Harry recuou alguns passos sem tirar os olhos de Allegra. –E agora mandamos uma mensagem pra DI e esperamos a cavalaria.


-Não é necessário – Sorry disse. –Mandei uma coruja e um localizador de aparatação para Remo Lupin logo antes da cerimônia da Passagem começar. Devem chegar aqui breve.


Harry sorriu. –Bom. Fico feliz que alguém tenha pensado antes.


Sorry andou até o lado de Harry. –E quanto a Winter? Não pode fazer algo por ela?


Todos olharam pra onde ela estava, ainda atrás do pódio, sem ter se movido um centímetro durante toda confusão. Harry mordeu o lábio e depois concordou. –Draco, fique de olho no salão, certo? – Draco balançou brevemente a cabeça que sim, sem tirar os olhos dos bruxos. Harry e Sorry subiram na plataforma onde Winter continuava placidamente olhando pra frente. Hermione observava de longe, ficando perto de Quinn que parecia prestes a desmaiar. Harry parou do lado de Winter e olhou em seus olhos vazios.


-Não estou muito familiarizado com esta maldição. – Sorry admitiu.


-Geralmente só pode ser tirada pelo bruxo que a impôs – Harry explicou, olhando pra Allegra. –Mas vou ver o que posso fazer. – olhou pro rosto ansioso de Sorry. –Agora... Ela está sob controle há muito tempo e seu cérebro vai precisar de um tempo pra se recuperar. Provavelmente vai perder a consciência de imediato. – Sorry concordou e ficou atrás dela, preparado pra segurá-la caso caísse. Harry pensou por um momento, alisando o queixo depois ficou de frente para Winter e colocou as mãos em cada lado da cabeça dela. Hermione viu as mãos dele estalarem um pouco e o corpo de Winter ficando tenso. Harry se afastou e Winter caiu nos braços de Sorry, inconsciente.


Hermione observava a cena na plataforma. Quinn estava de olhos fechados, os dentes pressionados com força pra evitar os gritos de dor por causa do braço, que parecia estar quebrado. Draco olhava os bruxos do Círculo. Ninguém, infelizmente, olhava Allegra.


Um pequeno movimento chamou a atenção de Hermione e ela virou bem a tempo de ver Allegra se curvar rapidamente e pegar alguma coisa do chão perto da plataforma. Fez um barulho de surpresa ao notar que era uma espada com a lamina suja de sangue... Provavelmente, percebeu, o sangue da mulher desconhecida que tinha sido morta como ela. Allegra se mexeu numa velocidade impressionante, estava na plataforma antes que qualquer um percebesse o que estava acontecendo. –Harry, cuidado! – Hermione gritou.


Harry virou a tempo de vê-la se lançando sobre ele, a espada levantada para cortá-lo bem ao meio. Reagiu rapidamente, levantando o braço de direito e girando-o na direção dela pra desviar a lâmina. Hermione se preparou pra ver o jorro de sangue que esperava quando a espada de Allegra atingiu o braço de Harry na altura do cotovelo... Mas ao invés disso, só ouviu o barulho de metal contra metal.


Quando balançou o braço para frente, uma espada apareceu na mão de Harry e encontrou a lâmina de Allegra no ar, ainda brilhando por sua materialização. –Há! – ele exclamou aliviado. Hermione arregalou os olhos ao reconhecer a espada na mão de Harry. Era de Godrico Gryffindor, o punho cheio de jóias inconfundível. Quando se formou, Harry descobriu um longo pacote em seu quarto, um presente de Dumbledore. A espada estava lá, junto com um bilhete tipicamente misterioso do diretor. Os rumores correram soltos no mundo mágico (onde a conversa era excessivamente barata... Principalmente fofocas sobre Potter, um tópico amado e infinito) que Harry e seu pai eram descendentes diretos de Godrico Gryffindor e por isso a espada tinha sido lhe dada, mas essa ascendência nunca fora confirmada apesar de Hermione sempre se perguntar sobre isso. Harry mantinha a espada pendurada na parede de seu quarto... Ou não? –Boa tentativa – ele disse agora para Allegra.


Ela recuou, mantendo a espada entre eles. –Está com medo de me enfrentar sem magia?


-Por que teria?


-Bem, lutas com espada sempre foi sua pior disciplina. Nunca conseguiu me vencer.


-Os tempos mudam.


-Veremos – ela consertou a postura e levantou a parte reta da espada até a testa. Harry fez o mesmo, e então ficaram se encarando en garde.


O momento pareceu se prolongar para sempre. Hermione estava de pé com os punhos tão apertados que mais tarde encontraria marcas em forma de meia lua nas palmas das mãos, por causa das unhas. Sorry, com a avó em seus braços, recuou devagar da plataforma até uma distância segura. Draco matinha os olhos em seus prisioneiros, ignorando os acontecimentos, mas Quinn observava em silêncio, apertando o braço com força contra o corpo.


Hermione se perguntou o que estavam esperando... E então olhou melhor pro rosto deles e entendeu. A expressão de Harry era tão firme e calma quanto um iceberg. A de Allegra era tensa e agitada e piorando a cada segundo. Ele estava deixando que a mente dela fizesse parte de seu trabalho, do mesmo modo que Rony costumava deixar o tempo passar e deixá-la nervosa no torneio de xadrez que disputavam. Finalmente Allegra fez o primeiro movimento, como tinha de fazer... Pois estava dolorosamente claro que Harry esperaria para sempre.


Ela avançou com a espada na direção dele, que desviou, e então começou. Eles se moviam para frente e para trás sobre a plataforma, o barulho dos encontros das espadas enchendo o salão enquanto lutavam de um lado para o outro.


-Você praticou – ela disse.


-É mesmo?


-Sete anos atrás eu provavelmente já teria ganhado.


-Talvez você tenha piorado.


Ela se lançou pra frente, enfiando a espada para cima. Ele rodopiou e atingiu a espada, forçando-a a dar um passo para frente pra se equilibrar do ataque e eles trocaram de posição, se encarando novamente, a intensidade dos golpes aumentando ao mesmo tempo em que gotas de suor começavam a se formar sobre suas sobrancelhas.


-Lembra da última vez que fizemos isso? – ela perguntou.


-Não.


-Acabamos fazendo sexo no armário de equipamentos numa grande pilha de esteiras de batalha.


-Ah, é por isso que queria essa luta? Esperando que a história se repetisse? Lamento, já sou comprometido e não me importo se está assanhada.


Ele se abaixou quando ela cortou com a espada na direção dele, depois rolou passando dela, ficando agachado enquanto ela virava bem a tempo de impedir que ele corresse e passasse por ela. –Suas habilidades de luta com certeza melhoraram.


-A prática leva a perfeição. Pena que os capangas que me manda geralmente não podem oferecer muita coisa.


Hermione estava tão tensa que parecia que ia explodir em mil pedacinhos a qualquer momento. –Como podem ser tão relaxados com isso? – sibilou.


-É uma estratégia de ataque. – Quinn sussurrou. –Não estão nada relaxados. Cada um espera distrair o outro tempo suficiente pra terminar.


Harry tinha feito Allegra recuar até a borda da plataforma, até descer um significante degrau. Ele atacou uma vez e ela se desequilibrou para trás, caindo de costas no chão, mas conseguindo manter a espada na mão. Harry deu um passo pra frente e pulou sobre ela, girando no ar e caindo do outro lado dela, de frente para plataforma. Ela mal teve tempo de se levantar desajeitada antes dele atacá-la novamente. As lâminas giravam cada vez mais rápidas no ar, os pés deles dançando sobre o chão de pedra da câmara. –Estou impressionada – ela disse, começando a ofegar um pouco. –Talvez esteja melhor que eu.


-Você sabia disso antes de me atacar – ele disse.


-Está vendo o sangue nessa espada?


-Sim.


-Lembra como veio parar aqui?


-Sim.


-Bem, mantenha isso em mente... Talvez possamos refazer a cena sem os dublês. – ela de repente se afastou e andou rápido até onde Hermione e Quinn estavam, com a espada erguida. Harry saiu correndo e pulou no ar sobre a cabeça dela, caindo bem em seu caminho. Allegra parou de imediato, as sobrancelhas levantadas. –Pulo legal! E sem um trampolim!


-Deixe-as fora disso – ele disse. –Isso é entre mim e você.


Os lábios de Allegra se curvaram numa careta e pela primeira vez a falsa jovialidade deixou sua expressão. Um calafrio percorreu o corpo de Hermione... Nunca a tinha visto sem aquele meio-sorriso irônico e sarcástico no rosto. Agora que o sorriso sumira, podia ver a escuridão atrás de seus belos traços e era aterrorizante. –Que seja – ela disse e o atacou de novo.


Dessa vez não houve discussões, nem provocações, nem manobras incríveis. Sem finesse e sem poupar nada. Eles agora apenas tentavam matar um ao outro, bem simples e direto. As espadas eram quase borrões na frente deles, e seus gemidos e ofegos eram audíveis a todos. Hermione quase não conseguia acompanhar, de tão rápido que se moviam.


Harry recuou e se preparou para o ataque seguinte. Allegra fingiu uma defesa e depois deu um passo sob a lâmina dele e enfiou sua espada no peito dele. Hermione ouviu alguém gritar e percebeu que tinha sido ela mesma, colocou as mãos na boca, não querendo distraí-lo. Harry gritou de dor... A lâmina de Allegra tinha perfurado através de seu ombro esquerdo, logo abaixo da clavícula. A ponta saia por suas costas por bons 20 centímetros. O braço esquerdo ficou pendurado, inútil, o direito de alguma forma segurando a própria espada. Hermione queria ajudá-lo, mas temia que qualquer movimento que fizesse só piorasse as coisas.


Allegra cruelmente girou a espada na carne; Harry deu um grito rouco e caiu sobre os joelhos, seu rosto contorcido de dor, sangue escorrendo pelo lado de seu peito. –Como caem os grandes – Allegra disse. –O grande Harry Potter, uma ameaça para Voldemort e todas as coisas das trevas, o único de seu tipo... Se debatendo como um inseto num alfinete bem aqui aos meus pés.


Ele olhou duro pra ela. –O que está esperando? – conseguiu dizer entre os dentes cerrados. –Continue!


Hermione observava anestesiada. Faça alguma coisa, sua mente insistia. Ela deu um passo para frente, com a vaga intenção de se jogar sobre Allegra, mas Quinn a segurou. –Não – sussurrou. –Não vai ajudá-lo se acabar se matando. Confie nele.


-Lamento, Harry – Allegra dizia. –Sabe, tem uma parte de mim que realmente gosta de você.


-Esqueça – ele disse. –É tarde demais.


-Muito bem – ela disse. Preparou-se para retirar a espada e enfiar novamente nele... Mas antes que o fizesse, Harry levantou sua mão esquerda enfraquecida e segurou a lâmina da espada. Sangue escorria de sua mão, mas ele não largou. Allegra estava surpresa demais pra fazer qualquer coisa no momento. Harry levantou rapidamente deu um chute na barriga dela, que caiu no chão, mas sua espada ficou no peito de Harry.


Ele segurou o punho da espada, apertou os olhos e a puxou do ombro, um grito rasgando sua garganta quando o fez. Murmurou algumas palavras e colocou a palma da mão sobre o ferimento durante um instante, os dedos brilhando brevemente e o sangue estancou.


Jogou a espada de Allegra pra uma distância segura e ficou sobre ela, sua respiração entrando e saindo do peito, o rosto cheio de raiva e dor. Allegra se ergueu devagar até ficar de joelhos, as palmas erguidas em súplica. Ela deu os ombros, se rendendo. O meio-sorriso irônico estava de volta. –Certo, você venceu. – inclinou a cabeça para trás, expondo o peito. –Estou pronta. Pode prosseguir.


Ele ficou parado, olhando para ela por um momento, pensando. Ele não vai fazer isso, Hermione pensou. Claro que não vai.


Harry ergueu a espada sobre a cabeça, pronto para atacar. Ah, Deus, Harry, Hermione pensou. Não faça isso. Podia sentir Quinn ficando tensa a seu lado. O rosto dele estava terrível, a fúria e a dor distorcendo suas feições geralmente amigáveis, quase deixando irreconhecíveis. A espada parou no ápice do golpe e ficou ali. Com os olhos estreitados, olhou pra ela.


-O que está esperando? – Allegra sussurrou. –Me mate. Sabe que quer. Lembra como te traí? Lembra como tirei seu coração e pisei nele com todas travas de minha chuteira? Lembra como te fiz pensar que eu tinha matado Hermione? Lembra de Lefty? Vingue-se! Mereceu!


-Harry, não! – Hermione gritou. –Não faça isso!


-Eu devo – falou, com um tremor na voz. –As coisas que ela fez... Tenho que detê-la.


-Tem que detê-la – Hermione deu um passo hesitante na direção dele. A espada balançava no ar enquanto ele olhava para essa mulher, cujas ações assombraram-no durante toda sua vida adulta. Quanto a Allegra, ela apenas estava placidamente de joelhos no chão, esperando. –Olhe pra ela, Harry... Ela quer que a mate. Se não pode te vencer, quer ao menos te levar ao chão com ela. Apenas a ponha na cadeia.


-A cadeia não vai segurá-la por muito tempo – ele sussurrou. –Esse é o único jeito.


-Sabe que é errado – ela disse, dando mais um passo. –Não pode matá-la a sangue frio, não desse jeito. Não é como ela, Harry.


Ele engoliu seco. –Eu quero matá-la...


-Claro que quer – respondeu. –Ela te fez coisas horríveis. Mas Harry... Há milhões de Allegras lá fora. Se matá-la, outra virá pra tomar seu lugar. Não pode sacrificar sua alma por causa dela. Ela não vale a pena.


A espada agora balançava tão violentamente que parecia que ele a usava pra uma performance de "Vôo da abelhinha". Um momento infinito se passou durante o qual Hermione jurava que seu coração não batia enquanto esperava a resposta... E então, finalmente, o rosto dele relaxou e seus olhos se fecharam. Abaixou a espada e virou para encará-la. –Hermione... Ah, Deus...


-Eu sei – ela disse. Ele avançou alguns passos para encontrá-la e ela o segurou quando caiu em seus braços, a respiração entrecortada e a espada de Godrico batendo nas pedras. Hermione o abraçou apertado, os braços dele moles ao seu lado. –Eu sei –repetiu.


-Eu queria... quase...


-Shh... Ela não tem nenhum poder sobre você.


Os braços dele se levantaram para enlaçá-la, marcando as roupas dela com o seu sangue. Ele expirou com força e parecia relaxar. –Desculpe – sussurrou.


-Não se desculpe – ela se inclinou pra trás e beijou a testa molhada dele.


Harry deu um pequeno sorriso pra ela e ia falar, mas de vez, fez uma careta e cambaleou para o lado, o braço bom se levantando para apertar o ferimento, que sangrava novamente.


-Oh... Temos que te levar para um hospital – ela disse.


-Estou bem – ele disse pelos dentes fechados.


-O inferno que está – Sorry disse. – deitou Winter cuidadosamente no chão e veio para vigiar Allegra, que levantara devagar e agora estava de pé em silêncio, de cabeça baixa. –Tem um buraco de espada atravessando seu peito!


Hermione teria concordado completamente, mas antes que pudesse fazê-lo, o ar à direita deles começou a brilhar um pouco. –Graças a Deus – murmurou quando uma dúzia de corpos se materializava na câmara. Contou dez agentes uniformizados da DI e uma mulher com roupas civis que não reconheceu. Remo Lupin estava na frente.


-Harry! – exclamou, rapidamente olhando a situação e se apressando, fazendo um gesto para mulher estranha. Fez outro gesto para os agentes, indicando que deveriam cuidar dos bruxos do Círculo. –Bom Deus, o que aconteceu aqui?


-Vamos explicar depois – Hermione disse. –Ele foi ferido.


A mulher estranha avançou e examinou o braço dele. –Ela é medica – Remo explicou a Hermione, já que Harry parecia conhecê-la. Olhou pra trás deles, pra reunião dos bruxos do Círculo. –O que é tudo isso então?


-Uma boa porção do Círculo – Harry disse. –E podemos agradecer em grande parte a este homem pela captura deles. –Draco virou e os encarou enquanto os agentes da DI começavam a tomar custodia dos bruxos.


Os olhos de Lupin quase pularam das órbitas. –Malfoy! – disse, incrédulo.


-Ele salvou nossas vidas – Harry disse, fazendo uma careta enquanto a medibruxa rasgava sua blusa pra ver seu ferimento.


Lupin jogou as mãos para cima. –Vamos falar nisso depois. Agora, vamos levar todos pra DI e te dar cuidados médicos adequados. – Olhou pra Quinn. –Você também parece precisar disso.


-Vou sobreviver – ela disse, se apoiando em Draco, seus lábios formando uma linha firme.


Lupin virou para Allegra. –O que propõe que façamos com ela? – murmurou.


Harry olhou para ela. Sua falta de reação era preocupante. Não tinha falado, se mexido ou exibido nenhum sinal que estava consciente do mundo a sua volta. Isso o incomodava, mas não podia ver como ela apresentaria alguma ameaça no momento... Não cercada por vários de seus agentes, pelo menos. –Apenas a traga conosco, suponho. A Captação de Informações vai querer uma conversinha com ela, disso eu tenho certeza.


Hermione observava Allegra, alguma coisa incomodando no fundo de sua mente. Estou esquecendo de alguma coisa, pensou. O que? Tudo está acabado... Não é? Olhou com mais cuidado... Os longos cabelos negros de Allegra estavam sobre seu rosto, escondendo seus traços. As mechas se moviam um pouco. Como se houvesse uma pequena brisa... ou se ela estivesse falando bem baixo atrás das cortinas dos cabelos. –Ah, não – Hermione sussurrou.


Allegra esticou as mãos pros lados e de repente jogou a cabeça para trás, os lábios se mexendo muito rápido como se falasse longas séries de palavras. Seus olhos tinham mudado pra um azul uniforme. –O que diabos é isso? – Draco resmungou, dando passos apressados para frente. Harry teve que esticar a mão para detê-lo.


-Não! Ela está fazendo alguma coisa!


-Harry! – Hermione disse. –A magia de manipulação do tempo!


-Sim – ele disse, pois estava claro de se ver o que estava fazendo. A luz estava se quebrando ao redor das mãos de Allegra e uma coluna de luz azul estava se reunindo em volta de seu corpo enquanto dizia as palavras. Seu cabelo voou para sua volta como um furacão de tinta e seu vestido balançava violentamente, se enrolava em suas pernas devido a um vento invisível.


Draco tentou ir até ela novamente, mas Harry o impediu. –Temos que pará-la! Ela pode voltar no tempo e impedir que isso tudo aconteça! Matar você, me matar, matar todo mundo!


-Não pode interrompê-la no meio do feitiço! – Harry disse. –É perigoso demais! Interromper um feitiço tão poderoso quanto esse pode ser desastroso! Não se brinca com magia temporal, pode rasgar a linha do tempo como um se fosse uma folha de papel.


-Vale a possibilidade dela voltar no tempo?


Hermione ouviu muito pouco desse diálogo. Seus olhos estavam fixos em Allegra enquanto sua mente girava. Não sua cabeça, ouvia a voz de Sorry enquanto descrevia o feitiço de manipulação do tempo do Círculo: é uma grande projeção mental. E sua própria resposta. Como um glamour?


Respirou de vez quando lembrou o que havia esquecido. Enfiou a mão no bolso da capa... Quinn colocou alguma coisa no meu bolso, o que foi? Se é o que eu acho que é... Seus dedos se fecharam ao redor do objeto e ela o puxou.


Em sua mão, segurava os óculos para Glamour de lentes prateadas de Quinn. Ela olhou dos óculos para Allegra, que estava agora completamente envolvida por uma coluna vertical de luz, tão brilhante que doía olhar. Harry não deixava que ninguém a interrompesse e ele e Draco ainda discutiam sobre isso. Se não fizesse algo logo, Allegra voltaria no tempo e essa linha de tempo deixaria de existir.


Tomou sua decisão e colocou os óculos no rosto. Nada parecia muito diferente, só Allegra que se destacava em alto-relevo. Correu até ela, ignorando os gritos que a seguiram.


Allegra levantou a cabeça de vez e olhou pra Hermione. A boca se contorceu numa careta amedrontada. Abriu a boca para falar, mas Hermione não a deixaria dar uma de suas piadinhas sarcásticas características.


Respirou fundo e enfiou a mão pela coluna de luz, segurando Allegra pelos braços. Era como segurar um fio elétrico. Ouviu os próprios gritos misturados com os de Allegra e sentiu a magia temporal se quebrar e soltar fagulhas em volta delas enquanto começava a desintegrar. O corpo de Allegra pulou e se debateu sob seus dedos, mas ela segurava com força. Seus olhos estavam congelados abertos então não podia fechá-los enquanto o rosto de Allegra começou a... Se distorcer, como se estivesse existindo em mais de um lugar ao mesmo tempo e não conseguisse manter a integridade. Solte! Solte! Sua mente gritava... Mas não conseguia. Seus músculos estavam contraídos com todo poder que passava por seu corpo, nada respondia. Viu Allegra tentando se segurar... E depois a viu levantar as duas mãos, as palmas pra frente, e empurrá-la com toda força.


Hermione foi atirada no ar pra longe de Allegra, impulsionada por uma força bem maior que um mero empurrão, cada terminação nervosa reclamando e os Óculos para Gamlour voando de seu rosto. Sentiu alguém a segurando quando caiu, mas não viu quem era... cada olho do salão estava pregado em Allegra e no que acontecia com ela.


A coluna de luz que envolvia Allegra agora implodia sobre ela. Tentava restabelecer o controle, mas era tarde demais. Os pedacinhos de magia começaram a apertar em volta dela, o corpo dela se grudando e sendo puxados por eles, como água escorrendo por um ralo. Um grito final cortou o ar e com um pequeno pop ela se foi. O salão ficou quieto, vazio de energia, um vácuo estranho como se tivesse perdido a única razão de sua existência. Hermione ouvia vozes, bem, bem distantes. Ouviu o nome, ouviu alguém rosnando ordens... As vozes se afastaram e a escuridão avançou sobre sua visão. Envolveu-a em seu abraço caloroso e insensível e ela não sabia de mais nada.




Quando abriu os olhos novamente, não estava na Lexa Kor... A não ser que Lexa Kor tivesse quartos confortáveis, bem apresentáveis nos quais prisioneiros pudessem se recuperar.


O teto, que foi a primeira que viu, tinha uma cor terra uniforme, bem reconfortante. Olhou em volta por precaução... Parecia estar numa cama de hospital, apesar de seu quarto parecer mais com o quarto de uma pessoa do que um de hospital.


E não estava sozinha. Harry estava sentado numa cadeira junto da cama, mas não podia ver seu rosto. Sua cabeça estava curvada sobre a borda da cama, a testa repousando em uma das mãos dela, que ele segurava com as duas mãos. –Harry – ela disse, sua voz soando como se sua garganta estivesse cheia de poeira. Limpou a garganta.


Harry levantou a cabeça de vez e olhou pra ela surpreso. Estava pálido e havia círculos roxos de cansaço sob seus olhos, que estavam vermelhos e inchados como se tivesse chorado. E então ele sorriu e esse gesto transformou seu rosto, e ela não pode segurar o próprio sorriso. Ele consertou a postura e se aproximou, gentilmente tirando o cabelo da testa dela. –Oi, dorminhoca. – disse. –Olha quem acordou – olhou por cima do ombro e gritou para o corredor. –Laura!


Hermione sorriu ao ver sua amiga correndo do corredor. Ela também estava pálida e se apressou pra ficar do outro lado da cama de Hermione, segurando uma de suas mãos. –Ah, querida... Como está se sentindo?


Hermione se mexeu um pouco, ficando tensa de dor e inchaço. -Estou bem, acho. - Ela levantou a cabeça e esticou as mãos, Harry e Laura ajudaram-na a sentar, colocando travesseiros atrás de suas costas. –Com um pouco de dor de cabeça. Quanto tempo fiquei inconsciente?


-Quase seis horas – Harry disse, voltando a si. –Aqui, tome um chocolate. – Ele a entregou um pedaço que estava na mesa de cabeceira. –Está na enfermaria da DI. Parou de respirar. Não sabíamos se ia sobreviver. –beijou a mão dela. –Quase te perdi. De novo.


-Bom, estou bem agora – ela disse, alisando a bochecha dele. Franziu a testa ao ver que o peito dele recém ferido parecia recuperado. –E você? Está bem?


-Sim, estou bem.


-Ele não deixava os medibruxos curarem ele a não ser que fizessem bem aqui – Laura disse, em tom de bronca. –Então curaram aqui mesmo. Vou dizer a Remo e aos outros que acordou. – apertou a mão de Hermione com um sorriso. –Deixou todo mundo preocupado, mocinha. – Hermione sorriu em resposta e a olhou partir, depois virou novamente para Harry.


Por um longo momento apenas se olharam, uma extensa conversa trocada em meros segundos. Ela suspirou e se afastou, dando tapinhas na cama, ao lado dela. –Suba aqui comigo. – Harry subiu na cama e a puxou gentilmente para seus braços, como se tivesse medo que ela fosse quebrar. Hermione se aninhou em seu abraço, relaxando na segurança que sempre encontrava ali. Harry repousou seu queixo na cabeça dela e suspirou. –O que fez foi muito idiota. – ele falou.


Hermione riu. –Funcionou, não foi?


-Podia ter morrido. Você quase morreu.


-Tinha que fazer alguma coisa. Não podia deixá-la escapar.


-Idiota – ele repetiu. –Mas muito corajoso. – ele hesitou. –Quinn me disse que colocou os óculos para Glamour.


-Que bom que lembrei de usá-los.


-Tenho certeza que se não lembrasse, Quinn daria um jeito de te lembrar. – o tom dele foi um pouco cínico.


-O que quer dizer?


-Já deve ter percebido que ela e Draco armaram toda essa situação.


Ela fez que sim contra o peito dele. –Ele te mandou as mensagens, pra sua mente. Os ataques.


-Sim. Escondido nos ataques estava o feitiço que eles precisavam que nós fizéssemos para que Allegra fosse derrotada. Quinn se certificou que nós dois chegássemos em Lexa Kor e ela te deu meios pra quebrar o feitiço de manipulação do tempo enquanto Draco me libertava antes que Allegra pudesse me submeter à Passagem. Ele usou a posição de agente confiável para nos manipular.


-Não está muito feliz com isso, está?


-Bem, eu preferiria estar lutando minhas próprias lutas.


-Mas essa era sua luta. Só que... Era deles também. – levantou os olhos pra ele. –Falou com Draco? O que causou essa reviravolta dramática?


-Não sei. Tenho certeza que vai ser o tópico mais comentado na auditoria.


Ela se aconchegou nele de novo. –Harry... – falou depois de uma longa pausa.


-Eu sei. Não terminamos nossa conversa na cela.


-Ia me contar. Seu último segredo.


Ele suspirou. –Já passei por isso com Remo e Argo e com os outros, pra poder te contar quando estivéssemos sozinhos.


-Já vi o que pode fazer. Pelo menos uma parte. Coisas que nenhum outro bruxo pode fazer. – ela entrelaçou os dedos com os dele. –Me diga a verdade.


Ele fez que sim e respirou fundo. –Certo – pensou por um momento, depois começou a falar. –Estamos acostumados a ver o mundo como um lugar meio de "nós" e "eles". "Nós" os bruxos, e "eles" os trouxas.


-Sim.


-Só que... Isso não está 100 certo. Existem os bruxos, os trouxas e existo eu.


-Você é um bruxo.


-Tecnicamente, sim. Não quero parecer arrogante, mas estou citando Dumbledore quando digo que sou tão bruxo quanto humanos são vertebrados. Tecnicamente verdade, mas há muito mais que isso.


-Como o que?


Ele suspirou. –Hermione, tenho poderes e habilidades que nenhum outro bruxo tem... E outras novas têm o péssimo hábito de aparecer inesperadamente.


-Como conseguir voar?


-Sim, entre outras coisas. Pra voar, levou um pouco de treino, posso garantir, mas é bem útil. E bem divertido, pra dizer a verdade. – mordeu o lábio, pensativo. –Mas esse não é o ponto. O que posso fazer não é a diferença. Sou único por minha habilidade de controlar magia com minha mente. Não preciso de varinhas, nem feitiços, nem encantos, nem talismãs, nem objetos mágicos. Posso fazer magia apenas pensando nela. A magia é uma força da natureza, como magnetismo ou a gravidade... Uma força que existe independente dos seres humanos. Geralmente, quando um bruxo precisa usá-la, ele a evoca e controla com a ajuda de varinhas ou feitiços. Pra mim, a magia é apenas uma coisa que está dentro de mim o tempo todo. Não preciso evocá-la nem instruí-la. É uma parte permanente de mim, e ela obedece a meus pensamentos do mesmo modo que meus músculos.


Hermione ponderou sobre este conceito por um momento, era algo tão estranho que era difícil aceitar. Não podia imaginar viver e respirar a magia como ele parecia fazer... Mas isso com certeza explicava algumas coisas sobre ele. –Como isso é possível? – perguntou.


-Existe uma sociedade antiga de bruxos que se chamam de Sociedade dos Scythe. Eles não fazem nada além de estudar aptidão e heranças mágicas... E quando completei 18 anos, Dumbledore me levou para conhecê-los. Aparentemente, estavam esperando alguém como eu há séculos.


-Séculos?


-Sim. A habilidade mágica é genética, assim como tudo. Muitos genes a codificam, e a combinação do que herdamos de nossos pais determina nossa aptidão mágica. Decide se você vai ser um Dumbledore ou um Neville. Decide se será melhor em transfiguração ou feitiço. Decide se tem o necessário pra ser um animago ou se terá alguma habilidade com vassouras. Os Scythes me disseram que existe um gene muito raro, que eles chamam de fator Mage, que flutua no mundo mágico, um gene que codifica uma relação fantástica com as forças mágicas. É recessivo, então os dois pais têm que ter um gene só pra que você tenha uma chance, e mesmo assim a probabilidade é de apenas um para quatro pra ser um Mage de verdade mesmo, mas até sendo apenas meio-Mage, você é afetado. Aqueles que têm um gene de Mage mostram habilidades mágicas maiores, talvez 0,5 por cento da população mágica esteja nessa categoria. Dumbledore era meio-Mage, bem como Tom Riddle. Nunca se tem certeza até que eles morram e um teste do gene seja feito. Tudo o que os Scythes puderam fazer foi estudar os meio-Mages, voltando até mil anos. A probabilidade de dois meio-Mages terem um filho e então essa criança vencer as possibilidades de 1 para 4 e ter dois fatores Mage era tão pequena que nunca aconteceu, que eles soubessem.


-Até você.


Ele concordou, parecendo quase constrangido por sua genética distinta que era completamente fora de seu controle. –Meus pais eram meio-Mages, e eu venci as probabilidades. Sou o primeiro Mage completo na historio. Pronto. Eu disse.


-Ah meu Deus – ela sussurrou. –Não sei o que dizer. – levantou os olhos pra ele. –O que pode fazer?


-Bem, posso fazer muitas coisas... Mas algumas das principais incluem influenciar a mente de outras pessoas, controlar o tempo, manipulação de matéria e objetos, imunidade a muitas maldições e ataques, aceleração da cura e certas habilidades de ataque.


-O que? Como atirar raios laser com seus olhos?


Ele riu. –Nada tão "flash gordon", mas uns raios ocasionais com certeza dizem alguma coisa.


Hermione balançou a cabeça. –Não posso acreditar nisso. Você não era tão diferente de todos na escola.


-Verdade, mas eu era um pouco diferente. Fiquei tão surpreso quanto todo mundo quando consegui resistir a uma Maldição Império aos 14 anos. Pensei que Moody estivesse pegando leve comigo, mas não estava. E não vamos esquecer... A magia que aprendi mais tarde foi forte o suficiente com 1 ano de idade pra me salvar de Voldemort.


-Pensei que o sacrifício de sua mãe tivesse feito isso.


-Ajudou, mas só isso não teria me salvado. Voldemort matou muita gente, muitas dessas pessoas morreram tentando proteger outra pessoa... No fim, isso não salvou por quem eles tinham morrido protegendo. Teria morrido tão facilmente também se meus genes não tivessem me protegido. Voldemort sabia e por isso veio atrás de mim novamente anos mais tarde, várias e várias vezes. Por isso ele veio pra casa de meus pais pra início da história. Não estava atrás deles, mas de mim. Ele não tinha certeza se poderia matar um Mage adulto e maduro, mas tinha convicção que poderia matar um bebe. Não funcionou desse jeito. Os Scythe não sabem como ele sabia quem eu era quando nem mesmo eles sabiam, mas está claro que ele fez isso por me considerar uma ameaça.


-E era.


-Como ele saberia depois – disse sombrio. –Não comecei a explorar minhas habilidades totalmente até depois que deixei Hogwarts e mais intensamente ainda quando me juntei à DI, na época que Dumbledore se foi. Só que eu não sabia que ele tinha encarregado alguém de me ajudar a perceber todo meu potencial.


Hermione sorriu. –Lefty?


Harry fez que sim. –Lefty na verdade é um membro da Sociedade dos Scythe. Dumbledore pediu que ele se certificasse que eu aprendesse a usar minhas habilidades... E a controlá-las. – essa última frase foi dita num tom meio trágico.


-Controlá-las?


-Sim. Ainda tenho problemas. A magia não é uma coisa com a qual se possa brincar, como nós dois sabemos. Posso ter acesso a ela mais do que qualquer pessoa, mas isso não se significa que sou melhor em mantê-la na linha. Me assusta às vezes, a idéia de não conseguir controlá-la. – ele hesitou. –E tem também algumas considerações morais. Tenho a habilidade de afetar mentes, como você viu na Grunnings. Poderia usar essa habilidade para propósitos bem desonrados se quisesse. Tenho que impor regras bem rígidas pra mim mesmo. Raramente uso minhas habilidades de Mage na vida cotidiana. Ainda uso minha varinha regularmente, e você sabe quanto eu uso minha vassoura. E ainda tem o fator surpresa... Não tem porque fazer propaganda dessas habilidades todas quando pode ser útil mais tarde ter mantido em segredo.


-Mas Allegra sabia – ela mal podia manter a amargura longe da voz.


-Ela tinha que saber, ajudou com meu treinamento. Lefty confiava nela... todos confiávamos. – ele terminou.


-Harry... Ela está morta?


-Não sei – disse depois de uma longa pausa. –Isso só saberemos no futuro. – Hermione sentou, se afastando dos braços dele e desviando o olhar. –O que foi?


-Nada. É só que... É muita informação pra assimilar de uma vez só. – ficaram sentados em silêncio por um tempo. –E nunca me disse isso também.


-Desculpe – ele disse.


-Ah Harry, por vivemos tendo essa mesma conversa? Primeiro seu trabalho, depois Allegra e agora isso! – ela virou e o olhou nos olhos. –Você diz que esse é seu último segredo. Ainda vai ser amanhã? Em uma semana ou um mês ou um ano vai estar se desculpando por alguma outra coisa que não me contou?


-Não há mais nada que não tenha te contado. Diferente de meu emprego e de Allegra, queria te contar sobre isso há anos... Mas jurei segredo. Dumbledore me fez prometer que não revelaria. Não queria que eu fosse um alvo mais do que já sou.


-Então por que está quebrando a palavra que deu a ele agora?


Encarou-a com um olhar intenso. –Chega uma hora na vida de um homem em que ele tem que crescer, Hermione. Tomar suas próprias decisões e não aceitar as decisões de outros que afetam sua vida. Essa hora só está chegando pra mim agora. Quero que saiba tudo o que sou, e não vejo razões pra esconder isso de meus colegas ou de qualquer um que queira saber. Se existem coisas que posso fazer pelo mundo mágico então as farei. Se isso vai fazer as forças das trevas pensar duas vezes, pela primeira vez na vida, que se tentarem alguma coisa, vai ser mais do que apenas Harry Potter que vão estar irritando, então não me importa se todo mundo souber. Não pedi por isso. Não quis isso. Não tem idéia do quanto lutei contra isso. Nunca quis ser especial, ou nenhum tipo de Mage ou que seja. Só queria ser uma criança normal, e um bruxo normal. Queria ter amigos e aulas e uma família normal... – ele parou de repente e desviou o olhar, sua garganta trabalhando. Ela sabia que isso ainda o atingia nas horas mais estranhas. Não podia se manter distante vendo essa cena; se moveu pra mais perto e o enlaçou em seus braços, puxando sua cabeça contra seu peito e ninando-o gentilmente. Ela sentiu os braços deles enlaçando sua cintura, grato. –Queria ser normal – repetiu. –Mas sempre soube que não era. Nunca imaginei o quanto não-normal eu acabaria sendo. – Ele deu um grande suspiro. –Mesmo assim, se o que sou pode ajudar alguém, então fico feliz por isso. Se puder deter os herdeiros de Voldemort, reais ou imaginários, de ganhar terreno novamente então vou pular na frente e usar cada habilidade que tiver e qualquer uma nova que eu possa inventar.


Ela sorriu contra a cabeça dele. –Bem, meu amor... Acho que é oficial.


-O que é?


-Você estava brincando com a linha antes, mas acho que agora cruzou totalmente o caminho entre bruxo e super-herói.


Ele começou a tremer e por um momento ela ficou com medo que estivesse chorando, mas então percebeu com alívio que ele estava rindo. Sentou direito, sorrindo. –Super-herói, hã? Acho que há coisas piores.


-Vamos te arrumar um colan e uma capa – ela arqueou uma sobrancelha. –Talvez fique bem neles.


Ele revirou os olhos. –Sem colan, obrigado. E na verdade... Já tenho uma capa. É parte de meu uniforme da DI – ele saiu da cama. –Que eu devo colocar em breve, falando nisso.


-Uniforme? – ela disse franzindo a testa.


-Bem, sim. Com certeza notou todos os agentes andando por ai de uniforme e me prestando continência. A DI é meio que uma organização militar, só que não tanto um-dois-três-quatro como o exército trouxa. Quase todos somos oficiais do Corpo de Executores da Federação. Ganhamos patentes quando terminamos nosso treinamento aqui. A maioria não usa os uniformes no dia a dia, mas eu tenho um e devo usá-lo na auditoria. É uma ocasião meio oficial.


-É feio e ostentoso como o da Guarda Real?


-Não, na verdade é bem legal. Acredita que Argo contratou Hugo Boss pra desenhá-los? Ela tem suas falhas, mas falta de estilo não é uma delas. – Ele se inclinou pra ela. –Me pediram pra te levar para auditoria se quiser. Quer ir?


-Sim! – ela disse, ansiosa pra sair do quarto e ouvir o que todos pensavam do que acabara de acontecer. –Quando vai ser?


Ele olhou pra seu relógio. –Duas horas.


-Só vou me lavar... Ah, não tenho roupas limpas.


-Laura trouxe algumas de casa. – ela jogou as pernas pra fora da cama e levantou. –Tenho que dizer, você está bem menos chocada com minhas revelações do que pensei que fosse ficar.


Ela deu de ombros. –Não estou tão surpresa quanto pode achar. Sempre soube que você teve habilidades especiais. Só não tinha o rótulo pra colocar. E ainda é meu Harry, nada mudou de verdade. – ela ficou na ponta dos pés e deu-lhe um beijo na bochecha, depois se dirigiu pro banheiro particular.


-Tenho que ir pra minha sala – ele disse, olhando-a sair. –Quando estiver pronta, me encontre lá.


-Certo, te vejo lá – ela fechou o banheiro e Harry saiu do quarto.




Hermione saiu de seu quarto, limpa e cheirosa, se sentindo muito melhor por isso. Um agente usando uniforme preto de campo operacional da DI estava de guarda do lado de fora. –Dra. Granger – disse com satisfação. –Se sente bem?


-Ah, sim, obrigada. Como chego até o escritório de Harry?


-Só precisa chamar por sua bolha, ela te levará até lá.


-Não tenho minha própria bolha.


-Na verdade, tem sim. O chefe Potter disse que teria uma a partir de agora.


Hermione deu os ombros mentalmente. –Bolha – falou. Imediatamente, uma bolha verde-oceano apareceu em sua frente, esperando instruções. –Me leve até Harry – comandou. A bolha pulo pelo corredor e ela seguiu pelo familiar labirinto de corredores.


Depois de um tempo chegaram até a sala de Harry, marcada com o raio na porta. Ela bateu. –Entre – veio a voz dele do lado de dentro.


Ela abriu a porta e entrou, depois parou de vez. Ele estava de pé, junto a um arquivo olhando pra alguns papéis que segurava, vestido com seu uniforme da DI. O queixo de Hermione caiu ao vê-lo, entendendo de repente porque mulheres de todo o mundo babavam por homens de uniforme.


Era bem justo e todo preto, o que não a surpreendeu. Calças justas sobre botas engraxadas. A parte de cima era uma jaqueta que ia até o quadril, bem espartana e sem adornos, de ombros largos e mais apertada na cintura. Era quase no estilo Nero, com a gola alta e sem nenhum sinal de botões na parte central. Em cada lado da gola estavam várias barras douradas, provavelmente uma insígnia da patente, e havia uma medalha dourada numa fita roxa sobre o lado esquerdo de seu peito. Ela imaginou que fosse um tipo de condecoração ao mérito ou algo assim.


A única indulgência de ostentação era a capa. Parecia ser uma simples seda longa caindo de seus ombros, preso ali sobre suas clavículas com barras de ouro iguais à insígnia em sua gola.


Ela viu tudo isso em questão de segundos. –Meu Deus – murmurou.


Harry abaixou os documentos e franziu a testa. –O que foi?


Ela avançou, sorrindo e colocando uma mão sobre o peito dele. –Bem, isso... Isso é muito sexy.


Um sorriso lento se espalhou no rosto dele. –Mesmo? – ele não parecia ter acreditado nela.


-Ah sim – ela voltou a si, as mãos dele gentilmente segurando os cotovelos dela enquanto ela repousava as mãos no peito dele. –Sobre o que vai ser essa auditoria?


-Argo vai querer saber exatamente o que aconteceu. Remo e eu vamos dar nossas versões do evento, e tenho certeza que ela vai querer ouvir você, Draco e Quinn também. Eu também vou ter umas perguntas sérias pra responder.


-Está encrencado?


-Talvez. Quando saí sem dizer a ninguém, violei várias páginas do regulamento da DI, sem falar de ordens diretas de Argo. Posso enfrentar uma corte marcial ou até mesmo um desligamento. Mas hei – ele disse rapidamente, vendo a expressão alarmada dela. –É improvável que chegue a isso. Agi de boa fé pra salvar a vida de outros e se tivesse pedido permissão, teria comprometido a missão. Aqui na Inteligência estamos acostumados a, às vezes, sacrificar procedimentos pra manter nosso segredo. Além disso, trouxe vários homens maus, o que não machuca. Argo provavelmente vai me punir com alguma tocaia muito chata por algumas semanas e depois esquecer disso. E, por mais que soe injusto, ser um Mage me torna muito valioso, até demais pra ser desligado.


Hermione suspirou. –Estou realmente ansiosa pra ouvir o que Draco tem a dizer.


-Eu também – ele olhou para o relógio. –Vamos?


Eles deixaram a sala e seguiram a bolha de Harry até uma parte estranha da DI, que Harry explicou que era a ala administrativa. Aqui e ali havia outros agentes com uniformes parecidos com o de Harry, porém não viu nenhuma outra pessoa de capa, e alguns tinham estilo diferente. Entraram no saguão largo que tinha uma grande porta dupla rotulada "Sala de Conferência".


Ela viu Draco e Quinn de pé juntos e Remo estava no meio do saguão falando com alguém que estava de costas para eles. Remo usava um uniforme parecido com o de Harry, só que não tinha capa e as calças pareciam mais folgadas, e desapareciam no interior de botas que vinham até metade da canela. A pessoa com quem falava estava gesticulando muito e parecia muito agitada... E quando se aproximaram, Hermione sorriu ao reconhecer o gesticulador.


-Sirius! – Harry exclamou quando chegaram perto. Sirius se virou, seu rosto cravado com uma expressão preocupada, que se desfez assim que os viu.


-Harry! – ele disse, avançando para falar come eles. Abraçou o afilhado, um alívio evidente em seu rosto. –Pelo fantasma de Merlin, estou feliz de te ver! – recuou e segurou Harry pelos cotovelos. –Está bem? Remo acabou de me dizer que você foi ferido!


Harry sorriu. –Estou bem, Sirius. Parece agitado.


A expressão de Sirius ficou obscura. –Acredita que acabei de descobrir desse negócio todo?


Harry deu de ombros. –Culpa de Argo. Mantém os assuntos da DI estritamente em casa até que seja absolutamente necessário contar. Ela não deve ter achado que eu estivesse em grande perigo ou teria te notificado.


-Mesmo assim, queria ter ajudado.


-Já tem muito que fazer, Sirius. Fui muito bem assistido. – ele sorriu para Hermione, que estava com o braço enlaçado no dele.


Siriu ficou lá, as mãos na cintura, seus olhos pulando de um para o outro como se estivesse assistindo um jogo de tênis. Olhou pra eles com olhos estreitados. –O que está acontecendo aqui? – perguntou. Harry sorriu e olhou pra Remo por cima do ombro de Sirius. Olhou nos olhos de Hermione, o peso do olhar trocado entre eles não passou despercebido aos observadores. –Ah, não. – Sirius disse. –Não seja cruel, agora. Não provoque seu pobre velho padrinho, Harry.


-Nunca te provocaria com uma coisa tão importante – Harry disse. –E se você é velho, eu sou Cornélio Fudge.


Sirius avançou, devagar e com cuidado, colocando uma mão no ombro de Harry, a outra no de Hermione, um sorriso esperançoso se espalhando em seus lábios. –Mesmo? Vocês mesmo... Mesmo? – parecia ser tudo que conseguia dizer.


-Sim... Mesmo. – Hermione disse reluzindo.


Sirius balançou a cabeça que sim feliz, apertando os ombros deles, depois virou de repente, apontando para Lupin. –Me deve vinte galeões.


-Ah, acho que não!


-Pague! Você disse que não aconteceria até que tivessem 30 anos, e eu disse que não demoraria tanto.


-Eu não disse nada disso, falei que seria antes dos 30 e você disse que precisaria de uma experiência de quase morte. Não precisou de uma experiência de quase morte, então você deve a mim vinte galeões.


-Com licença – Harry disse com as mãos na cintura, tentando parecer sério. –Vocês dois apostaram sobre nosso futuro?


-Ah, não fomos apenas nós. Quem mais estava nessa, Remo? Fred e Jorge e Gina... Todos os Weasley na verdade.


-Não esqueça Argo. Neville e Amélia. Minerva e Severo... E Fudge também.


-Fudge? – Harry gritou. –Vocês dois fizeram o Ministro da Magia apostar sobre minha vida sexual?


Sirius se inclinou mais perto e sussurrou em tom de conspiração. –O Chanceler entrou também.


Harry continuaria falando, mas Argo veio apressada pelo corredor, sua capa roxa esfregando no chão enquanto andava. Vindo atrás dela estavam mais agentes de uniforme. –Podemos começar agora? – ela disse, indo até as portas. Os outros fizeram uma fila atrás dela, toda brincadeira se evaporando. Hermione apertou a mão de Harry, sentindo uma ponta de ansiedade enquanto entravam na grande sala de conferência. Uma mesa redonda estava no centro com a quantidade exata de cadeiras para os presentes. Todos tomaram seus lugares.


Argo sentou entre Harry e Sirius, assumindo um ar de comando apesar de Sirius ter uma patente significantemente maior. –Por favor, fiquem quietos enquanto o Oráculo nos identifica. – falou, se curvando para abrir uma caixa a seus pés. Um cubo de brilho prateado saiu e flutuou sobre a cabeça dela, girando no ar.


Harry se inclinou e sussurrou no ouvido de Hermione. –Isso para segurança. O Oráculo pode ver a identidade verdadeira de qualquer pessoa e vai certificar que todos somos quem dizemos ser. – ela fez que sim, olhando o cubo flutuando sobre a cabeça de Argo.


Depois de um momento para pensar, o cubo falou numa voz feminina, baixa, gentil. –Pfaffenroth, Argola Ray. Diretor, Divisão de Inteligência. Patente: Coronel. Codinome: Deliah.


O cubo seguiu para Harry. –Potter, Harry Tiago. Bruxo Chefe da Contra-Inteligência e Operações Secretas, Divisão de Inteligência. Patente: Major. Codinome: Roman. – continuou ao redor da mesa, dizendo o nome e ocupação de todos. Muito eficiente, Hermione pensou... Com certeza elimina a necessidade de qualquer apresentação.


-Granger, Hermione Jane, PhD em Magia. Diretora de Feitiços, Instituto de Estudos Mágicos. Patente: Não possui. Codinome: Ísis. – Hermione ficou absurdamente satisfeita por ter recebido um codinome, presumindo que tinha ganhado um junto com a bolha. Deram a ela o nome da Deusa do amor, percebeu. Me pergunto se é uma coincidência.


-Cashdollar, Quinlam Marie. Professora de Hogwarts. Patente: Executora de Leis Mágicas. Codinome: Antígona.


-Malfoy, Draco Lúcio. Agente Especial da Inteligência, Divisão de Inteligência. – ao ouvir isso, todos os outros agentes da DI na sala se viraram para olhar Draco surpresos... Nenhum deles sabia que ele estava associado com a DI. Draco apenas deu os ombros. –Patente: Não possui. Codinome: Charon.


-Lupin, Remo John. Vice-chefe da CIOS, Divisão de Inteligência. Patente: tenente. Codinome: Oberon.


-Hyde-White, Isobel Joan. Bruxa Chefe da Vigilância e Captação de Informação, Divisão de Inteligência. Paten te: Major. Codinome: Bravo.


-Ubigando, Henry Niemeri. Bruxo Chefe de Estratégias, Divisão de Inteligência. Patente: Capitão. Codinome: Roland.


-Carlise, Sorenson Quigley. Naturalista e Infiltrado no Círculo. Patente: Não possui. Codinome: Odin.


-Chow, Grace Ming-Xia. Bruxo Chefe da Infiltração e Reconhecimento, Divisão de Inteligência. Patente: Capitão. Codinome: Aegis.


-Black, Sirius Ian. Vice Chanceler da Federação Internacional de Bruxos. Patente: General. Codinome: Polaris.


Isso levou de volta a Argo. A cabeça de Hermione girava com todos nomes novos. –Certo – Argo disse. –Vamos começar com você, Harry. Conte tudo.


Harry começou do começo e contou toda história, iniciando de seus ataques algumas semanas antes. Mediu suas palavras a respeito do relacionamento deles, mas já que era parte da história, não poderia deixar completamente de fora. Levou quase uma hora pra completar seu relato, com interrupções a cada cinco minutos das pessoas que queriam algum esclarecimento. Depois que ele terminou, Argo virou para ela. –E você, Dra.. Granger. Tem algo a acrescentar? Foi você quem despachou a srtª Blackburn-Dwyer.


-Não tive escolha.


-Nenhuma culpa implícita. Por favor, nos conte o que levou a este evento.


Hermione respirou fundo e contou seu lado da historia, começando com quando ela saiu atrás de Harry. Quando chegou ao ponto em que tinha ficado com Quinn, Henry Ubigando a interrompeu. –Então não tinha idéia que a Professora Cashdollar tinha motivos maiores?


-Meu motivo era deter Allegra – Quinn se meteu. –Draco e eu planejamos isso meticulosamente.


-Não poderiam ter planejado tudo Quinn – Ubigando continuou. –Tanto dependeu de coincidências!


-O plano era bruto, admito. – Draco disse. –Tudo o que sabíamos era que não conseguiríamos deter Allegra sozinhos, ela tinha uma segurança muito boa. Foi então que descobri do feitiço que mandei pra Harry.


-Onde o encontrou? – Harry perguntou.


-Encontrei uma menção num antigo texto sobre um feitiço que podia neutralizar um salão cheio de bruxos, mas não podia ser escrito. Encontrei o feitiço verdadeiro, provavelmente do mesmo modo que você.


-A Bibliotecária? Engraçado, ela nunca me contou nada disso.


-Ela nunca conta nada, Harry. É parte de seu trabalho.


-Cavalheiros – Argo disse gentilmente. –Podemos prosseguir? Dra. Granger.


Hermione continuou, descrevendo como ela e Quinn chegaram em Lexa Kor e encontraram o corpo de "Hermione". –E o resto vocês já sabem – ela disse, séria com a lembrança desses eventos.


-Como sabia como parar a magia de manipulação do tempo de Allegra?


-Sorry me disse que era como um glamour.


-Coisa que eu soube do homem que pensava ser Geraldo – Sorry acrescentou. –Tenho certeza que Draco queria que eu passasse essa informação a Harry.


-E depois Quinn usou os Óculos para Glamour na minha frente, explicando seu uso. Durante os últimos instantes na câmara, ela me passou os óculos. Só fico grata que tenha lembrado de usá-los.


Argo balançou a cabeça. -Malfoy, Cashdollar... Nunca em minha vida ouvi de um plano tão frágil e tendendo a falhar. Estou impressionada que tenha funcionado.


-Nós também – Quinn murmurou.


-Na maior parte do tempo, íamos inventando durante as situações – Draco disse. –Conheço Harry e Hermione muito bem depois de ter passado meses observando-os, mas eles conseguiram me surpreender mais de uma vez. Esperava ter que me revelar a Harry e pedir sua ajuda para derrotar Allegra, mas conseguimos manter nossos disfarces até o fim.


Argo olhou para sua direita. –Chanceler? Algum comentário?


Sirius ficou pensativo. –O gabinete do Chanceler, como sempre, não tem nenhum pronunciamento oficial sobre os negócios da DI. Pessoalmente, acho que todos vocês são malucos.


Todos sorriram. –Você só ficou afastado tempo demais, Sirius. – disse Isobel Hyde-White. –Enfiado na burocracia o dia todo, todo dia.


-Eu tenho uma pergunta – Sirius disse, se inclinando para frente. - Qual era o objetivo final aqui? Draco, o que te fez se lançar num ataque tão não-ortodoxo?


Draco pensou por um momento. –Quando soube do interesse de Allegra na passagem, já estava secretamente trabalhando contra ela há muito tempo. – Olhou para Harry. –Ela é obcecada por te derrotar, sabe. Não pode suportar o fato de uma vez, há muito tempo atrás, você ter feito ela sentir uma emoção verdadeira.


Harry ficou tenso. –Eu fiz?


Draco balançou a cabeça que sim. –Não fique orgulhoso, ela estava num período de transição. De qualquer modo, sabia que não poderia deixá-la aprender a usar a Passagem para destruir bruxos. Tinha que preparar algum plano muito mais agressivo contra ela do que eu ousava e sabia que teria que me expor como seu inimigo, então era melhor valer a pena. Sabia que pra ela você seria o único candidato à Passagem, então fazia sentido te usar para derrotá-la.


Harry olhou feio do outro lado da mesa. –Poderia ter pedido, sabe.


-Não podia correr o risco. Ela me vigiava de perto, precisava que continuasse a acreditar que era leal a ela, até o ponto que Quinn teve que fingir ser má também.


Todos ficaram quietos por um momento. –Certo – Harry disse baixo. –Agora a pergunta de um milhão de dólares. Quem é o mestre dela?


Draco suspirou. –Não sei. O segredo é guardado como as jóias da coroa. Já ouvi a voz dele, vi sua forma indistinta, mas não sei nada sobre ele... Nem mesmo se é um "ele".


Argo balançou a cabeça que sim, terminando a discussão. –Muito bem, Malfoy. Agora Harry, você sabe que não fiquei muito feliz quando você saiu numa jornada tipo Stallone – Harry fez uma careta. –Mas teve suas razões. Acho que podemos deixar passar. Apenas se comporte. Só porque é o Sr. Super-poderoso não é imune a uma ação disciplinar. –Harry concordou. –Terminamos?


-Mais uma coisa – Sirius disse. –Allegra. Ela se foi para sempre?


Todos os olhos se voltaram para Harry. –Não sei – ele disse. –Ela desapareceu depois que Hermione quebrou seu feitiço. Pode estar presa entre os tempos, ou pode estar morta. – Ele hesitou. –Só o tempo dirá.




A auditoria se dispersou com varias promessas e intenções de submeter relatórios escritos imediatamente. Argo e a maioria dos outros chefes de seção voltaram para seus escritórios. Laura estava esperando no saguão quando apareceram, ela ainda não tinha visto Sorry. Ele se apressou até ela, que pulou em seus braços... Já tinha passado um longo tempo desde que tinham se visto, eles foram até um canto para botar a conversa em dia.


Sirius e Remo foram para o escritório de Remo, aceitando o convite parar ir até Bailicroft no dia seguinte para um piquenique.


Harry e Hermione estavam no meio de um grande piso polido com Draco e Quinn. Por um tempo, ficaram num silêncio desconfortável. –Bem – Harry disse. –Ainda estou esperando pra ouvir como se transformou do garoto doninha para a perfeição da honra e masculinidade que vemos diante dos nossos olhos hoje, Draco.


-Não me rotule, Potter – falou ríspido. Quinn colocou uma mão apaziguadora sobre seu braço e ele respirou fundo. –Desculpe – ele disse de má vontade. –Mas ainda não gosto de você, Potter. Acho que nunca vou gostar.


-Draco, por favor – Quinn sussurrou. –Você prometeu.


O rosto dele se suavizou quando olhou para ela. –Você está certa, eu prometi. – olhou pra Harry novamente. –Então quer saber o que aconteceu, hã? Mas preciso de um drinque. Podemos ir a algum lugar?


Alguns minutos depois aparataram fora de Hogsmeade e se instalaram no Três vassouras com cervejas amanteigadas, os quatro sentaram numa mesa perto do canto. –Certo – Draco disse. –O que Allegra disse sobre ter fingindo minha morte foi verdade. Queria fazer um trabalho disfarçado pra ela e ela estava praticamente babando com a idéia de ter um espiãozinho top secreto disfarçado por um glamour. Fiz esse trabalho por muito tempo, espiando tudo e todos, mesmo membros do Círculo. E então um dia ela me pediu pra fazer um trabalho nos EUA com uma bruxa na América que é telepata. Allegra estava interessada nela por motivos óbvios. Trabalhei pra entrar na vida dela, disfarçado como uma vizinha amigável, mas ela me sentiu e um dia tentou fugir de mim. Fiquei com tanta raiva que a persegui e a segurei. Fiquei maluco de raiva, era como a junção de cada sensação de raiva que tive desde criança. Teria matado-a a sangue frio, só que ela segurou meu rosto e de repente pude sentir a mente dela dentro da minha. Não sei como fez isso, mas me vi como ela me via... Um monstro, um lamento terrível de um ser humano. Fiquei bastante abalado. Fugi para um bosque lá perto.


Fiquei por lá durante um dia mais ou menos depois voltei. Allegra mandou meu pai e outro bruxo do Circulo para seguir essa mulher e sua filhinha. Por algum motivo não entrei, não disse a eles que estava ali... Fiquei olhando da janela de fora. Vi quando meu pai quebrou o pescoço daquela garotinha na frente da mãe. Fiquei tão horrorizado que vomitei bem ali onde estava. Eles arrastaram a mulher pra fora e pulei neles. Nunca descobriram que fui eu. A mulher escapou e fugi de novo, de volta ao bosque. Dessa vez fique lá.


Quinn entrou na conversa. –Na época eu estava morando naquela área. Estava dando uma volta quando vi um homem deitado no chão. Ele estava magro, desidratado, cortado e machucado por todo corpo. Mal estava vivo. Levei-o pra casa e tratei dele. Pouco a pouco ele me contou sua história e percebi que já tinha ouvido falar dele... Por você, Harry. Estava claro pra mim que ele tinha passado por um evento que muda uma vida, então o ajudei a pegar o jeito para se tornar o que queria ser.


Hermione sorriu para ela. –E se apaixonou por ele.


-Sim, me apaixonei pelo homem que ele tentava ser, e pelo homem que se tornou.


-Decidi que queria voltar pra Allegra – Draco continuou. –E trabalhar contra ela de dentro. Sabia que era perigoso e Deus sabe que não queria me separar de Quinn, por quem tinha me apaixonado na mesma intensidade, mas era o único jeito. Como consegui enganá-la por tanto tempo, nunca vou saber. O resto, como dizem, é história.


Harry sorria. –Estou feliz, Draco. Nunca te disse isso, mas... Sempre suspeitei que lá no fundo você tivesse uma ponta de bem.


-Como pode dizer isso depois de tudo que fiz com você?


-Brigas de criança. Tudo esquecido.


Draco olhou para Hermione. –E eu sei que nunca vou te recompensar por... Geraldo. Realmente lamento. Foi o que Allegra quis que eu fizesse, tinha que acatar. Me desculpe. – ele parecia sincero.


Hermione engoliu seco. –Vou tentar esquecer. Gostava de Geraldo. De certa forma é quase como se você o tivesse matado.


-Nunca o conheceu, Hermione. Foi quase como se eu tivesse dupla personalidade um tempo. Não era Draco de verdade quando colocava o feitiço galmour. Eu me tornava Geraldo.


Harry suspirou. –Bem, fico feliz que esteja do nosso lado. O que vai fazer?


-Sirius me ofereceu um trabalho na Federação. Acho que vou aceitá-lo.


-Bom – Ele encarou Draco nos olhos. –Talvez nunca sejamos amigos, Draco. Hermione pode conseguir te perdoar por ter um relacionamento íntimo com ela com falsas intenções, mas não tenho certeza se posso. Pode fazer o que quiser comigo e não vou guardar mágoas por isso, mas magoou a mulher que amo, e isso não é algo que eu possa perdoar facilmente.


-Entendo.


-Mas espero que possamos ser no mínimo civilizados e talvez trabalhar juntos. Nós dois podemos conhecer Allegra mais do que qualquer pessoa viva. Isso é razão suficiente pra co-existirmos pacificamente.


-Acha que ela ainda está viva, então?


Harry balançou a cabeça. –Não tenho como saber. Mas... Não acho que ela tenha desaparecido para sempre. Seria fácil demais. Venho lutando a mesma luta desde os onze anos, e há somente um fato duro e imutável que aprendi durante esse tempo.


-E qual é?


-O mal nunca morre.




Draco e Quinn foram embora, prometendo que iriam a Bailicroft no dia seguinte para o planejado piquenique. Harry e Hermione ficaram do lado de fora do três vassouras e olharam para as estrelas. –Podemos ir pra casa agora? – Hermione disse. –Estou tão cansada que mal me agüento de pé.


-Sim, vamos para casa. – Deram-se as mãos e andaram pela estrada por alguns minutos. Hogsmeade, como Hogwarts, estava protegida de Aparatações, teriam que andar até a borda da cidade para ir para casa.


-Estou tão feliz que acabou – ela disse finalmente. Ele não respondeu. –Só que... Não acabou, não é mesmo? Não de verdade.


-Nunca acaba. Mas existem... Pausas. Oportunidades pra recuperar o fôlego.


-Sabe, não tivemos muito tempo pra ficar juntos durante nossas vidas normais. Foi tudo sem parar desde aquela noite.


-Acha que faria diferença?


-Claro. É fácil estar apaixonado quando pessoas tentam te matar e tudo é vida ou morte. Não é tão fácil quando a rotina diária te desanima e há pratos pra lavar e não consegue encontrar seu livro preferido e o chefe está te irritando.


-Ah, eu acho que temos uma chance maior que a maioria.


-Por quê?


Ele parou e virou para encará-la. –Porque somos nós. – ele disse. –Simplesmente não posso conceber que conseguimos ficar tanto tempo junto e finalmente nos apaixonarmos pra depois acabar.


Ela sorriu. –Nem eu.


-Então acho que estamos amarrados um no outro.


-Aparentemente.


Voltaram a andar. –Consigo imaginar coisas piores.


-Posso imaginar em algumas vantagens de ter um namorado Mage.


-Há vantagens em ser um – ele disse. –Como isso – colocou o braço ao redor da cintura dela e puxou os dela para seu ombro. –Segure.


-O que... ohhhh! – ela exclamou enquanto ele levantava do chão. Ela apertou o braço em volta do pescoço dele, os dedos se enfiando na carne.


-Calma! – ele disse sorrindo. –Não vou te soltar! – ele zumbiu pelo céu. –Isso é muito mais divertido que aparatar.


O vento passava pelos cabelos de Hermione e ela começou a relaxar... Ele a segurava com mais do que apenas os braços, notou. Ela se sentia leve sob o céu iluminado pela lua. Continuaram a voar para casa, pra qualquer incerteza que os esperasse.

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