Capítulo 09 : O dia seguinte



Quando Hermione entrou na cozinha, vestida e refrescada pelo banho, encontrou três dos moradores da casa lá, passando um prato de waffles na mesa. Laura levantou os olhos e deu um sorriso radiante para ela. Hermione adiantou o passo e lhe deu um abraço. -Você está bem? - exclamou, se enchendo de culpa por ter se esquecido da situação de Laura devido sua distração na noite anterior. -Lamento não ter te visto logo quando voltou...


-Estou completamente bem, não se preocupe. Esses daí se preocuparam mais que o suficiente por todos dessa casa. Café?


-Por favor - Hermione disse, sentando ao lado de Justino e aceitando uma xícara de Jorge.


-Eu também - disse Harry entrando na cozinha, o rosto e a camisa molhados de suor. -Força máxima. - Sentou à esquerda de Hermione. Nenhum dos dois notou o olhar maroto que os outros três trocaram quando ele entrou.


-Pode passar a manteiga? - Hermione perguntou.


Laura pegou a manteiga e segurou pra ela. -Aqui está querida. Quer um pouco de marmelada? Ou talvez um pouco de sexo com Harry? - ela disse, casualmente, como se estivesse oferecendo o molho de maçã.


Hermione e Harry pularam como se tivessem sido eletrocutados nos assentos de suas cadeiras. Justino e Jorge tiveram um ataque de risadas, mas Laura apenas deu um doce sorriso pras expressões constrangidas dos dois.


-O que... Que, o que foi isso? - Hermione gaguejou. Harry apenas ficou sentado, uma mão tapando a boca, parecendo que ele próprio mal conseguia segurar a risada.


-Ah, sai dessa, amor. Não devia deixar as janelas abertas se quisesse ter um encontro secreto... Ouvimos tudo. Parecia que os dois estavam prontos pra tentar um papel no "Reino Selvagem".


-Do que está falando? - Hermione insistiu, sua orelhar ficando vermelhas.


Laura limpou a garganta e sentou reta na cadeira, deixando a voz bem aguda, fazendo uma imitação exata do que ela e os outros ouviram na noite anterior. Hermione ficou roxa e jogou um pãozinho na amiga pra que se calasse. Harry tremia todo por estar segurando as risadas.


-Bem - Hermione gaguejou. -Eu posso explicar. Entenda, eu estava... hã... estava...


Harry fez que não com a cabeça pra ela, sorrindo. -Querida, não acho que possa sair dessa.


-Não, não, deixe que termine! - Laura disse. -Se ela conseguir arrumar uma explicação completamente inocente do porque estava em seu quarto ontem, gemendo e gritando na agonia do êxtase então eu mal posso esperar pra ouvir.


Hermione deu um gemido de frustração. -Ah, para com isso. - ela suspirou. Harry colocou um braço ao redor dela e beijou sua têmpora enquanto os outros aplaudiam. Hermione olhou pra eles constrangida, ousando sorrir.


-Ah, que romântico - Laura suspirou. -Um momento quase perfeito.


-Não é completamente perfeito?


-Só queria que Cho estivesse aqui pra ver. - Todos riram novamente, os pensamentos sobre Allegra e as forças das trevas distantes. -Agora - Laura continuou. -Como querem lidar com isso? Vão anunciar? Podíamos mandar corujas pra todos...


-Não! - Harry e Hermione disseram simultaneamente. Hermione olhou pra Harry, surpresa... ela não queria dizer a todos, mas pensava que ele queria. Podia ver pela expressão dele que estava pensando a mesma coisa. Os olhos de Laura iam de um para o outro. -Vamos manter só aqui na casa por enquanto - Hermione continuou, forçando um sorriso. Podia ver Harry remexendo desconfortável ao lado dela. Laura, sentindo o desconforto, deixou o assunto pra lá e começou a falar da posição das estrelas que tinha observado na noite anterior. Hermione olhava pra seus waffles, fingindo estar ocupada demais comendo pra olhar pra qualquer um. O bom humor de trinta segundos atrás tinha desaparecido tão rápido quanto surgira... Justino e Jorge comiam num silêncio tenso enquanto Laura continuava tagarelando.


Todos deram um pulo quando a porta da frente bateu. -Cheguei! - falou uma voz animada. Cho entrou na cozinha. -Ei, waffles!


-O que está fazendo aqui? - Jorge perguntou surpreso.


-Consegui uns dias de folga e estava com saudades de meus amigos. - Sentou na cadeira ao lado de Justino. -Estou morrendo por um café decente. - Olhou a sua volta pras caras de espanto. -O que foi? Vocês todos parecem meio perdidos! O que está acontecendo?


Laura se aproximou de Hermione. -Por favor, eu te imploro... Eu posso dizer a ela?




Hermione estava em sua mesa, aparentemente trabalhando num artigo de sua co-autoria, mas não conseguia se concentrar. Não via Harry desde o café da manhã e não conseguia parar de pensar nele. Metade dela queria apenas pegá-lo e sacudi-lo até que dissesse o que passava por sua cabeça... A outra metade queria apenas pegá-lo e rasgar suas roupas.


Como se seus pensamentos o tivessem chamado, a porta abriu e ele entrou. -Ocupada?


-Não muito - ela abaixou a pena e ele sentou na cadeira na frente da mesa dela. Por um momento não disseram nada.


-Recebi uma coruja de Sorry hoje de manhã. Ele está bem, seu disfarce continua intacto. Quanto ao ataque da noite passada, suspeito que Allegra tenha algum informante em Hogsmeade que tenha nos visto e disse a ela onde estávamos.


Ela concordou. -Isso faz sentido. Fico feliz que Sorry esteja bem.


Harry ficou olhando os dedos. -Vamos conversar sobre o que aconteceu no café, ou vamos apenas fingir que não importa?


Ela deu os ombros, pegando a pena. -Se não quer dizer a ninguém, por mim tudo bem.


-Você também não queria dizer a ninguém!


-Não, mas pensei que você ia querer!


-E eu pensei que você ia!


-Isso está ficando ridículo.


-Muito. - ele olhou pra ela. -Está com vergonha?


-Claro que não! É só que... quero manter só na casa, certo? Não pense muito sobre isso.


Harry mordeu o lábio. -Isso é por causa de Rony? - disse com cuidado.


Hermione levantou, balançando a cabeça como se estivesse esperando isso. -Sabia que isso estava te remoendo.


Ele levantou também, começando a andar de um lado pra outro. -Hermione... você acha que vai chegar um dia em que vai ser apenas nós dois? Sem o fantasma de Rony nos seguindo a cada passo? - ele parou e a olhou nos olhos. -E se ele ainda estivesse vivo?


A garganta dela resolveu trabalhar. -Não sei.


Ele se encolheu um pouco. -Acho que está com medo de dizer a todos porque vão pensar que está traindo Rony!


-Não tive problema nenhum pra contar a Jorge!


-Não teve escolha, ele mora lá! Pelo menos eu tenho um bom motivo pra manter em segredo!


-E qual seria?


-Sabe a resposta. Se a notícia que estamos envolvidos se espalhar podemos pintar logo um alvo em sua testa.


Ela balançou a cabeça, surpresa. -Essa é a pior besteira que já ouvi. Você está tão confuso quanto eu, essa é só uma desculpa conveniente! E como posso desafiar isso? Está apenas tentando me proteger, certo? Não há nada de mal nisso!


-Se esta não é a razão, então qual é? - as vozes deles começavam a aumentar gradativamente durante essa conversa e agora estavam praticamente gritando.


-Eu não sei, me diga você! Talvez você ache que estamos traindo Rony!


-Foi você quem namorou ele!


-Talvez ache que sou um peso.


Ele a olhou de queixo caído. -Por que eu acharia que você é um peso?


-Porque você prefere estar atuando como um herói, caçando Allegra e Voldemort e eu impeço que faça isso!


Harry não teve chance de responder a isso, porque neste instante a porta do escritório bateu. Os dois viraram de queixo caído de surpresa.


-O que raios está acontecendo aqui? - Gina disse, as mãos na cintura e uma expressão severa no rosto.


Hermione apenas ficou olhando. -Gina! - ela estava surpresa, mas feliz, por ver a velha amiga... Mas se perguntava porque ela estava ali.


Gina Weasley era amiga de todos na casa, e de Harry e Hermione em especial. Ela quase entrara com eles na compra de Bailicroft, mas encontrou um apartamento adorável pra si em Londres. Ela era fundadora e editora-chefe da revista Circe, um diário pra bruxa moderna que possuía artigos elaborados sobre feminismo, o papel da bruxaria na sociedade, os desafios da bruxa moderna, saúde e comportamento da mulher e uma variedade de outros tópicos, incluindo coisas mais de garota como dicas de moda e conselhos em relacionamentos. Em seus quatro anos de existência, a revista alcançara uma circulação de 50000 assinantes mundialmente, um número muito grande pro mundo da magia. Gina era uma pessoa completamente sofisticada... inteligente, firme e independente. Da garotinha tímida que fora ela cresceu em uma mulher alta, glamourosa e linda de fazer parar corações, que não aceitava besteira de ninguém... E usava muitos acessórios.


Quando ela e Harry finalmente namoraram, já eram amigos há vários anos. Ficaram juntos quase que por obrigação, descobrindo que iam ter que ter um relacionamento romântico mais cedo ou mais tarde, resolveram passar logo por isso. Duraram quase um ano, pra surpresa de Hermione... eles realmente eram melhor como amigos do que qualquer outra coisa.


E agora aqui estava ela, vestida elegantemente com um tailler de saia curta e um sapato de salto baixo, parecendo pronta pra passar por uma boa conversa. -O que está fazendo aqui, Gina? - Harry disse.


-Jorge mandou uma coruja. Ele me contou de vocês dois e disse que estava preocupado de vocês estarem "pensando demais" nas palavras dele, e achou que eu era a melhor pessoa pra consertar vocês. - Harry e Hermione trocaram um olhar tímido. -Sentem vocês dois. - eles sentaram lado ao lado num dos sofás de couro. -Agora, se dêem as mãos. - os dois franziram a testa, confusos. -Vamos lá, façam o que disse. Segurem as mãos! - Harry de ombros e segurou a mão de Hermione. Hermione achava que sabia o que Gina estava armando. Já se sentia menos hostil só por ter os dedos dele entre os dela. -Bom. Agora. Por que estavam discutindo?


-Bem - Hermione disse. -Nenhum de nós dois queria contar a ninguém sobre nosso novo relacionamento.


Gina acenou com a cabeça. -E isso é um problema porque os dois estão imaginando qual o motivo nefasto do outro pra querer manter em segredo, certo? Foi o que pensei. - ela olhou pra Harry. -Certo, Harry. Quero que me diga o que sentiu depois do que aconteceu ontem.


Harry olhou pra Hermione e depois pra Gina. -Senti... bem, estava muito feliz. - ele virou pra encarar Hermione. -Achei uma parte de mim mesmo que sentia falta desde que nasci, me senti completo. - Hermione sorriu.


-E você, Hermione?


Ela pensou por um momento. -Foi apenas... um complemento. O complemento de algo que começou anos atrás. Foi como... - ela sentiu um nó subindo a garganta. -como ser solta de uma prisão onde não sabia que estava presa. - Harry apertou os dedos dela.


-Certo. E os dois se sentem culpados por trair Rony. Não, não pareçam surpresos, está escrito na testa de vocês. Se não acertarem isso, vai ficar no caminho de vocês. - Ela se inclinou pra frente e os encarou com um olhar sério. -Agora, vocês não podem ir até Rony pedir sua permissão, mas eu sou a irmã dele e vou ter que ser suficiente. Sabem que o Rony diria se estivesse aqui?


-O que? - Hermione perguntou.


-Ele diria que já estava na hora.- ela deu um pequeno aceno, um gesto que lembrava o de Rony. -Ele lhes daria um abraço e te desejariam boa sorte e diria que se perguntava quanto tempo iam demorar.


-Mas se ele ainda estivesse vivo... e se eu ainda estivesse com ele? - Hermione disse.


-Acha que seria assim que as coisas aconteceriam?


Hermione abaixou os olhos pros dedos enlançados deles. -Não - disse suavemente, depois de uma longa pausa. - Eu não sei.


-Bem, isso é algo sobre o que talvez queira pensar. Mas vocês dois parecem felizes. Não deixem que preocupações com o que um homem morto pensaria os detenha. Ele amava vocês dois e queria ver vocês felizes. Não ia querer que lamentassem pra sempre, mas ficaria bastante chateado se pensasse que a memória dele ia ficar entre vocês. - Hermione concordou, sentindo-se muito melhor. Gina sorriu. -Agora... se beijem e façam as pazes.


Harry colocou um dedo sob o queixo de Hermione e levantou seu rosto. Ela se inclinou pra frente e o beijou, deixando sua mão repousar sobre a perna dele. Gina levantou, parecendo satisfeita consigo mesma. Nenhum dos dois notou, estavam muito concentrados um no outro. -Acho que meu trabalho aqui acabou. - Gina disse, e saiu.




O resto da tarde passou sem mais incidentes. Depois que Gina saiu, Harry e Hermione desapareceram no Cloister por mais ou menos uma hora (com as janelas fechadas dessa vez) e quando reapareceram, tiveram que aturar as piadinhas e gestos de seus amigos. Hermione observou Cho cuidadosamente, esperando sinais de malicia, mas não viu nenhum. Pareceu surpresa com os novos acontecimentos, mas até agora não tinha feito nenhum comentário irônico que eram suas especialidade.


Harry ficou quieto por boa parte do início da noite, contente por poder ficar sentado na varanda, vendo seus amigos conversarem. No jantar, anunciou que teria que ir na DI naquela noite.


-É seguro? - Jorge perguntou.


-Não estarei em perigo. Preciso ver como está Lupin e mandar algumas corujas - ele disse, dando um olhar significativo para Hermione. Tinham chegado a um acordo mútuo de não contar a Laura das atividades de Sorry relacionadas com o Circulo. Qualquer informação que tivesse poderia colocá-la num perigo maior, e deixá-la preocupada quando não poderia fazer nada não ia trazer bem algum. Hermione estava preocupada por Harry estar saindo da casa, mas ele estava certo, havia coisas que precisavam ser feitas. -E eu tenho que fazer umas mil coisas pra localizar Allegra e distribuir meus agentes.


Então depois que os pratos foram lavados, ela o levou até a porta... ele teria que caminhar até a entrada da pista antes que pudesse Aparatar, por causa das proteções que guardavam a casa. Saíram na varanda e fecharam a porta atrás deles. -Quando vai voltar? - ela perguntou.


-Ah, mais tarde hoje, acho. Não espere acordada. - ele não olhou pra ela enquanto dizia isso.


-Não vou, mas... quando chegar, me procure e me acorde.


-Certo - ele ficou calado. Hermione colocou as mãos nos bolsos e deu de ombros.


-Nada horrível aconteceu o dia inteiro, isso é encorajador.


-Esse foi apenas o primeiro round, infelizmente. Quero evitar o segundo round se puder. - virou pra ela e tomou suas mãos entre as dele. -Tome cuidado. Fique atenta.


-Vou ficar. - largou as mãos dele e o abraçou, feliz por sentir os braços dele enlaçá-la de vez e apertá-la com força. Ficaram assim por alguns instantes, se abraçando, depois Harry se afastou e segurou o rosto dela entre as mãos.


-Tchau - ele disse. Ela concordou, se perguntando se ele sabia que não estava conseguindo enganá-la. Ele a beijou. -Te vejo em breve.


Ela acenou a cabeça enquanto ele se afastava e caminhava pela pista. Ficou olhando pra ele até que fez uma curva e sumiu de vista, depois entrou na casa e começou a procurar.


Encontrou o bilhete bem onde esperava, no travesseiro de sua cama. Ela o pegou e rasgou o selo com uma unha, desdobrando a folha de papel pesado.


Hermione,


Quando ler isso, já terei ido... E não apenas pro quartel general da DI. Não podia te dizer que estava indo embora porque sabia que não conseguiria manter minha decisão e é muito importante que eu a mantenha. Preciso encontrar Allegra e Voldemort antes que ataquem novamente, e antes que descubram que o jeito mais rápido de me destruir é te machucando. No momento que perceberem o quanto você é importante pra mim, sua vida vai estar em risco. Não posso permitir que isso aconteça. Só estão machucando pessoas pra me atrair... Parece que funcionou.


Retornarei quando os tiver derrotado, mas isso pode levar muito tempo... E existe a possibilidade que nunca retorne. Se tiver que morrer lutando contra ele, então vai valer a pena, enquanto souber que estará a salvo.


Esses últimos dias fora estranhos pra nós, Hermione. Poderíamos passar o resto de nossas vidas tentando descobrir o que significa, e espero que tenhamos essa chance. Depois de tudo o que passamos tenho que acreditar que não vai terminar agora, bem na hora que temos a chance real de felicidade. Se conseguir voltar depois que tudo estiver acabado, não pedirei mais nada na vida. Por favor, acredite que é muito difícil pra mim te deixar... Sei que vai ficar com raiva. Espero que tenha me perdoado quando eu voltar.


Só quero dizer que sou todo seu... Mas pensando bem, você já sabe disso.


Harry


Laura, Cho, Justino e Jorge ficaram olhando pra ela descrentes enquanto ela dava um resumo dessa carta na mesa da cozinha. -Então é isso? - Laura exclamou. -Ele apenas foi embora?


Hermione fez que sim. -Sim, ele apenas foi.


Cho arqueou uma sobrancelha. -Não acredito no quanto está calma. É quase como se não ligasse! - diria mais, mas o olhar mortal que Hermione disparava pra ela a silenciou de vez.


-Te garanto que ligo muito. Mas está certa, estou calma. Provavelmente porque já esperava isso.


-Já? - Jorge perguntou.


-Harry pode ter pensado que me enganou, mas ele subestima o quanto o conheço. Ele não conseguiria ficar aqui sem fazer nada enquanto achasse que as pessoas dessa casa estão em perigo. A recente mudança no meu relacionamento com ele só serve pra intensificar suas tendências a um martírio heróico. Essa fuga não é surpresa para mim. Dá pra dizer que já esperava por isso.


-Surpresa ou não, achei que ficaria chateada por não saber onde ele está.


-E você está certo, Justino. Só que sei de uma coisa que nosso Sr. Potter não sabe.


-O que?


-Que na hora que me despedi dele coloquei nele um pequeno talismã de ligação com o lar. Não importa onde ele foi, vou encontrá-lo. Se ele acha que ficarei sentada aqui em casa, lamentando por ele, está redondamente enganado. - ela balançou a cabeça decidida, largou o bilhete de Harry na mesa da cozinha e saiu determinada da cozinha para o saguão de entrada. Laura a seguiu.


-Vai ter trabalho pra apontar a localização dele - ela disse, se apressando pra acompanhar as passadas largas de Hermione enquanto ia pro escritório.


-Sei disso.


-Quanto mais longe ele for, mais difícil pra ler os sinais.


-Sei disso também.


-Se ele encontrar o talismã, vai poder desativá-lo em uns cinco segundos.


-Tem alguma sugestão útil, Laura? - Hermione falou irritada, se ajeitando atrás de uma das largas mesas no escritório e abrindo o livro de anastronometria.


Laura parou em frente à mesa, as mãos na cintura. -Só que duas cabeças pensam melhor que uma.


-Quatro cabeças - Justino disse, ele e Jorge ficando ao lado de Laura. Hermione sorriu.


-Cinco - Todos ficaram olhando enquanto Cho entrava, indo direto pra sua mesa. -Vamos começar.


Mais tarde na mesma noite, todos moradores da casa tinham armado um acampamento no gazebo do segundo andar com os telescópios de Laura. Cho olhava por um deles e recitava o alinhamento dos planetas pra que Justino anotasse. Jorge tinha uma pilha de livros a seu lado e os folheava procurando maneiras alternativas de detectar um talismã com ligação ao lar. Hermione estava no corrimão com a varinha em mãos. De vez em quando ela a levantava e enviava um raio de luz... Laura observava o raio por seus binóculos, esperando algum reflexo que indicasse a direção do talismã. Até agora, nada.


Cho se afastou do telescópio. -Isso é tudo, até que a lua nasça. - ela sentou no banco que dava a volta no andar superior. Todos estavam em silêncio. Ninguém queria admitir, mas as esperanças estavam diminuindo. A cada minuto que passava, ficava mais e mais difícil localizar Harry. -Talvez devesse deixar que ele fizesse o que precisa, sozinho. - ela disse baixinho.


Hermione nem se preocupou em virar. -Nem pensar.


-Por que? - Cho disse, levantando. -O que pode fazer pra ajudar? Ele é profissional! Você é... Desculpe, mas é apenas uma cdf, Hermione. Tudo o que vai fazer é se matar e provavelmente matar ele também!


Depois disso, Hermione abaixou a varinha e virou pra Cho. -O que mais posso fazer? Ficar aqui e enlouquecer?


-Melhor doida que morta!


-Posso me cuidar.


-Você não, ele! Você sabe que ele morreria pra ter proteger, e se for atrás dele, ele vai acabar tendo que fazer isso mesmo! - ela gritou.


Hermione a encarou. -E você não pode suportar isso, não é? Que ele morreria pra me proteger? Está te matando que não é você que ele está lá tentando salvar!


-Bem, e quem disse que não é? Ele tentaria salvar a vida de qualquer inocente e você sabe muito bem disso. Não acharia que é muita coisa se fosse você.


O queixo de Hermione caiu. -Do que está falando?


Cho se aproximou, seus olhos brilhando. -Não há motivos pra você sair correndo atrás dele e acabar matando vocês dois só porque finalmente conseguiu ir pra cama com ele!


Laura engasgou e desviou o olhar. Justino apenas ficou olhando, de boca aberta, enquanto Jorge balançava a cabeça, uma mão cobrindo os olhos. Hermione parecia tão furiosa que tinha ficado gelidamente calma. Avançou um passo e deu um tapa na cara de Cho, forte. Não disse mais nada, apenas foi calmamente até as escadas e entrou em casa. Cho começou a sair também, mas Laura a segurou pelo braço e impediu. -Ah não, você não vai. - ela disse. -Vai sentar e nos ajudar a encontrá-lo pra ela. E se disser mais uma palavra, então Deus me perdoe, mas vou fazer esse tapa parecer um beijinho amigável na bochecha.




Hermione estava sentada na mesa do escritório, olhando para um livro, mas não estava lendo. A voz de Cho ecoava em sua mente como um disco arranhado... finalmente conseguiu ir pra cama com ele, finalmente conseguiu ir pra cama com ele. Era isso que Cho pensava que ela estava fazendo todos esses anos? Tentando fazer com que ele... bem, fosse pra cama com ela? Era ultrajante e completamente mentira.


Uma batida na porta. Esperando que fosse Laura, Hermione disse: -Entre! - mas não era Laura. O olhar de Hermione endureceu. -Realmente não estou interessada em nada que vá dizer, Cho. - ela disse, voltando a olhar o livro.


Cho parou em frente à mesa de Hermione. Ela realmente parecia arrependida. -Não posso me desculpar?


-Não sei, pode?


-Eu me excedi - Hermione levantou a cabeça devagar e olhou pra ela. -Certo, eu me excedi completamente. - suspirou e sentou numa cadeira na frente da mesa. -O fato é que... Você não estava atrás dele, eu estava. E ainda assim, é você quem vai pra cama com ele.


Hermione revirou os olhos. -Você tem que usar esse termo?


-Desculpe. Acho que sou uma pessoa amarga e rancorosa.


Hermione deu um risinho, surpresa por ouvir isso vindo da sua boca. -Ah sim, você é uma mulher muito, muito amarga.


Cho riu, balançando a cabeça. -Não era pra acontecer assim, veja você. Os homens se apaixonam por mim, sempre.


-Nem sempre, pelo que parece. - Ela não resistiu.


Cho concordou com a cabeça. -E eu quase ia te agradecendo por não jogar na cara. - ela mordeu o lábio e desviou o olhar. -Realmente pensei que um dia... - ela parou. -Ainda o amo.


Hermione de repente se sentiu muito triste por ela, ao perceber que realmente acreditava nisso. -Não Cho, não ama. Você ama a idéia dele, só isso. Nunca foi ele.


Ela esperava um protesto raivoso, mas Cho apenas olhou pensativa para ela. -Acho que está certa. Mesmo assim, incomoda um pouco. - ela levantou e tirou algo do bolso. Era uma bússola.


-O que é isso?


-Eu o encontrei. - disse simplesmente. Hermione pulou.


-O quê!


-Encontrei o feitiço certo pra detectar o talismã. Encantei essa bússola com o feitiço, deve te levar diretamente até ele.


Hermione deu a volta na mesa rapidamente e pegou a bússola. -Ah, eu poderia te beijar - ela disse. -Mas não vou - completou rapidamente.


Cho sorriu. -Vá. Vá e o encontre, e depois não o perca de vista novamente.


-Não pretendo - se apressou até a porta, mas a voz de Cho a interrompeu.


-Hermione?


Ela virou. -Sim?


-Hã, quando você voltar, acha que podemos... - limpou a garganta. -podemos sentar e conversar um pouco?


Hermione sorriu. -Vou gostar de fazer isso.


Cho a empurrou de volta pra porta. -Então vá, sai daqui. Melhor se apressar.


Hermione saiu do escritório e correu pelo corredor, pendurando a bússola na corrente ao redor de seu pescoço. Nunca achei que diria isso, ela pensou, mas Deus abençoe Cho.

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