Lar.

Hoje eu aprendi que nunca, nunca na minha vida eu posso acreditar que as brincadeiras de Fred e Jorge Weasley são inofensivas. Aqui estou eu no quarto de Gina tentando limpar essa "enchente" de sangue que vai direto para os lençóis branquíssimos de Molly Weasley. Como pude ser tão burra? Nada vindo de Fred Weasley poderia ser coisa boa. Nugá Sangra-Nariz. Não creio que acreditei que eram balinhas... Simples balinhas.
Ouvi algumas batidas na porta e não respondi. Dois segundos depois apareceu uma cabeça ruiva com um olhar de cachorrinho pidão.
- Some daqui, Fred. Está vendo meu estado? Vai brincar, vai.
- Hermione, me desculpe. - Disse ele dando gargalhadas. - Achei que fosse levar na brincadeira. Deixa de ser durona.
Nunca tinha reparado em como os seus olhos são tão lindos e expressivos. E essas sardas são um verdadeiro charme. O seu corpo... Prefiro não comentar. Na verdade vou comentar. QUE VISÃO É ESSA? Camiseta realçando seus músculos e...
- Mione?
Ops.
Fred chama a minha atenção e então percebo que está sorrindo travesso. Ele com certeza percebeu o meu olhar pelo seu rosto e físico. Corar é pouco. Eu peguei fogo quase que literalmente de tão vermelha que fiquei.
- F-Fred... - POR QUE GAGUEJAR HERMIONE?
- Me deixe ajudar. - Com um simples aceno de varinha e algum som sendo emitido quase imperceptivelmente, senti que meu nariz parava de sangrar. A minha doença é minha cura e vice-versa.
Fred se levantou e saiu do quarto. A primeira coisa que pensei foi que acabei o chateando, graças a minha falta de senso de humor. Estava quase levantando da cama quando o vejo entrar no quarto de novo, dessa vez com toalhas molhadas. Então sem dizer nenhuma palavra ele se aproximou. Estava tão perto que eu podia sentir o cheiro do seu perfume e também o cheiro leve de menta que exalava de sua boca.
Perigo. Ele está perto demais. Não sei aguento tamanha proximidade. Oh céus...
Aos poucos ele foi limpando todo o meu rosto e pescoço. Eu não aguento. Eu sempre soube que não aguentaria. De repente fui tomada por uma coragem - que sabe lá de onde saiu - e o beijei. Segurei em seus cabelos ruivos e desgrenhados e o beijei. O beijo não durou nem meio segundo, mas foi meio segundo no paraíso. Confesso que sempre quis fazer isso.
Com medo do que viria a seguir e morreeeendo de vergonha, abaixei minha cabeça. Mil pensamentos me assombravam. Eu tinha medo. Medo de não ser boa o suficiente. Medo de não ser correspondida. Medo de ouvir o que eu não queria. Para falar a verdade eu sei que nunca serei correspondida e...
Ops.
Fred segurou o meu rosto com as suas duas mãos e olhou bem nos meus olhos. Azuis nos castanhos. Castanhos nos azuis.
- Você pensa demais. - Ele disse com a voz muito suave e um pouco rouca.
Oh, céus. Legilimens?
Eu o vi fechar os olhos e imediatamente fechei os meus. Senti seus lábios completarem meus lábios e dançarem sobre ele de forma gentil, depois desesparada. Todo o meu desejo reprimido por ele durante anos foi extravasado. Pensando bem nunca seria. Eu sempre pediria por mais. Logo o beijo foi se acalmando, e assim como no seu início foi se tornando mais gentil e apaixonado. Sim, eu penso demais.
Nos separamos um pouco ofegantes e um sorriso tímido e sincero brotou de seus lábios. E ali naquele quarto, olhando naqueles olhos cheio de alegria, ternura, emoção e muita paixão, eu pude perceber que tudo o que eu sempre quis estava na minha frente. Não era mais impossível. Não era apenas um sonho. É a realidade. A minha realidade. Uma vez li uma frase em que o autor perguntava se era possível o lar ser uma pessoa e não uma casa... Hoje eu posso responder que sim. É totalmente possível que lar seja uma pessoa, porque ali olhando para aqueles olhos eu pude perceber que eu sempre terei para onde voltar.

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