Capítulo Único



Obs: Capítulo não revisado, portanto já peço previamente desculpas pelos eventuais erros.






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Capítulo Único




           A iluminação em seu quarto quase o cegou quando acordou naquela manhã fria em Dublin. Lembraria de fechar as cortinas da próxima vez. Olhou para o lado e reconheceu o corpo desnudo da mulher que conhecera na noite anterior durante a festa de premiação da Liga Internacional de Bruxos Fornecedores de Matéria-Prima na França. Não conseguia se lembrar do nome. Fechou os olhos e prendeu o ar enquanto apertava os olhos com os punhos. Piscou várias vezes até se acostumar com a iluminação e soltou o ar focando as horas no relógio em seu braço. Precisava ir trabalhar.


 


            Sentou-se na cama e olhou novamente a mulher dormindo ao seu lado. Tentou se lembrar do nome e não obteve êxito novamente. Céus! Como ele odiava acordar ao lado de alguém. Isso lhe trazia lembranças muito desconfortáveis. Talvez estivesse realmente cansado. Nunca se permitia pegar no sono ao lado das mulheres que levava para a cama.


 


            Jogou as pernas para fora do colchão e passou o olhar pelo quarto em busca de todas as suas roupas bolando rotas de qual delas buscaria primeiro. A mulher na cama se mexeu. Ele fechou os olhos frustrado ao saber que não poderia mais ir embora sem ser percebido. Sentiu braços gelados lhe cercar o tronco. O corpo dela colou em suas costas e logo veio a respiração quente em seu ouvido.


 


-       Bom dia. – ela sussurrou em uma voz muito melodiosa. A doçura o fez sentir raiva. Ele não a respondeu. – Alguém cortou sua língua?


 


Ele arrumou a postura buscando ar.


 


-       Tem flu em cima da lareira se precisar que alguém venha lhe buscar. – ele foi frio.


 


Ela pareceu levar um tempo para processar as palavras dele, mas logo em seguida se afastou e puxou os lençóis para se cobrir.


 


-       Não. – falou incerta – Eu posso aparatar.


 


-       Ótimo. – ele apenas disse se levantando e passando a se vestir. Ela mantinha-se na cama olhando para ele como se tentasse entender o que havia acontecido com o homem que tinha a levado para a cama na noite anterior.


 


-       O que há de errado com você? – ela quis satisfação.


 


-       Estou atrasado. – ele vestiu a camisa, catou sua varinha na cabeceira da cama e depois bateu a porta deixando-a sozinha no quarto.


 


Quando desceu as escadas do prédio e se deu nas ruas turvas do mundo bruxo de Dublin percebeu que o dia já havia começado há um bom tempo por ali. Aparatou na porta de sua casa na Georgia e o sol dava indícios que ainda nasceria. Ele entrou e trocou suas roupas, se alimentou e aparatou novamente. Dessa vez foi no enorme saguão principal da CMFM - Companhia Malfoy de Fornecimento Marítimo - no Triângulo das Bermudas. Das vidraças ao redor ele via os enormes jatos de água que cercavam sua edificação. Andou confiante pelo saguão e viu seus empregados lhe lançarem os costumeiros olhares tímidos enquanto esperavam o elevador.


 


            Assim que chegou ao andar da diretoria foi recebido por sua secretária. Ela veio com um turbilhão de problemas sobre os níveis de pressão no fundo do oceano estarem começando a ficar imunes aos feitiços que ele havia criado e que isso acarretaria na falta de estoque para poções encomendado pelos milhares de hospitais do mundo inteiro. Ele pediu que mudasse de assunto enquanto caminhava para sua sala e ela apertava o passo para acompanhá-lo.


 


            Sempre adorara a poltrona de seu escritório. Couro de dragão jovem, os melhores. Afundou-se nela enquanto ainda escutava sua secretaria falar sobre encomendas de escolas.


 


-       Encerre contrato com as escolas. – ele disse tomando em seguida um longo gole de seu chá de canela que sempre o esperava em sua mesa.


 


-       O que? – indagou surpresa a secretaria.


 


-       Eles não pagam bem. – ele respondeu puxando o principal jornal da América do Norte.


 


-       Mas nós somos os únicos fornecedores! – ela o alertou.


 


-       Escute, Sra. Miller. Na minha época de escola eu também não tinha ingredientes desse nível de raridade pra brincar de poções. Nós gastamos milhões para tirá-los do fundo do oceano e vamos dá-lo a quem nos paga bem! – ele virou a página do jornal. – Cancele os contratos.


 


Ela revirou os olhos e deu meia volta.


 


-       Meu Deus! Você precisa de uma esposa! – resmungou e bateu a porta.


 


Ele riu. Folheou o jornal e percebeu que tudo que lia não lhe interessava. Voltou para a página principal e viu que não lia o Profeta Diário. Revirou os olhos ao se lembrar de que Miller sempre organizava os jornais de modo que o fizesse desistir de assinar o insignificante jornal Inglês. Sorriu e tomou mais um gole de seu chá. Folheou novamente o jornal da América e numa de suas passadas de folha leu o nome de Harry Potter. Parou e voltou a página. Não havia imagens, mas lá estava o nome do famoso bruxo assassino de Lorde Voldemort associado com a palavra noivo e o nome de Hermione Granger. Ele não quis ler o título novamente e fechou com pressa o jornal. O focou fechado em cima de sua mesa por segundos e então o jogou no lixo. Focou o mogno lustroso a quem o jornal dera lugar e novamente e em sua mente passou a desenho das letras associando Harry Potter, noivo e Hermione Granger.


 


            Olhou a pilha de jornais ao lado de sua caneca. Sabia que o Profeta era o último. Pegou o segundo jornal da pilha e logo na segunda página havia o nome de Harry Potter grifado novamente. Dessa vez havia sua imagem mais famosa estampada ao lado do enorme título que dizia novamente sobre Harry Potter, noivado e Hermione Granger. Ele fechou o jornal. Talvez na próxima folha houvesse alguma imagem que não quisesse ver. Jogou todos os jornais no lixo.


 


            Puxou um velho telefone encardido para junto de si e apertou o botão que dava para a secretária.


 


-       Miller. – ele a chamou.


 


-       Sim, Sr. Malfoy. – ela respondeu em sua voz rachada.


 


-       Marque reunião em minha sala com o departamento de criação de feitiços. Peça-os para que tragam os números correspondentes ao nível de pressão.


 


-       Sim, senhor. Apenas isso?


 


Ele hesitou na linha.


 


-       Cancele a assinatura com o Profeta Diário.


 


-       Sim, senhor.


 


Desligou. Tomou o resto de seu chá em um gole só e focou por um bom tempo os jornais no lixo. Bufou e puxou o Profeta de lá. O abriu e lá estava a enorme matéria na primeira página: Harry Potter fica noivo de Hermione Granger.


 


            Começou a ler as primeiras linhas e não pode continuar.  Olhou a imagem enorme que estampava a matéria e finalmente a viu. Lá estava Hermione Granger em seu famoso, belo, discreto e casual vestido saindo de um pub no Beco Diagonal acompanhada de Harry Potter em seus trajes de auror. Ela o abraçava, passava a mão em seus cabelos e lhe dava um beijo nos lábios sorrindo. Ele a apertava forte pela cintura e então eles se despediam e seguiam caminhos diferente. Em uma imagem logo abaixo havia uma ampliação em sua mão quando ela a passou pelos cabelos dele. O anel estava lá. Ele gritava em sua mão.


 


            Ele a olhou na primeira imagem novamente. Seus cabelos castanhos descendo em cachos largos e uniformes pelas suas costas, suas bochechas rosadas apertando seus olhos dourados quando estava sorrindo. Ele se lembrava de tudo aquilo. Se lembrava de como seu cabelo refletia o sol da manhã em contraste com a fronha branca de um travesseiro qualquer. Se lembrava de vê-la acordar, se mover devagar e o pegar a assistindo. Se lembrava de como suas bochechas coravam e de como ela sorria tímida perguntando o que ele estava olhando, e quando ele respondia que estava a observando dormir ela ria e pedia para que parasse com isso. Se lembrava de como ela se sentava na cama e de como suas costas se alinhavam sobre o fino tecido de uma de suas blusas ao se espreguiçar. Tudo se tornava sério e então ela se virava para ele e perguntava o que teriam para o dia. Eram tempos difíceis aqueles, mas ela ainda encontrava uma brecha para sorrir sempre que podia e era lindo. Ele se lembrava de tudo. Se lembrava de seus olhos dourados, de sua voz doce e de seu cheiro de rosas. Ele só se lembrava.


 


            Levantou-se com raiva e amassou o jornal devolvendo-o para o lixo. A veia de sua têmpora pulsou. Ele se lembrou de como nunca a merecera. Pegou sua caneca e a lançou contra a parede. A porcelana esparramou-se pelo chão e a voz de Miller soou do telefone informando que os diretores do departamento de feitiços estavam a espera do lado de fora. Ele pegou o telefone e apenas gritou que precisava de dez minutos.


 


**


 


            Seu olhar estava fixo nos vitrais da janela. Não tão longe ele avistava Hermione Granger de pé sobre a sombra de uma árvore à beira do extenso lago de Hogwarts. O movimento de seu vestido junto com seus cabelos indicavam o lado para o qual o vento soprava. Ele piscou. Se perguntava por quanto tempo seria obrigado a aguentar aquela sangue-ruim.


 


            Toda a realidade daqueles dias estava jogada na mão de todos eles, a Ordem, mas para Draco Malfoy era diferente, ele só tinha uma missão: encontrar Régulus Black. Não para o bem da Ordem ou do mundo bruxo, mas para o bem de sua própria família.


 


            Ele havia se tornado um Comensal da Morte. Por obrigação. A sombra de Voldemort sempre atormentara a família Malfoy. Era a única fonte de medo que os tirava todo o poder. Draco se lembrava bem de ter crescido em uma família que perdia o sangue e ficava muda quando se pronunciava o nome do lorde das trevas. Se lembrava do eterno medo que assolava a família apenas pela incerteza de um lorde morto ou vivo, a eterna questão de ser ou não submisso mesmo com sua ausência. Todo esse medo ainda era escondido por seus pais, mas quando o lorde ressurgiu, ele viu com todas as letras e pingos nos “is” a fragilidade dos Malfoy. O pavor de sua mãe, a fraqueza de seu pai. Eles estavam a serviço exclusivo do lorde, e se por um descuido pisassem fora da linha, minimamente que fosse, estariam por um fio de perder a própria vida. A família Malfoy estava de volta a ditadura, e Dumbledore soube exatamente como persuadir Draco Malfoy a livrá-lo dela.


 


            O único problema era que encontrar Régulus Black, um homem que ele acreditou estar morto, não seria uma tarefa fácil de se completar. Ele era o único comensal vivo que sabia todos os caminhos possíveis para passar a perna em Voldemort. Era o único que conseguiria livrar a família Malfoy das mãos do poderoso lorde das trevas sem que eles perdessem a vida. Dumbledore precisava de duas mentes excelentes trabalhando em conjunto. Foi quando convocou Hermione Granger para acompanhar Draco Malfoy em sua missão. O pedido foi recusado, obviamente, por justa causa. Granger não prestaria serviço algum de ajuda a quem não perdia tempo em humilhá-la, ainda mais um serviço que a tiraria de tudo e de todos, sabe-se lá por quanto tempo.


 


            Dumbledore não deu muitas esperanças a Malfoy de que ele poderia conseguir encontrar o antigo comensal fugido sem ajuda de uma mente brilhante como a da garota. Ele desistiu de escutar o velho e seguiu sua vida de comensal com seus planos de matar o próprio para que Voldemort não matasse sua família.


 


            Claro que ele não foi capaz. Snape tratou de fazer o serviço na última hora, mas o que ele não sabia era que na verdade, tudo havia sido combinado. Snape conseguiu levar Draco em segurança para a Ordem antes que fosse morto por seus serviços ineficazes dentro do ciclo de comensais. Lá estava ele, vivendo em Hogwarts, agora fechada pelo ministério, com toda a tropa de Ordem da Fênix, estudando os pergaminhos que Dumbledore deixara para ele sobre como conter a ligação que tinha com Voldemort pela marca de comensal gravada em seu braço.


 


            O que ele menos esperava dentro daquele castelo era a procura de Hermione Granger dizendo que o ajudaria a encontrar Régulus Black por Dumbledore e por Harry Potter. Snape tratou de convencê-lo em voltar ao plano e agora, ali naquela biblioteca, observando Hermione pela janela, ele selecionava os livros  que deveria levar consigo. Ainda não conseguia saber o que seria pior, estar ali naquele castelo com todos os membros da Ordem o olhando torto ou ter que conviver com Hermione Granger todos os dias. Ele estava acreditando que ter que conviver com Hermione era pior.


 


            Ele alinhou sua pilha de livros agitando sua varinha e olhou novamente Hermione pela janela. Ela parecia uma estátua ali de pé encarando o lago. Mesmo com todo seu ódio pela garota, não podia negar o quanto aquela mente era rápida, precisa, e incrivelmente esperta. Em duas semanas eles haviam conseguido refazer os últimos passos de Régulus Black e montar uma lista de lugares que deveriam visitar. Dumbledore estava certo sobre o trabalho em conjunto de suas mentes.


 


            Amarrou seus livros e os colocou dentro de sua mochila. Usou um feitiço para fazer com que ficasse mais leve e abriu os pergaminhos que Dumbledore lhe deixara. Eram feitiços muito complexos e ele precisava dominá-los melhor porque a dor em seu braço era culminante quando vacilava com a magia de Dumbledore. Voldemort estaria furioso por ter um comensal fugido e vivo cuja a marca em seu braço não o tivesse matado por ter se tornado um traidor.


 


            Voltou a encarar Hermione pela janela e dessa vez ela havia ganho companhia. Harry Potter agora estava ao seu lado com as mãos enfiadas no bolso das calças. Voltou para o seu pergaminho e começou a utilizar todos os seus conhecimentos sobre desintegrar magias para compreender os detalhes de Dumbledore. Quando finalmente voltou a olhar pela janela bufou e revirou os olhos ao encontrar os dois abraçados debaixo da copa da árvore, com as testas grudadas e uma troca nauseante de carícias. Ele certamente não precisava daquela vista. O casal trocou um beijo e Draco fez uma careta de nojo. E se diziam apenas amigos para todos. Se perguntou quantos benefícios aquela amizade tinha e riu consigo mesmo. Alguém como Potter merecia mesmo uma sangue-ruim.


 


            Não demorou para que Hermione voltasse a ficar sozinha lá do lado de fora. Ele apenas estudava seus pergaminhos. E durante todo o tempo que ele esteve ali, ela também estava lá, encarando o lago, e deixando seu vestido apontar a direção do vento.


 


Ele finalmente se levantou jogando a mochila num dos ombros e apertando os pergaminhos de Dumbledore em sua mão.  Olhou mais uma vez pela janela. Ela continuava lá. Ele respirou fundo e soltou o ar pela boca. Deu as costas e desceu para os jardins do castelo.


 


Já era meio de tarde e ele acreditava que ela pretendia ficar ali até depois do pôr-do-sol quando caminhou até ela pela grama do jardim bem cuidado. Tinha até uma idéia do que ela estaria fazendo ali, encarando aquele lago como uma estátua. Talvez estivesse se despedindo da proteção que o castelo lhe dava. Assim que saíssem para o mundo lá fora, tudo seria uma grande correria incerta. Voldemort o conseguiria encontrar pela sua marca de comensal facilmente. Ele tinha apenas um dia e algumas horas de atraso graças a magia de Dumbledore, por tanto não poderiam permanecer em um local mais do que isso. Sem contar que teriam que se deslocar pelo mundo dos trouxas para que pudessem confundir ainda mais os comensais que Voldemort mandaria a sua procura. Tudo ainda estava muito tranquilo enquanto estavam todos protegidos pelo castelo.


 


Ele se aproximou com cuidado quando finalmente ficou sobre a sombra da copa da árvore, juntando-se a ela.


 


-       Granger. – a chamou.


 


Ele a viu levar rapidamente as mãos para o rosto limpando qualquer coisa que estivesse ali, no entanto permaneceu-se de costas.


 


-       Malfoy. – ela disse em resposta, com a voz baixa e cansada.


 


Ele achava irritante a forma profissional com a qual eles haviam sido obrigados a se tratar para que o serviço que deveriam cumprir tivesse sucesso.


 


-       Vamos deixar o castelo hoje a noite. – ele informou.


 


Ele a viu suspirar, hesitar e assentir calada com a cabeça. Ele ainda deu tempo esperando que talvez ela fosse dizer algo discordando, mas ela apernas permaneceu calada em sua concordância. Draco deu as costas e seguiu de volta para o castelo, mas antes que pudesse deixar a sombra da copa da árvore ele parou e se voltou mais uma vez para ela.


 


-       Tem certeza de que quer fazer isso? – ele não soube exatamente porque se permitiu fazer essa pergunta, mas surpreendeu-se por vê-la assentir sem hesitar dessa vez.


 


No fundo de seu coração ele se sentiu de certo modo grato por ela poder proporcionar a ele a chance de salvar sua família. Suspirou e finalmente voltou a deixar a garota se despedir só.


 


**


 


            Draco aparatou pela terceira vez naquela semana no centro mais movimentado do mundo bruxo da Inglaterra. Respirou cansado olhando o tumulto das ruas turvas do Beco Diagonal se estender pela sua frente. Andou com no mínimo 80% de pressa a menos do que as pessoas que circulavam por ali e ainda se achou rápido demais. Quando finalmente conseguiu desviar para dentro da Travessa do Tranco encontrou-se em casa. O barulho bem menos intenso, as pessoas andando sem pressa, as ruas quase vazias. Ele tinha saudade daquele lugar. Lembrava-lhe os tempos de Hogwarts, onde ele simplesmente se achava o rei de todo o país.


 


            Seus pés o levaram quase que inconscientemente para o pub que costumava ir com seu pai quase todos os finais de semana. A pequena entrava na esquina, os vidros empoeirados, a fachada apagada e despretensiosa, tudo era exatamente igual quando o conhecera em sua infância. Entrou e viu o velho passando um pano encardido em um copo de vidro. O mesmo velho de sua infância.


 


-       Olá, Draco. – o velho soltou assim que o viu passar pela porta.


 


Draco aproximou-se do balcão calado e estendeu a mão. O velho já sabia exatamente o que ele queria. Largou o copo que lustrava sobre a madeira desgastada do balcão e abriu um quadro de chaves embutido na parede. Tirou de lá uma chave enferrujada e entregou-a na mão estendida de Draco.


 


-       Uma cerveja amanteigada. – Draco pediu e o velho tirou uma de baixo do balcão e entregou também a ele.


 


-       O que te traz de volta a Inglaterra depois de tantos anos, Draco? – perguntou ele que o conhecia desde sua infância.


 


Draco abriu sua cerveja, deu um longo gole e a encarou por um bom tempo em silêncio quando a devolveu ao balcão.


 


-       Ainda estou tentando entender. – respondeu numa voz baixa. Encarou mais uns segundos sua cerveja ate respirar fundo e voltar a falar. – Não diga a ninguém que estive aqui novamente, por favor. – pegou sua cerveja e rumou para a escada mal feita no fim do recinto.


 


A escada rangia como nos velhos tempos, o corredor fedia a mofo e era completamente insalubre como sempre fora. O papel de parede já pendia por ela e a madeira do piso estava fofa. Draco amava tudo aquilo. Quando chegou ao quarto no fim do corredor teve a mesma sensação nostálgica dos outros dois dias naquela semana que estivera ali. Seu pai sempre o levava ali para fugirem da mansão Malfoy e passarem um divertido final de semana praticando tudo de errado que se podia haver no mundo.


 


Draco entrou e logo avistou seu smoking estendido sobre a cama exatamente como pedira. Ao lado havia um pedaço de pergaminho que ele logo tratou de pegar para ler. Era o convite para o encontro anual da alta corte do Ministério da Magia. Ele não podia entrar, claro, não trabalhava para o Ministério, mas sempre fora muito influente e conseguir aquele convite havia sido tão fácil quanto marcar ponto no Quadribol sem time adversário, goleiro e balaços.


 


Jogou-se sobre uma antiga poltrona próximo a janela e observou o convite em sua mão enquanto dava uma breve gole em sua cerveja. Por que ele estava fazendo aquilo mesmo? O virou de um lado para o outro enquanto ponderava sobre sua estupides e finalmente desistiu de ficar encarando aquele convite.


 


            Afundou-se mais na poltrona e fechou os olhos. As duas últimas vezes que estivera ali observara de longe Hermione. Uma em um evento no Ministério ao qual ela fez a abertura e outro em uma biblioteca nacional onde ela estudava em silêncio com um copo de café ao seu lado. Se perguntou o porque de estar fazendo aquilo e tomou mais um longo gole de sua cerveja agonizado por essa pergunta.


 


            Sabia que ainda a amava. Como a amava. Havia sido a única em toda a sua existência e pra sempre seria ela a mulher destinado a amar. Ele duvidou por muito tempo desse pra sempre, mas dia após dia ele se provava permanente. Nunca a esquecera, achou que seria capaz, mas nunca foi. Então por que depois de todo esse tempo em que ele havia se acomodado a amá-la sozinho de repente foi tomado pela agonia de precisar vê-la?


 


            Depois que todo o mundo bruxo tratou de estampar em sua cara o noivado da mulher que aprendera a amar, ele precisou passar por um processo de aceitação um tanto quanto torturante. Sabia que a amava, mas aquilo não precisava lhe torturar naquele grau de agonia. Acordou uma noite como se alguém estivesse o sufocando e seu único alívio foi aparatar em Londres e a assistir ler um enorme texto na abertura de um evento qualquer dentro do Ministério. Vê-la foi como arrancar um monstro de sua hibernação. Ele ainda a queria com uma força ainda maior do que ele sentira há anos atrás.


 


            Naquele dia passou a noite acordado no mesmo quarto em que se encontrava agora. A voz dela lendo aquele texto soava como uma fita gravada repetida vezes em sua cabeça. Se lembrou de todas as vezes que aquela voz havia sido direcionada para ele e então se encontrou em um estado lamentável largado naquele quarto com garrafas de bebidas esparramadas. Levantou-se, foi embora e prometeu nunca mais voltar, nunca mais vê-la, nunca mais sequer se lembrar dela.


 


            Dois dias depois ele estava de volta. A observou por um tarde inteira na Biblioteca Nacional. Ela ainda tinha todas as manias das quais se lembrava quando estava lendo um livro e forçando seu raciocínio. Na mesma noite estava ele embriagado no chão daquele mesmo quarto torcendo-se de agonia. Ele precisava falar com ela, precisava olhar nos olhos dela, precisava escutar a voz dela ser direcionada para ele. Ele precisava! E ali estava ele, com o convite na mão. Talvez essa noite pudesse ter a chance, mas o que ele temia era que se ele se permitisse viver o que queria essa noite, sabia que começaria um avalanche que não poderia medir a dimensão. E sabia que todo esse avalanche cairia sobre ele sozinho no final das contas. Esse seria o certo.


 


            Levantou-se da poltrona. Já estava atrasado. Pegou o smoking sobre a cama e pôs-se a se preparar para a festa anual do Ministério da Magia. Em menos de uma hora ele estava pegando uma carruagem nas ruas paralelas a Travessa do Tranco rumo a Gringotes onde tinha a entrada para o Ministério mais próxima de onde estava.


 


            Sua chegada foi a mais discreta possível. O salão principal do ministério estava todo decorado em dourado e azul com bandeiras da Inglaterra por toda a parte e uma pequena orquestra regia toda a trilha sonora que compunha o lugar. Draco se lembrava bem de quando seus pais o levavam a festas ali. Ele era criança e costumava atentar a todos. Era seu único modo de diversão, afinal, ele geralmente era uma das poucas crianças.


 


            O salão já estava cheio, as pessoas ainda estavam se presando a um nível de refinamento que a pista para as valsas estava vazia e as mesas estavam ocupada com longas risadas e histórias. Do mezanino Draco observou toda a festa. Procurou, claro, por Hermione, mas seus olhos ainda não haviam sido capazes de captá-la no meio de toda aquela multidão. Encontrou quase toda a família Weasley sentada em uma das mesas. Ao lado da mesa dos Weasley estavam de pé Luna Lovegood, que ele se lembrava bem, em uma conversa divertida com Ninfadora Tonks e Gina Weasley. Passou seu olhar mais uma vez por toda a festa e encontrou Harry Potter de pé em um circulo de homens bem afeiçoados trocando assuntos que pareciam ter um certo nível de seriedade pela feição de todos na roda. A mais alguns metros Draco foi finalmente capaz de reconhecer Hermione Granger no meio daquela multidão.


 


Linda e impecável vestindo um longo verde musgo de um tecido fino e opaco que lhe caia perfeitamente sobre o corpo. Ela provava a mulher que havia se tornado. Ele só se lembrava da garota que conhecera. Hermione quase brilhava em relação as pessoas que a cercava. Estava de pé próximo ao pé do palco onde a pequena orquestra se encontrava. Em sua mão havia uma taça com espumante e na outra um pequeno folheto. Ela estava rindo de algo que a mulher com ao qual conversava contara. Hermione entregou o folheto a ela, disse algo apontando para ele e se despediu da mulher tomando o caminho por entre as mesas para encontrar-se segundos depois com Lovegood, Tonks e a Weasley.


 


Draco manteve seus olhos grudados nela por muito tempo ali do mezanino. Umas dez pessoas vieram lhe tentar tirar a atenção puxando assunto ao reconhecer o dono da maior fornecedora de matéria-prima marítima de todo o mundo, porém ele era breve, frio e direto voltando sempre a perseguir Hermione com os olhos. Logo notou que o que colocaria tudo a perder estava começando a acontecer e se não agisse rápido ele logo se encontraria em uma situação muito mais desconfortável de trabalhar. As pessoas já estavam começando a comentar sobre a presença de Draco Malfoy e antes que isso chegasse aos ouvido de Hermione ele tinha que agir.


 


            Desceu finalmente as escadas do mezanino para o salão saindo da recepção para a festa. O local estava cheio e as pessoas ainda tinham aquele ar profissional enquanto conversavam e a orquestra tocava músicas clássicas. Ele quase não tinha paciência para esse tipo de festa, sabia que bastava mais algumas horas e as pessoas estariam agindo como loucas, fazendo coisas absurdas e a orquestra estaria tocando músicas bem longe das clássicas.


 


            Ele chegou no balcão do bar e postou-se bem ao lado de Hermione que esperava as bebidas que havia pedido. Seu cheiro o inundou e ele sentiu suas mãos suarem.


 


-       Whisky de fogo, por favor. – disse ao bartender. Ao seu lado ele percebeu Hermione travar todos os músculos e parar de respirar. Ótimo, ela havia reconhecido sua voz. O bartender foi rápido enchendo seu copo. Draco o pegou e tomou uma golada. – Olá, Granger. – ele se dirigiu a ela quando voltou o copo para o balcão.


 


Draco percebeu a luta que foi para ela o olhar. Quando finalmente seus olhos dourados tiveram coragem de encarar o dono da voz, Draco respirou calmamente, piscou e deixou os seus cinzas encontrarem os dourados dela. Eles se olharam em silêncio. Ele torceu seu lábio num fino sorriso de lado depois de tomar outro gole de seu whisky enquanto ela ainda tentava acreditar quem estava ao seu lado.


 


-       O que está fazendo aqui? – ela disse tão baixo que quase foi um sussurro. Tinha um certo tom ríspido.


 


-       Vim conhecer melhor o anel que está no seu dedo. – ele disse. – Você sabe,  jornais costumam ser bem sucintos.


 


-       Vá embora daqui, Malfoy. – ela disse dando as costas a ele.


 


Draco a segurou pelo punho e a fez voltar-se para ele novamente. Levantou a mão da mulher a altura de seus olhos e analisou de perto o anel em seu anelar.


 


-       Bem caro. – ele comentou. – Não me lembro de Potter com tanto dinheiro.


 


Agora sim ela havia ficado brava. Fechou seu punho e o puxou de volta desvencilhando-se dos dedos de Draco. Ele sorriu. Ela fechou a expressão.


 


-       Você não tem motivos pra voltar a esse país e me procurar. Por que está aqui? Por que agora? Por que? Vá embora e não volte, Malfoy! Esse foi o combinado! – vociferou com os dentes cerrados


Ela fez menção de dar as costas novamente, mas antes que pudesse ele a deteve segurando-a pelos dois braços. Colou seu corpo no dela e apertou seus lábios próximo ao ouvido da mulher. Sentiu todo o corpo dela fraquejar.


 


-       Eu aposto dez sacas de galeões de que não vai conseguir pregar os olhos essa noite, Granger. – Hermione tentou se desvencilhar dele, mas Draco segurou seus braços com mais força. – Sei que não ama Potter. – ele a soltou finalmente e ela não fugiu. Segundos se passaram até que ele finalmente afastou-se dela. – Você tem uma semana pra me procurar.  Sabe onde.


 


Hermione o encarava como se ainda estivesse processando tudo que ele havia dito, seus dedos fortes apertando seu braço, seu hálito quente sobre seu ouvido. Ela se sentira muito pequena perto dele.


 


-       Vá embora, Malfoy! Nunca deveria ter voltado! – ela disse desconcertada e deu as costas.


 


-       Não vá esquecer suas bebidas, Granger. – ele a lembrou antes que ela fosse embora.


 


Ela parou, respirou fundo, voltou-se para o balcão sem olhar Draco, pegou as duas bebidas que estava sobre ele e foi embora. Draco a observou sumir entre as pessoas. Suspirou e tomou o último gole de seu whisky, deixou o copo sobre o balcão e foi embora da festa.


 


**


 


-       Temos somente 24 horas aqui. – informou Draco quando entraram ele e Hermione no quarto do pequeno hotel de estrada que haviam conseguido.


 


-       Vamos precisar de menos. – Hermione disse sacodindo sua boina para tirar a neve.


 


-       Pelo amor de Deus, Granger! Nós não dormimos há dois dias! Eu preciso descansar.


 


-       Não podemos! As informações estão frescas no nosso cérebro e precisamos unir todas elas agora!


 


-       Me desculpe, garota, mas não posso pensar sem antes descansar. – ele foi irônico em sua rima e Hermione revirou os olhos enquanto se sentava na cama e puxava uma pilha de livros de dentro de sua mochila. – Vou a aquela loja lá em baixo buscar algo pra comer, quer algo?


 


-       Não. Eu estou bem. – ela disse abrindo um livro.


 


-       Você é humana? – ele perguntou horrorizado. – Tem ideia de quantas horas estamos sem comer?


 


-       Vá rápido, Malfoy! Vou precisar de você aqui! – Ela o apressou.


 


Foi a vez dele revirar os olhos. Deu as costas e saiu pela porta. Hermione passou a rabiscar freneticamente o caderno de anotações que carregava sempre consigo.


 


            Draco não demorou. Quando voltou encontrou a garota sentada sobre a cama, da mesma forma como a deixara, porém dessa vez a pilha de livros estava esparramada pela cama toda aberta e ela lia um deles. Jogou sobre ela as embalagens de comida que havia trago da loja.


 


-       Coma algo. – ele disse.


 


-       Você demorou. – ela resmungou enquanto tratava de colocar de lado as coisas que Draco havia jogado em cima de seus livros.


 


Ele riu do absurdo do comentário dela. Olhou a cama e ficou animado em saber que finalmente dormiria em um lugar decente apesar de saber que aquele quartinho não estava na lista de algo decente, mas comparado aos lugares que eles foram obrigados a dormir nos últimos seis meses aquilo mais parecia um palácio.


 


Draco tratou de tirar logo os sapatos, o casaco e a camisa e cair em seu lado da cama. Hermione protestou algo sobre amassar seus livros e ele não deu importância. Como estava cansado!


 


Tomou uma embalagem das coisas que pegara na lojinha e a abriu. Enfiou o bolinho que encontrou todo na boca. Estava uma delícia. Pegou outro e comeu. Olhou Hermione e ela estava calada entretida com as anotações de seu caderno.


 


-       Você deveria comer. – ele insistiu de boca cheia.


 


Ela ergueu os olhos e o encarou. Suspirou e pegou uma das coisas que ele havia trago. Olhou a embalagem e fez uma careta.


 


-       O que é isso?


 


-       Comida trouxa. – ele disse pegando mais um bolinho. – Achei que soubesse sobre as coisas do seu mundo. – ele a viu fazer outra careta e largar o pacotinho de volta ao monte de porcaria que ele pegara. Ele suspirou impaciente, pegou o que ela havia largado, o abriu e estendeu pra ela. – Isso é comida, Granger! Vai te manter viva!


 


Ela cansou da insistência, tomou da mão do outro o saco de biscoito e enfiou alguns na boca. Voltou a rabiscar seu caderno mantendo seus olhos longe do garoto sem camisa ao seu lado. Malfoy já havia a tentado inconscientemente por muitas vezes desde que tudo aquilo começara.


 


-       Veja bem. – ela começou depois de um tempo em silêncio. – As coisas não estão batendo. Se Eva foi a última pessoa com quem Régulos esteve no Lago de Grimma, como ela pode ter sido morta no mesmo dia no vilarejo de Holmeswood?


 


-       Bruxos podem aparatar, Sabia? – ele a lembrou


 


-       Mas ela foi morta durante o dia. O encontro de Eva e Régulos em Grimma foi durante a noite.


 


-       Alguém deve ter tomado polisuco e enganado Régulos.


 


-       Com que propósito? Se ele foi enganado, como conseguiu escapar e estar vivo hoje? Se o enganaram com polisuco durante esse meio tempo, a rota que refizemos de como ele conseguiu escapar de Voldemort vai por água abaixo.


 


-       O erro deve estar na cronologia das coisas então.


 


Ela suspirou rabiscando algo em seu caderno.


 


-       Talvez.


 


-       Vou dormir. Você deveria fazer o mesmo. – ele disse deitando de bruços e enfiando a cara no travesseiro enquanto o abraçava.


 


-       Precisamos ir a Holmeswood e saber se as pessoas se lembram do dia em que Eva morreu. Saber quando ela chegou ao Vilarejo e o que ela estava fazendo lá. – ela disse e ele não respondeu nada. Ela ergueu os olhos e o viu deitado. – Malfoy! Precisamos ir a Holmeswood.


 


-       Garota! – ele murmurou com a voz abafada pelo travesseiro. – Precisamos dormir!


 


Ela suspirou desfazendo toda a sua postura ao voltar a encarar toda a bagunça de livros ao seu redor. Seu corpo todo clamava descanso. Ela fechou seu caderno e encarou sua capa de couro. Precisava mesmo dormir. Mal se lembrava da última vez que dormira em uma cama. Sorriu de sua própria bobeira em querer deixar a oportunidade de descansar em um quarto de hotel para ficar estudando o que deveria. A ordem de prioridades poderia se inverter por necessidade de vez em quando.


 


      Hermione empurrou todos os seus livros para o chão. Tirou seu casaco e o largou sobre eles. Esticou-se do seu lado da cama assim como Malfoy e fechou os olhos. Suspirou sorrindo. Aquilo era mesmo uma cama.


 


-       Depois de dormir em um banco de carro essa cama parece valer uma fortuna. – ela comentou.


 


Ele riu já embriagado pelo sono.


 


-       Não seja tão modesta.


 


Foi a vez dela rir. O silêncio se seguiu e em menos de um minuto ambos dormiam pacificamente.


 


A noite caiu do lado de fora rapidamente. No quarto eles dormiam sobre uma cama disputando com pergaminhos, embalagens de comida lacradas e outras já violadas. No chão havia suas mochilas, os livros esparramados de Hermione, seus sapatos e casacos. O silêncio era mortal que quase se podia ouvir a neve tocar o chão do lado de fora.


 


Poucas horas depois Draco saiu de seu sono incomodado. Sentiu seus braços em torno de alguém e ao abrir os olhos percebeu que Hermione estava encolhida contra ele. Havia ficado frio e o cansaço de ambos mal os fizera se dar ao trabalho de dormir debaixo do cobertor. Ele pensou que talvez o ar condicionado estivesse quebrado ou algo do tipo. Fechou os olhos novamente e cochilou, porém algo o trouxe de volta para a realidade. O corpo de Hermione estava gelado e ele sentia realmente frio. A apertou contra ele tentando de alguma forma passar qualquer tipo de calor que houvesse nela para ele, mas foi inútil. Algo estava errado com aquele frio. Ele decidiu se cobrir, mas assim que a soltou ela acordou em protesto pelo frio.


 


-       Está frio. – Hermione murmurou com uma voz abafada e rouca afastando-se dele que tateava pela coberta.


 


-       É, eu sei que está! – outra voz feminina respondeu em alto e bom som.


 


Draco e Hermione paralisaram-se. O sono de ambos foi embora num estalo e eles procuraram a dona da voz que já bem conheciam. Pansy Parkison estava apoiada na parede com os braços cruzados bem de frente para a cama dos dois.


 


-       Então quer dizer que agora Draco Malfoy e Hermione Granger dormem de conchinha? – Pansy riu. – Quem diria hein, Malfoyzinho! Você se torna um traidor e ainda começa a dormir com uma sangue-ruim. – ela fez uma careta para Hermione. – Ah, espere! Tem algo errado! – teatralizou – Pelo que eu bem conheço de Draco Malfoy, ela – apontou para Hermione – estaria sem roupa. – Pansy franziu o cenho e sacudiu a cabeça de um lado para o outro. – Ainda tem algo errado! – pausou – Ah, claro! Draco Malfoy dividindo a cama com uma garota só? Você está regredindo hein, Draco! Parece até a época que namorávamos.


 


-       Como conseguiu entrar aqui, Pansy? – ele perguntou confuso.


 


Ela apontou a janela aberta.


 


-       Muito inteligente da sua parte lançar feitiços protetores na porta impedindo que intrusos entrassem e se esquecer da janela. – ela desencostou da parede. – Esse jogo acabou, Draco! O Mestre tem muito o que tratar com você. Vamos voltar para casa. – ela abriu a porta pelo lado de dentro e mais três comensais entraram no quarto. – Quanto a sangue-ruim, talvez o mestre a faça de isca para atrair Potter, ou apenas a dê como alimento para Nagini.


 


Ele procurou sua varinha embaixo do travesseiro assim como Hermione, mas elas não estavam lá. Um dos comensais se aproximou e Draco pode ver sua varinha e a de Hermione nas mãos de Pansy. Estavam desarmados. O comensal que se aproximou veio para o lado de Hermione na cama e ela recuou com medo. Draco passou o braço por ela postando-se meio que a sua frente.


 


-       Fique longe dela. – ele pronunciou.


 


Todos do quarto pararam. O silêncio e então Pansy riu alto.


 


-       Sério mesmo, Draco? – ela indagou divertida. – Vai defender a sangue-imundo? Quem foi que trocou seu cérebro? – ela fez uma cara de nojo – Não sei se vou ter estomago pra isso. Pegue-a logo de uma vez!


 


O comensal puxou Hermione pelo cabelo para fora da cama. Ela lutou ao mesmo tempo que gritava por causa da dor. O sangue fluiu nas veias de Draco. Ele se levantou foi em direção a Pansy.


 


-       Me dê essas varinhas, Pansy! – seus dentes estavam cerrados.


 


Os outros dois comensais o deteve segurando-o pelo braço antes que ele chegasse a Parkison. Draco lutou, mas mesmo que fosse forte o suficiente, era ele contra dois comensais.


 


-       Pare com esse jogo, Malfoy! – ela apontou a varinha para ele. – Nós o pegamos, não tem mais para onde correr.


 


-       Me dê as varinhas! – ele gritou enquanto ainda lutava contra os comensais.


 


As suas costas Hermione conseguiu acertar o estomago do outro com os cotovelos e nocautear em seguida suas partes baixas. O comensal urrou de dor e a largou. Ela caiu no chão e Pansy desviou sua varinha de Draco para ela a estuporando.


 


Hermione bateu com as costas na parede e escorregou para o chão. Draco conseguiu se livrar das mão de um comensal e aproveitando o braço livre e a proximidade de Pansy, arrancou as varinhas de sua mão num piscar de olhos. No outro ele estuporou o comensal do qual se livrara e no outro tratou de acertar seu cotovelo com força no nariz do que ainda o segurava. Livre ele apontou uma varinha para Pansy e hesitou apenar um segundo em estuporá-la, mas no outro ele já havia feito. Jogou a varinha de Hermione para ela que a pegou ainda se levantando do chão.


 


As mochilas vieram parar na mão de Hermione no segundo seguinte que ela havia ordenado para que se arrumassem. Ela jogou a de Draco para ele. O comensal que tivera Hermione nas mãos já estava de pé e a segurou quando ela tentou pular pela janela. Draco que saíra pela porta o estuporou e ajudou Hermione. Logo estavam eles de mãos dadas correndo escada abaixo para o pátio do estacionamento.


 


-       Não consigo aparatar! – Draco informou quando Pansy veio atrás deles lançando maldições às cegas. – Eles devem ter protegido a área!


 


-       O carro! – Hermione o puxou para a direção contrária da qual estavam correndo.


 


Em meio minuto Hermione dava partida com sua varinha num carro velho que estava solitário no pátio aberto do estacionamento daquele hotelzinho de quinta na beira da estrada. Pegaram a estrada numa velocidade exagerada e na cola deles Pansy e os outros três comensais vinham com suas vassouras.


 


-       Tente aparatar, Malfoy! – ela gritou


 


-       Eu estou tentando! – ele usou o mesmo tom dela.


 


Ela olhou para trás. A velocidade do carro não era páreo para as da vassoura e ela tentou imaginar quantos quilômetros teriam que andar para sair da área de proteção. Ela esperava que não fosse muitos porque sabia que em menos de um minuto seriam alcançados.


 


Um dos feitiços de Pansy atingiu o carro e ele perdeu o controle. A velocidade que estavam inclinou o carro avisando sobre o capotamento que sofreriam. Draco agitou a varinha em resposta mantendo as rodas sobre o asfalto e movimentando-se em alta velocidade.


 


Hermione pensou em todos os feitiços possíveis que poderiam fazer aquele carro ganhar mais velocidade, entretanto não era nada fácil de se pensar em um momento como aquele. Olhou para o retrovisor. Estavam muito perto.


 


-       Malfoy! – ela o apressou em desespero.


 


-       Estou tentando, Granger! – ele gritou.


 


Quando menos esperavam o vácuo pareceu compacta-los. O ar faltou a eles e tudo ficou escuro. Quando houve luz novamente e o oxigênio invadiu seus pulmões eles ainda estavam dentro do carro que voava numa velocidade extrema, a frente deles o tronco de uma árvore impedia o caminho. Hermione pisou fundo no freio em reflexo e dois segundos depois o carro batia de frente com a árvore.


 


Estavam vivos. Era o que o silêncio dentro daquele carro gritava para os dois.


 


-       E isso é o que acontece quando mulheres estão no volante. – Draco murmurou enquanto checava se nenhum osso seu havia sido quebrado.


 


-       Cale a boca, Mafloy. Você não sabe nem como dar partida em um carro trouxa. – ela disse enquanto limpava o sangue que escorria por sua têmpora.


 


Às costas deles o som de quatro estalos ecoou pela floresta que haviam aparatado. Hermione olhou pelo vidro trincado e Pansy vinha em sua direção com a varinha em punhos. Hermione voltou-se para Draco, segurou seu braço e lá estavam eles novamente sendo compactados pelo vácuo.


 


Quando abriram os olhos estavam a beira de um lago. O silêncio da noite pendia floresta a dentro. Pronto. De acordo com os atrasos previstos por Dumbledore eles teriam 24 horas de sossego agora. Hermione caiu de joelhos e enfiou as mãos sujas de sangue dentro do lago. Fechou os olhos e respirou fundo soltando o ar devagar esperando fazer com que seu coração parasse de querer sair pela boca. Estavam salvos. Por enquanto.


 


Draco aproveitou-se também da água do lago para limpar seus cortes. Percebeu que havia fraturados algumas costelas e agradeceu mentalmente McGonagall por todos os resumos sobre primeiros socorros quando as concertou por si só. A água quase congelada e o frio ajudaram a adormecer a dor. Ao seu lado Hermione vasculhava sua mochila. Tirou de dentro dela um frasquinho redondo, tomou um gole e deu o outro a ele. Draco o tomou sem protestar. Minutos depois percebeu que seus cortes começavam a cicatrizar de uma forma acelerada.


 


-       Vamos. Conheço o lugar. – Hermione anunciou pondo a mochila sobre as costas.


 


Ele a seguiu enquanto vestia sua blusa e seu casaco. Eles se enfiaram na floresta e Hermione precisou acender sua varinha por causa do escuro. Depois de um período curto de caminhada se encontraram numa clareira perto de uma pequena casinha de madeira mal cuidada que parecia querer desmoronar.


 


Já estavam quase congelando quando passaram pela varanda e entraram na casinha nua e fria. Não havia móveis, nem separação de cômodos. Há única coisa que havia era uma lareira velha que Hermione tratou de acender com agilidade. Ela sentou-se sobre as pernas de frente para o fogo e fechou os olhos sentindo-se ser aquecida. Draco apenas a observou ao ser também inundado pela onda de calor. Deixou sua mochila escorregar pelos seus ombros e encontrar o chão.


 


O silêncio.


 


-       Eu não sei o que houve. – Draco começou baixo. Qualquer tom que usasse parecia alto demais para o silêncio que dominava o lugar. – Acho que consegui entrar num estágio do meu sono que fez com que toda a concentração que mantenho com a magia do professor Dumbledore se dissipasse...


 


-       Tudo bem. – ela o cortou ainda de olhos fechados diante da lareira.


 


 -       Não. Não está tudo bem! Eles quase nos pegaram, Granger...


 


-       Malfoy! – ela exclamou mais alto que ele o cortando novamente. – Eu disse: tudo bem.


 


Draco Malfoy não entendeu.


 


-       Tem ideia do que fariam a você quando te entregassem a Voldemort?


 


Ela riu falsamente.


 


-       Como se você se importasse.


 


Ele torceu sua expressão em uma careta.


 


-       O que? Eu não estou falando de você! Estamos trabalhando nisso juntos...


 


-       E você se sente culpado por ter nos colocado em risco? – ela o cortou novamente. – Eu não estou te culpando!


 


-       Eu só...


 


-       Queria se desculpar?


 


-       Pare de me cortar, Granger!


 


-       Você me fez mal a vida inteira e está se importando com desculpas agora? – ele se calou. – Por que? – ela perguntou. Abriu os olhos e virou-se para ele. – Aliás Malfoy, desde quando você se importa em me alimentar, em me fazer descansar, em se por a minha frente pra me defender? Não precisa se prestar a esse papel só por que eu estou com você nessa! Sabe que não estou fazendo isso por você! Estou aqui por Dumbledore e principalmente por Harry!


 


O silêncio consumiu o lugar novamente enquanto eles trocavam olhares. Os olhos dela brilhavam num tom escuro e ele mantinha os seus naturalmente ameaçadores sobre ela.


 


-       Pensei que soubesse o motivo pelo qual eu estou aqui, Granger. – ele pegou sua mochila no chão, caminhou para a parede que intercedia a ladeira e sentou-se recostado a ela. – Nada do que eu faço é por você.


 


Hermione conseguiu encará-lo apenas por mais alguns segundos. Ela abraçou as próprias pernas e voltou a olhar para o fogo a sua frente. Draco observou a sombra das chamas sobre o perfil da garota.


 


-       Eu não preciso que me defenda. – ela disse tão baixo que foi quase um sussurro.


 


-       Mas eu vou. – ele retrucou. Ela piscou e desviou seus olhos para ele novamente. – Eu preciso de você, Granger! Eu não acreditei que aquele velho tivesse razão sobre isso, mas ele tinha! Não posso fazer isso sem você! – ela continuou com os olhos sobre ele – O mal que eu te fiz minha vida inteira faz parte de mim. Fui criado para odiar gente como você e te fazer mal me fazia bem. Não posso voltar naquele tempo e ser diferente para facilitar as coisas para nós agora. – ele se calou e ela piscou novamente enquanto mantinha seus olhos sobre ele igualmente calada. – As coisas são diferentes agora.


 


-       Diferentes como? – a voz dela saiu rouca.


 


-       Precisamos nos suportar. Temos interesses em comum. Um está usando o outro.


 


Ela piscou calma novamente. Assentiu. Suspirou e voltou a encarar o fogo. O silêncio durou muito dessa vez. O estalar das chamas corroía cada espaço vazio daquela pequena cabana no meio da clareira onde Hermione costumava passar com seu pai quando vinham pescar no verão em uma infância que lhe parecia ter sido há milhares de anos atrás.


 


-       Você ainda tem aqueles biscoitos aí? – ela perguntou depois de longos minutos em que o silêncio reinou.


 


Ele abriu um sorriso fino.


 


-       Eu sabia que estava com fome.


 


-       Eu não estava! – ela insistiu e Draco revirou os olhos jogando sua mochila pelo chão para ela. Hermione a abriu e pôs-se a procurar dentro do espaço infinito que havia ali dentro. – Merlin, Malfoy! Ninguém nunca te ensinou como se organiza uma mochila de viajem, não?


 


Draco suspirou impaciente. Foi até a garota, tomou a mochila de sua mão, vasculhou dentro dela e logo tirou o pacote de biscoito que havia aberto para ela horas atrás.


 


-       Tem casacos extras aí também? – ela perguntou e ele pode notar que ela ainda morria de frio. Seus lábios estavam roxos e sua estava pele pálida.


 


-       Não. – ele a respondeu. – Achei que eles ensinassem garotas a conjurar essas coisas naquelas revistas femininas.


 


Ela fez uma careta.


 


-       Acha mesmo que eu leio esse tipo de coisa.


 


Ele riu.


 


Horas depois o sol refletia na neve acumulada do lado de fora. No chão frente a lareira que ainda estalava fogo estavam deitados Draco e Hermione. Ele a abraçava cobrindo-a com seu casaco. Ela dormia. Ele não. Tinha medo de que perdesse novamente a magia de Dumbledore. Ele ainda precisava estuda-la melhor, precisava dominá-la de modo que qualquer estágio de sono que atingisse não os colocasse em risco novamente.


 


Ele sentiu a respiração ritmada dela contra a dele. Respiravam juntos. Estava a usando para conseguir ajudar sua família, mas antes que pudesse pensar nisso no momento em que viu aquele comensal por as mãos nela, a única coisa passou por sua cabeça foi que por favor não a machucassem.


 


**


 


Ele soltou um urro ao mesmo tempo que se sentava ao acordar num pulo. O suor lhe escorria todo o corpo, sua respiração estava ofegante e seu braço queimava numa dor excruciante. Apertou com a outra mão a marca negra viva em seu braço tentando conter a dor que o cegava. Por um minuto ele não teve ideia do que pensar, de como agir ou onde estava nem do que estava acontecendo a ele. Cambaleou para fora da cama e entrou para dentro do chuveiro. Deixou a água gelada lhe escorrer pela cabeça enquanto ofegava tentando concentrar-se.


 


A dor mal o deixava pensar em todas as vezes que praticara a magia de Dumbledore, mas ele se esforçou. Não parecia querer ir embora, mas em pouco tempo ou ele estava se acostumando ou sua concentração estava funcionando. Ele manteve-se ali até que sua respiração se acalmasse e a dor amenizasse. Quando destampou a marca em seu braço viu que sua pele estava em carne viva. Ardia, porém nada comparado ao que havia sentido antes. Abriu e fechou a mão deixando o sangue voltar a circular e bufou soltando o ar aliviado. Fechou os olhos e ergueu a cabeça sentindo a água gelada cair contra seu rosto tendo tempo finalmente para se situar.


 


Estava na Irlanda. Lembrou-se do porque estavam ali, lembrou-se de estar na casa de um casal idoso e hospitaleiro, trouxas, lembrou-se de Hermione girando em um vestido engraçado emprestado pela velha da casa com uma guirlanda feita de flores pequenas no topo da cabeça durante o jantar da noite anterior quanto o velho tocava suas músicas irlandesas. Ela havia feito a alegria daquele casal. Lembrou-se de como ela com aquele sorriso, aquele vestido e aquela guirlanda na cabeça parecia a garota mais linda do mundo por mais que o conjunto de tudo aquilo fosse horroroso.


 


Ele fechou o chuveiro e abriu os olhos. Estava pensando muito em Hermione. A semana que estiveram naquele país foi cansativa e muito produtiva. Estavam partindo para o sul da Europa e tudo parecia mais certo do que nunca de que finalmente encontrariam Régulus. Permitiram-se gastar as 24 horas que tinham em cada lugar que aparatavam naquela simples pousada do casal idoso para fazer o que a muito tempo não faziam: descansar.


 


Draco olhou para o quarto e lá estava Hermione de pé, próximo ao chuveiro, carregando uma toalha nas mãos. Quando seus olhos se encontraram ela caminhou até ele, estendeu a toalha e ele a pegou. Secou o rosto, os cabelos e se sentou na beira da banheira enquanto o resto da água lhe escorria pelo corpo.


 


Ela se sentou ao lado dele, tocou seu braço com cuidado esperando a aprovação dele para ver a marca e ele permitiu. Ela analisou por um tempo o vermelho em torno da caveira de Voldemort marcada nele e então se levantou. Quando ela voltou tinha algo nas mãos que passou sobre o lugar. O alívio completo fez Draco agradecê-la mentalmente. Eles ficaram um bom tempo sentados ali em silêncio.


 


-       Você me assustou. – Hermione decidiu dizer com a voz baixa. Ele piscou devagar enquanto suspirava frustrado. – O que aconteceu?


 


Silêncio.


 


-       Eu perdi a magia do professor Dumbledore novamente e Voldemort encontrou a brecha para me presentear com pesadelos.


 


Hermione hesitou.


 


-       Acha que podem nos encontrar? Talvez devêssemos aparatar para outro lugar...


 


-       Não. – ele a cortou. – Foi diferente dessa vez. Eu não a perdi toda, eu apenas dei a ele uma brecha. – ela assentiu. – Pode descansar, Granger. Vamos ficar bem aqui.


 


Silêncio.


 


-       Por favor, me chame se precisar de algo. – foi só o que ela se limitou a dizer para não mostrar sua preocupação.


 


Ele assentiu. Ela hesitou, porém levantou-se e voltou para cama. Draco permaneceu ali por um bom tempo. Quando Hermione achou que ele voltaria para a cama, ele se levantou e saiu do quarto. Ela se sentou. Fazia um tempo significativo que havia notado que sempre quando conseguiam dormir ele parecia ficar agitado, mas como quase nunca descansavam de verdade seus pesadelos nunca o levaram para aquele nível. Ela realmente havia ficado assustada.


 


Levantou-se e foi até a janela. Lá ela pode vê-lo focar o nada que havia na frente da casa que estavam hospedados com as mãos enfiadas no fundo do bolso. E ele simplesmente parou ali. Ela não podia sequer decifrar o que estava acontecendo com ele. Quando tudo aquilo começou e ele ainda não havia praticado os estudos de Dumbledore ela realmente não se importava quando ele rugia de dor pela marca em seu braço. Sentia-se bem quando o via sofrer, mas olhando-o ali por aquela janela ela teve quase que a mesma sensação que tinha quando via Harry se ausentar do mundo e se fechar em sua própria bolha. Ela queria poder ajudar.


 


      Ela voltou para a cama sem poder fazer muita coisa. Não podia invadir o mundo dele, além do mais, tudo que ela sabia sobre Draco Malfoy era incerto, misterioso e ameaçador e ela ainda não sabia ao certo se tinha medo de pisar nesse campo para estuda-lo melhor. Dormiu. Quando voltou a acordar o céu ainda estava escuro, porém anunciava que mais alguns minutos e os primeiros raios de sol surgiriam. Draco estava sentado em seu lado da cama. Ele estava cercado pelos pergaminhos que ela sabia que eram os estudos da magia para conter a ligação que havia entre ele e Voldemort. Ele parecia concentrado em um deles.


 


-       Ficou acordado todo esse tempo? – ela perguntou sonolenta enquanto se sentava.


 


Ele desviou a atenção de seu pergaminho para ela. Um sorriso discreto que ela nunca havia visto no rosto de Malfoy, um que ela nunca sequer imaginara que ele pudesse ser capaz de dar, apareceu em seus lábios. Ele fez que sim com a cabeça mas como se não soubesse o que fazia. Hermione sentiu-se estranha o tempo em que ele ainda manteve seus olhos sobre ela antes de desviá-los de volta para seu pergaminho.


 


Ela o observou por um longo tempo de silêncio. O quarto foi ficando cada vez mais claro e ela ainda mantinha seus olhos nele que estudava seus pedaços de pergaminho. Ele era bonito. Mesmo com os olhos fundos, cansados e o cabelo todo bagunçado. Não dava pra ignorar que ele era um Malfoy e tudo nele assustava, mas ainda como um bom Malfoy ele também tinha os traços que pareciam ter sido esculpidos com um detalhe de precisão absurdo. Não dava pra negar que tudo nele gritava sua linhagem de puro-sangue, tudo parecia perfeitamente encaixado em seu corpo de uma maneira que em nenhuma outra pessoa é, a forma como seus cabelos caiam mesmo bagunçados, o desenho de seu queixo, o formato do nariz, até mesmo a forma como piscava parecia ter passado por um processo de seleção para ser aprovada se podia ou não fazer parte dele. Ela suspirou. Sentiu-se muito inferior a ele.


 


-       Malfoy. – ela o chamou e ele desviou os olhos novamente para ela. – O que Voldemort te fez sonhar? – perguntou com a voz ainda falhada.


 


Por um segundo ela teve receio do que ele poderia lhe responder, mas lembrou-se de que ali eles eram duas pessoas muito distante das crianças que haviam deixado em Hogwarts.


 


Ele a encarou em silêncio e permaneceu assim quando voltou-se novamente para o seu pergaminho. Hermione pode notar que ele estava em silêncio não por não querer compartilhar com ela seu pesadelo, mas sim porque não queria se lembrar.


 


-       Ele torturava minha mãe. – ele disse finalmente. Disse tão baixo que ela quase podia enxergar o tom de sua voz refletido na escuridão que seus olhos se tornaram. – A culpava por ter criado um filho traidor.


 


O silêncio.


 


-       Você sabe que pode não ser um sonho verdadeiro...


 


-       Motivos não faltam a Voldemort para torturar meus pais, Granger! Ele sabe que eles não tem escolha a não ser serem submissos a ele! Sendo verdadeiro ou não, esse pesadelo é tão possível quanto sentir sede e calor no deserto! – ele terminou e o silêncio se instalou entre eles novamente. Ele em seu pergaminho, ela o encarando. Hermione daria qualquer moeda para saber o que se passava na mente dele. – Eu não escolhi ser um traidor. – ele largou seu pergaminho, fechou os olhos frustrado e passou a mão sobre eles. Quando os abriu e a encarou tinham um brilho intenso. – Eu deveria ter matado Dumbledore! Eu, Granger! De repente tudo deu errado e lá estava eu com esse título que não me pertence! Eu não escolhi ser traidor! Se eu tivesse matado Dumbledore eu estaria no ciclo de Voldemort agora, sendo engrandecido por todos, trabalhando para ele! Eu seria de confiança e meus pais certamente não estariam sendo torturados por criarem um filho traidor! Voldemort só não os matou ainda porque precisa da influência do meu pai!


 


-       Prefere ser um assassino a um traidor? – ela perguntou quase que num sussurro.


 


Ele se calou como se nunca tivesse se feito essa pergunta.


 


-       Prefiro ser livre. – finalmente respondeu. – Longe da sombra de Voldemort que perseguiu minha família durante toda a minha vida.


 


Hermione o encarou. Soube que sua resposta era mais do que verdadeira, mas ela enganava sua pergunta.


 


-       Não. – ela concluiu depois de um tempo. – Você prefere ser um assassino.


 


Draco se surpreendeu por não ter sido convincente. Não deveria realmente, havia aprendido que Hermione não era uma garota tão fácil de se tapear.


 


-       Eu sou um Malfoy, Granger.


 


-       Isso não significa que tem que ser como eles.


 


-       Mas eu sou! Eu sou como eles! Sou egoísta, preconceituoso, vingador, trapaceiro, e tenho orgulho disso!


 


Hermione se calou. Não havia nada que ela pudesse discutir. Ela conhecia seu lado preconceituoso mais do que ninguém.


 


-       Faz parte de quem você é, certo? – ela sussurrou.


 


Ele tinha seus cinzas sobre os dourado dela.


 


-       Sim, faz parte de quem eu sou. – ele a respondeu. Eles se encararam. Draco pode ver no brilho dos olhos dela que ela bem sabia quem ele era e que aquilo a machucava. Em qualquer outro momento de sua normalidade ele não importaria, mas seu cérebro tirou foto de cada movimento que ela fez em seguida quando umedeceu os lábios, os apertou em uma fina linha, assentiu com a cabeça e arrastou-se para fora da cama. – Granger. – ele a deteve segurando-a pelo pulso. O contato incomum entre os dois fez com que tudo entrasse em um minuto de pause. O silêncio que se seguiu fez Draco perceber que ele se importava com o que ela sentia em relação a ele e se sentiu incrivelmente incomodado ao saber que o que ela guardava dele não era nada bom. Ele quis pedir desculpas, mas seu orgulho jamais o deixaria. – É só uma parte de mim. – foi o que conseguiu dizer.


 


-       Escute, Malfoy. – ela começou. Seus olhos muito longe dos dele. – Eu sei que não quer, nem escolheu, estar aqui, principalmente comigo. Sei que preferiria seu momento de glória no ciclo de Voldemort. Sei que seria muito mais confortável para você viver como comensal sobre a sombra assustadora de Voldemort do que nesse mundo inconstante que estamos agora, mas... – ela respirou fundo. – Por favor, não me deixe acordar um dia e saber que você foi embora. Que você voltou para o lado deles e me deixou terminar isso sozinha.


 


Draco ergueu as sobrancelhas. Certo, ele não esperava por aquilo. Seus dedos afrouxaram sobre o pulso dela.


 


-       Hei. – ele se aproximou dela, mas parou quando percebeu o que fazia. Hermione notou que ele havia se aproximado e conteve-se para não recuar. – Eu não vou te deixar. – disse baixo e quase não acreditou quando seu coração pulou ao dizer aquilo.


 


Os olhos dela voltaram a procurar os dele. Por um segundo rápido os olhos dele caíram para a boca dela e seus lábios rosados lhe pareceram absurdamente convidativos, mas como num estalar de dedos lá estava ele com seus olhos se limitando a permanecer focado apenas nos dourados dela.


 


-       Não sei se seria burrice confiar na palavra de um Malfoy. – ela disse.


 


-       Vou te provar que não é.


 


**


 


            Draco esperou que o elfo da família Malfoy abrisse com esforço a pesada porta de entrada da enorme mansão que se estendia a frente deles. Perdeu a paciência ao vê-lo sofrer com o peso da porta e a empurrou com as próprias mãos. A casa era exatamente a mesma de como se lembrava. Fazia anos que não aparecia ali. A colossal escada da entrada, os dois cômodos abertos da lateral, os corredores detrás da escada que acessavam a sala de jantar, a decoração em mogno, vermelho vivo e prata, tudo estava exatamente como da última vez que estive ali. O elfo o conduziu para um dos cômodos das laterais, atravessou a pequena sala e abriu uma porta. Draco entrou e encontrou sua mãe.


 


-       Olá mãe. – anunciou sua chegada.


 


A Sra. Malfoy parecia enormemente ocupada em escolher um novo tapete voador, mas assim que escutou a voz do filho largou as milhares de peças que o vendedor desenrolava a sua frente e virou-se para vê-lo.


 


-       Draco! – ela abriu um sorriso sincero para o filho. – Eu fui a sua sede hoje cedo e a Sra. Miller disse que fazia quase uma semana que não aparecia por lá.


 


-       Mãe, o que eu já falei sobre você indo ao meu local de trabalho. – ele disse enquanto se jogava num dos sofás da luxuosa sala íntima que se encontravam.


 


-       Nunca dá para saber em qual das suas casas você está! – ela voltou-se novamente para o vendedor e passou a mão sobre um dos tapetes que ele mostrava a ela para sentir a textura. – Como vou saber sobre você já que nunca vem aqui? É meu filho e eu me preocupo com a vida que anda levando! Esses daqui vem da china, não é? – ela perguntou ao vendedor e ele tratou de responder que sim. – São lindos! – ela desenrolou um deles. – Não gosto que fique aparatando de um lado para o outro sempre. – ela voltou a falar com o filho – Sabe que não é bom.


 


-       Sou acostumado.


 


-       Você tem que se estabilizar, formar uma família, ter filhos! Pense no nome da família, Draco! Não pode ficar vivendo essa vida para sempre!


 


-       Não incorpore o discurso do meu pai agora!


 


Ela suspirou frustrada e foi até o filho sentando-se ao seu lado. Tinha uma feição preocupada no rosto. Demonstrava muito suas emoções para uma Sonserina.


 


-       O que te trás de volta a essa casa depois de todos esses anos? Ou melhor. O que te trás de volta a Inglaterra? Pensei que nunca mais fosse voltar a esse país.


 


-       Estou apenas visitando minha velha casa. Não posso?


 


Silêncio.


 


-       Eu leio os jornais, Draco Malfoy.


 


-       Então não faça perguntas que já sabe a resposta. – ele terminou.


 


Ela se calou. A tensão pairou sobre os dois enquanto ele esperava que ela encaminhasse a conversa para o lado que ele não queria entrar. Ele se achou estúpido em pensar que talvez seus pais pudessem ignorar o fato que o havia trago de volta a Inglaterra.


 


Sua mãe aprumou a postura, apertou os lábios e puxou o ar.


 


-       Bem. – ela forçou um sorriso e se levantou voltando a dar atenção ao vendedor – Já que está aqui porque não me ajuda a escolher um novo tapete para o quarto de hóspedes?


 


Draco soltou o ar aliviado. Apreciou o esforço de sua mãe e ficou grato por ela ter evitado a enorme discussão que começariam se naquela sala fosse mencionado o nome de Hermione Granger.


 


-       Essa casa já não tem tapetes o suficiente? – indagou ele.


 


-       Eu quero novos. – ela pegou um e mostrou a ele – O que acha desse?


 


Ele fez uma careta.


 


-       Mãe! Sabe que não tenho bom gosto para essas coisas! – ele protestou.


 


A Sra. Malfoy riu alto.


 


-       Se lembra daquela vez quando era criança que deixei você e seu pai escolherem novos quadros para sala de jantar e vocês me vieram com um horroroso cheio de frutas?


 


Draco riu. Não pelo mal gosto em escolher o quadro, mas sim por se lembrar de como ele e seu pai haviam conseguido aquele quadro horroroso e de como haviam combinado nunca contar a verdadeira história sobre ele para sua mãe.


 


-       Pelo menos ele serviu por alguns anos na cozinha.


 


-       Ainda não sei como permiti vocês deixarem aquilo pendurado na parede da minha casa! Mesmo que fosse na cozinha!


 


Ele riu novamente enquanto se levantava. Foi até sua mãe e estalou um beijo em sua têmpora.


 


-       Vou subir.


 


-       Seu pai deve estar na varanda da biblioteca.


 


-       Vou para meu quarto primeiro.


 


-       Vamos servir o jantar daqui a pouco. Não quer se juntar a nós?


 


Draco hesitou. Ele não pretendia. Talvez não fosse uma ideia muito inteligente permanecer muito tempo no mesmo ambiente que seu pai pelo que sabia de como os ventos sopravam erroneamente para o seu lado, mas estava muito grato pelo modo como sua mãe havia se comportado ignorando esse fato. Talvez seu pai também fizesse esse esforço.


 


-       Tudo bem. – ele sabia que seu pai não faria.


 


O sorriso que sua mãe abriu compensou. Ele seguiu o caminho para seu quarto.


 


-       Filho. – sua mãe o chamou antes que ele pudesse sair.


 


-       Sim.


 


Ela tinha um brilho bonito nos olhos.


 


-       É bom te ter em casa. – ela disse a ele.


 


Ele abriu um sorriso para ela.


 


-       É bom estar em casa. – e saiu.


 


**


 


            Ninguém conversava na sala de jantar dos Malfoy. O barulho dos talheres arrastando no fundo do prato pareciam estrondosos para o silêncio incomodo do lugar. Jantares ali nunca foram ao todo de muita falação. Eram uma família fria, entretanto cada um ali naquela mesa sabia o porque evitavam trocar palavras.


 


            Draco pigarreou.


 


-       Recebeu o presente que enviei no seu aniversário? – perguntou ao pai.


 


-       Sim.


 


-       Bem, você não disse nada.


 


-       Estou dizendo agora.


 


-       Gostou?


 


-       Sim.


 


Silêncio.



O barulho dos talheres arranhando na porcelana novamente pareceu durar horas a fundo até seu pai voltar a falar.


 


-       E como estão seus negócios?


 


-       Excelentes. Rendem bastante já que somos os únicos fornecedores e o produto é raro.


 


-       E quando você pretende fechar as portas?


 


Draco respirou fundo. Sabia que não havia sido uma boa ideia começar a conversar durante o jantar. Ingenuidade demais acreditar que seu pai pouparia uma oportunidade de lhe por contra a parede.


 


-       Não sei. Talvez nunca. Tem dado muito certo. – respondeu ele.


 


-       E como pretende dar conta dos seus negócios e dos negócios da família? Aliás, quando pretende assumir os negócios da família?


 


-       Pai...


 


-       A família Malfoy está no ramo de poções por mais de um século! Somos os melhores! Pessoas escrevem livros sobre nós! – ele finalmente encarou o filho. – E estou começando a pensar que vai deixar tudo isso morrer em você...


 


-       Foi você quem sempre me disse que todos esperam algo grande de um Malfoy! O que eu tenho feito está sendo muito bem reconhecido! – Draco estava começando a se irritar.


 


-       O que tem feito não está nos planos da família!


 


Narcisa Malfoy limpou a garganta forçadamente cortando a discussão dos dois.


 


-       Queridos, não na hora do jantar, por favor. – seu tom foi completamente autoritário.


 


Os outros dois se calaram. Draco ficou grato pela mãe ter cortado a discussão fazendo voltar o silêncio. Ele esperou que dessa vez ninguém voltasse a abrir a boca, mas como sabia que as coisas com seus pais nunca saiam da forma como esperava há muitos anos, sua mãe voltou a falar.


 


-       Então, Draco, o que tem feito pela Inglaterra? Miller disse que você ficaria aqui por uma semana. Por onde tem andado?


 


-       Cada dia em um lugar. – mentiu ele.


 


-       Quer passar a noite aqui? – sua mãe voltou a perguntar.


 


-       Tenho outros planos, mãe.


 


-       Como se encontrar com Hermione Granger? – a voz do seu pai soou novamente no recinto. Draco parou com o garfo a caminho da boca e sua mãe quase botou para fora o suco que havia acabado de beber. Nenhum momento anterior o havia feito se arrepender tanto de ter concordado em jantar com sua família como agora. – Nada te traria de volta a esse país que não fosse ela, não é mesmo Draco?


 


Ele viu sua mãe cobrir o rosto com as mãos. Draco largou seus talheres e se levantou da mesa. Ele não era obrigado a passar por tudo aquilo novamente. Por isso não gostava de visitar seus pais, de estar com eles, muito menos de conversar com eles.


 


-       Você não procurou por ela, procurou? – sua mãe perguntou descobrindo o rosto. Ele continuou atravessando o salão para ir embora. Ela se levantou. – Draco Malfoy! – ele continuou andando. – Se encontrou com ela?


 


-       Sim! – ele quase gritou voltando-se para os pais. – Sim, eu a procurei e me encontrei com ela!


 


-       Por que não esquece essa garota?! – sua mãe usou o mesmo tom dele.


 


-       Porque eu a amo! – ele bateu com as mãos no fim da mesa.


 


Ele viu seu pai torcer a expressão numa de nojo, limpar a boca com seu guardanapo e se levantar.


 


-       Não posso lidar com isso novamente. – e saiu do salão pela porta mais próxima.


 


-       ESSA GAROTA ARRUINOU NOSSA FAMÍLIA! – Narcisa bradou com ódio.


 


-       Tem ideia do quanto ela fez por essa família? – ele vociferou tornando a atravessar novamente toda a mesa para se encontrar frente a frente com sua mãe. – Se não fosse por ela vocês estariam apodrecendo em Azkaban assim como todos os outros comensais!


 


-       Ah, não me venha com essa estúpida historinha novamente! Nós dois aqui sabemos que ela nunca fez nada por nós! Tudo que ela fez foi por aquele amiguinho dela que por sinal, está noivo dela agora!


 


-       POR SUA CULPA! – ele gritou.


 


Sua mãe fez uma careta.


 


-       Acha mesmo que eu deixaria você ficar com uma sangue-ruim, Draco?


 


-       Ela tem um sangue que vale incontáveis vezes o nosso!


 


Narcisa riu alto. Seu riso era forçado.


 


-       Acredito que seu pai tenha razão quando fala que esta colocando por água abaixo toda a história da nossa família. – ela lançou um olhar deprimente para o filho. – Eu amo você, filho, e nós te criamos para merecer o sobrenome que carrega, mas você está estragando tudo que sempre foi importante dentro dessa casa. – ela aprumou a postura. – A garota está se casando com outro. Vocês não foram feitos para ficarem juntos. Fazem parte de realidades muito diferentes. Está na hora de você acordar, Draco Malfoy. – e saiu pelo mesmo local que o marido.


 


Draco sentiu o sangue ferver em suas veias. Suas mãos coçaram e no segundo seguinte ele estava jogando seu prato de comida contra a parede. Tudo aquilo terminaria novamente na Travessa do Tranco, naquele quarto pequeno e insalubre do pub do velho, na companhia de todas as suas garrafas de álcool. E assim como as outras noites anteriores, Hermione não apareceria.


 


**


 


Finalmente estava só. Draco olhou de um lado para o outro dos jardins do castelo de Hogwarts e sentou aliviado na pequena mureta que dividia as estufas de Herbologia do enorme gramado que se estendia para o lago. Fechou os olhos e desejou voltar no tempo. Tudo havia acabado. Régulus havia ajudado a ele e a Hermione com muito custo. Encontrar o velho comensal havia garantido a eles muitos cabelos brancos, mas convencê-lo a ajuda-los havia sido ainda mais penoso. Draco conseguira livrar seus pais de Voldemort antes mesmo de Hermione voltar para Harry Potter e ajuda-lo a matar o próprio.


 


A Ordem estava toda concentrada no castelo novamente assim como depois da morte de Dumbledore. Ele fugia de cada pessoa em especial daquele lugar. Sabia bem o que comentavam sobre ele. Sobre sua família em processo de julgamento no Ministério, sobre ele ter se aproveitado da Ordem e que ele deveria ter sido preso junto com todos os outros comensais. Ele não se importava. Só comentavam aquilo porque haviam ganho a guerra, o que Draco agradecia todos os dias. Ele sabia que se Voldemort ainda estivesse vivo as coisas estariam muito mais feias para o lado dele agora que tinha conseguido passar a perna no maior bruxo das trevas livrando seus pais da mão do poderoso.


 


As únicas pessoas que não se afastavam quando passava tinham o nome de Hermione Granger e Severus Snape, mas seu professor favorito estava sempre ocupado com Minerva tratando de assuntos da Ordem e resolvendo problemas com os julgamentos no Ministério trabalhando para que todos fossem punidos justamente e Hermione estava agora com seus amigos todo o tempo. Eles haviam voltado a Hogwarts e o ar daquele edifício pareceu separar os dois como havia separado durante os seis anos de escola. Ele se sentava sozinho na hora das refeições enquanto ela estava cercado por seus milhares de amigos, rindo e contando histórias.


 


Ele contava nos dedos as vezes que ela havia direcionado o olhar para ele enquanto estavam no salão principal de Hogwarts. Quando o fazia, ela parecia se desligar de todos a sua volta, sorria para ele e ele sorria de volta, eles partilhavam em silêncio do que passaram juntos naqueles sorrisos, como se tivessem trancado aquele tempo no fundo de um cofre que ninguém tinha o direito de tocar, tudo entre eles havia mudado durante aqueles dois anos. Não demorava muito e alguém a chamava trazendo-a de volta para o mundo, ela levava seus olhos para longe dos dele e lá estava ele novamente sozinho.


 


Ele pensava naquele tempo quando fechava os olhos. O tempo em que eles estavam cada dia em um lugar, juntos, só ele e ela. Lembrava desse tempo e tentava procurar o dia exato, o momento e o segundo em que ele havia deixado de odiá-la. Não conseguia encontrar. Ele precisava encontrar esse dia. Ele precisava entender porque.


 


Escutou o murmúrio baixo de um conversa que vinha se aproximando. Ele abriu e revirou os olhos. Estava cansado de fugir das pessoas. Não era possível que em nenhum lugar daquele maldito castelo ele ia ter paz. Olhou para trás e pelo vidro de uma das estufas ele viu Harry Potter e Hermione Granger de mãos dadas, passando pelo corredor. Apertou os lábios sem paciência. Algo muito mais forte que o seu desapreço por Potter o corroía todo por dentro quando pensava nele tocando Hermione. Aquele ácido estranho lhe desceu garganta abaixo quando viu os dois juntos. Ela parecia distante enquanto ele falava.


 


-       Hermione! Está me escutando? – Potter falou alto.


 


Ela murmurou algo baixo em resposta que Draco não conseguiu ouvir. Ele se levantou da mureta a fim de deixar os dois a sós. Não que ele quisesse, mas a força da vontade que teve de ir até lá e arrancar Granger da companhia de Potter o assustou.


 


Olhou uma última vez o casal pelo vidro da estufa e foi obrigado a parar. Potter segurava o rosto dela e a proximidade com que estavam fez com que o ácido em sua garganta voltasse. Ele dizia algo baixo só para ela. Draco fez uma careta. A cada segundo que seus olhos ficavam focados naquela cena ele sentia suas unhas entrarem na palma de sua mão no fundo dos bolsos de sua calça.


 


            Harry foi beijá-la e ela desviou o rosto. Draco sorriu. Potter pareceu precisar de um minuto para entender que Hermione não queria seu beijo. Afastou-se dela e ele pareceu precisar de mais tempo para entender o que se passava na mente dela enquanto a encarava.


 


-       Certo, Hermione! – ele exclamou alto. No tom de sua voz havia raiva. – Agora é a hora que você me explica o que foi isso. - Ela ficou calada como se tentasse entender o que havia feito. – O que está havendo com você? Não consigo mais te entender! Você mudou! Por que anda se comportando entranho como se não se encaixasse mais entre nós? Não estou falando de nós dois apenas, Hermione!


 


-       Me desculpe, Harry! Nós ficamos muito tempo longe um do outro. Foram quase dois anos que não tivemos contato algum!


 


-       Sim, e eu não gosto nem de lembrar que durante esse tempo todo você esteve com outro homem!


 


Ela ergueu as sobrancelhas como se aquilo tivesse a ferido.


 


-       Por Deus, Harry! Nós não estamos falando de qualquer outra pessoa, estamos falando de Draco Malfoy! Você não está insinuando que eu...


 


-       Eu não estou insinuando nada! – ele a cortou. – Eu apenas quero entender o que houve com você! Gina disse que você não consegue dormir direito e que tem noites que passa em claro lendo liv...


 


-       Gina o que? – foi a vez dela o cortar. – Desde quando eu virei pauta de assunto entre você e Gina? Ela nunca tratou desse assunto comigo.


 


-       Nós comentamos sobre você, Hermione! Está diferente. Não somos só eu e Gina.


 


-       Não gosto da forma como ainda pronuncia o nome dela. – ela disse e Potter revirou os olhos erguendo as mãos. – Eu quem deveria estar preocupada com o tempo em que estivemos longe. Você esteve com Gina e o histórico entre vocês é bem mais preocupante do que o meu com Malfoy! Desde que nos encontramos você vem agindo como um excelente namorado, mas eu estou precisando de um amigo! Do meu melhor amigo! E você costumava ser ele! – ela deu as costas e voltou para o castelo deixando Harry sozinho.


 


Draco sorriu. Aquela garota não era fácil. Largou Potter sozinho assim como ela e voltou pelo caminho contrário para o castelo. Não esperou que fosse possível, mas a viu cruzar o saguão de entrada assim que passou pela porta principal. Ela estava milagrosamente desacompanhada. Ele conseguiu alcançá-la quando ela chegou na escada.


 


-       Discurso enjoativo aquele seu de hoje de manhã. – ele começou quando passaram a subir juntos.


 


Ela se virou surpresa, o viu e por incrível que pareça se sentiu em casa perto dele. Não se sentia assim desde que haviam se separado.


 


-       Obrigada, Malfoy. Sei que gostou. – ela sorriu permitindo que ficassem lado a lado enquanto avançavam pela escada. Havia se orgulhado de seu pronunciamento pela manhã durante uma cerimônia em homenagem aos mortos durante a guerra. Todos a haviam elogiado menos ele. Ele sempre era o contrário de todos.


 


-       Não estou brincando, Granger, foi horrível. – ele riu.


 


Ela revirou os olhos enquanto tomavam rumo ao corredor leste do castelo já no segundo pavimento.


 


-       Todos gostaram. Sua opinião não conta.


 


-       Então é só voltarmos para esse castelo e minha opinião perde credibilidade?


 


-       Vamos dizer que ela nunca teve credibilidade realmente.


 


-       Hei! – ele protestou.


 


-       Não foi nessa esquina aqui que você me chamou de sangue-ruim uma vez?


 


-       Granger. – dessa vez ele estava sério.


 


Ela riu.


 


-       Tudo bem, Malfoy! Eu sei! Faz parte de quem você é! – ela disse e ele se perguntou quando foi que aquilo havia virado piada para ela. Não gostava que ela mencionasse aquilo. Ela parecia sempre querer lembrar a ele do preconceito que ele tinha por ela. Talvez fosse uma forma de lembrar a ela mesma também.


 


Hermione empurrou a porta de um escritório generosamente bem arrumado e ele entrou seguindo ela. Uma estante enorme que ia do chão até o teto se estendia a sua frente. Uma claraboia cheia de arcos dava iluminação e em um canto havia uma mesa com muitas cadeiras em volta.


 


-       Bela sala. – Draco comentou enquanto se sentava na mesa, punha um dos pés na cadeira a frente e passava a brincar com a goles que havia encontrado no chão. Havia visto Gina Weasley com aquela goles durante o almoço se não lhe falhava a memória.


 


-       É minha. – ela informou orgulhosa.


 


-       Desde quando você passou a ter posse de ambientes em Hogwarts?


 


-       Desde que me tornei professora. – ela disse enquanto pegava livros da pilha que estava sobre a mesa e os ajeitava numa pequena estante logo atrás.


 


Ele riu.


 


-       Essa escola não vai parar nunca de ser uma piada!


 


-       Não vai ser por muito tempo e vou dar aula só para os três primeiros anos. – ela explicou. – McGonagall pediu ajuda já que está tudo muito complicado de se organizar desde a morte de Dumbledore e agora com essa confusão no mundo bruxo depois da morte de Voldemort as coisas pioraram. – ele ainda ria de uma forma zombateira. Ela se sentou ao lado dele na mesa – E saiba você que ela disse que nunca conheceu professores em Hogwarts com notas tão boas quanto as minhas nos testes finais.


 


Ele continuou a rir.


 


-       Cuidado para que seus alunos não te confundam com uma estudante nos primeiros dias. – zombou ele.


 


Ela estreitou os olhos.


 


-       Segure a língua, Malfoy, ou vou ser obrigada a te lançar uma azaração.


 


Ele jogando a goles para ela que a pegou.


 


-       Você sabe como eu sei ser rápido em me desviar de feitiços, Granger. Dois anos não foram o suficiente pra você aprender?


 


Ela lançou a goles para ele novamente.


 


-       Não seja tão econômico descontando os outros seis que passamos aqui nesse castelo!


 


Eles riram. Fazia muito tempo que não era só ele e ela novamente. Tudo parecia ainda mais confortável sem a pressão de que precisavam encontrar um novo lugar para ir antes que vencessem as vinte e quatro horas.


 


-       Me diga o que tem feito aqui pelo castelo? – ela perguntou.


 


-       Tenho tentando encontrar uma forma de escapar daqui, mas parece que Snape o selou bem para que ninguém entrasse nem saísse.


 


-       Eles vão nos liberar logo. – ela disse tentando ajudar. Sabia do que as pessoas comentavam sobre ele.


 


-       É, eu sei.


 


-       E o que pretende fazer depois que se ver livre?


 


A pergunta o atingiu. Ele não sabia. Até o presente momento ele só havia pensado em se ver livre daquela prisão cheia de pessoas que lhe apontavam o dedo e em, bem, Hermione. Deu de ombros para ela.


 


-       Não sei. Se não leu os jornais, as coisas não andam muito bem para o meu lado não é só aqui dentro.


 


-       Sua família vai ser absolvida, Malfoy. Sabe disso. No máximo terão que prestar serviços comunitários ou pagar algo com a fortuna de vocês como punição por terem escolhido se juntar a Voldemort no início da guerra. – ela disse e ele assentiu. Queria poder estar assistindo ao julgamento dos pais, mas estava preso naquele maldito castelo. – Malfoy. – ele piscou e a encarou. – Nunca vi ninguém criar feitiços e magia como você. – ela sorriu para ele. – A forma como você desintegra os feitiços e os junta de uma forma nova, os cálculos que faz, os estudos que desenvolve. Você é muito bom. Deveria se aprofundar nisso.- ela sugeriu.


 


Draco a encarou. Ele tentava escolher uma palavra para descrever a sensação que teve a ouvir ela dizer tudo aquilo. Sentiu-se envergonhado por não merecer estar sequer do lado dela ali naquela sala. Mesmo com todo o rancor que ele sabia que ela guardava por ele dentro de si, lá estava ela dizendo o quanto ele era bom em algo que ninguém nunca havia notado, nem mesmo seus pais.


 


-       Acha mesmo que sou bom? – ele queria ter certeza de que havia escutado corretamente.


 


-       Por Deus, Malfoy! Você é ótimo! Nunca vi ninguém fazer o que você faz. – ela disse sorrindo enquanto roubava a goles dele.


 


Ele processou todas as palavras dela. Teve novamente aquela vontade louca de tocá-la. Era desesperador conter aquilo que havia se tornado cada vez mais constante durante o tempo que estiveram juntos. Ali parecia ainda mais desesperador.


 


            Tudo que foi capaz de fazer foi sorrir para ela. Ele não era digno. Não era digno sequer de olhar nos olhos dela.


 


-       Bem, ainda faltam seis meses para o início das aulas. O que pretende fazer até lá, Srta. Granger? – ele tentou mudar de assunto.


 


Ela deu de ombros enquanto se levantava e andava pela sala sem caminho específico.


 


-       Harry tem uma casa no Largo Grimmauld. Vamos ficar lá por um tempo, ele, eu, Rony, Gina e mais algumas pessoas.


 


Ele se levantou logo atrás dela.


 


-       Vai sentir falta de estar comigo. Vai ver o quanto Potter é chato.


 


Ela riu incrédula pelo comentário dele.


 


-       Eu não já deveria ter visto isso faz tempo?


 


-       Você ainda não tinha me conhecido, Granger! – ele puxou a goles da mão dela.


 


-       Ah! Diz isso porque mal consegue dormir a noite sem a minha companhia do seu lado. – ela provocou puxando a goles de volta.


 


Ele riu.


 


-       Tem certeza de que esse sou eu e não você?


 


Draco puxou novamente a goles para ele, mas dessa vez ele se livrou dela e aquela vontade louca de tocá-la já parecia não ter porque ser contida. Ele a segurou pelo braço e a puxou pela cintura para ficarem próximos. Ambos riam.


 


A porta se abriu quase que no mesmo segundo. Harry Potter apareceu por ela. Ele parou fitando os dois como se não acreditasse. Draco a soltou se perguntando de onde havia tirado a ousadia para tocá-la e o que ele pretendia fazer se Harry Potter não aparecesse por aquela porta.


 


-       Olá, cicatriz. – Draco ironizou seu bom humor. – Como sempre, atrapalhando!


 


-       Ah Harry... – Hermione sussurrou ao seu lado.


 


Harry parecia ignorar a presença de Draco. Ele encarava Hermione incrédulo ainda.


 


-       Não acredito que e você realmente me disse tudo aquilo sobre Gina a pouco tempo atrás com a seriedade que eu vi nos seus olhos e agora me faz ver isso! – ele tinha uma voz falhada.


 


-       Harry... – ela repetiu ainda num sussurro como se lamentasse profundamente. – Não é isso que você está...


 


Ele soltou um riso alto e sarcástico a cortando


 


-       Por favor não diga essa frase, Hermione! – seu tom foi ríspido agora. Seus olhos verdes pularam de Draco para ela seguidas vezes. – Vocês podem continuar de onde pararam. – ele deu as costas.


 


-       Já que insiste, cicatriz!


 


Draco deu de ombros dando um passo para Hermione. Ela recuou instantaneamente. Harry permitiu que a provocação deixasse que o sangue subisse por suas veias. Voltou-se para ele e em um passo tinha os punhos fechados na gola do casaco de Draco e o arrastava para fazê-lo bater as costas na estante que ia até o teto. Hermione gritou tentando conter Harry, mas a força com que ela o segurou não foi suficiente.


 


-       Você-fica-longe-da-minha-garota. – Harry vociferou com o dedo apontado para Malfoy.


 


-       EU NÃO SOU SUA GAROTA! – Hermione gritou com raiva para Harry.


 


O sorriso sarcástico levantou o canto dos lábios de Draco. Harry ofegava para ele enquanto processava as palavras de Hermione que ainda ecoavam pela sala.


 


-       Você escutou a garota, Potter. – Draco ajudou a confirmar as conclusões do outro.


 


Harry o soltou sem escolha. Algo em seus olhos parecia ignorar ele por completo e dar espaço para um brilho enorme de frustração. Ele se voltou para Hermione que tampava a boca com as mãos arrependida das palavras que tinha soltado.


 


Harry deu as costas novamente e saiu. Parecia um tanto quanto sem rumo. Ele parou com as mãos na porta. Virou-se novamente para ela e seu rosto se comprimiu numa dor profunda.


 


-       Por que depois de tudo que ele já te fez passar você... – ele parou sem palavras. Virou novamente fazendo menção de que sairia, mas tornou a encará-la. – EU SEQUEI TODAS AS LÁGRIMAS QUE VOCÊ DERRAMOU POR CULPA DELE! – Harry gritou. Hermione parecia uma estátua enquanto o encarava com os olhos bem abertos. – Agora eu entendo porque você chorava tanto quando ele te desprezava. – Harry olhou com nojo para Draco e finalmente foi embora.


 


O silêncio pairou. Foi o mais incomodo de todos. Hermione puxou o ar como quem ganhava vida. Destampou a boca e correu para a porta. Parou e olhou Draco. Ela parecia perdida.


 


-       Desculpa. – ela disse e saiu.


 


Desculpa? Draco ajeitou a gola do casaco. Não entendia como ela conseguia direcionar aquela palavra tantas vezes para ele sendo que ambos sabiam que quem devia o maior pedido de desculpa de todos era ele.


 


Agradeceu a Harry Potter por ter chegado naquela sala exatamente na hora certa, ele havia se segurado dois anos inteiros para não tocar nela e tudo pareceu acontecer muito rápido e de forma completamente imperceptível ali naquela sala. Talvez porque sentiam-se muito mais confortáveis sem toda a pressão que haviam tido de suportar o tempo que passaram juntos procurando por Régulus. Ele havia aprendido a gostar dela, a gostar de conversar com ela, a ouvir o que ela tinha para dizer sempre. Praguejou por saber que não veria Hermione desacompanhada ou livre tão cedo antes dele ir embora daquele castelo e se afastar da vida dela de uma vez por todas. Pensar nisso o fez sentir aquele ácido novamente em sua garganta, no entanto dessa vez ele parecia correr suas veias também. Deixar Hermione pra sempre. Estava errado ele não querer aquilo. Estava muito errado e ele precisava concertar esse errado.


 


**


 


            “Tem certeza?”, ecoava na mente de Hermione Granger. “Tem certeza?”


 


-       Não sei. – ela sussurrou em resposta para si mesma.


 


Estava parada de frente para a porta de um velho pub na Travessa do Tranco. As luzes amarelas que atravessavam o vidro empoeirado da minúscula vitrine alertava que o local estava aberto. Olhou de um lado para o outro da estreita avenida mal cuidada do mais conhecido centro de comércio bruxo ilegal da Inglaterra e tentou se lembrar de como ele passou a se tornar comum para os olhos dela.


 


Esticou a mão para abrir a porta mas a recuou novamente. Fechou os olhos e respirou fundo com raiva de si mesma. “Tem certeza?” Ela tinha que superar aquilo. Era ridículo essa agonia que passava toda noite ao se deitar.


 


Esticou a mão novamente mas a porta se abriu sozinha. Do outro lado um bruxo com um chapéu pontudo bem mal posto sob a cabeça surgiu. Uma garrafa quase vazia de Whisky balançava de um lado para o outro seguras na mão do homem que tentava se manter de pé.


 


-       Merlin! Vi um anjo! – ele soluçou e caiu no chão escorregando pela porta.


 


-       Tirem esse verme da porta do meu estabelecimento! – escutou alguém gritar do lado de dentro.


 


Hermione segurou a porta e passou por cima do corpo do outro entrando no pub. Dois homens grandes vinham na direção da saída buscar o outra caído porém pararam assim que a viram.


 


-       Aqui não é lugar para moças, senhorita. – um deles disse.


 


Ela estreitou os olhos sentindo-se ameaçada ao escutar o outro.


 


-       Te mostro que tipo de moça eu sou quando colocar minha varinha pra funcionar em você. – alguma coisa ela tinha aprendido em seus dois anos com Malfoy.


 


Os homens riram, deram de ombros e passaram por ela passando a chutar o outro no chão para o lado de fora tentando deixar livre a passagem na porta.


 


Hermione passou os olhos pelo local. Estava cheio. Ela caminhou por entre as mesas e percebeu os olhares se voltando para ela. Começaram a fazer piadinhas. Ela se irritou, mas continuou fingir ignorar. Quando chegou a escada e passou a subir seus degraus um por um, teve medo de que ela viesse a baixo do tanto que a madeira estava podre e os parafusos frouxos. Respirou fundo e continuou a subir.


 


“Tem certeza?” Ela estava agora parada de frente a última porta do corredor. No andar de cima as vozes do pavimento abaixo eram só murmúrios abafados. Estava deserto e parecia que não era a primeira a passar ali em milênios. Fechou os olhos. “Tem certeza?” Ela nunca havia ido tão longe naquela teimosia.


 


-       Tenho. – abriu os olhos, ergueu a mão e bateu na porta.


 


Pareceu um eternidade esperar pela resposta. Quando estava se preparando para bater novamente, alguém a abriu.


 


Draco Malfoy apareceu do outro lado. Ela bateu os olhos nele e soube que muito provavelmente estivera lendo durante muito tempo. Havia aprendido muito sobre Malfoy.


 


Ele carregou sua expressão imediatamente numa de incredulidade e dúvida assim que a viu em sua porta. Seu cenho franziu enquanto ele tentava convencer a si mesmo de que não era sua cabeça lhe pregando peças depois de um longo dia de muito trabalho.


 


-       Granger? – ele precisou ter certeza.


 


-       Posso entrar? – ela apressou-se.


 


Ele apenas a encarou por muito tempo em silêncio. Hermione tinha ódio dessa personalidade Sonserina impregnada nele. Ela poderia observar Malfoy por um dia inteiro e ele permanecer com a mesma expressão. Raras as vezes em que ela havia visto ele abandonar essa característica, mas em sua maioria ela tentava decifrá-lo, entender o que se passava em sua mente, mas simplesmente não conseguia. Ele agia das formas mais inesperadas, surpreendendo-a das maneiras mais imprevisíveis e ela sequer podia ser capaz de compreender já que sua expressão era sempre aquela imutável.


 


-       Como me achou? – perguntou ele.


 


-       Já tive trabalhos mais difíceis com relação a isso. – ela respondeu.


 


Eles se encaravam por um longo tempo em silêncio. Ela teve novamente aquela agonia da expressão Sonserina imutável que ele tinha estampada na face. Havia aprendido a conviver com aquilo, mas ali ela estava sendo muito inconveniente.


 


-       Vá para casa, Granger. – ele disse e fechou a porta.


 


-       Malfoy! – ela segurou a porta antes que ela batesse e ele a abriu novamente.


 


-       O que faz aqui, Granger? – perguntou ele num tom cansado.


 


-       Posso entrar? – ela insistiu.


 


-       Me diga o que quer. – foi a vez dele insistir.


 


-       Eu não sei o que eu quero, certo? – ela respondeu num folego só sentindo-se pressionada. Eles se encararam em silêncio novamente. – Posso entrar? – ela arriscou mais uma vez.


 


-       Volte para casa, Granger. – e bateu a porta.


 


Hermione ficou lá olhando para a madeira desgastada a sua frente. Sentiu-se tão ridícula que sua garganta queimou. Ela se repreendeu um milhão de vezes. Por que ele estava tratando-a daquela maneira? Ela havia pensado que eles haviam vencido essa barreira há muito tempo. Foram dois anos juntos. Por que ela nunca conseguia entender Draco Malfoy? Por que ele era sempre tão imprevisível? A última vez que haviam conversado não fazia pouco mais de uma semana no castelo de Hogwarts e ele parecia ser quase seu melhor amigo ali. Ela havia aprendido que ele tinha essa bipolaridade constante, mas ali ele havia sido quase que novamente o Malfoy que a insultava nos corredores da escola.


 


Talvez tudo fosse explicável. Certo que haviam estado juntos durante dois anos e nesse tempo haviam conseguido vencer muitas barreiras, mas algo que nunca haviam conversado mas que sempre havia estado certo entre eles era que quando tudo aquilo acabasse e estivessem bem, seguiriam suas vidas como antes, cada um para o seu lado, como sempre havia sido. Eles não tinham laços em comum, não tinham personalidades em comum, não tinham amigos em comum, não tinham vidas em comum. Eles apenas haviam tido um interesse em comum, mas que já havia sido resolvido. Hermione sentiu-se novamente estúpida. Deu as costas e seguiu para o caminho de onde havia vindo.


 


Draco permanecia do outro lado da porta com as mãos ainda na maçaneta. O que ela pensava estar fazendo indo atrás dele? Logo quando ele precisava ficar longe dela. O mais longe possível! Ele precisava parar de pensar nela, precisava que tudo ao seu redor parasse de lhe fazer se lembrar dela, precisava parar de querer sentir seu cheiro novamente, precisava se livrar o vício que era observá-la dormir, ele precisava parar de querer tudo aquilo que havia vivido com ela e principalmente precisava se livrar das lembranças de todas as vezes que havia tido a chance de abraça-la, de cheirá-la, de tocá-la, de sentir seu corpo e simplesmente havia permanecido imóvel decretando a si mesmo que ela era proibida. Ele precisava estar longe dela. Bem longe dela.


 


Abriu a porta novamente e foi atrás dela. A encontrou parada no fim do corredor a beira da escada com a mão pousada no corrimão. Estava escuro exceto pela luz fraca que vinha do andar de baixo. Ele não precisou correr para alcançá-la ou chamá-la para fazê-la parar. Ela já estava. Ele se aproximou e parou logo as suas costas. Eles ficaram em silêncio.


 


-       Eu sinto sua falta, Malfoy. – ela disse tão baixo que foi quase um sussurro. – E isso me incomoda muito. – ela acrescentou. Draco sentiu um frio correr em sua espinha. Como era bom escutar a voz dela. – Acho que isso é só comigo.


 


Ele fez menção de descer as escadas, mas ele a deteve segurando-a pelo braço.


 


-       Não é só com você. – ele apressou-se a dizer enquanto ela puxava de volta seu braço.


 


-       Eu entendi! – ela se virou para ele. – Você não precisa mais de mim então não é mais obrigado a me suportar ou me tratar com educação...


 


-       Não é isso, Granger! – ele a cortou passando a mão pelos cabelos.


 


-       Então me explica. Por favor! Me explica porque você foi tão inconstante conversando comigo em Hogwarts como se devêssemos muito um para o outro e agora simplesmente me trata como a sangue-ruim que foi obrigado a aturar durante o tempo que precis...


 


Ela foi obrigada a parar. Não porque não tinha mais o que falar, mas porque ele havia a tomado pelos dois braços, a prensado contra a parede e agora ele ocupava sua boca com a dele. Aquilo havia sido um susto e tanto. Ela precisou de dois segundos para entender que ele estava a beijando. Não era nada forçado, ele apenas pressionava sua boca contra a dela. Como um convite.


 


-       Eu só estou tentando concertar, Granger. – ele se afastou. Minimamente. Ela podia quase enxergar os poros de seu rosto. – Consertar a agonia que eu sinto em querer estar perto de você vinte e quatro horas. Preciso concertar porque isso só pode ser errado!


 


Ele usou uma voz que ela nunca havia ouvido dele. Era rouca e ao mesmo tempo tão grave que parecia que iria fazer tudo vibrar ao redor enquanto ela soava. Ela não entendia, mas aquela voz parecia ter o poder de fazer cada membro seu formigar. Agora ela entendi o que as meninas comentavam quando associavam o nome Draco Malfoy com a palavra sedutor. Por si só e de longe ele já fazia muita menina querer derreter, mas aquela voz...


 


Ela guardou o que ele havia dito, se era verdade ou não ela descobriria depois. Antes ela tinha urgência em aceitar o convite que ele havia feito antes de dizer qualquer palavra. Enfiou as mão nos cabelos do loiro e precisou ficar na ponta dos pés para sentir a boca dele novamente contra a sua.


 


Beijar Hermione era como provar uma fruta fresca e suculenta. Draco tentou entender como ele havia resistido aquela boca que tantas vezes o havia chamado em silêncio. Aquilo estava errado! Tudo gritava ao redor que aquilo estava errado. As paredes, o chão, o teto, o nada, as pessoas lá em baixo, os copos quebrando no chão. Tudo gritava que estava errado e que devia parar, mas dane-se! Ele estava beijando a boca de Hermione Jane Granger. Era como derrubar o muro de Berlim.


 


Antes que pudessem raciocinar ele já a carregava pelo corredor para o quarto. Ele precisava compensar dois anos onde ela havia sido proibida. Ainda era, mas depois que tudo que passaram chegou ao fim as coisas entre eles saíram do tolerável para o insuportável e talvez ele realmente precisasse estar com Hermione para conseguir as respostas das perguntas que se fazia de minuto em minuto desde que ela havia saído de seu lado.


 


**


 


 


-       Eu nunca pensei que fosse assim. – ele disse ofegante.
 


Hermione depositou um beijo sobre os lábios dele e sorriu em seguida.


 


-       Assim o que? – perguntou ela beijando-o novamente.


 


-       Ir par a cama com alguém que se gosta. – ele respondeu.


 


Houve um momento de pausa. Hermione se afastou sentando-se sobre ele. Draco teve a perfeita visão do corpo dela. Ali sobre ele, com seu corpo banhado pelas chamas que crepitavam na lareira e a respiração ainda tão acelerada quanto a dele. Ela era a coisa mais linda que ele já havia visto em toda a sua vida. E olha que ele já havia visto muitas daquela mesma forma.


 


Ela franziu o cenho. Houve mais um segundo de silêncio enquanto ela esperava que ele fosse acrescentar mais alguma coisa.


 


-       Está se lembrando de quem está aqui agora com você?


 


Ele riu. Sentou-se e abraçou seu quadril apertando-o mais contra o dele. Ela havia sido dele. Havia sido dele de uma maneira que nenhuma das outras milhares de garotas que passaram por suas mãos havia sido. Ele olhou bem dentro dos olhos brilhosos dela.


 


-       Sim. – ele respondeu. – Hermione Jane Granger. – disse o nome dela, o que a fez sorrir. Sentiu os braços dela cercarem seu pescoço. Ele se aproximou e ela fechou os olhos. Sentiu seu hálito quente. Era delicioso. Ele se perguntou como havia resistido aquilo durante dois anos. Ela havia estado do seu lado, todas as noites e ele queria muito tocar ela, mas sabia que não podia. Não podia porque não queria só o corpo dela. Ele entendia isso agora. – Gosto de você. – sussurrou para ela.


 


-       Desde quando passou a gostar de sangues-ruins? – ela sussurrou de volta para ele. Draco descobriu o quando ela podia ser sexy usando aquela voz.


 


Ele riu.


 


-       Me faço essa pergunta todos os dias, Granger. – segurou-a pela cintura e deitou sobre ela. Afastou-se para olhar bem em seus olhos. Desviou para cada linha em seu rosto e parou em sua boca rosada. Se lembrava das noites que inconscientemente ele se pegava desejando-a, querendo descobrir se era tão deliciosa e macia como aparentava. Ele se inclinou e a beijou. Ele sabia agora que era muito mais do que ele pensava que fosse. – Gosto do sabor que você tem. – ele disse – É diferente estar com você. É completamente diferente. – ele selou seus lábios novamente nos dela. – Estive com muitas garotas, Granger, e pra mim elas sempre foram um pacote com boca, seios e um buraco entre as pernas, mas por favor, me responda o que tem de especial em você que parece que eu estou segurando o mundo inteiro em minhas mãos?


 


 


Ela suspirou. De repente se imaginou um pedaço de manteiga se derretendo. Não era certo que aquilo a afetasse tanto.


 


-       Eu sou como elas...


 


 


-       Não. Não é. – ele a cortou. – Eu te odiava muito. Você roubava meu lugar de melhor aluno em poções! Todos da minha família sempre se destacaram em poções! Meus pais me perturbavam dia e noite sobre como eu deveria estudar mais porque estava arriscando  a credibilidade do nome dos Malfoy perdendo em poções para uma aluna sangue-ruim! Eu virava noites estudando, semanas preparando poções, para no fim sua poção ganhar o posto de a melhor. Eu odiava que as atenções sempre fossem pra você e de repente quando cresceu todos os garotos comentavam sobre Hermione Granger e eu sentia ainda mais ódio porque não podia negar que era linda. – ele soltou a respiração de uma vez. – Eu só te queria bem longe do meu caminho e agora está errado eu não conseguir viver longe de você.


 


Ela estava completamente surpresa, mas o sorriso sonhador que ela esticou nos lábios fez algo saltar dentro do coração dele. Era como se aquilo tudo vivido durante uma vida inteira ainda não fosse suficiente. Ele a queria.


 


-       Não faz sentido você me dizer todas essas coisas depois de tudo que já me fez passar. – ela suspirou. – Eu nunca entendi porque me afetava tanto que você me odiasse.


 


Draco sentiu seu coração pesar. A culpa o invadiu e o agonizou. Sentiu-se sujo por tocá-la. Agora que a conhecia sabia o quanto era indigno dela. O quanto ele não a merecia. colou sua boca na dela. Sua respiração parecia desesperadora.


 


-       Granger, por favor, me perdoe. – seu tom tinha um ar de súplica enquanto ele falava contra a boca dela. A apertou com força contra o seu corpo. – Por favor me perdoe por todas as lágrimas que eu te fiz derramar. Eu sei que ainda guarda tudo isso...


 


-       Malfoy! – ela o parou e ele se afastou para olhar novamente em seus olhos. – As coisas mudaram entre nós o tempo que estivemos juntos.


 


-       Mas eu sei que ainda guarda...


 


-       Malfoy! – ela o parou novamente. – Não é assim tão fácil te perdoar.


 


O silêncio. Pela primeira vez ela viu dor nos olhos dele. Ele nunca expressava nada. Mas Draco a estava surpreendendo de todas as formas desde o momento que ele havia a calado na beira da escada daquele pub. Agora ela estava pronta para escutar qualquer absurdo de sua boca e ver a verdade expressa nos olhos dele.


 


-       Me diga que um dia vai poder me perdoar.


 


Ela deixou que ele visse também nos olhos dela a dor que ela guardava de todas as ofensas que ele havia a feito. Ergueu uma das mãos e passou pelo rosto dele. Deixou suas unhas roçarem na barba que apontava em seu queixo e ele fechou os olhos suspirando. Tentou entender como alguém de sangue-puro como ele, com a fisionomia perfeitamente esculpida como a dele, e com o ego tão lapidado quanto o dele conseguia estar pedindo perdão a ela de uma forma tão suplicante. Ela queria muito poder perdoá-lo.


 


-       Eu realmente espero poder um dia, Malfoy. – ela sussurrou.


 


Ele abriu os olhos encarando-a intensamente. Selou seus lábios novamente nos dela e escondeu seu rosto contra o fino e cheiroso pescoço que ela tinha. Distribuiu seus beijos ali e depois brincou com o lóbulo de sua orelha até voltar para sua boca. Se beijaram. Gostavam de cada beijo. Por mais que fosse o mesmo muitas vezes, parecia diferente, como se em cada um eles descobrissem algo novo um do outro.


 


Hermione já estava surpresa o suficiente em conhecer um Draco Malfoy que ela jamais cogitara conhecer. Havia convencido bastante para si mesma de que sua necessidade de estar com ele durante aqueles dias eram meramente a consequência da quebra brusca de um costume que ela havia adquirido. O de estar com ele. Mas sabia e tentava omitir que voltar a estar com ele não seria o suficiente. Ela queria mais do que estar somente do lado dele como estivera durante os outros dois anos anteriores.


 


Eles giraram e ela estava por cima dele novamente. Os beijos que trocavam eram descompromissados e leves. Queriam sentir a boca um do outro e tocar um ao outro. Hermione se surpreendia e se derretia com a forma como ele tocava seu corpo. Era carinhoso, cuidadoso, sem pressa e ao mesmo tempo intenso. Hermione se lembrava de quando Gina descrevia Malfoy durante a época em que ela esteve perdidamente apaixonada por ele. Ela se lembrava da amiga o descrevendo como urgente, possessivo e por vezes até agressivo. Hermione tinha raiva de como Gina se sentia em perfeito estado mental sendo tão superficial, tentou alertá-la, mas a amiga nunca deu ouvidos a um bom concelho quando se dizia respeito ao seu desesperado coração. Draco era um Malfoy e nunca estariam no nível de um Malfoy.


 


-       Eu não sou garota para você. – ela sussurrou contra a boca dele. – Por que age como se estivesse apaixonado por mim.


 


Eles se afastaram e se encararam. O tempo de silêncio que se estendeu fez Hermione ponderar se havia dito algo muito errado. Ele a olhava de um jeito estranho. Ela nunca havia visto Draco Malfoy tão expressivo.


 


-       Hermione. – ele a chamou pelo nome enquanto tocava seu rosto com carinho. Aquilo a assustava e ao mesmo tempo lhe fazia querer que o tempo parasse. – Esqueça quem somos agora. – ele disse. – Vamos só estar juntos. Como quando estávamos antes da guerra acabar.


 


 


Ela sorriu. Podia fazer aquilo. Era o que queria. Foi por isso que ela o havia procurado. Aproximou-se dele e fechou os olhos sentido seus rostos tão próximo e seus corpos colados pele com pele. Ela tentava encontrar uma palavra para poder descrever a sensação, mas não conseguia a encontrar em seu extenso vocabulário. Queria poder estar assim com ele até seu último suspiro de vida. Céus! Aquilo era tão errado!


 


-       Podemos fingir que temos somente vinte quatro horas aqui? – ela disse enquanto sentia os dedos dele passarem por sua nuca e entrarem entre seus fios de cabelo. Aquilo fazia todos os pelos de seu corpo se eriçarem. – Podemos dormir juntos. – ela sentiu os lábios dele roçarem nos dela. – Gostava quando me abraçava durante a noite.


 


Ele soltou um riso abafado. Hermione sentia seus membros perderem as forças. Ele era tão homem.


 


-       Gostava se sentir seu cheiro antes de dormir. – ele usou aquela voz rouca novamente. Como ele fazia aquilo?  A girou e lá estava ele sobre ela novamente. – Se temos somente vinte e quatro horas aqui precisamos decidir para onde vamos quando elas se expirarem.


 


-       Podemos decidir isso depois. – ela o beijou mostrando o que queria naquele momento.


 


Ele entendeu muito bem. Sorriu contra os lábios dela e não negou lhe dar novamente uma amostra de Draco Malfoy.


 


Era quase que inacreditável aceitar que ela o satisfazia tanto que ele sentia como se não precisasse de mais nada na vida que não fosse ela, aquele quarto e aquela cama. Ele parecia ter conquistado o ponto máximo de sua vida ali. Tudo soava incrivelmente errado e perfeitamente desejável. Ele não se importaria com nada. Estaria com ela, como quanto estavam antes do fim da guerra, mas dessa vez diferente. E enquanto isso significasse ter o mundo para ele, ele estaria ali com ela.


 


**


 


            Draco não pode deixar de ser compreensivo com a expressão surpresa que havia no rosto de Hermione Granger quando ele abriu a porta.


 


-       Eu pensei que você tivesse dito uma semana. – ela disse afastando-se da porta assim que a viu ser aberta.


 


Ele riu da expressão que ela ainda mantinha no rosto.


 


-       Acontece Granger, que eu sabia que você é ética demais para vir se encontrar comigo carregando esse anel no dedo. Você esperaria o prazo que eu havia lhe informado passar para poder vir aqui com a consciência menos pesada. – ele a viu estreitar os olhos e riu novamente. – Você nunca deixa de buscar desculpas para poder cometer seus erros, não é mesmo?


 


-       Obrigada por me refrescar a memória. Eu havia me esquecido completamente que você sempre joga baixo, Malfoy.


 


-       Por favor, pare de continuar procurando desculpas que façam diminuir sua culpa. – ele a viu puxar o ar com raiva. – Não faça essa cara, sei que gostou de me encontrar ainda por aqui. – ele deu espaço para que ela entrasse.


 


Hermione passou os olhos no corredor rapidamente para se assegurar que não havia ninguém por ali antes de entrar no quarto daquele velho bar. Ela quis fugir ao ver tudo aquilo novamente exatamente como se lembrava. A cama, a janela empoeirada, as poltronas encardidas, o cheiro dele. Tudo aquilo lhe doía.


 


Draco fechou a porta as suas costas e ela se sentiu completamente fora de ambiente estando ali em pé enquanto milhões de lembranças se repetiam bem de frente ao seus olhos.


 


-       Pode se sentar. – ele apontou para ela a outra poltrona vazia enquanto sentava-se na sua.


 


-       Estou bem de pé. – ela apressou-se a dizer. – Além do mais, você será rápido no que tem a dizer. Eu tenho outros compromissos.


 


Ele riu dela. Aquilo a deixava com muita raiva.


 


-       Sente-se, Granger. – ele insistiu.


 


-       Me diga logo de uma vez por todas porque está fazendo isso! – ela se irritou com a calma dele.


 


-       Você sabe porque. – ele ainda mantinha aquela calma que a fazia querer voar sobre o pescoço dele.


 


-       Se soubesse eu não estaria aqui.


 


-       Você sabe e é exatamente por isso que está aqui.


 


-       Pare! – ela quase gritou e assustou-se com o próprio tom de voz que usou. Respirou fundo buscando sua calma. – Eu vou me casar, Malfoy. Eu estou seguindo com a minha vida. E estou feliz! – ela disse com calma.-  Em  um estágio que demorou para eu conseguir novamente! – acrescentou. - Você não tem o direito de aparecer depois de cinco anos só porque alguém me propôs em casamento e eu aceitei!


 


 


-       Eu não sumi durante cinco anos... – ele se levantou.


 


-       O que deveria ter feito! – ela exclamou. – Eu fiz a minha parte e você não esta cumprindo com a sua! Não esta cumprindo com a sua parte vindo aqui! – ela respirou fundo afastando-se quando ele se aproximou demais. – O que quer de mim?


 


-       Sabe exatamente o que eu quero de você. Nada mudou. Você sabe que nada mudou. – ele tocou o pulso dela com cuidado e ela puxou de volta afastando-se dele novamente com agilidade


 


-       Pare com isso, Malfoy! Tem ideia do quanto isso soa doentio? Voltar para Inglaterra depois de todo esse tempo, me procurar e ainda dizer essas coisas sabendo que estou com outra pessoa! Por que simplesmente não para? As coisas estavam bem como estavam...


 


-       Não estavam...


 


-       Estavam sim! Você está com a sua vida como deveria estar e eu estou com a minha. Cada um seguindo a sua. Como deveria ter sido depois da morte de Voldemort.


 


-       Não sou como você, Hermione Granger. - ele se aproximou e dessa vez ela não recuou. – Não posso conviver com a ideia de que vai se casar. Não posso conviver com a ideia de que vamos viver duas vidas separadas, que vai ter filhos com outra pessoa! Não é tão fácil para mim quanto é pra você...


 


-       Isso é ridículo. – ela riu incrédula, deu as costas para ele e seguiu para a porta, mas antes mesmo que pudesse enticar a mão para girar a maçaneta ele segurou seu pulso com força dessa vez, a girou e a pressionou contra a porta. Agora ela não tinha para onde recuar. Ela sentiu a respiração dele contra seu rosto. A proximidade que ele mantinha era agoniante. Fazia seus músculos arderem e seu cérebro repetir em sua memória as milhares de vezes em que estiveram daquela forma.


 


-       Me diga o quanto ama Harry James Potter, Granger. – ele pediu.


 


-       Me solta. – ela pediu tentando manter a calma.


 


-       Me diga. – ele vociferou dessa vez.


 


-       O amo tanto quanto amei você.


 


-       MENTIRA! – ele gritou e ela prendeu a respiração. – Acha que não te conheço, Granger? Você é uma grifinória! Sempre foi um livro aberto! Tenta convencer a si mesma disso...


 


-       EU ESTOU TENTANTO TE SUPERAR, MALFOY! – ela gritou de volta. – NÃO TEM O DIREITO DE INTERFERIR NISSO PORQUE QUEM ESCOLHEU SEGUIR VIDAS SEPARADAS FOI VOCÊ! O QUE QUER AQUI? QUER QUE EU DESISTA DO MEU CASAMENTO E FIQUE COM VOCÊ? É ISSO QUE QUER?


 


Foi a vez dele se afastar. Ele sabia que chegariam nesse ponto, mas ainda tinha esperanças de que não.


 


-       Eu só quero saber como consegue. – ele disse. – Por favor me fale como consegue seguir a vida. Como consegue estar com outra pessoa sem se lembrar de nós?


 


Ela se calou surpresa com as palavras do outro. Sabia o motivo que o tinha trago de volta a Inglaterra, claro que sabia. E ela realmente temeu que isso acontecesse. Quando as notícias saíram no jornal e ele não apareceu tentou convencer a si mesma de que estava aliviada, mas quando o viu no encontro anual no Ministério ela mal sabia o que pensar. E agora ela estava ali, com ele. Estava porque não conseguia mais dormir durante a noite quando ela se lembrava de como ele a havia abordado na festa do Ministério. Em um rápido e simples encontro, vê-lo, senti-lo, tocá-lo, escutar sua voz, a fez entender que não, ela nunca o superaria, ele sempre seria seu ponto fraco, e que estar com outro homem não a faria deixar de amar Draco Malfoy singularmente. Nunca.


 


-       Eu não consigo. – sua garganta ardia e ela sentiu raiva pelo tom fraco em que sua voz havia saído – Por que acha que eu estou me casando?


 


Silêncio. Eles se encararam. Pareceu uma eternidade. Talvez ela tivesse dito o que ele queria ouvir porque ele já não tinha mais nada o que falar. Ela muito menos. O silêncio era tão incerto e agonizava os dois. Hermione deu um passo em direção a ele e parou por se assustar com o próprio ato involuntário.


 


Draco se frustrou por ela ter parado. Ele precisava dela de novo. Só mais uma vez. Mais uma única vez. Merlin! Que erro o seu ter voltado a Inglaterra! Tudo que ele havia conseguido controlar durante todo o tempo em que esteve longe dela agora o torturava come se estivesse tentando se vingar. Colou seu corpo no dela e a prensou novamente contra a porta. Seus rostos próximos demais, seus olhos fechados e suas respirações disputando o mesmo mínimo espaço que havia entre suas bocas.


 


Ele não tinha coragem de beijá-la, muito menos ela, mas queriam um tanto quanto o outro. Sabiam o que haviam passado e não colocariam em risco tudo que já haviam conseguido estando longe um do outro. Mas a tentação os matava. Draco roçou seus lábios no dela e ela ofegou tentando se afastar. Não podiam!


 


Ele apertava os braços dela como se a força sustentasse a distância que ainda havia entre suas bocas. Ela puxava a camisa dele como se aquilo lhe desse forças para aguentar a tentação.


 


Draco a soltou. Afastou-se. Ofegava. Seus olhos quase lacrimejavam. Sua boca formigava em protesto pela distância que agora estavam.


 


-       Preciso de você, Granger. – sua voz se fez ecoar no quarto.


 


Ela tinha os dedos trêmulos. A garganta ardia. E por mais que ele tivesse se afastado, a tentação ainda era tão forte como quando a boca dele estava a milímetros da sua. Ela também precisava dele.


 


Hermione não deteve a si mesma quando todos os seus músculos se moveram até ele. Cercou o pescoço do homem com seus braços e o beijou. Um beijo tão urgente quando o que ele retribuiu. Buscavam compensar cinco anos longe.


 


Ele a arrastou para a cama e ela não protestou. Suas mãos agilmente passaram a abrir os botões nas costas do vestido que ela usava e só parou para deixar que ela tirasse sua camisa. Ela cercou os quadris dele com suas pernas e ele a deitou. Olharam-se ofegante. Foi por um segundo, mas pareceu um milênio.


 


-       Não posso fazer isso, Draco. – ela sussurrou.


 


Ele fechou os olhos soltando o ar frustrado, porém agradeceu mentalmente que ela tivesse dito isso enquanto ele ainda podia se controlar. Saiu de cima dela.


 


Ela se sentou cobrindo o rosto com as mãos. O silêncio. Constrangedor. Não queria que ele tivesse se afastado, mas saber que ele estava a respeitando era no mínimo digno. Ainda sim não queria que ele tivesse se afastado. Harry Potter. Ela tinha que pensar em Harry. Tinha que pensar nele. Descobriu o rosto e ajeitou as alças do vestido que escorregavam pelo seus braços. Saiu da cama e atou novamente os botões. Foi para a porta, hesitou com as mãos na maçaneta, porém não tardou a abri-la, passar por ela e fechá-la.


 


Draco a viu bater a porta. O silêncio da solidão bateu nele como um vento gelado. Esfregou o rosto soltando o ar com força. Levantou-se sentindo o cheiro de rosas dela impregnado nele. Pegou sua garrafa de whisky no chão á beira do pé da poltrona e tomou um longo gole sentindo o líquido descer quente por sua garganta. Seus membros formigavam para correr atrás dela e arrastá-la de volta para aquele quarto. Aquela cama. Ela precisava ser dele mais uma vez. Não o fez. Deu mais uma golada em seu whisky e atirou a garrafa contra a parede. Ele tinha que parar de quebrar as coisas.


 


**


 


-       Você esta atrasado. - Ele escutou ela dizer quando ele parou encostando-se na árvore mais próxima a ela.


 


 Era meio de tarde e eles haviam combinado de se encontrar num local diferente aquele dia. Era apenas mais um dos quais haviam estado durante a procura por Régulus.


 


Ela estava na beira de um pequeno espelho d’água com os pés descalços e imersos. Seu vestido voava junto com o vento e o sol lhe banhava todo o corpo. Estava de costas para ele, o que lhe permitia observá-la sem culpa e sem ter os olhos dela sobre os dele. Ela era incrivelmente linda. Uma sangue-ruim não podia ser tão magnífica como ela. Lembrava-se de Pansy Parkinson. Seu sangue-puro fazia cintilar aqueles cabelos incrivelmente longos, negros e lisos lhe descendo por trás das costas, a pele alva e os olhos verdes, era perfeita, parecia não ter defeito algum, mas ainda sim quando pensava em Hermione Granger tinha algo que fazia seu corpo todo se inquietar e todos os seus músculos perderem as forças. A queria. Era ela que ele queria. Milhões de outras mulheres poderiam ser perfeitas, mas Hermione era quem ele queria.


 


-       Minha mãe não queria que eu fosse embora. – ele se justificou.


 


-       Imaginei. – ela disse. O silêncio. Ela fechou os olhos sentindo o calor do sol e seus pés sendo refrescados pela água gelada. – Não gosto quando vai para sua casa. – ela disse temendo pelo modo como soaria.


 


-       Eu sei que não.


 


-       Você volta diferente.


 


Silêncio. Fazia um bom tempo que estavam juntos. Desde de que foram liberados do castelo e Hermione o procurara dois dias depois já haviam se passado quase meio ano. Eles sumiam do mapa juntos algumas vezes, outras voltavam e ela ficava com seus amigos e ele com seus pais, mas logo voltavam a estar juntos de novo. Precisavam estar juntos. Era agoniante não estar.


 


-       Granger. – ele a chamou e ela não respondeu. – Se lembra da noite que passamos aqui? Um dia antes de pegarmos aquele trem para a Holanda. – ela abriu um sorriso. – Eu sabia que você estava com raiva e não queria que eu me aproximasse porque havia me visto saindo do banheiro com aquela trouxa naquela festinha ridícula enquanto você vasculhava todo canto daquela casa em busca de uma varinha. O que eu deveria estar fazendo também. – ele sorriu ao se lembrar. – Mas quando aparatamos aqui e você passou a despejar toda a sua irritação em cima de mim, dizendo que eu deveria me focar naquilo que estávamos trabalhando arduamente em vez e ficar me aliviando por aí com qualquer garota que me desse mole. – ele soltou novamente um riso fraco imerso em suas memórias. – Aquele dia você não estava irritada porque eu havia te deixado procurar por aquela varinha sozinha. Eu reconheço ciúmes de longe e você estava completamente dominada por ele. – ela sorriu. Ele estava tão certo. – Aquela noite eu quis muito te calar com um beijo.


 


-       Ainda bem que só quis, porque se tivesse o feito eu juro que agora Draco Malfoy não passaria de um homem morto. – ela disse se virando.


 


Ele sorriu e foi até ela. Passou seus braços em torno da cintura da outra que ficou na ponta dos pés para poder esconder seu rosto cheirando o pescoço dele. Eles se embriagavam um com o outro.


 


-       Vamos sumir de uma vez por todas? – ele sussurrou contra o ouvido dela. – Não voltar nunca mais pra vida que pertencemos. Ser só eu e você até que tudo mais nos consuma.


 


Ela suspirou, afastando-se do pescoço dele e encarando seus olhos cinzas sempre tão tempestuosos e misteriosos. Ele se inclinou e a beijou. Ela sentiu o beijo dele. Terno, calmo. Ela o amava, mas enquanto ela era um livro aberto para ele, ele sempre seria um grande mistério para ela. Mesmo assim ela tinha coragem de se entregar a ele, mas nunca se entregaria por completo porque ela jamais confiaria em um Malfoy.


 


-       Utopia, Malfoy. – ela disse ainda com os olhos fechados quando ele afastou seus lábios dos dela. – Não daria certo. – os abriu e o encarou.


 


Ele suspirou frustrado.


 


-       Eu fui a Gringotes essa semana. Apresentei a proposta a eles. Estão muito surpresos e animados. Me liberaram muito dinheiro para começar os testes no Triângulo das Bermudas.


 


Ela sorriu.


 


-       Eu disse que era bom, Malfoy.


 


Ele segurou o rosto dela entre suas mãos.


 


-       Eu não teria conseguido terminar aquela magia sem você.


 


Ela riu do quanto ele conseguia ser romântico. Ficou na ponta dos pés e depositou um beijo rápido em seus lábios.


 


-       Não vê, Granger? – ele grudou sua testa na dela. – As coisas vão dar certo. Eu vou ter dinheiro. Podemos sumir. Ter nossas vidas juntos. Não acredita que daria certo?


 


Ela soltou um riso fraco.


 


-       Você soa como se me amasse. Como se me quisesse para a vida inteira.


 


Ele se afastou. Encarou seus olhos âmbar. Não acreditava que depois de todos aqueles meses ela ainda duvidava de tudo que ele dizia a ela.


 


-       Mas eu quero.


 


Os olhos dela brilharam. Ela puxou o ar como se tudo dentro de si precisasse ser esfriado.


 


-       Por que eu? – ela sussurrou. – Sabe que não é certo estarmos juntos. Não fomos feitos um para o outro, Malfoy. Não pode querer coisas como essa.


 


Ele revirou os olhos e afastou-se soltando-se dela. Desarrumou seus fios loiros passando as mãos por ele enquanto caminhava para longe dela.


 


-       Não posso querer enquanto estiver aqui. – ele disse. – Não podemos ficar juntos aqui! Mas se sumirmos, Granger...


 


-       Eu não quero sumir, Malfoy. – ela o cortou. Ele parou. Virou-se. Não esperava que ela fosse lhe falar aquilo depois de tudo que já haviam vivido até ali.


 


-       Não me quer de volta? – ele temeu pela resposta.


 


-       Quero. – ela respondeu e se calou. Ele não entendeu. – Sabe que quero, Malfoy. – ela suspirou frustrada. - Eu só não sou como você! Eu amo outras pessoas aqui, amo de outras formas diferentes. Eu tenho meus amigos, eu tenho meus pais, eu tenho pessoas a quem honrar. Sou uma grifinória. Não posso abandoná-los. Não quero sumir de perto deles também. É bom estar com você. – ela puxou o ar. – Deus, Como é bom! – aproximou-se dele. – E não acredito que depois de tudo que passou para salvar seus pais também os abandonaria?


 


-       É a única forma de estar com você.


 


Ela revirou os olhos pela insistência infantil dele.


 


-       Está sendo impulsivo. – ela o tocou. – Sabe que a ideia de sumirmos não é prudente, já conversamos sobre isso. Por que sempre insiste nela quando volta da casa de seus pais?


 


Ele afastou-se dela novamente.


 


-       Por que está sempre tentando ser prudente, racional, coerente?


 


-       Porque eu sou Hermione Granger! – ela exclamou.


 


Ele bufou.


 


-       Ah! Eu odeio grifinórios! – urrou ele enquanto dava as costas a ela e batia sem força seu punho contra uma das árvores. Deixou-o ali e encostou sua testa no própria mão fechada contra o tronco. Ela se calou e ele fechou os olhos sabendo que mais uma vez ela venceria aquela discussão. Ele não queria sumir também, mas seu único alívio para o inevitável fato de que não eram feitos um para o outro era insistir cegamente na utopia de que poderiam fugir. Ele queria lutar por ela. Queria fazer ela acreditar que daria certo, mas nem ele mesmo sabia se realmente daria certo.


 


-       Não gosto quando vai para casa de seus pais. – a voz dela soou baixa a suas costas repetindo o que já havia dito.


 


Ele soltou o ar ainda de olhos fechados.


 


-       Eu sei. – ele respondeu no mesmo tom que o dela.


 


Ela passou os braços finos pelo troco dele o abraçando por trás. Ele se deixou ser envolvido por ela. Levou sua mão de encontro a dela e enlaçou seus dedos nos dela. Sempre que voltava da casa de seus pais para se encontrar com Hermione ele tinha o único objetivo de dar um fim ao erro dos dois, mas quando a tinha por perto simplesmente se rendia a necessidade que era aquele erro. Ela o encantava, ela o havia ganho, e ele se rendia completamente a ela. E ainda a odiava por isso.


 


**


 


            Hermione Granger estava sentada de frente a Floreios e Borrões no Beco Diagonal partilhando seu banco com um velho miúdo que lia com dificuldade o Profeta Diário. Vestia sua melhor roupa e usava seu melhor sapato. Seus cabelos estavam bem penteados e brilhavam a cada onda de seus cachos. Ela não sabia se arrumar como as outras garotas, era simples, mas havia tentado o seu melhor. Seus dedos tremiam enquanto tentavam manter firme entre eles um pedaço de pergaminho caro que brilhava com letras douradas em uma caligrafia incrivelmente perfeita. Era um convite. Só para ela.


 


            Os minutos corriam lentos e ela tinha medo de que alguém que a conhecesse passasse por ali. O pergaminho vacilou entre seus dedos e ela o apertou mais dobrando-o sobre a palma da mão quando viu uma carruagem escura em comparação as outras. As rodas eram pratas e brilhavam quando o sol refletia diretamente sobre ela. Seu coração quase saiu pela boca quando ela parou de frente ao banco em que estava.


 


-       Hermione Granger? – perguntou o cocheiro.


 


Ela respirou fundo.


 


-       Sim. – respondeu com a voz sem vacilar.


 


-       Entre. – ele disse.


 


Hermione se levantou e segurou a porta que estava aberta para ela.


 


-       Essa não é a carruagem dos Malfoy? – o velho com o qual dividia o banco perguntou.


 


Hermione parou surpresa pelo velho ter se manifestado depois de enormes minutos de silêncio.


 


-       Sim. – quem respondeu foi o cocheiro.


 


O velho crispou com a boca e voltou para o seu jornal.


 


-       Não sabia que agora eles dividiam suas carruagens com nascidos trouxas. – murmurou o velho com uma careta. – Esse mundo errado. – resmungou. – Até os Malfoy... – e continuou a ler seu jornal.


 


Hermione quis fugir. No entanto aprumou a postura, entrou e fechou a porta com força. A carruagem avançou pelas ruas vivas de movimento do Beco Diagonal enquanto ela se atentava a analisar cada fachada que passava pela janela. Ela tamborilou os dedos no banco estofado que se encontrava sentada e logo depois alisou o veludo. Era tudo vermelho e prata ali dentro. Olhou sua roupa e comparou ao luxo que se encontrava. Ela parecia a mais pobre das pessoas ali. Não queria nem imaginar como se sentiria quando chegasse a mansão dos Malfoy.


 


            Antes mesmo que ela tivesse tempo de ponderar sobre tal fato ela sentiu a carruagem sair do chão. Olhou pela janela e viu que levantavam voo. Ela se agarrou ao banco e fechou os olhos imediatamente. Suas mãos começaram a suar loucamente. Voar não...


 


            Pareceu horas. Décadas. Não, Milênios! Quando finalmente aterrissaram Hermione quase foi capaz de soltar um gemido de alívio. Ela não podia vomitar. Estava tonta e sua cabeça doía. Porém tudo aquilo era relevante. Ela estava a salvo novamente e em terra firme. Seus olhos avançaram para a janela imediatamente. Andavam sobre uma estradinha estreita de pedras brancas. De um lado havia um denso jardim típico inglês e do outro uma vasta relva. A carruagem se elevou quando eles atravessaram uma curta ponte sobre um córrego e começaram a descer um pequeno monte.


 


Hermione sentiu o queixo pesar quando viu a frente dela se estender um jardim linear de perfeita simetria. Era enorme, bem cuidado, e as estátuas que emergiam dos espelhos d’água eram magnificas, mas nada se comparava ao casarão neoclássico que se erguia ao fim do extenso jardim francês. Ela perdeu a noção da hora enquanto atravessava tudo aquilo em direção a mansão. Cada arbusto, cada estátua, cada árvore, as pequenas fadas que passeavam sem compromisso entre uma árvore e outra. Ela sabia que a escala das coisas dos Malfoy sempre foram exageradas, mas tudo aquilo, era elegante demais. Ela sentiu-se novamente a mais pobre das pessoas.


 


A carruagem parou. Ela esperou que a porta fosse aberta e assim que o cocheiro lhe deu caminho ela pulou para fora da claustrofóbica e luxuosa cabine que se encontrava. Havia um elfo a esperando que a conduziu pela escadaria, varanda e finalmente porta. Ela teve que ajudá-lo a abrir a pesada porta de madeira e como se não bastasse, quase perdeu o fôlego ao entrar no hall. O pé direito era alto e ela se sentiu minúscula ao atravessar. Seus passos ecoando se misturou com os do elfo enquanto avançavam. Ela tratava de olhar cada detalhe. “Não é a sangue-ruim?” um dos quadros comentou mais alto do que deveria. Hermione precisou respirar fundo e apertar o passo para alcançar o elfo.


 


-       Ah, querida! – Hermione se assustou quando Narcisa Malfoy apareceu subindo os poucos degraus que separavam o hall de uma das salas laterais. Hermione parou seguida do elfo. Narcisa vinha em um vestido impecável que variava de um azul para um marrom de uma forma confusa. Seus cabelos loiros incrivelmente arrumados em um penteado trabalhado e uma maquiagem casual que a deixava simplesmente magnífica. Sangues-puros. Sempre perfeitos. – Fico feliz que tenha aceitado meu convite. – ela se aproximou de Hermione e houve um segundo de vacilo para um sorriso amarelo quando ela analisou a garota de cima abaixo. – Então, como foi a viagem? – Narcisa tocou educadamente o braço de Hermione a conduzindo para a sala da qual havia vindo.


 


-       Bem. – Hermione respondeu precisando limpar a garganta quando sua voz começou um pouco falha.


 


-       Ah, que ótimo! Ouvi dizer que não aprecia muito voar, mas então em pensei comigo mesma: que tipo de bruxo não gosta de voar, não é mesmo? – ela abusava de um tom tão educado que Hermione foi obrigada a lançar um sorriso forçado em resposta. – Sente-se, menina. – Narcisa disse e Hermione não gostou do adjetivo. Sentou-se. – Então finalmente estou conhecendo a melhor aluna de Hogwarts de todos os tempos. – começou Narcisa atravessando uma mesinha de centro e seguindo em direção a uma pequena adega a frente dela.


 


Hermione sorriu abertamente dessa vez. Não havia nada que a trazia mais orgulho do que seu título de excelente aluna.


 


-       É o que alguns dizem.


 


-       Alguns. – Narcisa reforçou de uma maneira novamente educada enquanto abria o vinho que havia escolhido. Ela encheu duas taças e voltou-se para Hermione estendendo uma a ela enquanto sentava-se ao seu lado. – Tome, beba, vai gostar. – ela disse e Hermione estava pronta para negar. – Ora, vamos. – Narcisa pareceu ter lido sua mente. – Aposto que não tem a chance de beber vinhos como esse todos os dias. O preço não é acessível para qualquer um. – insistiu Narcisa e Hermione se sentiu ofendida. Estendeu a mão e aceitou a taça. Não bebeu. Observou a mulher dar um longo gole no seu.


 


-       A senhora não deveria abrir um vinho como esse só porque estou aqui.


 


-       Ah, querida. Não é nada. É apenas um vinho. – ela disse enquanto descansava a taça em seu colo como Hermione. – Soube que ensina em Hogwarts.


 


-       Será apenas por um tempo. – Hermione apressou-se.


 


-       Claro. – Narcisa concordou de imediato. – Não é um emprego muito agradável, não é? Não é rentável e aposto que logo encontrará alguém para se casar e não haverá mais a necessidade de se submeter...


 


-       Gosto de ensinar. – Hermione a cortou involuntariamente quando passou a não gostar do discurso da mulher. Narcisa se calou.


 


Hermione se sentiu estúpida. Talvez tivesse sido rude. Ela não colocaria tudo a perder tão cedo. “Controle-se, Hermione.”. Sentiu-se ainda mais estúpida quando a mulher sentada ao seu lado manteve seus olhos fixos sobre ela enquanto tomava mais um gole de seu vinho. Ela não podia desviar o olhar. Conseguiu.


 


-       É muito bonita. – a Sra. Malfoy voltou a falar. Hermione quis recuar quando ela tocou o fim de um de seus cachos e os ajeitou sobre seu ombro. – É evidente que não se veste de maneira refinada, mas creio que roupa alguma que usasse a deixaria feia. – Hermione se sentiu confusa em tomar como elogio ou ofensa. Não entendeu o porque do comentário. – Seus cabelos são muito bonitos e a cor de seus olhos é, de certa forma, muito interessante. Me lembra um cobre, âmbar. Quase um dourado. – a mulher divagou. – Gosto da simetria do seu rosto, do formato do seu nariz, da linha de suas sobrancelhas e até onde vi, tem um sorriso de uma beleza muito singela. – a cabeça de Hermione deu voltas. Mas que diabos... – Se confundiria facilmente com um puro sangue se todos já não soubessem, claro, sua procedência. – a taça de Hermione vacilou entre seus dedos. A mulher ao seu lado se levantou tomando mais um gole de seu vinho. – Draco sempre foi muito exigente já que sempre chamou muita atenção. – ela deu a volta na mesinha de centro passeando pela sala. – Desde criança. – acrescentou a mulher. Hermione precisou apertar firme a taça de vinho em suas mãos para que ela não a entornasse. – Pansy Parkinson era a garota ideal para ele. Draco sabia que deveria se casar com ela desde cedo, sabia porque. Foram criados quase juntos. Eram muito próximos. – Ela parou de frente a uma pequena estante e analisou título por título enquanto continuava seu discurso. – Eles namoraram um tempo quando Lucius achou que já era conveniente, no entanto Draco sempre gostou que as coisas acontecessem como ele bem queria. Eram muito novos, claro, e quando Draco descobriu que podia ter muitas garotas então ele a deixou de lado. – ela estalou os lábios um tanto aborrecida. – Uma pena que Pansy tenha ganhado sua sentença em Azkaban. Por mais que seja curta nós jamais permitiríamos que Draco se casasse com uma ex prisioneira. – ela se calou finalmente. Hermione acreditou que fosse exatamente naquele momento que ela começaria a discutir sobre sangues ruins longe do sobrenome Malfoy, no entanto, o que viu foi a mulher tirar um livro da estante e analisar sua capa. – Gosta de livros?


 


Hermione estranhou a pergunta já que estava se preparando para começar a ser ofendida de forma direta.


 


-       Muito. – foi o que respondeu.


 


-       Sim. – ela sorriu triunfantes voltando-se para a garota. – Os jornais comentam muito sobre você e aquele seu amigo Harry Potter. É claro que gosta de livros, melhor-aluna-de-Hogwarts. – Hermione tornou a não gostar do adjetivo.


 


Narcisa tornou a sentar-se ao seu lado. Ela estendeu o livro que havia pego na estante para Hermione que o segurou e leu seu título cravado em letras pratas na capa dura e negra de couro de dragão. “O Que o Mundo Deve aos Malfoy”. Era de um autor muito bem conceituado na área de história da magia. Hermione se lembrava de já ter devorado todos os seus títulos, inclusive o que ela tinha em mãos. Seu coração disparou. Por Merlin! Aquela mulher não poderia fazer o que estava planejando.


 


Certamente Hermione havia negado o convite da mulher assim que o recebeu. No entanto Narcisa pareceu ter previsto isso e lhe enviou corujas por quase uma semana convidando-a a fazer uma visita ao casarão dos Malfoy para um chá, com a justificativa de que tinha muito interesse em conhecê-la pessoalmente já que sabia que ela tinha uma parte significativa no processo que os livrou de Azkaban. Hermione não havia nascido ontem. Ela sabia que um Malfoy jamais receberia uma sangue-ruim no colossal e sagrado templo que chamavam de lar. Poderiam eles saber sobre ela e Draco? Havia aceitado o convite. Faria aquela mulher engolir tudo o que ela tinha a dizer se não fosse gentil como deveria ser pelas palavras que estavam escritas no convite. Porém estando ali agora ela se lembrou de que nunca se deveria confiar em um Malfoy. Quando ela havia esquecido isso mesmo?


 


-       Quantos livros que mencionam a família Malfoy já leu, querida? – perguntou narcisa usando de um tom falsamente desinteressado. Hermione não gostava do adjetivo “querida”, aliás, ela não gostava de nenhum que a mulher usava.


 


-       Muitos. – respondeu a castanha.


 


-       Muitos. – repetiu Narcisa verdadeiramente satisfeita com a resposta da garota. – Conhece então toda a história da família, certo?


 


-       Sim. – Não faça isso, por favor. Pensou Hermione.


 


-       Então certamente deva saber o porque alguém que carrega o sobrenome Malfoy jamais teria qualquer tipo de relação amistosa com nascidas trouxas como voc...


 


-       Sra. Malfoy. – Hermione a cortou e surpreendeu-se com o tom alto que havia usado. – Acredito que não foi sobre isso que o seu convite dizia respeito...


 


-       A convidei para um chá! Acaso estamos tomando chá? – perguntou Narcisa dando mais um gole em seu vinho e abrindo um sorriso malicioso e vitorioso que lhe lembrava muito o de Draco em Hogwarts.


 


-       Desculpe, mas não posso aceitar que a senhora me ofenda!


 


-       Ofenda? – Narcisa achou engraçado o emprego da palavra. – Ninguém esta te ofendendo, querida! – Hermione sentiu o sangue fluir em suas veias ao escutar novamente o “querida”. – Todos nós sabemos que não são ofensas, são realidades. Ninguém pode te fazer menos sangue-ruim. Não é porque tem o cérebro e a aparência de um sangue-puro que...


 


-       A senhora deveria saber que todos os seus ideias podem ser descritos perfeitamente com uma única palavra chamada: preconceito! – Hermione se surpreendeu novamente com o tom que usava.


 


Narcisa não estava gostado do tom abusado que ela estava adotando para a conversa.


 


-       Não é a melhor aluna de Hogwarts? Eles não ensinam para vocês em História da Magia como o mundo bruxo enxerga nascidos trouxas?


 


-       Hogwarts não incentiva o ensino de mentes discriminadoras.


 


-       Pois você como uma garota que lê muito sabe exatamente como Hogwarts encoberta o que a sociedade bruxa pensa sobre raças como a sua! Negue-me o que eu disse! Negue que gente como a sua não enfraquece o mundo bruxo! Negue! Vá contra tudo que lê nos livros, garota! Vá contra tudo que enxerga! Só você sabe o olhar que as pessoas te lançam em silêncio quando descobrem que é nascida trouxa, não é mesmo? – Hermione sentiu a garganta queimar enquanto escutava a mulher Malfoy.


 


-       Desculpe, Sra. Malfoy. Eu vim para tomar um chá. – Hermione disse se levantando enquanto se lamentava fortemente por sua voz ter saído falha.


 


Narcisa seguiu Hermione levantando-se junto com ela. Quando deu as costas Narcisa a segurou pelo braço forçando-a a se virar novamente.


 


-       Eu não te dei licença. – a mulher foi rude. A taça que estava na mão do braço a qual ela apertava derramou vinho no mármore branco do piso. Hermione temeu pelo modo agressivo ao qual estava sendo tratada. – Sei que está fazendo a cabeça do meu filho e eu realmente não faço ideia que tipo de feitiço que usou nele pra fazer com que de repente Draco passasse a ignorar tudo que ele sabe o quanto é importante! Ter brincado de casinha com o meu filho durante alguns aninhos miseráveis não te dá o direito de enfeitiçá-lo como tem feito, sangue-ruim. Você vai arruinar minha família. Nós descendemos da linhagem mais clássica do mundo bruxo e somos a família mais importante ainda viva! Temos poder, influência, e o sangue mais puro que alguém pode carregar nas veias! Draco deverá se casar com Astoria Greengrass e seguir a linhagem e você vai sair do caminho da minha família porque eu sei que é racional e sabe que não se encaixa em lugar algum dentro dela!


 


A visão de Hermione estava completamente embaçada. Ela se achou estúpida novamente no grau mais elevado que pode. Como havia cogitado fazer a mulher engolir qualquer palavra sua contra preconceito sendo que tudo que Narcisa havia dito era a mais pura verdade. A Sra. Malfoy tinha razão e Hermione era racional demais para ir contra qualquer palavra dela.


 


Sua garganta queimou como nunca havia queimado antes. Ela não iria chorar. Ela não seria fraca. Não seria. Quis se esconder de vergonha quando uma lágrimas pulou de seus olhos e escorreu pela sua bochecha rosada. Sentiu raiva. Puxou o braço com força escapando dos dedos apertados da mulher, e logo quando o fez, a taça deslizou para longe de seus dedos. Ela viu Draco Malfoy entrar no mesmo momento passando do hall em direção a escada. Ele parou assustado assim que o som do vidro se espatifando no chão soou por todo o primeiro pavimento da edificação.


 


-       Ah! Garota estúpida! – Narcisa urrou pulando para longe dos respingos de vinho e vidro. – Tem ideia de como é difícil importar essas taças? Não são renováveis!


 


-       Granger? – a voz de Draco soou seguida da de sua mãe.


 


Narcisa se virou assustada e surpresa para deixar seus olhos se encontrarem com a figura de Draco Malfoy parado no hall encarando as duas confuso.


 


-       Draco? – ela indagou tão confusa quanto ele. – Por que não está na casa de campo com seu pai?


 


Draco não deu importância para a mãe enquanto mantinha seus olhos fixos no de Hermione.


 


-       Não tem de quê, Sra. Malfoy. – Hermione disse ainda com a voz falha. Seus olhos estavam tão presos em Draco quanto os dele nela. – Muito educado da sua parte me convidar para agradecer por ter ajudado seu filho a encontrar a pessoa que te livrou do pior bruxo das trevas de todos os tempos. – ela desviou o olhar e tomou o caminho para porta pelo qual havia entrado.


 


Draco a alcançou quando ela passou por ele e a segurou pelo braço a impedindo de avançar.


 


-       O que faz aqui, Granger? – ele perguntou quando ela puxou de volta seu braço o ignorando e seguindo seu caminho. Draco a seguiu. – Granger! – ela o ignorou. Ele teve que apertar os passos para manter-se próximo aos calcanhares da garota. – Granger! – ele tentou novamente. Nada. Segurou com força o braço dela dessa vez e o solavanco a obrigou a voltar-se para ele. Draco viu o rosto da garota banhado em lágrimas. – O que minha mãe te fez? – ele perguntou. – Merlin, Granger! Por que veio aqui?


 


-       Vim pedir a sua mãe que parasse de me enviar cartas para vir aqui! – seu tom de voz era alto porém ainda falho. – No entanto eu havia me esquecido que sangues-ruins não são bem vindos naturalmente em famílias como a Malfoy!


 


-       Pare com isso, Granger! Sabe que...


 


-       Que já vencemos essa barreira a muito tempo? – Hermione terminou para ele. – Quando foi que vencemos, Malfoy? Você foi quem sempre fez questão que ninguém nunca soubesse sobre nós! – ela exclamou. – Por que? – ele não pode respondeu – POR QUE? – ela gritou. Ele continuou sem responder. – Porque não gostaria que ninguém te visse com uma sangue ruim, não é mesmo? O que falariam de um Malfoy com uma sangue ruim, não é?


 


-       PARE COM ISSO! – ele gritou de volta.


 


-       NÃO! – ela gritou em resposta. Soluçou soltando-se dos braços dele. – Por que levamos isso adiante? Eu sabia que era um erro! Você sabia que era um erro! Fui imprudente, teimosa e impulsiva e agora eu estou sendo racional! – ela deu as costas.


 


Draco não deixou que ela desse um passo sequer virando-a pelo braço novamente.


 


-       Por Deus, Granger! Eu amo você!


 


-       PARE! – ela gritou soltando-se dele novamente. – Nós dois sabemos que não pode! Só estou fazendo o que uma hora ou outra você seria obrigado a fazer! – ela fez menção de dar as costas novamente, mas hesitou olhando-o nos olhos. Ela riu fraco enquanto as lágrimas ainda insistiam em escorrer pelo seu rosto. – Engraçado como sempre nos tratamos pelo sobrenome e eu tive a capacidade de me esquecer o peso do seu. – deu as costas e foi embora.


 


**


 


            Hermione manteve seus olhos em vislumbre a enorme biblioteca onde se encontrava. Muitas pessoas falavam ao seu redor e ela tinha vontade de mandar todos calarem a boca. Aquele era seu templo sagrado e todos deveriam fazer reverência ao silêncio ali. Ela já havia estado na biblioteca bruxa de Bradford por duas vezes, entretanto nas duas ela havia sido obrigada a estar ali como uma intrusa no meio da noite e agora que via todos aqueles lustres acessos ela brilhava com toda a sua glória mostrando ainda mais porque aquele lugar era tão especial.


 


-       Hermione! – escutou Gina Weasley quase gritar o seu nome. Hermione apenas dirigiu seu olhar ríspido a ruiva que bufou. – Será que pode responder pelo menos a uma pergunta que estamos fazendo? Será que pode atender pelo menos quando te chamamos ou vamos ter que ficar gritando o seu nome sempre? – Gina voltou-se para a organizadora de eventos. – Tudo bem, ela é sempre assim quando entra em bibliotecas. – Hermione revirou os olhos e sorriu suspirando quando pode se lembrar de como aquele lugar era agradável mesmo envolto na escuridão da noite. – Hermione! – Gina exclamou novamente e Hermione olhou cansada para a ruiva. – Precisa decidir se vai querer descer as escadas ou realizar a cerimônia aos pés dela.


 


Hermione entrou em um momento de conflito. Céus! Aquilo seria mais difícil do que havia pensado. Afinal, ela havia contratado uma organizadora de eventos para que mesmo? Ela olhou para Gina e seu olhar cansado se transformou em um confuso.


 


-       Certo, querida. – sua organizadora de eventos começou e ela realmente odiou ter sido chamada de querida. – Já realizei três casamentos aqui. Dois foram com a escada sendo usada como fundo para a cerimônia e o outro a noiva preferiu se utilizar daquela enorme estante no fundo da biblioteca, o que foi uma grande falta de bom gosto ao meu ver. – Hermione localizou a estante e realmente amou como seria significante para ela ter uma estante de livros como fundo de sua cerimônia de casamento.


 


-       Eu gosto da estante. – Hermione disse e viu Luna fazer uma careta ao seu lado. Será possível que suas duas damas não serviriam de nenhum incentivo? Ela pigarreou vendo que não havia sido um comentário muito construtivo e acrescentou: – Mas acho que prefiro descer as escadas. – ela viu o olhar de todos se iluminar.


 


-       Ótima escolha! – sua organizadora de eventos exclamou. – Veja essa escada! É colossal! Quase posso imaginar você descendo ao som da marcha! Será lindo e você será a estrela! Brilhará mais do que todos esses lustres acessos juntos.


 


Hermione sorriu amarelo engolindo a seco. Ela não gostava da ideia de chamar tanta atenção assim. Parecia tão fútil.


 


-       Hermione. – Luna a chamou baixo enquanto a outra mulher passou a disparar sobre flores e colunas de fadas. Hermione deu atenção a Luna. – Você não parece exatamente animada para tudo isso.


 


-       Eu estou! – Hermione abriu um sorriso. – Quem não fica animada com o próprio casamento, Luna?


 


-       Quem não quer se casar? – ela contrapôs.


 


Hermione fez uma careta.


 


-       Não diga besteiras, Di-Lua! – exclamou Hermione visivelmente irritada.


 


A loira deu de ombros e seguiu Gina e a organizadora para os vitrais opostos a escada. Hermione soltou o ar aliviada assim que elas se afastaram. Deu as costas e voltou a se vislumbrar com a biblioteca. Do lado de fora ela via os seguranças do local tentarem conter três repórteres do profeta que gostariam de mais informações sobre o possível local do futuro casamento entre um dos casais mais famosos do mundo bruxo: Harry Potter e Hermione Granger.


 


            Hermione os ignorou e passou a subir a escada. Seus pés se firmaram sobre o mármore que compunha o piso e a sensação foi completamente nostálgica enquanto ela avançava degrau por degrau.


 


-       Hermione! – escutou a voz da organizadora de eventos a suas costas. – O acervo estará fechado no dia! Não há necessidade de ir até ele!


 


Ela simplesmente ignorou a mulher enquanto avançava pela escada. Assim que chegou ao mezanino começou a refazer todos os passos que havia feito na última fez que estivera ali. Ela quase podia sentir a companhia dele. Suas mãos unidas com as dela, seus braços fortes apertando-a pela cintura, sua voz grave ao pé de seu ouvido resmungando por estarem ali. Ela sequer notava o sorriso bobo que tinha estampado no rosto. Ela havia vivido seu romance adolescente.


 


Passou por entre as estante e chegou a uma sala aberta com mesas individuais para estudo. Ela não sabia que aquela madeira era tão clara. No escuro da noite elas pareciam tão escuras. Ergueu os olhos para os vitrais que circundavam em meia lua e suspirou. Ela se lembrava como se tivesse vivido tudo não fazia muitas horas. Seus pés avançavam refazendo passo por passo. Sentia a respiração quente dele contra seu pescoço. Ela se sentiu fraca novamente e se lembrou de como aquilo a tornava fácil de ser arrastada por entre aquelas mesas. Podia se lembrar do gosto que ele tinha quando a beijava apaixonado. Dos braços firmes dele a arrastando, suas mãos ágeis desfazendo os nós de seu vestido, do contato pele com pele. Ela tocou a madeira da mesa que haviam estado e se lembrou de sua força quando a havia levantado para sentá-la nela, dos músculos de seus dedos apertando sua coxa quando a puxou contra seu quadril, do modo como ele arfava, do tom do gemido que ele tinha. Hermione precisou puxar fundo o ar deslizando seus dedos sobre a madeira lisa. Todo seu corpo tremeu e ela fechou os olhos ainda sentido a presença dele tão forte.


 


Quase caiu quando foi abrigada a se afastar quase que num pulo assim que uma coruja avançou para a mesa que estava. Seu coração ameaçava sair pelo boca com o susto enquanto encarava a figura da coruja parada a focando com seus olhos enormes. Ela se perguntou de onde havia saído aquele animal. Olhou para os lados e ficou ainda mais confusa quando não conseguiu montar nenhuma rota possível. A coruja continuava a fita-la como se fosse uma estátua. Ela devia estar perdida.


 


Hermione avançou para apanha o animal e ele estendeu uma pata mostrando o minúsculo rolo de pergaminho preso. Ela olhou nos olhos da coruja assustada. Corujas só faziam aquilo quando haviam encontrado o destinatário. Não era possível que era para ela. Estendeu a mão e pegou o rolinho. A coruja não protestou, o que deixou Hermione ainda mais surpresa e confusa.


 


“Lembra-se dessa mesa bem acima de sua cabeça quando disser ‘sim’ para Potter”


 


Conhecia perfeitamente aquela caligrafia. Seu coração pulsou como se quisesse quebrar suas costelas. Como ele havia descoberto que ela tinha escolhido a biblioteca de Bradford para ministrar seu casamento? Seus dedos tremeram e seu sangue correu raso em suas veias. Ela amassou o papel em seus dedos e o fez virar cinzas. Tentou entender o que estava sentindo, mas não conseguiu definir. Soltou o ar tentando aliviar a pressão em seu peito. Porém antes mesmo que pudesse se acalmar ela levou outro susto.


 


-       Hermione? – ela se virou. Conhecia a voz. – O que faz aqui? – era Harry.


 


-       Harry! – ela exclamou. O tom de sua voz expressava alívio.


 


-       Uau, te assustei? – ele se aproximou. – O que essa coruja faz aqui?


 


Hermione deu de ombros apressada.


 


-       Não sei. Ela acabou de me assustar. Deve estar perdida. – respondeu ela.


 


-       Ela trazia algum correio?


 


-       Não que eu tenha visto. – Hermione se limitou a dizer. – Espere! – ela parou. – O que você faz aqui?


 


-       Gina acabou de me ligar. Disse que você não parece animada com a organização da cerimônia. – Harry tocou o braço dela com carinho. – Hermione. – ele suspirou. – Tudo bem se você não sentir que é a hora de nos casarmos.


 


-       Harry! – ela exclamou assustada com as palavras dele. – Não. É a hora perfeita. Eu disse sim quando me pediu em casamento porque eu realmente queria!


 


-       Então o que está acontecendo com você? Pode escolher o que você quiser, o vestido que quiser, a decoração que quiser, o lugar que quiser, a melhor orquestra do mundo! Eu pago, Hermione! Por que não está feliz?


 


-       Eu estou!


 


-       Não! – ele a cortou – Não está. Se lembra do dia que estávamos fazendo a lista de convidados? Você estava tão dispersa que não conseguia se lembrar dos nossos amigos mais próximos!


 


Hermione se sentiu envergonhada. Não podia ir contra as palavras dele. Soltou o ar frustrada e se encostou na mesa tampando o rosto com as mãos.


 


-       Me desculpe, Harry.


 


Ele tirou as mãos dela do rosto e a fez o encarar.


 


-       Eu queria poder fazer você ser a mulher mais feliz do mundo. Eu tento, Hermione! Sabe como eu tento! Todos os dias! Mas eu nunca vou ter seu coração por completo, porque ele sempre vai ser de...


 


-       Não! – ela quase gritou colocando os dedos sobre a boca dele. – Por favor não diga o nome dele!


 


Harry suspirou segurando novamente sua mão.


 


-       Acho que é um erros nos casarmos...


 


-       Não, Harry! Não! – ela se agarrou a blusa dele. – Não, por favor! Eu preciso de você! É o único que entende como eu preciso! É o único que entende! Por favor! Só com você pode dar certo. Eu mereço tentar ser feliz e você é o único que entende e que me faz feliz da maneira que eu preciso!


 


Ele respirou cansado e a abraçou. Estalou seus lábios no topo da cabeça da mulher sentindo seus cabelos macios e cheirosos. Ele queria que ela o amasse como ele a amava. Sabia que nunca conseguiria. Estava cansado de tentar. Era sempre uma inconstância. Um dia ela era completamente dele e em outro ele simplesmente não conseguia entender como ela se dispersava tão fácil. Estava cansado, mas isso não o fazia amá-la menos. Estava pronto para conquistá-la todos os dias.


 


-       Está tudo bem, meu amor! – ele sussurrou abraçando-a forte quando ela o apertou. – Tudo bem. – ele sussurrou. – Se quiser contratar alguém para arrumar todos os preparativos do casamento e você apenas precisar vestir o vestido no dia e dizer “sim” eu prometo que não vou ficar sentido.


 


Ela sorriu.


 


-       Vai sim! – ela se afastou dele. – Não será preciso. – ela se pôs na ponta dos pés e estalou um beijo rápido em seus lábios. – Vou fazer isso, Harry! E tenho certeza de que vamos ser felizes juntos. Vamos ter uma família linda e aos poucos vamos construindo um amor forte, assim como temos feito. – ela sorriu. Foi sincero, porém no fundo de seus olhos estava escrito que ela mesma não tinha certeza sobre o que falava. – Vou me empenhar, prometo.


 


Ele lhe deu um beijo no topo da cabeça e desceu estalando mais um na ponta de seu nariz de forma descontraída.


 


-       Eu sei que tudo que se empenha em fazer dá muito certo, Hermione. – Ele a soltou. – Eu te amo. – estendeu o braço para a coruja e ela se acomodou sobre ele pulando num voo. – Vou perguntar se é de algum dos seguranças. – deu as costas a Hermione e seguiu o caminho pelo qual havia vindo. – Você deveria descer. Estão te esperando. Tente pelo menos parecer interessada. – disse antes de sumir.


 


Hermione suspirou frustrada consigo mesma. Sentou-se na mesa e seu cérebro gritou o nome de Draco Malfoy como era acostumado a fazer com constância. Fechou os olhos e tentou se concentrar exatamente em como deveria agir com suas damas e sua organizadora de eventos. Pensou em seu casamento e o planejou por completo apenas nos segundos que esteve ali. Seria exatamente como ela gostaria que fosse e fazendo suas damas cara feia ou não seria como ela estava pensando ali. Abriu os olhos e focou a aliança em seu dedo. Deveria ao menos agradecer que sempre em sua vida ela havia tido Harry para dar um jeito de tapar os buracos que Malfoy havia lhe feito.


 


**


 


Hermione fechou os olhos sentindo o vento da noite levar seus cachos para trás. Ela gostava do vento da torre de Astronomia de Hogwarts. Gostava daquele lugar desde que o conhecera em sua primeira aula. Gostava de estar ali sempre. Qualquer momento do dia ali era mais agradável. Sentava-se sobre os muros que cercavam a meia-lua aberta da torre que dava visão para todo o terreno do castelo e muito além dele. Ali lia por horas a fim. Lia seus livros didáticos, seus romances, seus suspenses, seus artigos. Ela lia e quando se cansava de encarar letras ela deixava seus olhos respirarem com toda a vista que a torre de Astronomia lhe proporcionava. Amava aquele lugar. Amava porque era um paradoxo se sentir tão segura e em casa mesmo sabendo que deveria odiar por temer tanto altura.


 


Ela puxou o primeiro livro da pilha ao seu lado. Abriu na primeira página e tentou se concentrar. Enquanto seus olhos simplesmente passavam automáticos pelas palavras sua mente lhe forçava a pensar que se estivesse em qualquer lugar do mundo agora com Draco Malfoy estaria usando uma camiseta qualquer dele, próxima a uma janela qualquer, com o livro aberto sobre suas pernas cruzadas exatamente como estava ali agora. Ela sabia que ele chegaria por trás, a abraçaria e daria a ela qualquer bebida quente que ele havia preparado como quase sempre faziam quando já estavam cansados de fazer amor e se bajularem deitados.  Ele afastaria seus cabelos e passaria a distribuir beijos em seu pescoço, calmo, sem pressa, fazendo com que cada pelo de seu corço se eriçasse. Ele iria sorrateiro fechar o livro pousado em sua pernas e exigiria atenção sussurrando rouco em seu ouvido naquela voz tão sexy que a fazia se derreter. Ela desistiria de seu livro e daria a ele a atenção pedida e então eles passariam a rir sobre alguns momentos que tiveram juntos antes da guerra acabar e depois planejariam onde iriam passear no dia seguinte embora nada nunca saísse como o planejado.


 


Ela parou de ler. Fechou o livro com força e bufou passando as mãos sobre o rosto. Ela queria viver aquilo para sua vida inteira. Era tão fácil se esquecer que ele era um Malfoy quando estava com ele, quando sentia seu carinho, quando escutava a voz dele mansa em seu ouvido. Ela queria sentir aquela sensação única quando estava com ele para o resto de sua vida. A sensação de finalmente estar em casa após um árduo dia de trabalho. Talvez ela tivesse ganho isso quando ainda viviam juntos naquele mundo incerto da guerra onde se sentia extremamente grata quando paravam para descansar após terem arriscado suas vidas correndo de um lado para o outro durante dias. Sentia-se grata porque sabia que eles dormiriam em qualquer lugar que fosse e que durante a noite ele a abraçaria e velaria seu sono.


 


-       Não consegue se concentrar, Granger? - Seu coração quase saiu pela boca ao escutar a voz dele e ela pensou que estivesse alucinando. Será que ela havia chegado a esse ponto? Virou-se para trás e enxergou Malfoy sentado de qualquer jeito na cadeira do professor com uma das pernas sobre o braço da mesma. Ela o viu tomar um longo gole da cerveja que tinha em mãos. Ela tinha que estar alucinando! – Uma vez no quinto ano eu te observei ler um livro exatamente nesse mesmo lugar que está. Você nunca se deu conta que eu estive exatamente aqui durante boa parte da sua leitura. – ele sorriu. – Achava interessante a forma como seus cabelos voavam quando o vento batia contra você e revelavam seu pescoço. – Ele riu fracamente e tomou mais um gole de sua cerveja. – Eu já te amava e nem sabia. – concluiu.


 


Hermione voltou-se para frente novamente. Fechou os olhos. TINHA que estar alucinando!


 


-       O que faz aqui, Malfoy? – perguntou com os dentes grudados.


 


-       Sabia que estaria aqui.


 


-       Não foi essa a minha pergunta.


 


-       Creio que eu já dei para nós tempo suficiente depois daquele episódio em minha casa. - ele se levantou. Hermione suspirou. Não estava alucinando.


 


-       Você quer dizer um dia? – ela indagou. Sabia da resposta e sorriu quando ela veio. Se odiou por sorrir.


 


-       Não posso ficar muito tempo longe de você.


 


-       Você soa tão apaixonado, Draco Malfoy.


 


Ele sentou-se ao lado dela no muro.


 


-       Eu estou, Hermione Granger. – simplesmente disse. Eles se encararam em silêncio por um longo minuto e depois Hermione tratou de desviar seu olhar do dele para o amplo terreno a sua frente. – Pensei que tivesse medo de altura.


 


-       Não aqui. – ela lhe respondeu.


 


Ele analisou a escura floresta a frente deles banhada apenas pela luz da lua.


 


-       Me desculpe pelo que minha mãe fez a você, Hermione. – ele finalmente disse.


 


Hermione apertou os lábios e abriu um sorriso triste. Ela não queria abrir aquele sorriso.


 


-       Ela só estava cumprindo seu papel como Sra. Malfoy. – ela suspirou. – E você deveria estar cumprindo o seu de herdeiro não estando aqui.


 


-       Granger, quando eu digo que não consigo ficar longe de você eu não estou mentindo.


 


Ela suspirou cansada.


 


-       Draco. – começou. Precisava dizer o nome dele por mais estranho que fosse. – Não podemos mais fingir que você não é um Malfoy e que eu não sou uma sangue-ruim.


 


-       Eu sei. – ele disse baixo enquanto mantinha seus olhos bem longe dela.


 


O silêncio foi longo. Tão longo que o tempo quase parecia ter congelado.


 


-       Minha mãe disse que já leu muitos livros que mencionam minha família.- ele disse e Hermione assentiu. – Então entende porque não posso assumir você para o mundo inteiro e porque tenho que me casar com Astoria? – Ela assentiu sentindo seu estomago revirar enquanto uma pressão em seu peito parecia querer asfixiá-la. Fechou os olhos. Seu coração doía. Ela sabia tudo que ele diria depois disso. – Sou covarde, Granger. Não posso deixar que o meu nome entre para a história como aquele que deu fim a família Malfoy. Eu fui criado me orgulhando dela! Tem ideia de que todo o meu ego está lapidado em cima do sobrenome que eu carrego? Pessoas vão estudar sobre minha história um dia assim como estudam sobre a dos meus pais, dos meus avós, dos meus tataravós. – Ele parou e soltou o ar. Parecia ter pensado nesse discurso durante muito tempo e parecia sofrer a cada palavra. – Não posso ficar com você, Hermione. - Ela concordou e eles entraram num silêncio que durou mais que o anterior. Draco sentia suas mãos suando a cada minuto que ela insistia em manter a boca fechada. Ela apenas se sentia infantil por querer tanto sair dali correndo e chorando. Mas ela era grifinória, não era covarde como ele. Ela ficaria ali e não derramaria uma lágrima por saber que aquele seria o momento em que diria adeus para o sonserino que havia conhecido. Ela nunca deveria ter ido o procurar aquele dia no Bar do Velho na Travessa do Tranco, ela deveria ter superado sua pequena idiotice em não conseguir dormir sem o abraço dele durante a noite, ela tinha que ter superado a dependência que havia criado com a figura familiar dele com ela a sós. Teria sido bem mais fácil do que passar por tudo isso agora. – Merlin, Granger! Diga algo!


 


Ela o encarou. Ele a olhava. Seus olhos cinzas eram sempre tão fortes que as vezes ela perdia as forças apena de olhá-lo. Desviou o olhar do dele. Nunca em toda a sua vida ela havia desejado tanto ter o sangue mais puro do mundo bruxo.


 


-       Eu te amo, Draco Malfoy. – ela nunca imaginou que um dia fosse conseguir dizer essas palavras seguidas do nome dele. Sentia, mas nunca se imaginou dizer. – Eu te amei em silêncio todas as noites que passei chorando porque havia me ofendido pelos corredores da escola. Te amei em silêncio quando oficializou seu namoro com Pansy Parkinson. Te amei em silêncio todas as vezes que tinha nojo de você quando te via se agarrando com garotas em armários, salas e qualquer lugar que pudesse mostrar a toda a escola que dominava qualquer uma. Te amei em silêncio quando tive tanta raiva de Gina por estar perdidamente apaixonada por você. – ela soluçou. Não derramaria uma lágrima. - Te amei em silêncio os dois anos que estivemos juntos e te amo agora mais do que nunca amei em toda a minha vida.


 


Foi a vez dela sentir as mãos suando enquanto ele mantinha o silêncio. Se eles estavam dando um fim a tudo, antes ela tinha que dizer isso a ele. Quando chorava durante a noite em sua adolescência ela sabia que ele nunca saberia disso, mas agora parecia tão conveniente e ela havia sentido como se tivesse tirado o peso de toda uma vida de cima das costas. Olhou para ele e viu que tinha o punho fechado contra a boca, via-o de perfil e seus olhos estavam brilhosos e ao mesmo tempo incrivelmente densos.


 


-       Estou indo embora da Inglaterra. – ele tirou o punho de sua boca e parecia ter dificuldade para falar. – Não volto nunca mais. Cada pedaço desse país me faz lembrar você. – ele parecia ter raiva disso. – Vai viver sua vida e eu irei viver a minha. Como deveria ter sido. – ele saiu do lado dela a deixando sozinha novamente.


 


-       Covarde.


 


-       SIM, EU SOU! – ele gritou de volta e se virou para ela com raiva enquanto a via sair de cima do muro. – Se lembra do dia em que me perguntou se eu preferia ser um assassino a um traidor? Sim! Eu preferiria ser um assassino! Você sabia disso! Quem quer carregar o nome de um traidor, Granger? – Ele foi até ela. – As pessoas sempre esperam algo grande de um Malfoy e eu não vou ser quem irá destruir toda a história da minha família! NÃO SEREI EU! – ele quase grudou seu rosto no dela. – Por tanto peque todo esse seu amor e enfie nesse seu sangue imundo! – cuspiu com os dentes cerrados.


 


Ela prendeu a respiração. Sentiu todo o seu coração explodir em pedaços tão pequenos que ela nunca conseguiria encontra-los novamente. Ergueu a mão e marcou seus dedos no rosto dele. O som do tapa ecoou na torre. Draco pareceu se irar com o ato e ela teve mede, mas manteve sua postura firme. Ele a segurou pelo braço com força e a beijou. Ela o empurrou e lhe deu outro tapa. Ele se afastou esfregando o lado vermelho agora em seu rosto.


 


-       POR QUE NUNCA ME DISSE ISSO? – ele gritou para ela. – EU NUNCA ESCONDI NADA! NUNCA SEGUREI UMA PALAVRA MALDITA SEQUER DO QUE EU SENTIA EM RELAÇÃO A VOCÊ! EU NÃO ENTENDIA PORQUE VOCÊ SORRIA, MAS SEMPRE SE AFASTAVA, SEMPRE FUGIA, SEMPRE SE CALAVA. EU QUERIA QUE ME CORRESPONDESSE NA MESMA INTENSIDADE E SEMPRE ME FRUSTREI COM A FORMA COMO VOCÊ SE MANTINHA LONGE! E AGORA DIZ QUE ME AMA! QUE ME AMOU PRIMEIRO! POR QUE NUNCA DISSE ISSO?


 


-       PORQUE NUNCA SE DEVE CONFIAR EM UM MALFOY!


 


-       O QUE? EU TENTEI LOUCAMENTE FAZER COM QUE ME CORRESPONDESSE! ME PERDOASSE PELOS ERROS QUE TINHA COMETIDO COM VOCÊ ANTES! EU QUERIA TE FAZER ME AMAR!


 


-       PRA QUE? PRA TER O PRAZER DE ME DEIXAR AGORA PORQUE NÃO TEM CORAGEM DE SER O TRAIDOR DO ESTÚPIDO SANGUE MALFOY?


 


Eles se calaram, finalmente, ofegantes. Draco tinha o peso das palavras dela agora sobre ele. Ele havia vivido vidas paralelas estando com ela um dia e sendo um Malfoy em outro e ele fugia todo o dia da responsabilidade que tinha de unifica-las. Agora ele estava sofrendo as consequências por não ter sido prudente. Agora ele era forçado a fazê-lo. Sem plano de estratégia.


 


-       Eu odeio te amar, Granger. – ele se afastou dela.


 


-       Eu já estou acostumada com isso. – ela soltou com desprezo voltando para pegar sua pilha de livros. – Vamos fazer um acordo, Malfoy. Já que o que sente por mim pouco significa perto da traição do seu sangue...


 


-       Não duvide do que eu sinto por...


 


-       Você vai deixar a Inglaterra! – ela o cortou quase gritando novamente. – E não vai voltar nunca mais. -  ela se aproximou dele enquanto jogava sua bolsa de livros sobre o ombro. – Nunca mais. – enfatizou.


 


Ele segurou o braço dela.


 


-       Já convivemos tempo o suficiente para saber que as coisas são feitas da minha maneira teimando você ou não!


 


-       Vai me forçar a ser sua amante, Malfoy? – ela cuspiu. – Vai passar uma noite comigo naquele quarto imundo da Travessa do Tranco e depois voltar para sua mulher na sua casa maravilhosa que divide com seus pequenos herdeirinhos? – dizer aquelas palavras foi como bater um punhal em seu coração. - É isso que quer?


 


-       Não! Eu quero você! Eu não quero dividir aquele quarto com ninguém que não seja você! Eu não quero dividir mansão nenhuma com ninguém que não seja você! Eu não quero ter herdeiros com ninguém que não seja com você, Hermione Granger! – ele foi tão sincero e seus olhos estavam tão densos que Hermione pensou que veria Draco Malfoy derramar uma lágrima pela primeira vez em sua vida. – MAS EU NÃO POSSO, INFERNO!


 


Ela se soltou da mão forte dele. Sua visão estava embaçando e ela estava cogitando revogar sua decisão em não derramar uma lágrima sequer. Por que ele tinha que dizer aquelas coisas e depois dar as costas a ela?


 


-       Então deve nos esquecer. – ela odiava quando sua voz fraquejava.


 


-       Eu não quero.


 


Ela não podia mais dizer a ele nada. Ele a abandonaria e se esqueceria dela tão facilmente que ela sentia como se correntes de ferro apertassem o seu coração. Então ela soube que voltaria a amá-lo em silêncio e sozinha, porém ela se lembraria dessa vez de todos os momentos que tiveram juntos. Seria ainda mais doloroso. Deu as costas para ele e seguiu para as escadas. Agora seria muito mais difícil do que em sua fantasiosa adolescência.


 


Parou pousando sua mão sobre o corrimão. A bolsa de livros em seu ombro pesou mais do que o normal e ela sentiu que desmoronaria no chão em prantos. Por que ela havia o procurado aquele dia na Travessa do Tranco? Por que? Se tivesse sido prudente não precisaria passar por tudo isso agora.


 


-       Tem certeza de que essa é a sua escolha, Malfoy? – ela mal soube como sua voz havia saído com o nó enorme que lhe prendia a garganta.


 


-       Não é uma escolha, Granger. Eu não tenho escolha. – a voz dele estava seca e sem vida alguma. Ela havia escutado aquela voz antes durante a época que o havia visto sofrer todos os dias por seus pais presos na mão de Voldemort.


 


Ela não o olharia. Não mais. Seria mais difícil. Desceu as escadas.


 


Draco a viu ir embora. Ele queria dizer a ela que a levaria com ele para sempre. Estando ele com quem fosse, ele seria dela e ela seria dele, mesmo que ninguém soubesse, mesmo que fosse um paradoxo. Se ela soubesse o poder que tinha sobre ele, se ela soubesse que ela o fez descobrir algo que ele nem ao menos sabia como descrever, se ela soubesse o efeito que causava nele, se ela soubesse o quanto ele queria ser o traidor se seu sangue para estar com ela, se ela soubesse o quanto ele a queria talvez pudesse amenizar a dor dela. Ele apertou seus dentes sentindo sua mandíbula formigar. Algo lhe doía tão forte saber que ela havia lhe dado as costas, que ele estava sozinho ali, sem ela, e que estaria assim para o resto de sua vida. Sem o perfume dela, sem o toque dela, sem o corpo dela, sem sua voz incrivelmente doce, sem sua inteligência brilhante, sem seu sorriso, sem seus olhos. Merlin! Aquilo parecia que estar lhe arrancando um pedaço! Tudo dentro de si ardia e nada aliviou quando uma lágrima silenciosa pulou de seus olhos. Ele quase a conferiu para ver se não estava sangrando. Suas costas bateram contra a parede da torre e ele deslizou para o chão. Apertou as mãos fortes contra o rosto e urrou quando mais de uma lágrima começou a lhe escapar. Ele tinha que ser capaz de segurá-las e tinha que ser capaz de esquecer a sangue-ruim que amava.


 


**


 


            Hermione abriu os olhos e precisou estreitá-los quando a luz direta do sol da manhã lhe atingiu ao se virar sobre os lençóis de sua cama. Esticou os músculos ao se espreguiçar e analisou Harry dormir calma ao seu lado. Ela sorriu. Passou uma mão sobre seus cabelos e se levantou o deixando ali. Tomou um banho demorado e vestiu-se da maneira como usualmente fazia, pegou sua capa do ministério pendurada no cabideiro ao lado da porta e deixou o quarto. A casa estava em completo silêncio e até mesmo seus passos sobre o carpete parecia estrondoso. Desceu as escadas, passou pelo hall e entrou na cozinha. Com a varinha ela ordenou que tudo se movimentasse para segundos depois ter uma chaleira sobre o fogão apitando. Desligou o fogo e agitou a varinha novamente para abrir a janela do balcão da pia enquanto se servia do chá que havia preparado. A coruja do Profeta Diário passou por ela e depositou o jornal sobre a bancada que Hermione estava. Ela pagou a coruja e ela se foi. Hermione sentou-se no pequeno banco e abriu o jornal enquanto se deliciava com um gole de seu chá de canela.


 


Engasgou-se quando leu a manchete do dia.


 


Draco Malfoy une forças de sua companhia de fornecimento de matéria-prima rara retirada do oceano com a famosa fábrica de poções da família Malfoy.”


 


Hermione devorou todo a matéria em minutos. A xícara com seu chá foi esquecida em um canto do balcão quando ela releu a matéria. Draco Malfoy estava agora completamente de volta ao caminho que todos esperavam de um perfeito Malfoy.


 


Sua atenção foi tirada quando escutou os baques de alguém empurrando com bastante dificuldade algo extremamente pesado escada abaixo. Ela fechou o jornal com pressa e o largou sobre o canto oposto do balcão como se sequer o houvesse tocado. Poucos segundos depois ela viu uma garotinha entrar puxando seu malão para dentro da cozinha.


 


-       Mãe! – a garotinha exclamou batendo as mãos uma na outra enquanto voltava-se para a mulher sentada com sua xícara de chá. – Estou pronta para ir!


 


Hermione abriu o melhor sorriso que havia ganho quando concebeu aquela garotinha há onze anos atrás e se levantou.


 


-       Uau! – Hermione exclamou. – Acho que nunca te vi acordar tão cedo!


 


A pequena Lilian revirou os olhos impaciente.


 


-       Vamos nos atrasar! Onde está papai e James?


 


-       Hei! Calma garotinha! – Hermione encheu outra xícara e colocou sobre o balcão. – Vai tomar seu café primeiro. E não precisa de toda essa pressa! Ainda temos muito tempo. - A menina bufou enquanto se sentava e puxava a xícara para perto. – O que vai querer para o café?


 


-       Não estou com fome.


 


-       Lilian! Sei que está ansiosa, mas precisa se alimentar.


 


Lilian fez uma careta e pôs-se a pensar.


 


-       Ovos. – disse e pensou um pouco mais. – E talvez salsichas.


 


Hermione riu da menina e passou a preparar o prato. Lembrou-se de seu primeiro dia em Hogwarts e sentiu saudades daquela sensação.


 


-       Como foi sua noite?


 


-       Bem longa! – exclamou a menina enquanto abria o jornal. – A mais longa de toda a minha vida. – Hermione riu. – Veja, mamãe! Eu não sabia que o dono daquela companhia enorme de fornecimento marítimo era da mesma família da fábrica de poções dos Malfoy! – Hermione derrubou a colher que segurava e a apanhou de volta com pressa. – Se eles eram da mesma família por que não se juntaram antes? Mas que burrice!


 


Hermione sorriu um sorriso fraco para filha enquanto lhe estendi seu prato com ovos e salsichas tomando dela o jornal.


 


-       Você é bem esperta para a sua idade, sabia? – Ela se sentou de frente para a garotinha. – Coma tudo! – ordenou a mãe.


 


Harry entrou sendo seguido por uma minúscula figura que esfregava os olhos com a frauda enquanto chupava sua chupeta. Hermione se levantou para pegá-lo no colo quando ele estendeu os bracinhos curtos para ela. Harry a recebeu estalando um beijo sobre os seus lábios e se sentando ao lado da filha.


 


-       Lily, posso lhe fazer uma pergunta? – Harry começou. A menina o olhou desconfiada. – Por que não temos mais nenhum livro na biblioteca?


 


A filha se engasgou corando. Hermione estreitou os olhos para ela.


 


-       Eu disse para não pegar todos os livros, Lilian Granger Potter! – brigou Hermione.


 


-       Mãe! – a menina soltou em protesto – Eu preciso levar meus livros comigo!


 


-       Isso não quer dizer levar toda a biblioteca, Lily! – Harry exclamou em resposta ao protesto.


 


 


A menina bufou frustrada. Hermione entendeu a garotinha e aninhou James em seus braços que já voltava a pegar no sono enquanto via os olhinhos brilhosos de Lilian frustrada por seus livros.


 


-       Tudo bem, meu amor. – Hermione beijou o topo da cabeça da menina. – Vai nos mandar todos eles de volta quando entrar na biblioteca de Hogwarts e ver que os que está levando são apenas peso amais.


 


A menina voltou a sorrir.


 


            Poucas horas mais tarde eles atravessavam King’s Cross em direção a plataforma 93/4. Lilian atravessou sem medo a parede e foi seguida pelos pais e o irmãozinho mais novo. O expresso de Hogwarts descansava na plataforma enquanto era preenchido aos poucos pelos alunos animados com a volta as aulas.


 


Lilian correu em direção aos amigos quando avistou a cabeleira loira de Alice Lovegood Weasley e os gêmeos de Gina e Neville.


 


-       Pensei que tivesse desistido, sabe-tudo! – Alice disse assim que Lilian se juntou a eles.


 


-       Eu sei! – exclamou a castanha. – Meus pais não queriam sair de casa nunca e papai dirigiu igual uma lesma!


 


-       Vamos entrar logo! Já não deve ter sobrado nenhuma cabine boa! – Alice a puxou pela mão.


 


-       Não! Espere! – ela se soltou da amiga. – Tenho que dar tchau para os meus pais. – virou-se apressada e colidiu com alguém que quase a levou ao chão.


 


-       Hei! – era a voz de um menino – Garota estúpida! Não sabe olhar por onde anda? – ele cuspiu.


 


Lilian encarou o menino loiro a sua frente. Ela se assustou com a beleza pura que ele tinha. Seus olhos eram cinzas tempestuosos e seus traços eram perfeitamente esculpidos. Parecia quase não ser real. Ela se envergonhou por ter sido desastrada, mas foi passageiro quando viu que o menino tinha deixado sua raiva de lado dando espaço para um sorriso maroto.


 


-       Desculpe. – Lilian se desculpou um tanto confusa pelo sorriso do garoto.


 


-       Vejam só se não é a princesinha cicatriz! – ele jogou para ela e Lilian se sentiu ofendida pelo tom que ele estava usando. Um garoto grande e uma menina muito bonita se juntou a ele para lhe fazer companhia e abrir sorrisos e olhares para ela que não a agradaram nem um pouco. – Você tem uma cicatriz igual a do seu pai? – os amigos dele riram.


 


-       Hei! Não diga isso! – Lilian exclamou irritada. Os amigos dele riram ainda mais.


 


-       Ah, não! Me esqueci que você tem é o sangue-sujo da sua mãe! – ele disse com uma cara de nojo e seus amigos acompanharam lançando a ela o mesmo olhar que ele. Lilian abriu a boca para se irar com ele, mas antes que pudesse dizer qualquer palavras sua voz sumiu e sua vista embaçou enquanto sentia a dor da ofensa atingir a ela e a sua mãe. – Eu espero que não saia na mesma casa que eu! Seria um desgosto.


 


-       Lily? – Hermione surgiu atrás da garota. Os sorrisos da trupe do pequeno Malfoy se desfez. A menina se virou para a mãe. – Está chorando?


 


-       Não! – exclamou Lilian secando as lágrimas com força.


 


Hermione olhou para o grupinho que estava com a filha. Se assustou ao ver Draco Malfoy com onze anos novamente. Meu Deus! Ela não tinha dúvidas de quem aquele menino era filho. Olhou para sua filha que fugia e a segurou pelo braço forçando-a a ficar.


 


-       Scorpius? – Um homem extremamente elegante surgiu.


 


Hermione achou que fosse vomitar o próprio coração quando viu Draco Malfoy pegar no ombro do filho. Eram idênticos. Seu olhar se cruzou com os dele e então tudo ao redor deles morreu em um silêncio drástico. Hermione escutou seu coração bater abafado contra suas costelas e sua respiração quase a matou quando o oxigênio parecia raro em seus pulmões.


 


-       Malfoy. – ela conseguiu soltar.


 


-       Granger. – ele sorriu para ela.


 


-       Potter. – ela corrigiu.


 


-       Granger. – ele insistiu. – Então quer dizer que meu filho finalmente conheceu a sua? Espero que sejam bons amigos.


 


Scorpius soltou um riso rápido, repentino e desgostoso. Hermione se lembrou de como Draco costumava fazer aquilo em sua adolescência.


 


-       Mantenha seu filho longe da minha, Malfoy! – ela rosnou para ele. – Bem longe!


 


-       Tenho certeza que ele ficará grato em praticar tal ato. – Draco disse e a trupe do malfoyzinho riu.


 


Lilian soltou-se do braço da mãe e correu para o pai na outra exterminada da plataforma onde conversava com Rony e Neville. Scorpius e seu grupinho tomou a direção do trem. Draco e Hermione mantinham seus olhares fixos um no outro.


 


-       Seu filho é tão estúpido quanto você era. – Hermione disse sentindo raiva por ter visto as lágrimas nos olhos de sua filha.


 


-       É uma pena que a sua tenha os olhos do pai. – ele se aproximou dela. – Por que em todo o resto ela consegue ser tão linda quanto você.


 


Hermione sentiu suas pernas fraquejarem. Ele se aproximou mais. Ela parecia estar embriagada quando começou a perder as forças ao sentir o cheiro tão familiar que ele tinha.


 


-       Não vou aceitar que minha filha passe pelo mesmo que eu passei quando estávamos em Hogwarts por sua culpa novamente! – ela sentiu raiva pelo tom incerto que sua voz havia assumido.


 


-       Não se preocupe quanto a isso, Granger. – ele sorriu, segurou-a pelos dois braços e aproximou sua voz do ouvido dela. – Vi a forma como meu filho olhava para a sua mais cedo. Ele só está tentando chamar a atenção dela agora. Uma hora ou outra ele vai descobrir o quando a quer.


 


Ela se desvencilhou dele de modo ríspido. Trocaram olhares novamente. O dela caiu para sua boca tão rápido quando o dele caiu para a dela. Céus! Por que tinha que ser sempre assim mesmo depois de todos aqueles anos, de suas famílias consolidadas e de suas vidas separadas? Por que era sempre tão tentador?


 


-       Mantenha seu filho longe da minha! – ela rosnou novamente para ele enquanto lutava para manter seus olhos longe da boca dele.


 


Ele sorriu divertido. Ela teve ainda mais raiva. Como queria vencer aquela barreira entre eles! Por que todas aquelas pessoas estavam por perto?


 


-       Hermione! – A voz de Harry invadiu seus ouvidos. Ela ergueu os olhos para ele que tinha o filho no colo e a mão dada para Lilian. Sua família! Céus! E ela querendo Draco.


 


Harry lançou um olhar de nojo para Malfoy.


 


-       Olá, Potter. – Draco soltou.


 


-       Você não deveria estar com sua mulher, Malfoy? – jogou Harry lançando a ele um olhar ríspido.


 


-       E estou, não estou? – brincou Malfoy.


 


Os olhos de Harry faiscaram e Hermione teve que apertar seu braço para que ele não avançasse sobre o loiro. O expresso de Hogwarts anunciou sua saída e Lilian aquietou-se soltando a mão do pai.


 


-       Você deve ir, Lily. – disse Hermione voltando-se para a filha. Abaixou-se e recebeu um abraço da pequena. – Me faça orgulhosa. Quero ver suas notas.


 


Lilian sorriu e assentiu. Abraçou o pai e deu um beijo no irmãozinho.


 


-       Prometo que serei uma boa apanhadora para Grifinória, pai! – ela gritou para Harry enquanto corria para alcançar Alice que já entrava no trem.


 


Hermione sentiu a mão de Harry se unir a sua quando eles se prepararam para ver o expresso tomar velocidade. Ela se lembrou das vezes que estivera ali dentro pronta para voltar para o famoso castelo que ela tanto amava. Olhou para o lado e encontrou Draco Malfoy acompanhado de Astoria Greengrass que agora era Astoria Malfoy abanando a mão em sinal de “tchau” para o filho que estava na janela de uma das cabines. Sentiu raiva da mulher quando ela tocou o braço de Malfoy. Aquela mulher o tinha todas as noites, todos os dias, tinha uma vida com ele assim como ela tinha uma com Harry. Sentiu-se ser corroída pela inveja e precisou respirar fundo tentando afastar todos esses pensamentos de sua mente assim como sempre fazia toda vez que eles a invadiam.


 


-       Onde ela está? – perguntou a Harry quando o viu estendeu a mão e lançar o seu “tchau”. Harry apontou uma cabine no final do expresso e ela viu sua Lilian com a cabeça do lado de fora competindo espaço com Alice e os gêmeos. Hermione sorriu acenando para a filha.


 


O trem finalmente se moveu e começou a deixar a plataforma. O coração de Hermione apertou ao ver sua pequena partir. Suspirou quando ele ganhou velocidade e desviou seu olhar para Draco novamente aproveitando que Harry estava distraído em esperar o trem sumir. Ele a olhava.


 


Trocaram olhares. Dessa vez era sincero. Ela via nos olhos dele o Draco Malfoy que havia conhecido uma vez. O Draco Malfoy que deslizava o dedo pelo seu rosto enquanto lhe beijava a testa de uma forma tão carinhosa que não condizia nem um pouco com seu sobrenome. Não pode deixar de sorrir de volta quando ele sorriu para ela como costumava fazer na época que estiveram juntos longe do olhar de todos. Deus! Como era possível ela ainda amar aquele homem depois de toda a vida que havia construído com Harry?


 


Draco deixou os dedos de Astoria deslizarem para longe de seu braço sem se importar quando ele se afastou dela. Hermione o viu se aproximar e não se importou se Harry o visse fazer isso ou não. Ela deixou que o mundo se desligasse à sua volta.


 


Ele tocou a cintura dela com cuidado quando já estava perto o suficiente. Inclinou-se sobre seu ouvido e fechou os olhos inalando seu cheiro de rosas. Só ela tinha aquele cheiro. Nenhuma outra mulher era como ela.


 


-       Sinto sua falta. – ele sussurrou para ela.


 


Hermione fechou os olhos quando sentiu a voz dele lhe causar choques elétricos por todo o corpo. Ela mal podia se lembrar de sua mão unida com a de Harry. Abriu os olhos e ele já a olhava com aquele olhar cinza misterioso que muitas vezes a deixava com medo. Era tão familiar.


 


-       Sinto sua falta. – ela sussurrou exatamente como ele.


 


Ele sorriu por escutar aquilo. Trocaram novamente seus olhares e então ele se afastou tão rápido quanto havia se aproximado. Hermione o viu caminhar elegante para a saída da plataforma. Ele estranhamente chamava atenção. Era um Malfoy. Ela se ligou novamente para o mundo quando sentiu sua mão ser abandonada quando Harry a soltou.


 


-       Vamos, Hermione. – o escutou dizer e quando ela voltou-se para ele Ainda pode ver o fim do expresso sumir na primeira curva. Merlin! Será que tudo aquilo havia sido rápido assim? Para ela, seu tempo com Malfoy quase durara horas.


 


Ela seguiu o marido em direção ao portal que levaria a King’s Cross e olhou novamente para trás afim de ver Malfoy. Ele fez o mesmo então eles trocaram um último olhar. Cúmplices. Ele seria dela e ela seria dele. Sempre. Por mais que fosse um paradoxo.


 


 


 


 


 


 


Fim.

__

NA: Olá leitores,
Abri outro link para essa fic porque, como alguns puderam ver, a denúncia do link anterior impede a visualização dos capítulos. Tentei resolver o problema mas não tive nenhuma resposta e como venho recebendo, já faz um tempo, comentários aqui e ali de leitores que gostariam de ter acesso a fic e não estavam tendo, esse foi o plano que encontrei.
No mais, agradeço a quem comentou no link anterior! Comentários são extremamente necessários para a avaliação.

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Comentários (8)

  • Gabean

    AMEEEEEII!! História incrível assim como todas as outras suas do Draco e da Hermione ♥ Parabéns *-* 

    2015-05-08
  • bbta black

    Adoreeeeei!!!Pena que eles não ficaram juntos. Muito triste esse final. Faça mais finais felizes pra gente, por favor. rsEstou adorando suas fics,  Fran.Espero que você ainda escreva muito Dramione pq nó amamos. :) Beijinhos 

    2015-01-20
  • Kéry

    Meus Deus! Não conseguia parar de ler... Terminei em 2 dias! Que fic mais maravilhosa, tem tudo o que eu gosto. Pena, é claro, que eles não ficam juntos no fim, fiquei um pouco frustrada, chorei muito aqui... Mas com certeza valeu a pena! Parabéns pela fic! Vou com toda certeza ler as suas outras fics.

    2014-03-15
  • LeslieBlack

    Eu amei essa Fic! Pena que não ficaram juntos, mas a história foi incrível. Parabéns!!!

    2013-12-13
  • Shammy

    Caramba!!!! Como você escreve bem!! Estou adorando ler suas fics!! Adorei a fic!! Se vier a escrever uma historia original, avise que serei uma das primeiras a ler XD

    2013-11-29
  • RiemiSam

    Esse amor chega a queimar o coração quando se lê. Forte, Intenso, covarde e corajoso. Vc escreve muitíssimo bem, por isso acompanho suas FICS. De onde vêm tanto fogo, minha amiga? Dá para sentir o coração pulsando da escritora e imaginá-la escrevendo cada palavra. Parabéns.

    2013-09-23
  • Lais Cavalcanti

    Simplesmente perfeito! De tirar o folego! É uma fic que você devora e não consegue parar ler, e quando acaba fica conjecturando sobre, sem conseguir esquecer! A maneira como você escreve? Perfeita! Acho que a descrição dos sentimentos e da confusão entre eles é que torna a fic tão impressionante! Parabéns de verdade! É uma das melhores fics que eu já li!

    2013-05-25
  • R Malfoy

    adorei, mas queria que eles ficassem juntos, por favor , faz um final alternativo.....bj

    2013-05-20
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