Algo Inesperado



            Em meados de outubro, ocorreu a primeira visita a Hogsmead, o povoado que vivia próximo à Hogwarts. Draco acordou, se vestiu e desceu para o Salão Principal com Zabini. Crabbe e Goyle já haviam ido. Depois de tomar café, foram para junto dos alunos que iriam ao vilarejo. A segurança do castelo neste ano estava mais rigorosa e Filch revistava todos que entravam e saíam. Draco já estava perdendo a paciência quando chegou a vez dele.


            - Que coisa mais chata, não é? Esse negócio de ficar revistando todo mundo. – reclamou Zabini, ao saírem do castelo, indo para Hogsmead.


            - Nem me fale. Como se isso impediria alguém de trazer algum objeto das trevas. – debochou Draco, fechando o casaco. A manhã estava bem ventosa.


            Quando chegaram a Hogsmead, passaram pela Dedosdemel apinhada de gente, como sempre. Draco nem pensava em entrar naquele lugar cheio de fanáticos por doces. Não que ele não gostasse, talvez passasse lá quando estivesse mais vazio. Entraram, então, no Três Vassouras. Havia poucas mesas vazias. Draco e Zabini ocuparam uma perto da janela, onde dava pra ouvir os assobios do vento do lado de fora. Pediram duas cervejas amanteigadas.


            - Nem sei por que estamos aqui. – reclamou Zabini, tomando um gole de sua cerveja amanteigada. – Podíamos estar no Salão Comunal fazendo nada.


            - É exatamente o que estamos fazendo, só que aqui. – disse Draco, impaciente.


            - Eu sei, mas pelo menos lá é mais confortável.


            Neste instante, a porta do bar abriu e Draco viu Amanda, Gina e Erick entrando. Inesperadamente, Draco sentiu um frio na barriga, que nunca sentira antes. Mas logo foi substituído pela sensação de desagrado que sentia sempre que via um grupinho da Grifinória.


            - Nossa, mas não tem um lugar que nós vamos que não encontramos essa gente. – Zabini reclamou, olhando para o trio. – Entendeu porque eu preferia ficar no salão comunal da Sonserina?


            - É verdade. Vamos acabar logo e sair.


            Quando estavam se levantando, entrou uma pessoa que Draco realmente não queria ver: Pansy Parkinson.


            - Draco! Achei você! – disse ela, abraçando-o.


            - Oi, Pansy. – cumprimentou Draco, sem esconder seu desanimo.


            - Já estão saindo? – perguntou ela, reparando nas duas garrafas vazias em cima da mesa.


            - Sim, nós íamos sair no momento em que você nos encontrou. – falou Zabini, sem a mínima educação.


            - Tudo bem, vamos dar uma volta. – Pansy pegou o braço de Draco.


            - Por que você não está com a Daphne? Será que nem ela te aguenta? – Draco perguntou e Zabini riu.


            - Seu estúpido. Eu a larguei com as outras menina para vir ficar com você. – Pansy respondeu com um mega sorriso, achando que faria Draco sorrir também.


            Draco fez uma cara de nojo e, sem causar efeito na empolgação de Pansy, esta puxou-o para fora do Três Vassouras. Por algum motivo, agora mais do que qualquer outra vez, Draco não queria ser visto de braços dados com Pansy.


            Amanda ficou olhando Draco sair do bar. Estava feliz por não ter que ficar no mesmo ambiente que ele e sua namoradinha. “Que garota mais ridícula” pensou ela. “Ela não tem nada de bonito. O nome é feio, a cara é feia, o...”.


            - Você não acha Amanda?


            - Oi?


            - Você está ouvindo o que estamos falando? – perguntou Erick.


            - Não, desculpa, eu estava viajando. O que quê foi?


            - Nós estávamos falando aqui, que o Três Vassouras podia fazer uma reforma, não é? – Gina disse.


            - Com certeza. – concordou Amanda, ainda um pouco desligada. – Não sei por que o mundo bruxo tem que ter aspecto de velho.


            - É verdade. Estranho isso, né? – comentou Erick.


            - É a falta de tecnologia. – Amanda concluiu. Erick, sendo o puro-sangue que era, fez cara de interrogação, mas Amanda ignorou. Explicar o que é tecnologia não seria fácil.


            Depois de terminarem de tomar suas respectivas bebidas, os três saíram e foram enfrentar o vento de fora. Gina foi encontrar Dino, e Amanda e Erick foram passear pelo povoado. Passaram pela Zonko’s, a loja favorita de Erick, onde ele comprou várias bugigangas. Depois, foram até a Dedosdemel. Compraram tudo que é doce estranho, Amanda estava maravilhada com as coisas que lá tinha, aproveitou e comprou algumas coisas para mandar para seus pais, Jade e Nicole. Ao fim de tudo isso, voltaram para o castelo. Nem sequer tinham visto Harry, Rony e Hermione. Bem que Gina dissera que eles eram reservados.


            No caminho para Hogwarts, passaram por Draco e Pansy, que também estavam voltando para o castelo. Pansy estava agarrada a ele, mas Draco não parecia feliz. Isso deixou Amanda um pouco mais animada do que já estava. Zabini aparentava estar incomodado junto com os dois.


            A primeira reunião oficial do clube “Encantadores de Serpentes” foi na noite seguinte. Amanda se divertiu bastante. Como ela recentemente adquiriu certo ódio por Draco Malfoy, ela pôde compartilhar sua indignação com os outros membros – Erick, Harry e Rony. Estes xingavam não só o Malfoy, mas todos os outros sonserinos e Amanda acabou tendo uma noite muito agradável.


            No início de novembro, aconteceu a primeira partida de Quadribol: Corvinal X Sonserina. A maior parte dos alunos iria torcer para Corvinal, apenas o sonserinos que não. Realmente a Sonserina tinha uma péssima reputação em Hogwarts.


            Às nove horas de sábado, todos se encaminharam para o estádio. Era uma manhã bonita, mas estava frio. O inverno com certeza estava chegando. Amanda, Gina e Erick, se encontraram com Luna e estes sentaram juntos nas arquibancadas, perto de Harry, Rony e Hermione.


            A partida foi bem equilibrada. No final, Corvinal venceu a Sonserina por duzentos e vinte a cento e trinta, para o desagrado dos sonserinos e a alegria do resto da escola.


            Luna separou-se dos três, pois iria comemorar junto com os alunos da Corvinal a vitória. Amanda, Gina e Erick se demoraram a sair. Estava uma muvuca e tanto.


            Quando finalmente conseguiram sair do estádio, avistaram o time da Sonserina saindo dos vestiários com cara furiosa. Amanda teve vontade de tirar um sarro de Draco, mas como ele estava acompanhado por mais seis sonserinos enraivecidos, ela pensou melhor e desistiu.


            - Vocês viram a cara do Malfoy?! – Rony perguntou, no Salão Comunal um pouco depois do jogo, caindo na gargalhada.


            - Claro que sim! Foi muito bom! – falou Erick, rindo também.


            - Teria sido melhor se nós tivéssemos ganhado deles. – disse Harry.


            - Mas nós vamos ganhar! E vai ser bem melhor ver aquele cabeça-branca mais furioso do que já está! – falou Rony, com um olhar maligno, que fez todos olharem para ele.


            - Acalme-se, Rony. Vocês irão jogar contra a Sonserina só depois do Natal. – disse Hermione.


            - Tudo bem, mas já estou imaginando.


            Mais tarde, naquele mesmo mês, teve outra partida de quadribol: Grifinória X Lufa-Lufa. Amanda, assim como a maioria dos alunos da Grifinória, resolveu se vestir de acordo: vermelho e dourado.


            Draco encaminhou-se para o estádio com o resto dos alunos da Sonserina. Aquele seria um jogo chato. A única coisa que o agradaria seria ver a Grifinória perder. Ele não torceria por Lufa-Lufa, mas sim contra a Grifinória.


            Chegaram ao estádio e se acomodaram. A partida começou mal para ele: Grifinória tinha marcado com menos de cinco minutos de jogo. Só dava pra ouvir a gritaria da casa. Amanda estava bem à frente junto com Erick e Hermione. Os três estavam gritando coisas para os jogadores que ele não conseguia entender. “Que bando de manés”, Draco pensou.


            Ao fim do jogo, como era esperado, Grifinória venceu de 240 a 160. Harry agarrou o pomo, não se sabe como, pois estava tão grudado com o apanhador da Lufa-Lufa, que todos estavam prendendo a respiração. Harry precisava pegar o pomo, pois Rony não estava indo muito bem e deixou passar várias bolas fáceis. Felizmente, tudo acabou bem.


            Na sala comunal da Grifinória houve a tradicional comemoração da vitória. Todos estavam parabenizando os jogadores e eles, é claro, estavam muito felizes, menos Rony, que parecia descontente e decepcionado consigo mesmo.


            - Relaxa Rony, você não foi mal. Só estava distraído. – consolou-o Hermione.


            - Distraído nada, eu sou ruim mesmo. Como iremos vencer a Sonserina se eu continuar desse jeito? – perguntou ele, sem se convencer.


            - Até lá, nós já iremos ter treinado muito, você melhorará. – disse Gina, sentando-se ao lado dele.


            - É, Rony. Além disso, é só um esporte. Nada muito importante. – Amanda disse.


            - Claro que é importante! Nós precisamos ganhar daqueles sonserinos. – Rony disse, olhando para Amanda, espantado.


            - Eu sei que a rivalidade entre vocês é grande, mas não pode deixar isso abalar suas atitudes. – Amanda aconselhou-o.


            - Você que o diga, não é?! – Gina falou, olhando para Amanda com ar de riso.


            - Como assim? – perguntou Amanda, sem entender.


            - Fala sério, as vezes que nos encontramos com Malfoy você se revoltou. Não imaginava que você fosse desse jeito.


            - Ah, então você anda enfrentando ele? – perguntou Hermione, reprovando e ao mesmo tempo com um tom de aceitação.


            - Claro que não. Só respondo aos desaforos que ele vem fazer. – defendeu-se.


            - Cuidado, ele é monitor.


            - Não sei como. É um idiota.


            A festa de vitória durou até que a Profª. McGonagall entrou no meio mandando todos irem dormir. Ela não conseguia esconder o sorriso de alegria, mas mesmo assim, conseguia ser respeitada por todos.


            Amanda acordou bem no domingo, assim como a maioria dos grifinórios. Estava ficando cada vez mais frio com a proximidade de dezembro.


            - Alguém que conhecemos morreu ou foi preso? – perguntou Rony, naturalmente, na mesa do café da manhã.


            - Parece que não. – respondeu Hermione, que estava lendo o “Profeta Diário”.


            - Esse ano está meio parado.


            - Pois é, que ruim, né? – ironizou Gina, olhando-o.


            - Será que tem jeito de misturar panqueca com torrada? – perguntou Erick para si mesmo, pegando uma panqueca com a mão esquerda e uma torrada com a direita. – Podia se chamar Panrrada. – disse ele animado colocando a torrada em cima da panqueca. – Ou então Toqueca! – e colocou outra panqueca por cima da torrada e deu uma mordida. Sorriu, como se aprovasse.


            Amanda e Gina se entreolharam.


            - Você ouve o que você diz, Erick? – perguntou Amanda, virando-se para ele.


            Demorou um pouco e Erick percebeu que Amanda e Gina estavam olhando-o.


            - Disseram alguma coisa? – perguntou ele de boca cheia, na maior inocência.


            - Acho que não. – conclui Gina, e voltou-se para seu café da manhã. Amanda riu.


            - Bom, acho que vou ao Corujal enviar os doces que comprei para os meus pais e minhas amigas. Nos vemos depois.


            - Você não enviou ainda? – Erick espantou-se - Faz quase um mês que fomos a Hogsmead. Já deve estar tudo estragado.


            - Ah, eu esqueci. Mando agora. Se estiver estragado, é só eles não comerem. – disse Amanda. Simples assim.


            Dizendo isso, Amanda levantou-se e foi para a torre da Grifinória pegar os pacotes que já estavam prontos há alguns dias. Foi, então, para o Corujal. Ela nunca gostava de ir a um lugar onde corujas viviam. Era sempre sujo e mal-cheiroso. Quando chegou lá, deparou-se com Draco Malfoy, apoiado em uma das janelas, de costas para a porta. Sentiu arrepios. Estava sozinha com Malfoy. Sentiu seu coração acelerar e a ficar nervosa. Não, espera, não era essa a sensação que deveria ter. Fechou os olhos e balançou a cabeça, recuperando-se.


            Draco tinha acabado de enviar uma carta para sua mãe. Ele quase não se correspondia com seu pai em Azkaban. A única coisa que ele sabia dizer era sobre Voldemort, que Draco devia apoiá-lo e trazer orgulho. Ele já estava cansado dessa conversa, por isso evitava a comunicação entre eles. Sua mãe, pelo menos, era mais agradável, então resolveu mandar-lhe uma carta, dizendo que iria passar o Natal em casa. Não tinha motivos para ficar em Hogwarts mais do que era obrigado.


            Draco foi desviado de seus pensamentos pelo barulho de corujas. Olhou para trás e viu Amanda escolhendo três corujas-das-torres. Sentiu aquela sensação estranha que sentira no Três Vassouras. “Que raios é isso?”.


            - Mas será possível que eu não posso ficar num lugar sem que alguém desagradável apareça? – perguntou ele em voz alta, visivelmente irritado com a presença de Amanda.


            - Que eu saiba, este lugar é para todos os alunos. – disse ela, prendendo um pacote em uma das corujas, sem se deixar abalar.


            - Mas eu sou monitor, por isso tenho preferência e se eu quero ficar sozinho aqui, você deve sair.


            Amanda apenas o olhou, entediada, ignorou-o e foi até a janela soltar a primeira coruja. Voltou-se para onde estava e começou a prender o segundo pacote em outra coruja.


            Draco estava ficando realmente alterado com aquela garota.


            - Como você demora em fazer isso, Thornton. – perturbou-a ele, chegando mais perto dela, olhando o modo desajeitado com que ela prendia o pacote na pata da coruja.


            - Vai querer me ensinar a fazer isso também? – perguntou ela, impaciente, finalizando o nó e soltando a segunda coruja.


            - Parece que você precisa disso.


            - Vai-te catar, Malfoy. – Amanda disse, começando a ajeitar a última coruja.


            - Olha essa boca, garota. – repreendeu Draco, olhando-a chocado. – Você não pode falar comigo assim não, eu já lhe disse isso.


            Amanda fechou os olhos, respirou fundo e contou até três. Então falou:


            - Vamos parar por aqui.


            - Ah, então a corajosa agora está com medo. Eu sabia que você ia acabar amarelando. – Draco disse com um sorriso debochado.


            Ela sentiu seu rosto ficando vermelho novamente. Ele a estava desafiando e duvidando da coragem dela? Amanda não conseguiu mais se segurar.


            - Eu não tenho medo de você, Malfoy, mesmo você sendo monitor. – disse ela enraivecida.


            - Pois devia ter. Posso te dar uma detenção agora.


            - E qual seria o motivo?


            - Desrespeito ao um monitor da escola.


            Amanda riu.


            - Ah, que medinho.


            - Está duvidando de mim? – disse ele começando a encará-la.


            - Pareço estar? – ela confrontou-o, encarando-o de volta. – Além disso, eu poderia me defender dizendo que quem começou essa discussão foi você.


            - E em quem será que o diretor acreditaria? Na novata ou no monitor? – Draco perguntou, fingindo estar em dúvida.


            Amanda sentiu sua raiva crescendo.


            - Ai, Malfoy! Eu... eu... – começou ela, sem saber direito o que dizer.


            - Você o quê? Me odeia? – perguntou ele. Draco já estava acostumado com as pessoas odiando-o, então já esperava por isso.


            - Quem disse que eu te odeio? – Amanda não ia dizer isso e por um momento sentiu-se triste por Malfoy achar que ela o odiava. Tudo bem, ela não gostava dele mesmo, mas não chegava a ser ódio. - Talvez...


            - Talvez o quê? – perguntou ele, ainda desafiando-a.


            Amanda sentiu uma coisa estranha que a fez dizer algo que não pretendia.


            - Talvez eu até goste de você.


            As palavras saíram de uma vez. Amanda não conseguiu controlar e espantou-se consigo mesma por ter dito esse absurdo.


            Draco, por sua vez, continuou a encará-la, mas sua expressão mudou. Seu rosto ficou mais branco do que já era e seus olhos se abriram, visivelmente chocado com tal revelação. Como reagir depois disso?


Depois de um momento desconfortável em silêncio, ele piscou várias vezes, tentando assimilar aquelas palavras.


            - Você o quê? – perguntou ele, finalmente conseguindo falar.


            Amanda não estava mais olhando-o. Terminou de aprontar a ultima coruja, e soltou-a.


            - Nada. – disse ela, por fim, e saiu do Corujal depressa.


            Draco ficou parado ali, sem saber direito o que fazer. Amanda Thornton gostava dele? “Como é possível?”. Surpreendentemente, ele não sentiu vontade de caçoar ou rir dela, nem se sentiu convencido com isso. Foi algo tão inesperado, ficou sem reação. Involuntariamente, Draco curvou os lábios em um sorriso mínimo. Quando percebeu, fechou a cara novamente. Ele estava confuso. Precisava se juntar com alguns sonserinos para xingar Potter e poder se distrair. Saiu, então, do Corujal e foi para as masmorras, sem deixar de pensar no que havia acontecido.


            Amanda andou o mais depressa possível, sem chegar a correr. Provavelmente estava ridícula andando dessa forma, mas não ligou. Precisava encontrar Gina para contar o que acabara de acontecer.


O que ela havia dito? Como ela pudera dizer aquilo? Não era verdade... pelo menos era o que Amanda achava. De qualquer forma ela ainda não conseguia entender o que havia a feito dizer isso. Foi como um impulso, uma coisa estranha que ela não conseguiu controlar. Talvez uma maneira de deixá-lo totalmente sem reação, despreparado? Mas até ela ficou desse jeito.


            Chegou ao retrato da Mulher Gorda, falou a senha rapidamente, que fez a mulher reclamar com ela pela grosseria, e entrou apressada, procurando Gina. Encontrou-a sentada junto a Dino. Sem pensar duas vezes foi até ela.


            - Gina, preciso falar contigo. – disse ela.


            - O que foi? – perguntou a garota, preocupada.


            - Em particular.


            Gina a olhou ainda mais preocupada.


            - Tudo bem. Dino, depois a gente se vê. – deu um beijo no namorado e subiu para o dormitório feminino com Amanda.


            Chegando lá, Gina perguntou:


            - Amanda, pelamor, o que houve?


            - Eu fiz uma coisa... aliás, eu disse uma coisa que eu não devia. – Amanda dizia, aflita.


            - O que foi?! – a garota estava ansiosa pela resposta.


            - Eu nem sei por que eu disse aquilo. Foi tão sem querer, eu não pretendia falar, mas acabou saindo, não consegui controlar, não consigo entender, não...


            - Amanda, estou ficando realmente preocupada... o que diabos você falou pra quem? – Gina perguntou, ficando irritada com a enrolação da outra.


            Amanda parou, respirou e respondeu:


            - Disseaomalfoyquegostodele.


            - Como é que é? – Gina fez cara de quem não tinha entendido nada.


            - Por favor, não me faça repetir.


            - Se você tivesse falado na minha língua eu não pediria, mas pra mim você falou em russo.


            - Tudo bem. – Amanda respirou fundo. – Eu disse ao Malfoy que... que...


            - Disse o que, caramba?!


            - Que eu gosto dele.


            Gina ficou olhando-a, como se não tivesse acreditado no que acabara de ouvir.


            - Você está de brincadeira.


            - Pior que não.


            - Estou bege. – Gina disse, colocando a mãe nos lábios. - Por que você disse isso?


            - Eu não sei! – respondeu Amanda, com voz de choro sentando-se na cama. – Foi de repente, eu acabei falando, sei lá...


            Amanda escondeu o rosto nas mãos. Sentiu Gina sentando-se ao lado dela. Ficaram alguns minutos em silêncio. Então, Gina quebrou o silêncio.


            - Eu sei que parece besteira, mas talvez você já sentisse isso.


            Amanda levantou o rosto e olhou para a amiga chocada.


            - Cuma?


            - Olha, não me leve a mal, mas pra você ter dito algo assim, você já devia estar... gostando dele. – Gina terminou a frase, fazendo cara de nojo. – Além disso, ele foi o primeiro garoto que te chamou a atenção, certo? Lembra que você me perguntou quem ele era no Salão Principal na primeira noite?


            É claro que Amanda se lembrava. E desde então não deixou de reparar nele todas as vezes que eles estavam no mesmo ambiente.


            - Eu devia ter tocado nesse assunto depois. – Gina disse parecendo culpada. – Mas eu achava tão impossível alguém como você se interessar de verdade por ele que eu nem me preocupei. Pensei que depois de tudo que havíamos falado sobre ele e ainda mais depois de você conhecê-lo oficialmente, você o descartaria imediatamente. – ela explicou – Parece que me enganei.


            - Eu não a culpo, Gina. Quando vocês me alertaram sobre ele, eu realmente o descartei. Pelo menos eu achava que sim. Mas aí nós o encontramos no corredor, quando nos confrontamos pela primeira vez, e... – Amanda sentiu-se envergonhada para continuar.


            - O que é, Amanda? Não tenha medo de falar pra mim. – Gina encorajou-a, suavemente.


            - Algo no jeito dele... me deixa... estranha. Mas não do jeito ruim...


            Gina fez cara de nojo, sem o menor esforço para esconder.


            - Acho que farei alguns testes em você para ter certeza de que não está sob o efeito de alguma poção do amor.


            - Para, Gina, isso é sério!


            - Desculpa. Mas eu não entendo... – Gina respirou fundo. – O que cargas d’agua ele tem que te deixa estranha? E o que exatamente é esse estranha?


            Amanda pensou bem antes de responder. Ela ainda estava tentando colocar as ideias no lugar para poder entender. O quê, afinal de contas, o Malfoy tinha que ela gostava? Além da beleza física ela não sabia ao certo. Lembrou-se das vezes em que se encontraram e das pequenas provocações entre aulas. Ela odiava quando ele se impunha daquele jeito imbecil dele, se sentindo superior, mas ao mesmo tempo Amanda gostava do seu jeito convencido.


            - Quando vocês me falaram dele, que ele é arrogante, metido, egoísta e tudo o mais, eu comecei a odiá-lo, antes mesmo de conhecê-lo. – Amanda começou a explicação devagar, bem pelo começo. – Ele é o oposto de mim. – ela resumiu. – Acho que é por isso que me sinto atraída. Se eu namorasse alguém parecido comigo, seria o namoro mais monótono no mundo.


            Gina esfregou sua mão na própria bochecha, absorvendo o que a amiga lhe dissera.


            - Eu suponho, e só suponho, que isso é possível. Dizem por aí que os opostos se atraem, mas eu nunca acreditei nisso. Até agora.


            Amanda deu um sorriso tímido. A conclusão de Malfoy ser o oposto de Amanda era a mais plausível. Ela refletiu mais um pouco para se certificar de que era isso mesmo que a atraía nele.


            - Estou tão confusa que estou com dor de cabeça. Como posso gostar de alguém ao mesmo tempo em que eu odeio?


            - Calma, Amanda. Não adianta ficar nervosa. – Gina acalmou-a. – Acho que antes de tentarmos entender o que está acontecendo, você precisa esfriar a cabeça. – Gina concluiu e Amanda assentiu.


            - Mas o pior é que eu não tenho mais coragem de sair em público.


            - Por quê? Ninguém mais sabe.


            - Mas o Malfoy sabe e ele com certeza não sente o mesmo. Nossa, que desastre. – Amanda colocou as mãos nas bochechas com cara de desespero.


            - Vou ser sincera contigo, será melhor se ele não corresponder. Malfoy é sinônimo de problema, querida, quanto mais longe melhor.


            - É, pode ser... mas e se ele contar para todo mundo? Eu não quero nem ver. – Amanda escondeu o rosto nas mãos novamente, ela estava com medo.


            - Não precisa ficar preocupada. – Gina tentava acalmá-la sem sucesso, passando a mão em suas costas.


            - Mas eu estou, e estou com medo de ele e os amigos virem rir de mim.


            - Entendo... Você sente como se tivesse revelado um segredo íntimo, não é?


            - É...


            - Já aconteceu comigo e eu sei como é, e creio que significa que você realmente gosta dele. O que é estranho, já que você o odiava. – Gina parecia confusa.


            Amanda revirou os olhos. Não tentaria explicar novamente.


            - Não acredito que isso está acontecendo. – Amanda lamentou.


            - Tem coisas que acontecem que a gente não espera. Só sinto por ter sido com o Malfoy. – Gina disse, como se pedisse desculpas.


            -Você não vai me criticar nem tentar me convencer do contrário?


            - Isso não te ajudará em nada. E não é uma coisa que eu gostaria que me dissessem. E eu quero te ajudar. – Gina disse sorrindo, abraçando a amiga.


            - Obrigada, Gina! – Amanda retribuiu o abraço. Gina parecia mais madura do que a idade permitia. Mas ela não ligou. Era disso que precisava: apoio.


            - Acho que a situação não é tão complicada quanto parece. Se você tiver certeza que gosta mesmo dele, eu vou te ajudar nesse longo caminho para conquistar o Malfoy. – Gina disse com determinação e os olhos brilhando. – Agora, vamos descer, assim você se anima. – Gina levantou-se e estendeu a mão para a amiga.


            - Não sei se isso será possível. – Amanda disse duvidosa.


            - Nós ficaremos com Rony e Erick. Não tem jeito de você não se animar, nem que for um pouquinho.



            - É verdade. – Amanda riu, pegou a mão de Gina e as duas saíram do dormitório.


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Comentários (1)

  • Rebeca_Potter

    Eu não sei do que eu ri mais. Do "Estes xingavam não só o Malfoy, mas todos os outros sonserinos e Amanda acabou tendo uma noite muito agradável." ou do "Panrrada" hauahauahau muito bom.

    2015-12-31
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