Capítulo 4: Friends in Low Pla



Depois do fim de semana cheio de ação, vários dias se passaram sem nenhum incidente. Harry, que tinha planejado ficar longe por no mínimo uma semana, voltou pra casa depois da insistência de Hermione que suas defesas estavam baixas e que ele precisava descansar por uns dias. Jorge voltou de sua viagem de compras e ele e Laura se sentaram e souberam de tudo... Os dois disseram que suspeitavam o tempo todo, mas mesmo assim, submeteram o pobre Harry a um interrogatório durante horas. Harry enviou Edwiges com um bilhete para Cho, atualizando-a... Hermione suspeitava que ele também fizera referencia a um bate-papo que planejava ter com ela sobre como ela descobrira, sem falar no que deu nela pra que revelasse informação confidencial.


Hermione voltou ao trabalho, apesar de seu escritório parecer ainda menor e mais entulhado que antes. Agora que admitira em voz alta, o desgosto por seu trabalho atingia o ponto máximo e ela desenvolvera "tolerância zero" a qualquer coisa relacionada a ele. Via-se contando as horas que faltavam pra ir embora. Na quarta já inventava desculpas pra poder voltar mais cedo pra casa.


O único sorriso a enfeitar seu rosto durante o dia todo apareceu enquanto ela dirigia através da grade do longo passeio que levava a sua casa... Formando um arco acima do portão havia um aviso de metal com o nome que os seis ocupantes deram a seu lar: Balicroft. Ela estacionou sua Mercedes (um presente que dera a si mesma quando foi promovida) entre o volkswagen de Laura e o jipe de Harry e subiu correndo as escadas para porta.


A primeira coisa que ouviu ao entrar na casa foi o som de música e o barulho de pessoas rindo. Seguiu o som até o grande salão de dança que tomava a maior parte dos dois primeiros andares da ala oeste... Era um salão grande e elegante que não tinham muito com o que usar. O chão de taco polido estava descoberto, as oito portas francesas que davam na varanda oeste estavam escondidas por cortinas e os poucos móveis que ainda estavam ao redor do salão eram apenas volumes sem forma sob os lençóis empoeirados. Atravessou a porta dupla e encontrou Justino, Laura e Jorge lá dentro. Jorge estava sentado perto de um rádio olhando, enquanto Justino e Laura dançavam, parecendo estar numa estranha versão de um grande ataque em parceria. Hermione colocou sua pasta no chão e sorriu. -Então, o que é isso tudo?


Jorge deu um pulo, animado. -Nossa, aqui está justamente a pessoa que precisávamos.


Justino largou a mão de Laura. -Estamos tentando aprender a dançar swing.


Hermione riu. -Como? Por tentativa e erro?


Jorge balançou a mão para eles impacientemente. -Não precisam mais fazer isso, crianças. Hermione pode nos mostrar o que é o quê.


Laura riu. -Ah, claro! Ela não sabe dançar!


Jorge apontou pra ela. -Mostre o quanto você sabe, srta. Sabichona. Acontece que nossa Hermione era a musa do circuito do swing antigamente. Ela e Harry realmente abalavam as estruturas. De onde você acha que vieram esses cds que estávamos tocando- Hermione ficou escarlate quando Laura levantou as sobrancelhas.


-Coloque o outro então! Quando foi isso mesmo?


Jorge estava à vontade, contando casos de seus amigos a seus companheiros de casa que nada suspeitavam. -Quando eles moravam em Londres. As coisas estavam bem difíceis... Todo o dinheiro de Harry estava investido e Hermione era apenas uma universitária. Não tinham dinheiro nem pra uma televisão. Estavam longe da maioria dos amigos e não tinham muito o que fazer, então começaram a tomar aulas de swing.


Laura deu uma cotovelada em Hermione, que tinha se juntado ao grupo. -Ele tá tirando onda com minha cara?


-Infelizmente, não. Ele tem razão, realmente não havia nada pra fazer, então começamos a ir a clubes de swing... Em parte porque gostávamos da música e porque eram os únicos lugares onde conseguíamos drinques batidos decentes. Enfim, ficávamos olhando os dançarinos... Muitos deles eram muito bons. Parecia divertido, então tentamos. Depois de algumas semanas, começamos a ter aulas. Acho que nós dois gostávamos de ter algo em comum com as outras pessoas. Íamos quase toda noite a um dos clubes; não demorou muito pra que ficássemos muito bons.


Jorge se intrometeu. - "Muito bom" é um pouco de eufemismo. Estava de visita uma vez e fui pro clube com eles... Estou dizendo, foi a coisa mais louca que vi. Eles passam pela porta e tudo pára, todo mundo grita o nome deles. Eles botam os pés na pista de dança e todos param de dançar, abrem um círculo em volta e apenas olham. Não conseguia acreditar no que via. Parecia coisa de filme. Nossa Hermione com sua saia rodada e Harry jogando-a pra todos os lados e eles fazendo todas aqueles passos difíceis e subidas e giros e eu lá sentado, desejando poder entrar e dançar daquele jeito porque parecia ser a coisa mais divertida do mundo.


Hermione balançou a cabeça, concordando. -Era divertido, e era maravilhoso ser boa em alguma coisa novamente... A maioria das vezes parecia como se o único propósito de se formar é se assegurar que nunca vai se sentir boa em nada novamente. Tinha uns oito ou nove clubes diferentes que visitávamos e íamos a um diferente toda noite. Ficamos bem conhecidos. Uma noite, um barman que conhecíamos disse que a gente devia entrar num concurso. A gente nem sabia que existiam concursos... Acabou que existia um circuito de concursos. Então pensamos, por que não?


-E ganharam algum- Laura perguntou.


-Se eles ganharam- Jorge exclamou. -Ela tem uma estante cheia de troféus lá em cima, você devia ver! Eles eram a realeza, parecia "Embalos de sábado à noite", sem os Bee Gees!


Hermione rolou os olhos. -Jorge está apenas exagerando.


-Não estou não! Teve uma banda de swing que queria que eles estrelassem o clipe deles!


Justino começou a rir. -Nossa, essa é novidade!


-Bem, nós recusamos - Hermione resmungou.


Laura apenas balançava a cabeça. -Não acredito que nunca soube disso. Por você nunca falou? Por que parou?


Hermione deu de ombros. -Paramos quando me formei e arrumei um trabalho de verdade, depois encontramos esse lugar... Não sei, parece alguma coisa com a qual costumávamos brincar, como snap explosivo. Eu também nunca falei sobre isso.


-Já chega de papo, vamos ao que interessa. Hermione, você vai ajudar esse pobre deficiente de ritmo?


Ela recuou um passo. -Ah, acho que não. Harry sempre era melhor nisso que eu.


-Mas você é melhor professora. Harry não tem paciência. - Jorge disse - Ele tentou me ensinar umas vezes e acabei me sentindo a pessoa mais sem coordenação do mundo. Vamos lá Só o básico.


-Já faz muito tempo. Eu não lembro.


-Ah, mentirosa- entrou uma nova voz. Viraram e encontraram Harry apoiado na porta. Ele avançou e ficou ao lado de Hermione. -Claro que se lembra.


Jorge deu um sorriso cínico. -Olhem se não é o Potter... Harry Potter.


Harry olhou pra ele. Hermione ainda protestava contra a dança de swing. -Não, verdade, já faz anos...


-Só alguns. Você vai lembrando.


-Aí está você- Laura disse animada. -Mostre uns passos pra gente! Quero ver seu rebolado- Hermione lançou um olhar feio na direção dela.


Harry deu uma cotovelada nela. -Vamos l� o que você diz? Pelos velhos tempos?


-Ela balançou a cabeça que não. -Não estou com os sapatos adequados - ela disse, se agarrando às ultimas tentativas.


-Fácil de consertar. - ele se inclinou pra frente, esticou a mão sobre os pés dela e um segundo depois os sapatos da Doc Martens dela tinham desaparecidos e em seu lugar estavam os velhos Bliers. Eles eram tão confortáveis e familiares, como uma de suas calças jeans preferidas.


Ela levantou os olhos pra ele, uma expressão de lamento em seu rosto. -Eu vou acabar caindo de bunda no chão.


-Você não. Do jeito que você pesa como uma pluma. - ele sorriu pra Jorge. -Coloque uma musica pra gente, J. - Jorge saiu correndo até o cd player, feliz em fazer isso.


Laura e Justino se afastaram pra assistir. Harry segurou a mão de Hermione, suavemente, e enquanto a música começava eles foram até o centro da pista de dança, seus passos ritmados com cada batida, parecendo que eles estavam apenas saindo pra dar uma volta... Então, a introdução da música acabou e a melodia entrou de vez e logo eles estavam dançando, se movimentando em pequenos círculos um ao redor do outro, segurando alternadamente as mãos. O queixo de Laura caiu. Eles eram tão rápidos que pareciam flutuar sobre o chão, seus pés tocando levemente os tacos enquanto executavam os passos, rápidos e leves. Hermione começava a sorrir, sua saia envolvendo seus quadris enquanto ela girava e rodava, do jeito que Jorge descrevera. A confiança deles parecia aumentar conforme seus pés lembravam o que fazer; os passos aumentaram em velocidade e complexidade. Laura bateu palmas quando Harry virou Hermione sobre seus braços facilmente, como se ela não pesasse nada. Os dois tinham largos sorrisos agora enquanto dançavam pelo salão, girando e pulando e jogando.


Laura podia assisti-los por horas, mas a música logo teve fim e todos aplaudiram. Harry e Hermione se cumprimentaram, rindo. -Não acredito que ainda lembro como fazer isso -ela disse sem ar.


-Uau- Harry disse, animado. -tinha esquecido o quanto gostava disso.


-Isso foi maravilhoso! Brilhante- Laura exclamou. -Agora eu realmente quero aprender, apesar de duvidar que algum dia vá ficar tão boa. - ela deu uma cotovelada em Justino. -Quer ser meu par, amigo?


-Com prazer. Tem certeza que Sorry não vai ligar de você estar dançando com outro homem?


Todos riram... Menos Harry. Hermione olhou pra ele, o riso ficou preso na garganta quando viu sua expressão. Olhava fixamente para Laura e parecia que tinha acabado de ver um fantasma. -O que você disse- ele perguntou bruscamente. O grupo ficou em silencio instantaneamente.


-Como assim- Laura perguntou, confusa.


-Quem? Quem não vai ligar?


Ela olhou pra Hermione. -Hã... Sorry. Meu namorado? Você o conhece...


-Pensei que o nome dele fosse Sorenson - Harry disse, o tom de sua voz intenso, como se isso fosse muito importante.


-É, mas a maioria das pessoas o chamam de Sorry. Amigos, família, essas coisas.


Harry balançou a cabeça que sim. -E outros bruxos, com certeza.


Hermione colocou a mão no braço dele. Ele estava tão tenso que parecia que estava tocando em mármore. -Harry o que foi? O que aconteceu?


Ele abaixou os olhos pra ela, uma expressão muito estranha em seu rosto, como se estivesse tentando resolver um problema de matemática muito difícil em sua cabeça. -Preciso ir - ele disse.


-Agora? Mas...


-Não tenho tempo pra explicar. Volto logo. - ele disse, virando e correndo pelo salão. Os quatro companheiros de casa ficaram se olhando.


-Que raios foi isso - Justino murmurou.


Hermione balançou a cabeça. -Não tenho a mínima idéia.




Já era bem tarde quando Harry aparatou no Confinamento, chegou pela entrada da segurança e não dentro do prédio. O bruxo que guardava a entrada levantou. -Sem visitas, senhor. - ele disse.


Harry avançou com passos largos, puxando sua identificação do bolso. O guarda a analisou com uma intensidade que seria engraçada sob diferentes circunstancias. -Preciso ver a Dra. Stillwagon imediatamente.


-Me desculpe, mas está fora de hora.


-Você não me ouviu. Isso é uma emergência! Preciso ver Elektra agora mesmo!


-Sem exceções! A Drª Stillwagon não está disponível!


Harry tomou uma postura de modo a mostrar todos seus um metro e oitenta e o olhou com o olhar mais mortal que possuía, preparando-se pra fazer algo que nunca fizera antes... Usar sua fama. -Não sabe que eu sou? Eu sou o maldito Harry Potter e isso não pode esperar! Agora chame ela ate aqui neste instante!


O guarda gaguejou por uma resposta. Antes que pudesse falar, o feitiço divisor atrás da porta se extinguiu e revelou Elektra ali. -Está tudo bem, Nigel. Deixe o Chefe entrar. - Longe de ameaças, o guarda se sentiu seguro para olhar feio pra Harry enquanto este passava e entrava. O feitiço foi reativado atrás deles e Elektra trotou para acompanhar Harry, que se apressava pelos corredores sem esperar por ela. -Harry, que diabos está acontecendo? O que é tão urgente que não pode esperar até amanhã?


-Preciso ver Leland.


-Não acho que isso vá ajudar! Ele piorou - ela disse, esticando um braço e forçando-o a parar. Harry suspirou, deixando a urgência sumir por um momento.


-Piorou? Como?


-Tentamos todas poções contra azarações que tínhamos e nada ajudou. Ele entrou num estado de catatonia mais profunda, não responde a nada. Não sei como você pode ter esperança de descobrir algo através dele.


-Tenho que tentar - Harry disse, decolando pelo corredor novamente, continuando enquanto caminhavam. -Lembra o que ele ficava dizendo?


-Como eu poderia esquecer? Foi tudo o que conseguimos tirar dele... ele ficava dizendo "sorry" e "tam htab". Ainda não sabemos o que isso significa.


-Acho que tenho uma idéia sobre esse pedido de desculpa - ele disse, parando na porta de Leland. Elektra a abriu e Harry passou por ela, entrando no quarto escuro. Leland estava deitando num sofá encostado na parede. -Leland- Harry disse, ajoelhando-se ao lado do sofá. -Leland, pode me ouvir- sem resposta. Ele olhou pra Elektra. Você não pode fazer alguma coisa?


Ela abriu os braços. -O que eu acabei de dizer? Fizemos tudo que podíamos!


Harry se curvou sobre Leland novamente. -Sorry, Leland... Tem alguma coisa sobre Sorry que queria me dizer- Nada. -Leland- ele disse pela última vez. Levantou, frustrado, correndo suas unhas afiadas pela cabeça. Queria pegar alguma coisa e rasgar em pedaços pra se livrar dessa necessidade de saber... A única pessoa que podia lhe dizer se estava certo não estava falando.


-O que está acontecendo aqui- Elektra disse, seu tom mais ríspido e exigindo uma resposta. Harry virou pra ela, deixando uma mão passando pelo cabelo.


-Não achou estranho como ele ficava repetindo apenas "sorry, sorry" sem mesmo dizer "I'm sorry"? e por um momento, ele se concentrou ao máximo pra dizer "sorry" pra mim, como se fosse muito importante.


-Harry, não pode tirar conclusões das palavras de um homem cuja mente está quase perdida. Talvez pra ele, a desculpa fosse tão importante assim.


-Só que não acho que fosse um pedido de desculpa. - Harry disse. -Acho que era um nome. Acho que queria me dizer quem o atacou.




Hermione balançou sua varinha sobre a panela no fogão, que começou a fumegar e borbulhar; ela colocou um pouco de pó de chocolate e mexeu. -Então, deixa eu entender isso - ela disse.-Você acha que o namorado de Laura é um aliado das forças das trevas só porque um espião que está a um passo da morte cerebral não usou o pronome subjetivo adequado enquanto se desculpava a você por ter sido capturado?


Harry suspirou e aceitou a xícara de chocolate, olhando pra ela envergonhado. -Não parece nem um pouco possível quando você diz.


Ela sentou ao lado dele na mesa da cozinha. -Você tem que admitir que essa teoria é meio furada.


-Você não estava - ele falou, batendo o punho na mesa. -Estou dizendo, soou estranho, artificial. Não sabia o que significava na hora, mas não pareceu que estivesse pedindo desculpas pra mim. Ele agiu como se a palavra "Sorry" fosse muito importante.


-Não significa que seja um nome.


-Não, mas não sei mais o que poderia ser.


-Um lugar? Um objeto ou uma rua ou o cachorro de alguém?


-Olhei no Dicionário de Nomenclaturas Mágicas e não havia nada em nenhuma variação de escrita que fizesse sentido.


-Sei que há inúmeros feitiços que começam com algum som parecido com "sorry". Sauriarbus maximacatis, por exemplo... Mas não sei porque ele tentaria te transformar num monstro de argila gigante. Talvez ele estivesse tentando fazer o feitiço, ou te dizer qual feitiço foi usado nele.


Harry sorriu pra ela. -Você não é ruim nisso, sabia?


Ela deu de ombros. -Posso olhar pra você.


-Obrigado. Precisamos pelo menos descartar. Ainda acho que seja mais provável ser um nome. E ainda ser o nome de um bruxo que conhecemos? Não acredito em coincidências.


-Mas estamos dizendo que ele é mal.


-Sabemos que ele não é? Nunca o conhecemos.


-Não acredito que Laura se envolveria com alguém desse tipo.


-Nem eu, mas quem disse que ela sabe? Ela só o viu uma vez desde que se mudou pra c� muita coisa pode mudar em três anos.


Hermione suspirou. -Espero que esteja enganado sobre isso. Ela realmente o ama, e parece mútuo, pelo que me contou.


-Não quero magoar Laura, mas preciso saber se Sorry é o que ele diz ser ou se é alguém em quem eu preciso ficar de olho.




-Queria me ver, Chefe?


-Sim, Remo, entre. E você sabe que pode me chamar de Harry.


Lupin sentou em uma das cadeiras na frente da mesa de Harry. -Chefe soa melhor, não acha?


-Sempre tive medo que me fizesse parecer com um supervisor de turno da loja de entrega.


-Só se você me perguntar se eu quero chá com aquilo.


Harry voltou a si. -Você não deve ter nenhuma ilusão sobre o porquê de eu te chamar aqui.


Lupin balançou a cabeça. -Imagino que seja pra falar sobre o que eu ouvi antes de você ter o colapso.


-Argo falou aquilo fora de hora, aquela informação era confidencial.


-Se te faz sentir melhor, não tenho idéia do que vocês estavam falando. Mas se precisar fazer um feitiço de memória em mim, entenderei.


Harry levantou e deu a volta na mesa e ficou na ponta dela, analisando o rosto de Lupin e decidindo o quanto confiava nele. Se não confio nele agora, nunca confiarei, pensou. Esse homem nunca fez nada que me fizesse questionar sua integridade... E ele é um de meus amigos mais próximos. -Vou te colocar por dentro disso. - ele disse, tomando sua decisão. -Porque preciso de sua ajuda, e dado ao que aconteceu a Leland, não posso te deixar por fora.


Lupin se endireitou na cadeira. -Aprecio a confiança.


-Você a merece - ele fixou em Lupin com olhar penetrante. -Argo me pediu sobre "o padrão" e se o sumiço de Leland se encaixava nele.


-Sim. O que é isso exatamente?


-Nos últimos anos, aqueles, como nós, que prestam atenção nesse tipo de coisas, puderam notar uma tendência emergindo nas atividades das forças das trevas. Atos de violência que pareciam sem motivo, mas só até que você os colocasse num contexto maior. Roubo de artefatos mágicos e talismãs arcaicos. Ameaças, intimidações, chantagem... Coerção de bruxos de posição importante.


-Parece normal o bastante.


-Não no geral. O fato é que todas essas atividades lembram bastante as táticas que Voldemort usou pra ganhar poder. Parecido demais pra ser deixado de lado como coincidência.


Os olhos de Lupin se arregalaram. -Não pode ser. Ele se foi... Devia saber disso mais que ninguém!


-Pode ter ido, mas com certeza não foi esquecido. Suspeitamos que alguém está usando o nome dele, sua marca registrada, e suas estratégias para levantar novos seguidores para magia negra. Desde que notamos isso, os eventos que se encaixavam no padrão ficaram maiores e mais freqüentes, apesar de que quem quer esteja orquestrando isso foi cuidadoso suficiente pra manter suas atividades nas sombras. O seqüestro de Leland foi o maior ato até agora e nos faz pensar que talvez tenhamos que nos preparar pra um aumento.


-Harry, se alguém realmente está tentando tomar o lugar de Lorde Voldemort, então parte disso envolveria...


-Uma fixação em mim, sim, estou ciente disso. Passei muito tempo desde que assumi esse escritório pensando nos meios que Voldemort tentou me eliminar antes que finalmente tive a chance de derrotílo.


-Não é só você que pode estar em perigo. Ele atacou quase todos a sua volta, pessoas próximas a você.


Harry engoliu seco. Lupin vociferara seu maior medo... o novo discípulo de Voldemort poderia ir atrás das pessoas que mais amava. Seus companheiros de casa, seus amigos... E a melhor amiga que o bruxo das trevas não conseguira matar da primeira vez. Sua mente fugiu da idéia de algum mal chegar a Hermione; era simplesmente algo em que não conseguia pensar. - Também estou ciente disso. Tenho tomado algumas precauções pra ter certeza da segurança das pessoas a minha volta, mas prefiro eliminar o risco achando o novo discípulo e demonstrando a ele, com detalhes, exatamente como despachei seu mestre.




Hermione olhou sorrateira para Laura, cuja cabeça estava inclinada sobre a mesa enquanto ela embalava os caules e os colocava no umedecedor de armazenamento. Elas estavam na sala de jardinagem, a qual tinha sido transformada em um cômodo para preparar ingredientes para poções e cultivar ervas e plantas mágicas. Havia semanas que adiavam o preparo de um lote de Malte de Dragão; era um processo tedioso e que tomava tempo, mas Hermione sugeriu que o fizessem nessa noite. Na realidade, tinha motivos maiores; a tarefa lhe daria tempo suficiente para entender a cabeça de Laura. Hermione estava cuidando dos caules cuidadosamente enquanto Laura embrulhava-os firmes com algas mortas, depois disso eram colocados num baú especial e deixados para crescer numa câmara de vapor durante um ciclo lunar.


-Vi que recebeu uma carta de Sorry hoje – Hermione disse.


-É. Ele tenta escrever pelo menos uma vez por semana.


-Por onde ele anda esses dias?


-Groenlândia. Ele está trabalhando com um grupo de bruxos nativos tentando erradicar as infestações de uma grande praga que têm invadido todas as plantas mágicas indígenas. – ela olhou para Hermione, sorrindo. –Está no clima de uma conversa sincera?


-Como assim? – perguntou inocentemente.


-Você sempre teve curiosidade sobre meu passado.


-Você nunca fala sobre ele, naturalmente fiquei curiosa.


-Não falo sobre ele porque é muito pessoal... E estranho – ela hesitou. –Acho que tenho medo de que as pessoas pensem que sou artificial se soubessem a verdade.


Hermione parou de descascar caules, intrigada. Não suspeitava que houvesse nada fora do normal no passado de Laura, apenas queria mais informações sobre Sorry. –Laura, você é uma de minhas pessoas favoritas. Nunca pensaria que você é artificial!


-Quer você pense, quer não, acho que é hora de te contar. – Ela largou os fios que usava pra amarrar e virou no banco para encarar Hermione, que estava sentada olhando pra ela. –Hermione... Não nasci bruxa.


Hermione franziu a testa. –O que quer dizer com isso?


-Quero dizer que sou mais que uma simples nascida-trouxa. Nasci completamente trouxa, sem habilidade mágica nenhuma.


-Não sabia que isso era possível.


-É sim. Sou a prova viva. Mesmo assim, não era exatamente normal nos padrões trouxa. Eu era... Especial. Sabia das coisas. Podia senti-las.


-Você devia ser uma paranormal.


Laura ficou confusa. –Uma o que?


-Paranormal. Alguns trouxas têm apenas um toque de sangue mágico, não o suficiente para fazer magia, mas podem sentir sua presença. Geralmente se chamam de "paranormais"... Alguns deles podem ver o futuro, ou ser impressionados por pessoas ou objetos. Alguns podem mover objetos com a mente, esse tipo de coisa.


-Bem, se eu era uma paranormal, era uma de baixa categoria. Costumava receber avisos. Não consigo explicar o que eram exatamente, só que de repente o mundo ficava engraçado e tudo parecia gritar "cuidado!" pra minha mente. Ainda tenho isso às vezes. A pessoa que mais me afetou, sem dúvidas, foi Sorry. Ele é três anos mais velho que eu, era monitor na minha escola. Soube que era um bruxo no momento que olhei pra ele, e não estava enganada.


-E você apenas sabia?


-Sim. E ele sabia que eu sabia. Podia ver nos meus olhos. Poderia não ter dado em nada, só que meu irmão caçula foi atacado por um incubo. Procurei ajuda com o Sorry e a família dele.


-A família dele?


-A mãe dele Miryam e a avó dele Winter são bruxas. Disseram que só eu podia ajudar meu irmão e pra fazer isso, teria que me tornar uma bruxa.


Hermione olhou pra ela com uma expressão muito séria. –Você sabe que isso não é verdade, não é?


-Sim, eu sei. Elas tinham suas razões pra me querer no time delas. Winter e Miryam me ajudaram a fazer uma Passagem e eu me tornei uma bruxa.


Hermione estava fascinada. –Essa Passagem... O que ela requer?


-Sei agora que foi um estado de auto-hipnose profundo no qual pude religar meu próprio cérebro pra que se tornasse magicamente sensível. Aconteceu no banheiro deles, mas sentia como se estivesse numa viagem por uma terra estranha... Florestas de espinhos, rios que corriam com meu sangue. Mas eu estava no banheiro o tempo todo. Estava... Suponho que possa dizer que eu estava no outro lado do banheiro; às vezes, durante a Passagem, quando me desconcentrava um pouco, via as palavras "tam htab" no ar na minha frente.


- Tam htab?


-Sim. Havia um tapete no banheiro com "bath mat" escrito, e meus olhos estavam vendo ao contrario. Enfim, quando saí disso, Sorry estava me abraçando... Ele teve seu papel na minha Passagem... E então eu era uma bruxa.


-Laura, isso é impressionante! Não sabia que esse procedimento existia!


-Existe, mas é fácil ver porque é melhor ser mantido em segredo. Há alguns entre nós que ficariam horrorizados ao saber da possibilidade de um trouxa se juntar a nós. Alguns já acham ruins que bruxos nasçam de pais trouxas.


Hermione pensou na família Malfoy. Lúcio foi julgado e condenado por ajudar e investir contra a vida de Harry anos antes, mas desapareceu antes que pudesse ser levado para Azkaban. Quanto a Draco, ele terminou seus anos em Hogwarts em termos mais amigáveis com Harry do que qualquer um podia esperar, apesar de ninguém pode chamílo de um verdadeiro amigo... Mesmo assim, foi um pouco perturbador quando ele desapareceu do expresso de Hogwarts quando voltava pra escola durante o recesso natalino. Ele estava em sua cabine quando o trem saiu de King's Cross e quando o trem chegou em Hogsmeade, não estava em lugar nenhum. Hermione mudou de assunto rapidamente. –E quanto a seu irmão?


-Espantei o incubo e ele se recuperou. Mas eu não. Sorry e eu estamos juntos desde então.


-Então você nunca freqüentou uma escola de magia como Hogwarts?


-Ah, não. O que eu sei sobre magia, aprendi sozinha, ou por Sorry e sua família. Miryam é muito educada e recatada, mas Winter é uma bruxa muito poderosa. Ela não sabe que eu tenho noção de quão poderosa ela é.


Hermione ponderou sobre essas informações. Era incrível, mas até agora, nada suspeito. –Me fale sobre ele – ela pediu.


Laura sorriu, voltando a enrolar os caules. –O que você quer saber?


Hermione pensou rápido. - Ah, não muito... Ele, por acaso, é do tipo que ficaria mal por completo? Como ele é?


-Uma pergunta muito complicada. Estou com ele há dez anos e mal sei direito. –Ela pensou por um momento. –Ele é quieto e reservado, mas tem um interior rebelde que aparece nos momentos mais estranhos.


-Dez anos – Hermione pensou, impressionada. –Não consigo imaginar conseguir cativar um homem por tanto tempo.


-Besteira. Já deve ter cativado sua porção de homens.


Hermione fez um som sarcástico. –Bem, eles não estão exatamente fazendo fila na minha porta.


-Deveriam. Você é inteligente, interessante e bonita... – Hermione não conseguiu segurar a risada. –Você é! Eu mataria pra ter um cabelo como o seu!


-Ah, Laura, você é uma pessoa querida e muito doce e eu te adoro totalmente, mas acho que você deve ser cega. Eu sou a pessoa mais comum da face da terra.


-Bem, eu acho você maravilhosa e não vai me convencer do contrário. – Hermione se curvou sobre os caules novamente, corando. –E não sou a única que acha isso. – ela cantou, num tom de brincadeira "eu sei de uma coisa que você não sabe".


-O que quer dizer com isso?


-Logo depois que me mudei pra c� Harry e eu tivemos uma dessas conversas bobas sobre astros do rock e de filmes e qual celebridades achávamos fofas e coisas desse tipo. Disse que achava que Paul McGann era o homem mais lindo da Inglaterra e que iria pra cama com ele a qualquer hora. Quando perguntei quem ele escolheria, ele disse que não conhecia ninguém que fosse tão bonita quanto você.


O queixo de Hermione caiu. –Ele não disse isso!


-Disse sim.


Ela sorriu, encabulada, e se curvou sobre os caules novamente. –Provavelmente estava brincando com você.


-Pode pensar isso, se te faz sentir melhor, Herm.


Hermione largou seus materiais e virou pra Laura, um pensamento repentino lhe ocorrendo. –Posso te perguntar uma coisa?


-Pode sim.


-Você já achou que eu e Harry fizemos... bem, fizemos sexo?


Laura levantou os olhos, surpresa. –Está insinuando que não fizeram?


Hermione jogou as mãos pra cima. –Inacreditável! Harry me disse que isso era uma crença coletiva, mas não acreditei nele.


Laura olhou pra ela com um olhar penetrante. –Certo. Olhe nos meus olhos e diga que durante todos esses anos, no mesmo castelo, mesmo apartamento, na mesma vida... você nunca fez um teste drive com ele?


Hermione se curvou na direção dela, as mãos sobre a mesa, e a encarou. –Não. Nunca.


Laura pareceu relutante em acreditar nela. –Então nunca dormiu com ele.


-Em algumas ocasiões já dividi uma cama com ele, quando as circunstancias pediam, mas tudo o que fizemos foi dormir e brigar pelo lençol.


Laura balançou a cabeça. –Você tem mais força de vontade que eu, então. Não acho que manteria minhas mãos sob controle se estivesse sob as mesmas circunstâncias.


Algo no jeito que ela falou levantou suspeitas em Hermione. –Laura, você sente alguma coisa pelo Harry? Não acho que Sorry vai gostar muito disso!


-Não estou dizendo que eu quero transar com ele. Só estou dizendo que fico surpresa que você não queira. Ele é tão apetitoso. E antes que me acuse de ser juvenil e hormonal novamente, digo isso com objetividade e com o maior do desapego clinico.


-Ele é meu melhor amigo, e só isso. Não temos esses sentimentos um pelo outro. – Hermione disse, querendo encerrar o assunto. Começou essa conversa querendo saber mais sobre Sorry... Como acabou falando sobre ela e Harry?


-Se você diz – Laura disse, pegando outro caule. –Mas acho que isso é conhecido como "famosas últimas palavras".

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