Um novo ínicio



Gwydion transpirava. Sentia o vento gelado do ártico contra o seu corpo quente. As suas botas pareciam mais apertadas, e os seus músculos tremiam ao repelir um novo feitiço. Segurava ambas as varinhas, e dançava ao som de uma melodia que desconhecia.


Morten Tyr fintava-o do outro lado. Concentrado. Defendendo os ataques de ambas as varinhas com mestria.


Uma nova maldição voou na sua direcção. Sentiu uma dor alucinante no peito, largou ambas as varinhas e embrulhou os braços. Sufucou um grito. A dor rapidamente se espalhou por todo o corpo. E parou tão rápido como começara.  


Conseguia respirar. Caíra ao chão. Os seus joelhos haviam cedido sem que se aprecebesse. Sentia terra na boca. Pestanejou. A floresta continuava a rodeá-lo.


- Cruciatus é uma maldição imperdoável. - Levantou-se de um salto. E limpou o sangue quente que escorria dos seus lábios com a manga da camisola. Deveria ter mordido os lábios, quando caíra.  


- Sem dúvida. - O professor acenou - Mas existem mutações de maldição, e várias maneiras de infligir dor. A dor que sentiste foi direccionada para o teu cérebro, e o teu corpo limitou-se a responder ao estimúlo criado. Era uma ilusão.


- Como é que me defendo de ilusões? - Gwydion perguntou. Nenhuma dor fora infligida ao seu corpo, apenas o seu cérebro acreditara que sim. Ia dar ao mesmo, mas era terrivelmente inteligente.


- Oclumencia. - O professor sorriu. - Uma disciplina que estudarás no teu quinto ano.


Gwydion acenou. Apanhou as suas varinhas do chão. E sorriu ao sentir o peso de ambas, e o perfeito elo que tinha com as duas. Já não era um esforço utilizá-las a ambas, tornara-se natural. Sentia a falta de uma, quando só praticava com a outra.


- Mas aparentemente é válido atacar-me com feitiços mentais mais cedo. - Gwydion riu-se, deixando a sua gargalhada ecoar na floresta.


Os alunos de Quinto Ano observavam-no com expressões espantadas. Soube que se saíra bem no exame final. A maioria dos seus colegas teria OWL's, mas Tyr não os dispensara de uma avaliação interna. Alguns lançaram sorrisos, ao ver o seu comentário. Num ano, avançara dois anos na disciplina, o que segundo Viktor era inédito.


- Eu decido as regras. - Tyr acenou, dispensando-o com um gesto.


Uma dor de cabeça começava a crescer dentro do seu cérebro. Sentia-se esgotado, física e psicologicamente. Sentou-se numa rocha, e deitou um jacto de água nos cabelos, sacundindo-os, e despiu a camisa. Em breve, faria catorze anos, mas tinha o físico de um rapaz de dezasseis, e mesmo as suas colegas mais velhas pareciam achá-lo atraente.


- Não te exibas, Black. - Dmitri riu-se.


Viu os seus colegas que ainda não tinham sido avaliados combaterem o professor, observando como Tyr conhecia as suas fraquezas, mas testava o seu conhecimento e capacidades. A cicatriz em forma de relâmpago ardia. Não lhe ardia desde o primeiro ano, naquele primeiro banquete, quando os seus olhos se cruzaram com os do turbante de Quirrell. E tinha vindo a arder mais ao longo dos meses.


- Black, fica, se faz favor. - O professor chamou-o, no final da aula.


Gwydion apressou-se a vestir a camisa, e passou as mãos pelos cabelos.


- As minhas fontes dizem que Peter Pettigrew conseguiu chegar à Albânia. - O Professor afirmou- Era previsível que ele se tentasse juntar ao seu antigo mestre, e não conseguimos impedi-lo. A tua vida e a de toda a tua família está em risco, acima de todos a do teu irmão. Achei que deverias ser informado.


Gwydion pestanejou. Família tornara-se uma palavra distante na sua mente, ou profundamente associada com as suas amizades, e não com os seus laço de sangue. Não via ou falava com os seus pais e gémeo há anos.


- Eles já não são a minha família, senhor. - Gwydion respondeu. O professor notou que a sua expressão se tornara ligeiramente mais séria.Já não havia vestígios do rapaz inocente que chegara a acreditar nos seus pais, e nas suas razões para o desprezarem em prol do irmão. - Eu sou um Black, não um Potter. Mas agradeço a informação.


- Este ano vais a Inglaterra para a Taça Mundial de Quidditch. - O professor continuou - Tenho a certeza de que os vais ver, mas, também, vais estar mais próximo dos sinais que apontam para o seu regresso. Tu estavas lá na noite em que ele foi derrotado. Sejas Potter ou não, é muito provável que ele continue a ver-te como um inimigo. Tem cuidado.


- Terei. - Gwydion acenou - Obrigado, senhor.


O primeiro desses sinais veio pouco depois de chegar a Inglaterra, quando viu Voldemort matar um velho muggle numa mansão que não conhecia, durante os seus sonhos. Mas não era um sonho normal, e soube-o assim que acordou.


Draco convidara-o para assistir à Taça Mundial no Camarote de Honra, juntamente com o resto do "grupo de Hogwarts", uma vez que a sua mãe conseguira bilhetes. Gwydion trocou, novamente, o colar de dente de tubarão com Hermione. E continuou a invejar Longbottom por namorar com Daphne.


Os Potter estavam no Camarote de Honra. A sua mãe e o seu pai continuavam iguais a si mesmos, apenas com rugas mais vincadas debaixo dos olhos, o tempo consumia a juventude. O seu irmão continuava exibicionista. Tirou fotografias com ambos os ministros, e com Ludo Bagman. Vários repórteres faziam-lhe perguntas sobre o que ele achava que iria acontecer no jogo.


- Isto não é de admirar. - Comentou Hermione - O Profeta Diário fez um artigo sobre as qualidades dele como aluno de Hogwarts, e referiu-o como o melhor aluno do seu ano, enquanto ali o Draco o supera a todas as disciplinas.


- Não é preciso dizer que a Hermione nos supera a ambos, pois não? - Draco bocejou.


Nenhum deles o pareceu reconher. Ele era agora quase da altura de James. O seu cabelo tornara-se mais escuro que o do pai, quase preto,  e menos revoltoso. Não conseguiu não reparar que era agora mais alto do que Ethan, e mais atlético. Segundo Hermione, os ombros alargaram, mas mantinha a aparência esguia e silenciosa.


Mas Daphne, secretamente, achava que a maior diferença entre Ethan e Gwydion eram os olhos, e não apenas na cor. Os de Ethan tinham um brilho arrogante, de um menino mimado que acha que todos têm de o servir. Os olhos tempestade de Gwydion tinham um furacão no seu núcleo, uma chama de desafio, como se uma força indestrutível habitasse dentro dele. Isso, e sombras e mistérios, uma parte dele que se mantinha indecifrável, onde residia o surpreendente.


- Eu sei. - Gwydion acenou para Draco, com um sorriso de orgulho. A sua voz era baixa, meio rouca. Tinha posto o braço em volta dos ombros de Hermione, como um irmão abraça uma irmã.


Daphne sentiu-se corar, e, culpada, deu a mão a Neville. Gwydion foi apresentado ao Ministro da Bulgária, e falou-lhe na sua língua, o que surpreendeu os presentes. Tinha aprendido Búlgar nas suas férias com os Krum, ao longo de vários verões. Fudge pareceu agradavelmente surpreendido, enquanto o Ministro lhe explicava que lhe arruinara a diversão, pois estivera a pretender que não falava inglês, obrigando Fudge a gesticular.


Krum era claramente superior a Lynch como seeker, mas os chaser irlandeses superavam os búlgaros. Krum fintou-o com a finta Woonskie, a mesma finta que Gwydion usara contra ele no segundo ano. A Irlanda acabou por vencer.


Gwydion, que tinha um cachecol da Bulgária, ficou desolado, mas foi conquistado pelas celebrações dos amigos.


Krum acabou por convidá-los para um jantar V.I.P com o resto da equipa Búlgara, numa tenda cheia de comida e alcóol. Um dos chaser apostou que conseguia conquistar uma veela. Havia outros convidados presentes, incluindo o ministro. Os jovens estavam delirante, e todos pediram autógrafos a Krum. Gwydion quase que achava estranho as pessoas idolatarem o seu melhor amigo, era como se se esquecesse que Viktor era uma super estrela de Quidditch.


- Suponho que o segundo lugar não seja mau. - Krum comentou - Mas deveria ter apanhado aquela snitch mais cedo.


- Pelo menos, apanhaste-a, e acabaram em pé de igualdade. - Gwydion replicou. - Da próxima, talvez consiga vencer.


- Nunca a perderia para o Lynch. - Krum sorriu, com um golo de vinho.


- Já a perdeste para mim. - Gwydion comentou casualmente. Adorava espicaçá-lo. Draco quase que saltou da cadeira.


- O quê? - Zabini interrompeu.


- Tu voas melhor do que o Lynch. A Inglaterra vai ser um adversário digno de enfrentar, quando tu voares por ela. - Krum afirmou. - E, sim, ele venceu-me no meu terceiro ano. Antes de todo o treino profissional.


- Claro. Ninguém pode vencer o grandioso Krum depois do treino profissional. - Gwydion riu-se.


- Muito engraçado. A verdade é que ainda não o fizeram. - Disse com um encolher de ombros. Era verdade, não arrogância.


Nesse momento, ouviu-se um estrondo lá fora. E muito ruído, de repente. Mas não era o barulho das celebrações dos irlandeses. Não, alguma coisa se passava!


Quando saíram da tenda, viram os Devoradores da Morte encapuzados, marchando numa massa compacta, incendiando tendas e humilhando os muggles donos do parque. A mulher rodopiava no ar, enquanto outros a despiam aos poucos com a varinha.


Gwydion desembainhou ambas as varinhas, e correu na direcção da multidão sem pensar. Krum correu atrás dele. Libertou a mulher do efeito da magia. O feitiçeiro que a despia caiu a sangrar contra o chão, como resultado de um impiedoso Sectumsempra. Começou a duelar à esquerda e direita. Desarmou dois ao mesmo tempo, desviando-se de um terceiro feitiço. Não teria resistido muito, se Krum não se lhe juntasse. A multidão começava a dispersar.


- És um idiota, Black. - Krum murmurou entre dentes.


- Tu és ainda mais por me seguires na idiotice. - Replicou Gwydion.


Eles estavam meio bêbados, e nenhum deles queria realmente matar. Estavam apenas a exibir-se. Não eram adversários temíveis, e os aurores não se tardaram a juntar. Ouviu Narcisa Malfoy gritar aos seus amigos que saíssem dali, enquanto ela mesma caminhava na direcção do combate. Viktor e Gwydion rapidamente se tornaram o centro das atenções.


- Bom trabalho, rapaz. - A voz do seu pai disse ao seu lado, com uma gargalhada, quando Gwydion conseguiu amarrar um dos Devoradores da Morte. James Potter sempre adorara o perigo. - Como é que te chamas?


James Potter não lhe vira o rosto, estava uns escassos centimetros atrás, mas o suficiente para não ver mais do que o recorte do seu queixo e os seus cabelos.


- Gwydion. - Gritou por cima do ombro.


E virou costas, avançando na direcção de Krum. O seu coração palpitava contra o seu peito. Era o primeiro elogio que o pai lhe fizera na vida, apesar de não saber que o dirigia ao seu filho. Uma mistura de sentimentos entre satisfação e raiva atravessou-o, o que o levou a atordoar um outro Devorador.


A marca negra surgiu no céu, quando James se aproximava, novamente. Os Devoradores da Morte desmaterializaram-se. E Gwydion correu antes que algum repórter, ou James lhe fizesse perguntas sobre as suas duas varinhas, ou sobre quem ele era.


Hermione e Gwydion ajudaram a apagar fogos, enquanto Daphne vomitava na tenda, ajudada por Neville. As mãos de Hermione tremiam ligeiramente, e Gwydion conseguia precentir o quão afectada ela estava. Foi um passeio silencioso, mas palavras não eram necessárias.


- Eles não conseguiram nenhuma foto em que não tivesses de perfil. - Krum comentou uns dias depois, enquanto liam o jornal - O que é pena, ainda não é desta que os teus pais descobrem que não és um busca-pé.


As notícias eram, essencialmente, sobre o aparecimento da marca. Ouvira Narcisa Malfoy comentar que a varinha de Ethan Potter fora usada por uma elfo para convocar a marca. A elfo que estivera sozinha a noite inteira a guardar o lugar de Mr. Crouch. Crouch dera roupa a Winky, a vergonha máxima que um elfo doméstico poderia sofrer.


Krum tinha várias fotografias, e fora obrigado a responder a algumas perguntas sobre o combate, mas nunca o identificara. E ninguém conseguira identificá-lo.


Uns meses depois, nadava novamente no ártico, sentia os músculos das costas a articularem-se ao ritmo das braçadas contra a água gelada, enquanto relembrava as palavras do pai.


"Bom trabalho". Seria uma frase capaz de definir a sua existência? Poderia uma frase mudar a sua relação com os pais? Estaria disposto a deixar que ela mudasse? Haveria mais perdão ou raiva dentro de si? Nadou. Nadou. A água salgada relaxava-o, e fazia-o sentir-se vivo como nada mais no mundo.


A Cornualha voltou à sua mente. Aquela terra que se esforçava por esquecer. Poderia "bom trabalho" significar que ainda era o herdeiro de seu pai? E acima de tudo culpava-se por se deixar mergulhar naqueles pensamentos idiotas.


O seu quarto ano começara da melhor maneira. Tyr escolhera introduzir a Necromancia aos seus alunos de Sexto Ano.  Zaytsev começou pelas serpentes marinhas, e a Herbologia, também, estudavam plantas aquáticas.


Gwydion e Viktor fizeram amizade com umas sereias, ao descobrirem a sua cidade num dos largos do ártico, que se revelaram uma grande ajuda para ambas as disciplinas.  


Skadi mantinha as suas aulas entusiasmantes com encantamentos de alegria, e de mudanças de humor, enquanto Borr os obrigava a trabalhar em feitiços de desaparição em objectos.


Foi, nessa noite, depois da natação, que soube da surpresa que os esperava. O Torneio dos Três Feitiçeiros iria ser realizado em Hogwarts.


- Inicialmente, pensou-se que apenas feiticeiros maiores de idade deveriam ser autorizados a combater. Mas, depois, houve uma insitência que todos os alunos a partir do quarto ano deveriam ser autorizados. - Karkaroff discursava - Decidiu-se, no final, que cada escola seria representada por um aluno do sétimo ano, e por um segundo aluno do quarto, quinto ou sexto ano.


- Mais vale chamarem-lhe o torneio dos seis feiticeiros. - Comentou Valkyrie.


- Estas equipas devem trabalhar em conjunto. - Karkaroff finalizou.


- E, assim, Ethan Potter pode entrar, e tem a segurança de um aluno mais velho. - Gwydion comentou - Aposto que a insistência veio de Inglaterra.


- Nem mesmo o Dumbledore pode manipular quem é escolhido.


- Hum...mas nada seria mais conveniente que o Rapaz-Propaganda, conhecido por derrotar Voldemort, conseguisse vencer o Torneio. Seria uma inspiração para a Luz. 

N/A: Fim dos Exames. Voltei. Obrigado a todos pelos fantásticos comentários. Quero mais! Desculpem a longa espera. Espero que não se volte a repetir. E adorava ter as vossas opiniões. Que tal o capitulo? A ideia de seis campeões, gostam? Demasiado forçada?! :)
 

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Comentários (3)

  • Ceci96

    E aí menina? To com saudades! Sei que teve um motivo, torço para que seja um motivo bom! Quando haverá o próximo capitulo? Beijos saudades!

    2013-07-27
  • Ceci96

    Ai que lindo *--* Harry/Gwydion juntos com os amigos!! Quero ver a cara de James e Lily quando ver ele! Amei a idéia do Torneio Hexabruxo kkkkkkkkkkkkk para mim Ethan nao devia entra no torneio, ou se entra se desse muito mal! Por mim quem devia entra era a Hermione ou o Draco junto com Cedrico!! 

    2013-06-27
  • D.Mary

    Que bom... Não se preocupe com isso nós entendemos o motivo.. O capitulo estava muito bom e a ideia dos seis campeões é muito boa esse torneio vai ser muito agitado tenho quase certeza rsrs. Eu não achei muito forçada não sei o que os outros vão pensar né, mas isso deixou as coisas mais iguais e isso é bom; bom pelo menos na minha opinião. Até o próximo capitulo. ^-^ ^-^ :)

    2013-06-26
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