O Mapa do Maroto



– Ok, quem vai ler essa bagaça? – Pergunta um Sirius muito do metido, talvez nem tanto, mais vocês entenderam.


– Bagaça? Qual é o problema com o teu cérebro? –Pergunta Lene.


– Nenhum minha cara, mais gostaria de saber qual é o problema com o seu cérebro para me tratar assim. – Sirius deu um sorriso de lado, com o olhar sedutor. Alice riu alto, acompanhada de Lily. – Qual é a graça, donzelas?


– Af, vamos começar com essa leitura logo, antes que eu jogue um Avada em alguém. – Fala Snape, com seu tom de voz que faz qualquer um tremer nas bases, qualquer um, menos os ali presentes.


– Ah, Sev, faça-me rir. – Caçoa James.


– Já pararam com as provocações? To afim de ouvir!


– Remo, leia se quer ouvir tanto!


– Snape, você tá de TPM hoje, ou quem sabe já tá até menstruado?


– Potter, vou te mostrar que tá menstruado. – Snape já avançava para cima de James, mais parou quando viu o olhar zangado de Lily.


– Eu vou ler, e se alguém me interremper, vai se ver comigo.


Todos ficaram quietos, enquanto Lily pega o livro.


 


 


Madame Pomfrey insistiu em manter Harry na ala hospitalar pelo resto do fim de semana. Ele não discutiu nem se queixou, mas não deixou jogarem no lixo os estilhaços de sua Nimbus 2000. Sabia que era uma atitude burra, sabia que a vassoura não tinha conserto, mas o sentimento era mais forte que ele; era como se tivesse perdido um dos seus melhores amigos.
Uma procissão de amigos veio visitá-lo, todos decididos a animá-lo.
Hagrid lhe mandou um buquê de flores com lagartinhas, que pareciam repolhos amarelos, e Gina Weasley, corando furiosamente, apareceu com um cartão de votos de saúde, feito por ela mesma, que cantava com voz esganiçada a não ser que Harry o guardasse fechado embaixo da fruteira. O time da Grifinória tornou a visitar o companheiro no domingo de manhã, desta vez em companhia de Olívio, que declarou a Harry (numa voz de além-túmulo) que não o responsabilizava pela derrota. Rony e Hermione só deixavam a cabeceira de Harry à noite. Mas nada que ninguém dissesse ou fizesse conseguia fazê-lo se sentir melhor, porque eles só conheciam metade das suas preocupações.
Ele não contara a ninguém que vira o Sinistro, nem a Rony nem a Hermione, porque sabia que o amigo entraria em pânico e a amiga caçoaria dele. O fato era, no entanto, que o Sinistro agora já aparecera duas vezes e ambas as aparições tinham sido seguidas por acidentes quase fatais; da primeira vez Harry quase fora atropelado pelo Nôitibus Andante; da segunda, levara uma queda da vassoura de quase quinze metros de altura. Será que o Sinistro ia atormentá-lo até a morte?
Será que ele, Harry, ia passar o resto da vida olhando por cima do ombro à procura da fera?


 


– Não entendo por que um monte de gente foi paparicar esse moleque, ele APENAS perdeu a vassoura!- Fala Snape, com desdém. O olhar que Lily e James lançaram á ele era de dar muito medo. – O que foi?


– Eu falei ´para não ser interrompida, isso é pedir demais?


– Lily, você tá chata demais hoje. – Snape dá de ombros, tadinho dele, não tem medo da morte.


Lily finge que não ouviu e volta á ler:



Além disso havia os dementadores. Harry sentia mal-estar e humilhação toda vez que pensava neles. Todos diziam que os guardas eram medonhos, mas ninguém desmaiava sempre que se aproximava deles. Ninguém mais ouvia mentalmente os ecos da morte dos pais.
Isto porque agora Harry sabia a quem pertencia a tal voz. Ouvira o que ela dizia, ouvira-a continuamente nas longas noites passadas na ala hospitalar quando ficava acordado, contemplando as listras que o luar formava no teto.
Quando os dementadores se aproximavam, ele ouvia os últimos instantes de vida de sua mãe, sua tentativa de proteger o filho da sanha de Lord Voldemort e a gargalhada do bruxo antes de matá-la... Harry dava breves cochilos, mergulhando em sonhos cheios de mãos podres e pegajosas e súplicas fossilizadas, acordando de repente para voltar a pensar na voz da mãe.
Foi um alívio voltar à zoeira e à atividade da escola principal na segunda-feira, e ser forçado a pensar em outras coisas, ainda que tivesse de aturar a implicância de Draco Malfoy. O garoto não cabia em si de alegria com a derrota da Grifinória. Retirara finalmente as bandagens e comemorava a circunstância de poder usar os dois braços novamente, fazendo espirituosas imitações de Harry caindo da vassoura. Malfoy passou a maior parte da aula seguinte de Poções, a que assistiram juntos na masmorra, fazendo imitações dos dementadores; Rony finalmente se descontrolou e atirou um enorme e gosmento coração de crocodilo em Malfoy, que o atingiu no rosto, o que fez Snape descontar cinqüenta pontos da Grifinória.


 


– Snape, tu é chato pra carai. – Comenta Sirius.


– E você é muito legal, né seu cachorro. – Snape deu um olhar furioso para Sirius.


– Quem em sã consciência defende um troço besta como o Malgoy? – Se pergunta Jay.


– Também me pergunto isso. – Se pronuncia Frank.


– Gente, que pesadelos loucos os do Harry né, ficar vendo a mãe sendo morta. – Fala Alice.


– Pois é. – A voz de Lily não era raivosa e nem nada do gênero, era apenas distante.


Houve silêncio para que a ruiva continuasse.


 


— Se Snape vier dar aula de Defesa contra as Artes das Trevas de novo, vou me mandar — anunciou Rony quando seguiam para a classe de Lupin depois do almoço. — Vê quem está lá, Mione.
A garota espiou pela porta da sala.
— Tudo bem!
O Profº. Lupin voltara ao trabalho. Sem dúvida tinha a aparência de quem estivera doente. Suas vestes velhas estavam mais frouxas e havia olheiras escuras sob seus olhos; ainda assim, ele sorriu para os garotos que ocupavam seus lugares na classe e, em seguida, desataram a se queixar do comportamento de Snape na ausência de Lupin.


 


– Se eu fosse o Ron, com certeza faria a mesma coisa, me mandaria. – Faz um comentaria, Remo. Ele estava orgulhoso, por ver que os alunos gostavam de suas aulas.


– Ah gente, vamo fazer silêncio, se não daqui á pouco, eu jogo um crucio em todo mundo! – Fala Lene, se pronunciando pela primeira vez. Confesso que, até eu ficaria com medo dela.


– Esquentadinha... – Fala Sirius.


 


— Não é justo, ele estava só substituindo o senhor, por que passou dever de casa?
— Não sabemos nada de Lobisomens...
— Dois rolos de pergaminho!
— Vocês disseram ao Profº. Snape que ainda não estudamos Lobisomens? — perguntou Lupin, franzindo ligeiramente a testa.
A balbúrdia tornou a encher a sala.
— Dissemos, mas ele respondeu que estávamos muito atrasados...
— Ele não quis ouvir..
— Dois rolos de pergaminho!
O Profº. Lupin sorriu ao ver a expressão indignada nos rostos dos alunos.
— Não se preocupem. Vou falar com o Profº. Snape. Não precisam fazer a redação.
— Ah, não! — exclamou Hermione, muito desapontada. — Já terminei a minha.
Tiveram uma aula muito gostosa. O Profº. Lupin trouxera uma caixa de vidro contendo um hinkypunk, uma criaturinha de uma perna só, que parecia feita de fiapos de fumaça, a aparência frágil e inofensiva.


 


– Hermione é minha diva. – Lily mesma se interrompe para fazer esse comentário.


Todos riram.


– Ah, novidade. – Caçoa Alice.


– Ela é mais inteligente que você, Lily. Cuidado... - Entra na brincadeira Lene.


Lily dá de ombros e volta sua atenção para o livro.


 


— O hinkypunk atrai os viajantes para os brejos — informou o professor enquanto os garotos faziam anotações. — Vocês repararam na lanterna que ele traz pendurada na mão? Ele salta para frente... A pessoa acompanha a luz... Então...
A criatura fez um horrível barulho de sucção contra o vidro da caixa.
Quando a sineta tocou, todos guardaram o material e se dirigiram para a porta, Harry entre eles, mas...
— Espere um instante, Harry — chamou Lupin. — Gostaria de dar uma palavrinha com você.
Harry deu meia-volta e observou o professor cobrir a caixa do hinkypunk com um pano.
— Soube do que houve no jogo — disse Lupin, virando-se para sua escrivaninha e começando a guardar os livros na maleta — e sinto muito pelo acidente com a sua vassoura. Há alguma possibilidade de consertá-la?
— Não — respondeu Harry. — A árvore arrebentou-a em mil pedacinhos.
Lupin suspirou.
— Plantaram o Salgueiro Lutador no ano em que cheguei em Hogwarts. Os alunos costumavam brincar de tentar se aproximar do tronco e tocar a árvore com a mão. No fim, um garoto chamado Davi Gudgeon quase perdeu um olho e fomos proibidos de chegar perto do salgueiro. Uma vassoura não teria a menor chance.
— O senhor soube dos dementadores também? — perguntou Harry com dificuldade.
Lupin lançou um olhar rápido a Harry.
— Soube. Acho que nenhum de nós tinha visto o Profº. Dumbledore tão aborrecido. Há algum tempo, eles estão ficando inquietos... Furiosos com a recusa do diretor de deixar que entrem na propriedade... Suponho que tenham sido eles a razão da sua queda.
— Foram. — Harry hesitou e, então, a pergunta que queria fazer escapou de sua boca antes que pudesse contê-la. — Por quê? Por que eles me afetam desse jeito? Será que sou apenas....
— Não tem nada a ver com fraqueza — respondeu o professor depressa, como se tivesse lido o pensamento de Harry. — Os dementadores afetam você pior do que os outros porque existem horrores no seu passado que não existem no dos outros.
Um raio de sol de inverno entrou na sala, iluminando os cabelos grisalhos de Lupin e os traços do seu rosto jovem.
— Os dementadores estão entre as criaturas mais malignas que vagam pela Terra. Infestam os lugares mais escuros e imundos, se comprazem com a decomposição e o desespero, esgotam a paz, a esperança e a felicidade do ar à sua volta. Até os trouxas sentem a presença deles, embora não possam vê-los. Chegue muito perto de um dementador e todo bom sentimento, toda lembrança feliz serão sugados de você. Se puder, o dementador se alimentará de você o tempo suficiente para transformá-lo em um semelhante... Desalmado e mau. Não deixará nada em você exceto as piores experiências de sua vida. E o pior que aconteceu com você, Harry, é suficiente para fazer qualquer um cair da vassoura. Você não tem do que se envergonhar.
— Quando eles chegam perto de mim... — Harry fixou o olhar na mesa de Lupin, sentindo um nó na garganta —, ouço Voldemort assassinando minha mãe.
Lupin fez um movimento repentino com o braço como se fosse segurar o ombro de Harry, mas pensou melhor. Houve um momento de silêncio, depois...
— Por que é que eles tinham que ir ao jogo? — exclamou o garoto amargurado.
— Estão ficando famintos — disse Lupin tranquilamente, fechando a maleta com um estalo. — Dumbledore não permite que eles entrem na escola, então o suprimento de gente com que contavam secou... Acho que eles não conseguiram resistir à multidão em torno do campo de Quadribol. Toda a excitação... As emoções exacerbadas... É a idéia que fazem de um banquete.
— Azkaban deve ser horrível — murmurou Harry.
Lupin concordou, sério.
— A fortaleza foi construída em uma ilhota, bem longe da costa, mas não precisam de paredes nem de água para manter os prisioneiros confinados, não quando eles já estão presos dentro da própria cabeça, incapazes de um único pensamento agradável. A maioria enlouquece em poucas semanas.
— Mas Sirius Black escapou — comentou Harry lentamente. — Fugiu...
A maleta de Lupin escorregou da escrivaninha; ele teve que se abaixar depressa para apanhá-la no ar.
— É — disse se endireitando. — Black deve ter encontrado uma maneira de combatê-los. Eu não teria acreditado que isto fosse possível... Dizem que os dementadores esgotam os poderes de um bruxo que conviver um tempo demasiado longo com eles...
— O senhor fez aquele dementador no trem recuar — disse Harry de repente.
— Há... Certas defesas que se pode usar — disse Lupin. — Mas no trem havia apenas um dementador. Quanto maior o número, mais difícil é resistir a eles.
— Que defesas? — perguntou Harry em seguida. — O senhor pode me ensinar?
— Não tenho a pretensão de ser um especialista no combate a dementadores, Harry... Muito ao contrário...
— Mas se os dementadores forem a outro jogo de Quadribol, preciso saber lutar contra eles...


 


– Ahhh! Tadinho do Harry. – Fala Alice.


– É, mais eu estou lá para ajudar né. – Fala Remo. Todos os olharam. – O que foi?


– A convivência com Snape está te afetando cara. – Brinca Jay.


– Concordo plenamente. – Sirius sorri debochado.


A conversa é pausada com o reinicio da leitura:


 


Lupin avaliou o rosto decidido de Harry, hesitou, depois disse:
— Bem... Está bem. Vou tentar ajudar. Mas receio que você terá de esperar até o próximo trimestre. Tenho muito que fazer antes das férias. Escolhi uma hora muito inconveniente para adoecer.
Com a promessa de receber aulas antidementadores de Lupin, o pensamento de que talvez não precisasse mais ouvir a morte da mãe, e o fato de que Corvinal esmagara Lufa-Lufa na partida de Quadribol no final de novembro, o ânimo de Harry deu uma guinada definitiva para cima. Afinal, Grifinória não fora eliminada da competição, embora o time não pudesse se dar ao luxo de perder mais uma partida. Olívio tornou a ficar possuído por uma energia obsessiva, e treinou com o time com mais empenho que nunca, na chuvinha gélida e nevoenta que persistiu até dezembro. Harry não viu nem sinal de dementador nos terrenos da escola. A fúria de Dumbledore parecia ter funcionado para mantê-los em seus postos nas entradas.
Duas semanas antes do fim do trimestre, o céu clareou de repente até atingir um branco leitoso e ofuscante, e os terrenos enlameados da escola amanheceram, certo dia, cobertos de cintilante geada. No interior do castelo, havia um rebuliço de Natal no ar. Flitwick, o professor de Feitiços, já enfeitara sua sala de aula com luzes pisca-piscas que, quando foram ver, eram fadinhas voadoras de verdade. Os alunos estavam satisfeitos discutindo planos para as férias de Natal. Tanto Rony quanto Hermione haviam decidido permanecer em Hogwarts e, embora Rony dissesse que era porque não ia conseguir aturar Percy duas semanas, e Hermione insistisse que precisava consultar a biblioteca, Harry não se deixou enganar; sabia que era para lhe fazerem companhia e se sentiu muito grato.


 


– Admiro a amizade deles. – Fala Frank. Snape franzi o nariz, e os outros concordam.


– Acho que se não fosse por eles, Harry não conseguiria suportar todos os acontecimentos. – Fala Marlene....


 


Para alegria de todos, exceto Harry, houve mais uma visita a Hogsmeade no último fim de semana do trimestre.
— Podemos fazer todas as nossas compras de Natal lá! — exclamou Hermione. — Mamãe e papai iriam adorar receber fios dentais de menta da Dedosdemel!
Resignado com a idéia de que seria o único aluno do terceiro ano a não ir, Harry pediu emprestado a Olívio o livro Qual Vassoura, e resolveu passar o dia lendo sobre as diferentes marcas. Ele andara montando uma vassoura da escola nos treinos do time, uma velhíssima Shooting Star, que era demasiado lenta e instável; decididamente precisava de uma vassoura nova.
Na manhã de sábado em que os colegas iriam a Hogsmeade, Harry se despediu de Rony e Hermione, embrulhados em capas e cachecóis, tornou a subir a escadaria de mármore, sozinho, e tomou o caminho da Torre da Grifinória. A neve começara a cair do lado de fora das janelas e o castelo estava muito parado e silencioso.
— Psiu... Harry!
Ele se virou, a meio caminho do corredor do terceiro andar, e viu Fred e Jorge espiando-o atrás da estátua de uma bruxa corcunda, de um olho só.
— Que é que vocês estão fazendo? — perguntou Harry, curioso.
— Vocês não vão a Hogsmeade?
— Antes de ir viemos fazer uma festinha para animar você — disse Fred, com uma piscadela misteriosa. — Venha até aqui...
O garoto indicou com a cabeça uma sala de aula vazia, à esquerda da estátua de um olho só. Harry acompanhou os gêmeos. Jorge fechou a porta sem fazer barulho e se virou, sorrindo, para Harry.
— Presente de Natal antecipado para você, Harry — anunciou.
Fred tirou alguma coisa de dentro da capa com um gesto largo e colocou-a em cima de uma carteira. Era um pedaço de pergaminho, grande, quadrado e muito gasto, sem nada escrito na superfície. Harry, desconfiando que fosse uma daquelas brincadeiras de Fred e Jorge, ficou parado olhando para o presente.
— E o que é que é isso? — perguntou.
— Isso, Harry, é o segredo do nosso sucesso — disse Jorge, dando uma palmadinha carinhosa no pergaminho.
— Dói na gente dar esse presente para você — disse Fred —, mas decidimos, na noite passada, que você precisa muito mais dele do que nós. E, de qualquer maneira, já o conhecemos de cor. É uma herança que vamos lhe deixar. Para falar a verdade, não precisamos mais dele.
— E para que eu preciso de um pedaço de pergaminho velho? — perguntou Harry.
— Um pedaço de pergaminho velho! — exclamou Fred, fechando os olhos com uma careta, como se Harry o tivesse ofendido mortalmente. — Explique a ele Jorge.
— Bem... Quando estávamos no primeiro ano, Harry... Jovens, descuidados e inocentes...
Harry abafou uma risada. Duvidava se algum dia os gêmeos teriam sido inocentes.
— Bem, mais inocentes do que somos hoje... Nos metemos numa certa confusão com Filch.
— Soltamos uma bomba de bosta no corredor e por alguma razão ele ficou aborrecido...
— Então Filch nos arrastou até a sala dele e começou a nos ameaçar com os castigos de costume...
— ... Detenção...
— ... Nos arrancar as tripas...
— ... E não pudemos deixar de reparar numa gaveta do arquivo dele em que estava escrito Confiscado e Muito Perigoso.
— Não precisam continuar... — exclamou Harry, começando a sorrir.
— Bem, que é que você teria feito? — perguntou Fred. — Jorge soltou mais uma bomba de bosta para distrair Filch, eu abri depressa a gaveta e tirei... Isto.
— Não foi tão desonesto quanto parece, sabe — comentou Jorge.
— Calculamos que Filch nunca tivesse descoberto como usar o pergaminho.
— Mas, provavelmente suspeitou o que era ou não o teria confiscado.
— E vocês sabem como usar?
— Ah, sabemos — disse Fred, rindo. — Esta jóia nos ensinou mais do que todos os professores da escola.
— Vocês estão me gozando — disse Harry, olhando para o pedaço velho e rasgado de pergaminho.
— Ah, é? — disse Jorge.
Ele apanhou a varinha, tocou o pergaminho de leve e disse:
— “Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom”.
Na mesma hora, linhas de tinta muito finas começaram a se espalhar como uma teia de aranha a partir do ponto em que a varinha de Jorge tocara. Elas convergiram, se cruzaram, se abriram como um leque para os quatro cantos do pergaminho; em seguida, no alto, começaram a aflorar palavras, palavras grandes, floreadas, verdes, que diziam:
Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinha e Pontas, fornecedores de recursos para bruxos malfeitores, têm a honra de apresentar “O MAPA DO MAROTO”.
Era um mapa que mostrava cada detalhe dos terrenos do castelo de Hogwarts. O mais notável, contudo, eram os pontinhos mínimos de tinta que se moviam em torno do mapa, cada um com um rótulo em letra minúscula. Pasmo, Harry se curvou para examinar melhor. Um pontinho, no canto superior esquerdo, mostrava que o Profº. Dumbledore estava andando para lá e para cá em seu escritório; a gata do zelador, Madame Nor-r-ra, rondava o segundo andar; e Pirraça, o poltergeist, naquele momento saltitava pela sala de troféus. E quando os olhos de Harry percorreram os corredores que tão bem conhecia, ele notou mais uma coisa.
O mapa mostrava um conjunto de passagens em que ele nunca entrara. E muitas pareciam levar...
— ... Diretamente a Hogsmeade — disse Fred, acompanhando uma delas com o dedo. — São sete ao todo. Até agora Filch conhece essas quatro — ele as apontou —, mas temos certeza de que somente nós conhecemos estas outras. Não se preocupe com a passagem por trás do espelho no quarto andar. Nós a usamos até o inverno passado, mas já desabou, está completamente bloqueada. E achamos que ninguém jamais usou esta porque o Salgueiro Lutador foi plantado bem em cima da entrada. Mas, esta outra aqui leva diretamente ao porão da Dedosdemel. Nós já a usamos um monte de vezes. E como você talvez tenha notado, a entrada é bem ali do lado de fora da sala, na corcunda daquela velhota de um olho só.
— Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas — suspirou Jorge, dando um tapinha no cabeçalho do mapa. — Devemos tanto a eles.
— Almas nobres, que trabalharam incansavelmente para ajudar novas gerações de transgressores — disse Fred solenemente.


 


– Uai, agora eu me senti. – Se gaba Sirius.


– Quando é que isso não acontece? – Pergunta Lene debochada.


– Adoro esses gêmeos. – Fala Jay.


– Odeio esse Gêmeos.


– Snape, quando é que você num odeio alguém?- Pergunta Sirius.


– Cala a boca.


– Leitura. – Fala Remo.


 


— Certo — acrescentou Jorge depressa. — Não se esqueça de limpar o mapa depois de usá-lo...
— ... Senão qualquer um pode ler — recomendou Fred.
— É só bater com a varinha mais uma vez e dizer "Malfeito feito!", e o pergaminho torna a ficar branco.
— Portanto, jovem Harry — disse Fred, numa incrível imitação de Percy —, trate de se comportar.
— Vejo você na Dedosdemel — despediu-se Jorge, piscando.
Os gêmeos deixaram a sala, sorrindo satisfeitos consigo mesmos.
Harry ficou ali, contemplando o mapa milagroso. Acompanhou o pontinho de tinta Madame Nor-r-ra virar à esquerda e parar para cheirar alguma coisa no chão. Se Filch realmente não conhecia... Ele não teria que passar pelos dementadores...
Mas mesmo enquanto continuava ali, transbordante de excitação, uma coisa que ouvira, certa vez, o Sr. Weasley dizer aflorou em sua lembrança.
“Nunca confie em nada que é capaz de pensar, se você não pode ver onde fica o seu cérebro”.
O mapa era um daqueles objetos mágicos perigosos sobre os quais o Sr. Weasley o prevenira... Recursos para bruxos malfeitores... Mas então, raciocinou Harry, ele só queria usar o mapa para ir a Hogsmeade, não era que quisesse roubar alguma coisa ou atacar alguém... E Fred e Jorge já o usavam havia anos, sem que nada de terrível tivesse acontecido...
Harry acompanhou com o dedo a passagem secreta até a Dedosdemel.
Depois, subitamente, como se obedecesse a uma ordem, enrolou o mapa, guardou-o nas vestes e correu para a porta da sala de aula. Abriu-a uns dedinhos. Não havia ninguém do lado de fora. Com muito cuidado, esgueirou-se da sala até as costas da estátua da bruxa de um olho só.
Que era mesmo que devia fazer? Puxou outra vez o mapa e viu, para seu espanto, que um novo boneco de tinta aparecera no pergaminho, rotulado Harry Potter.
Estava parado exatamente no mesmo lugar que o verdadeiro Harry, mais ou menos na metade do corredor do terceiro andar. Harry observou-o atentamente. Seu pequeno eu de tinta parecia estar tocando a bruxa com uma varinha mínima. O garoto na mesma hora puxou a varinha real e deu um toque na estátua. Nada aconteceu. Ele tornou a consultar o mapa. Um balão com um texto aparecera ao lado do seu boneco. Dentro do balão havia a palavra "Dissendium”.
— Dissendium! — sussurrou Harry dando uma nova batida na bruxa de pedra.
Na mesma hora, a corcunda da estátua se abriu o suficiente para admitir uma pessoa bem magra. Harry deu uma espiada rápida nos dois lados do corredor, guardou outra vez o mapa, se içou de cabeça para dentro do buraco e deu um impulso para frente.
Ele deslizou um bom pedaço, descendo o que parecia um escorrega de pedra e aterrissou na terra úmida e fria. Levantou-se, então, olhando a toda volta. Estava escuro como breu. Harry ergueu a varinha e murmurou:
— Lumus! — E pôde ver que se encontrava em uma passagem muito estreita, baixa e terrosa. Ergueu, então, o mapa, tocou-o com a ponta da varinha e disse baixinho: — Malfeito feito! — O mapa ficou imediatamente branco. Ele o dobrou cuidadosamente, enfiou-o dentro das vestes, depois, o coração batendo rápido, ao mesmo tempo excitado e apreensivo, Harry começou a andar.
A passagem virava e tornava a virar, mais parecendo uma toca de coelho gigante do que qualquer outra coisa. Harry caminhou depressa por ela, tropeçando aqui e ali no chão acidentado, segurando a varinha com firmeza à sua frente.
Levou uma eternidade, mas o garoto tinha o pensamento fixo na capacidade da Dedosdemel repor suas forças. Depois do que lhe pareceu uma hora, a passagem começou a subir. Ofegante, Harry apertou o passo, o rosto quente, os pés muito gelados.
Dez minutos mais tarde, chegou ao pé de uns degraus de pedra muito gastos, que subiam a perder de vista. Tomando cuidado para não fazer barulho, Harry começou a subir. Cem degraus, duzentos degraus, perdeu a conta, olhando para os pés... Então, sem aviso, sua cabeça bateu em alguma coisa dura.
Parecia um alçapão. Harry ficou parado ali, massageando o cocuruto da cabeça, apurando os ouvidos. Não conseguia ouvir nenhum som em cima. Muito devagarinho, empurrou o alçapão e espiou pela borda.
Deparou com um porão, cheio de caixotes e caixas. Harry subiu pelo alçapão e tornou a fechá-lo. Ele se fundiu tão perfeitamente com o soalho empoeirado que era impossível saber que estava ali. O garoto avançou lentamente até a escada de madeira que levava ao andar superior. Agora decididamente conseguia ouvir vozes, para não falar no tilintar de uma sineta e no abre e fecha de uma porta.
Pensando no que deveria fazer, Harry, de repente, ouviu uma porta se abrir muito próximo; alguém ia descer a escada.
— E traga mais uma caixa de lesmas gelatinosas, querido, eles praticamente levaram tudo... — disse uma voz feminina.
Dois pés desceram a escada. Harry pulou para trás de um enorme caixote e esperou os passos se distanciarem. Ouviu o homem deslocando caixas na parede oposta.
Talvez não tivesse outra oportunidade...
Rápida e silenciosamente, o garoto saiu abaixado do esconderijo e subiu as escadas; ao olhar para trás, viu um enorme traseiro e uma careca reluzente enfiada em uma caixa. Harry alcançou a porta no patamar da escada, escapuliu por ela e se encontrou atrás do balcão da Dedosdemel, abaixou-se, saiu quietinho de lado e por fim se levantou.


 


A Dedosdemel estava tão cheia de alunos de Hogwarts que ninguém olhou duas vezes para Harry. O garoto foi passando entre eles, olhando para os lados e reprimiu uma risada só de imaginar a expressão que apareceria na cara de porco do Duda se pudesse ver onde ele estava agora.
Havia prateleiras e mais prateleiras de doces com a aparência mais apetitosa que se pode imaginar. Tabletes de nugá, quadrados cor-de-rosa de sorvete de coco, caramelos cor de mel; centenas de tipos de bombons em fileiras arrumadinhas; havia uma barrica enorme de feijõezinhos de todos os sabores, Delícias gasosas — as tais bolas de sorvete de fruta que faziam levitar que Rony mencionara —, em outra parede havia os doces de "efeitos especiais": os melhores chicles de baba e bola (que enchiam a loja de bolas azulonas e se recusavam a estourar durante dias), o estranho e quebradiço fio dental de menta, minúsculos Diabinhos negros de pimenta ("sopre fogo em seus amigos!"), Ratinhos de sorvete ("ouça seus dentes baterem e rangerem!"), Sapos de creme de menta ("faça sua barriga saltar para valer!"), frágeis penas de algodão-doce e bombons explosivos.


 


Ouviu-se um ronco alto, todos se olharam.


– O que foi isso? – Pergunta Lene, alarmada.


– Será que foi um urso? – Pergunta Lily.


– Obvio que não foi um urso né, estamos na sala precisa, acho que não seria possível. – Diz Snape.


– Então o que é? Senhor sabichão. – Fala Jay.


– Acho que eu sei o que foi.


– Então o que foi, Remo? – Pergunta Lily.


– Foi o estomago desse sem teto do Sirius. – Responde Remo.


Todos riram, parecia um urso, e era apenas o estomago de Sirius.


– Caraça, que coisa hein, colocou um feitiço de expansão?- Zomba Frank.


– Não, só fiquei com fome mesmo, ouvido falar de doces. – Dá de ombros Sirius, que ficou meio sem graça, por que até Snape riu com os outros.


 


Harry se espremeu entre os alunos do sexto ano que enchiam a loja e viu um letreiro pendurado no canto mais distante do salão (SABORES INCOMUNS). Rony e Hermione estavam bem embaixo, examinando uma bandeja de pirulitos com gosto de sangue. Harry, sorrateiramente, foi parar atrás dos dois.
— Eca, não, Harry não vai querer esses, são para vampiro, imagino — ia dizendo Hermione.
— E esses aqui? — perguntou Rony, enfiando um vidro de cachos de barata embaixo do nariz de Hermione.
— Decididamente não — disse Harry.
Rony quase deixou cair o vidro.
— Harry! — berrou Hermione. — Que é que você está fazendo aqui? Como... Foi que você...?
— Uau! — exclamou Rony, parecendo muito impressionado —, você aprendeu a aparatar!
— Claro que não aprendi. — Harry baixou a voz de modo que nenhum dos alunos de sexto ano pudesse ouvir e contou aos amigos sobre o Mapa do Maroto.
— Como é que Fred e Jorge nunca me deram esse mapa? — perguntou Rony indignado. — Eu sou irmão deles!
— Mas Harry não vai ficar com o mapa! — afirmou Hermione como se a idéia fosse ridícula. — Vai entregá-lo à Profª. Minerva, não é Harry?
— Não, não vou não! — disse Harry.
— Você é maluca? — exclamou Rony, arregalando os olhos para a garota. — Entregar uma coisa boa dessas?
— Se eu entregar, vou ter que contar onde foi que o arranjei. Filch ia saber que Fred e Jorge surrupiaram dele!
— Mas e o Sirius Black? — sibilou Hermione. — Ele poderia estar usando uma das passagens do mapa para entrar no castelo! Os professores têm que saber disso!
— Ele não pode estar entrando por uma passagem — retrucou Harry depressa. — Tem sete túneis secretos no mapa, certo? Fred e Jorge calculam que Filch conheça uns quatro. E os outros três... Um desabou, de modo que ninguém pode passar. Outro tem o Salgueiro Lutador plantado na entrada, portanto, não se pode sair. E este que eu usei para chegar aqui... Bem... É realmente difícil ver a entrada dele no porão. Então, a não ser que Black soubesse que havia uma passagem...
Harry hesitou. E se Black soubesse que havia uma passagem ali? Rony, porém, pigarreou querendo sinalizar alguma coisa e apontou para um aviso colado dentro da loja de doces.


 


– Amigo, tu é perigoso. – Fala Jay segurando no ombro de Sirius.


– Disso eu já sabia. – Fala Sanpe.


– Avá que louco, Snape tem medo de você manolo. – Fala Remo.


– Afe, que linguajar mais sem nexo. – Fala Lily.


– Ae mano, vamos voltar a ler. – Entra no clima Frank.


 



POR ORDEM DO MINISTÉRIO DA MAGIA

Lembramos aos nossos clientes que até nova ordem, os dementadores irão patrulhar as ruas de Hogsmeade todas as noites após o pôr-do-sol. A medida visa garantir a segurança dos habitantes de Hogsmeade e será revogada quando Sirius Black for recapturado, portanto, é aconselhável que os clientes encerrem suas compras bem antes de anoitecer.
Feliz Natal.
— Estão vendo só? — falou Rony em voz baixa. — Eu gostaria de ver Black tentar entrar na Dedosdemel com dementadores pululando por todo o povoado. Em todo o caso, Hermione, os donos da Dedosdemel ouviriam se alguém arrombasse a loja, não? Eles moram no primeiro andar!
— Tá, mas... Mas... — A garota parecia estar fazendo força para encontrar outro argumento. — Olha, ainda assim Harry não devia ter vindo a Hogsmeade. Ele não tem autorização! Se alguém descobrir, ele vai ficar enrascado até as orelhas! E ainda não anoiteceu... E se Sirius Black aparecer hoje? Agora?
— Ia ter muito trabalho para encontrar Harry no meio disso aí — disse Rony indicando com a cabeça as janelas de caixilhos, pelas quais se via a nevasca rodopiando lá fora. — Vamos, Mione, é Natal. Harry merece uma folga.
Hermione mordeu o lábio, parecendo extremamente preocupada.
— Você vai me denunciar? — perguntou Harry à amiga, sorrindo.
— AI... Claro que não... Mas sinceramente, Harry...
— Viu as delícias gasosas, Harry? — perguntou Rony, puxando Harry e levando-o até a barrica em que se encontravam. — E as lesmas gelatinosas? E os picolés ácidos? Fred me deu um desses quando eu tinha sete anos, fez um furo que atravessou a minha língua. Me lembro da mamãe pegando a vassoura e baixando o pau nele. — Rony ficou mirando, pensativo, a caixa de picolés ácidos. — Você acha que Fred comeria um cacho de baratas se eu dissesse a ele que era amendoim?


 


– Eu acho que ele comeria. – fala Remo.


– Pior que eu concordo, os Weasley tem mente pequena. – Diz Snape, como ele gosta de ser chato.


– Garoto, como tu consegue? – Pergunta Lene.


– Consegue o que?


– Ser tão insuportável!


Sirius caiu na gargalhada.


– Essa é das minhas.


– Sai fora Black. – Se esquiva Lene com um sorriso de deboche.


 


Depois que Rony e Hermione pagaram por todos os doces que compraram, os três saíram da Dedosdemel para enfrentar a nevasca lá fora.
Hogsmeade parecia um cartão de Natal; as casas e lojas de telhado de colmo estavam cobertas por uma camada de neve fresca; havia coroas de azevinho nas portas e fieiras de luzes encantadas penduradas nas árvores.
Harry estremeceu; ao contrário dos amigos, ele não estava usando casaco. Os três saíram caminhando pela rua, a cabeça abaixada contra o vento, Rony e Hermione gritando por dentro dos cachecóis.
— Ali é o Correio...
— A Zonko"s fica mais adiante.
— Podíamos ir até a Casa dos Gritos...
— Vamos fazer o seguinte — sugeriu Rony com os dentes batendo —, vamos tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras?
Harry estava mais do que a fim; havia um vento cortante e suas mãos estavam congelando. Então, eles atravessaram a rua e minutos depois entravam na minúscula estalagem.
A sala estava cheíssima, barulhenta, quente e enfumaçada.
Uma mulher tipo violão, com um rosto bonito, estava servindo um grupo de bruxos desordeiros no bar.
— Aquela é a Madame Rosmerta — disse Rony. — Vou pegar as bebidas, está bem? — acrescentou, corando ligeiramente.


– Own que fofo! Ele tá apaixonado. – fala Alice com uma voz de quem acha aquilo a coisa mais fofa do mundo.


 


Harry e Hermione foram até o fundo do salão, onde havia uma mesinha desocupada entre uma janela e uma bela árvore de Natal próxima à lareira. Rony voltou em cinco minutos, trazendo três canecas espumantes de cerveja amanteigada.
— Feliz Natal! — desejou ele alegremente, erguendo a caneca.
Harry bebeu com gosto. Era a coisa mais deliciosa que já provara e parecia aquecer cada pedacinho dele, de dentro para fora.
Uma brisa repentina despenteou seus cabelos. A porta do Três Vassouras tornou a se abrir. Harry olhou por cima da borda da caneca e se engasgou.
Os professores McGonagall e Flitwick tinham acabado de entrar no bar em meio a uma rajada de flocos de neve, seguidos de perto por Hagrid, que vinha absorto em uma conversa com um homem corpulento de chapéu-coco verde-limão e uma capa de risca de giz — Cornélio Fudge, Ministro da Magia.


 


– Putz, agora ferro! Corre daí Harry! – Fala alto Jay.


– Criatura do meu coração, isso é um LIVRO!! – Fala Lily.


– Atá. – Encolhe os ombros.


 


Numa fração de segundo, Rony e Hermione, ao mesmo tempo, tinham posto as mãos na cabeça de Harry e feito o amigo escorregar do banquinho para baixo da mesa.
Pingando cerveja amanteigada e se encolhendo para sumir de vista, Harry, agarrado à caneca, espiou os pés dos professores e de Fudge caminharem até o bar, pararem e, em seguida, darem meia-volta e se dirigirem para onde ele estava.
Em algum lugar acima de sua cabeça, Hermione sussurrou:
— Mobiliarbus!
A árvore de Natal ao lado da mesa se ergueu alguns centímetros do chão, flutuou de lado e desceu com um baque suave bem diante da mesa dos garotos, escondendo-os dos professores. Espiando por entre os ramos mais baixos e densos, Harry viu quatro conjuntos de pés de cadeira se afastarem da mesa bem ao lado, depois ouviu os resmungos e suspiros dos professores e do ministro ao se sentarem.
Em seguida, ele viu mais um par de pés, usando saltos altos, turquesa, cintilantes, e ouviu uma voz de mulher.
— Uma água de Gilly pequena...
— É minha — disse a voz da Profª. Minerva.
— A jarra de quentão...
— Obrigado — disse Hagrid.
— Soda com xarope de cereja, gelo e guarda-sol...
— Hummm! — exclamou o Profº. Flitwick estalando os lábios.
— Para o senhor é o rum de groselha, ministro.
— Obrigado, Rosmerta, querida — disse a voz de Fudge. — É um prazer revê-la, devo dizer. Não quer nos acompanhar? Venha se sentar conosco...
— Bem, muito obrigada, ministro.
Harry acompanhou os saltos cintilantes se afastarem e retornarem.
Seu coração batia incomodamente na garganta. Por que não lhe ocorrera que este era o último fim de semana do trimestre também para os professores? E quanto tempo eles ficariam sentados ali? Ele precisava de tempo para voltar discretamente à Dedosdemel, se quisesse estar na escola ainda aquela noite... A perna de Hermione deu uma tremida nervosa perto dele.
— Então, o que é que o traz a esse fim de mundo, ministro? — perguntou a voz de Madame Rosmerta.
Harry viu a parte de baixo do corpo de Fudge se virar na cadeira, como se verificasse se havia alguém escutando. Depois respondeu em voz baixa:
— Quem mais se não Sirius Black? Imagino que você deve ter sabido o que houve em Hogwarts no Dia das Bruxas?
— Para falar a verdade, ouvi um boato — admitiu Madame Rosmerta.
— Você contou ao bar inteiro, Hagrid? — perguntou a Profª. Minerva, exasperada.
— O senhor acha que Black continua por aqui, ministro? — perguntou Madame Rosmerta.
— Tenho certeza — respondeu Fudge laconicamente.
— O senhor sabe que os dementadores já revistaram o meu bar duas vezes? — falou Madame Rosmerta, com uma ligeira irritação na voz. — Espantaram todos os meus fregueses... Isto é muito ruim para o comércio, ministro.
— Rosmerta, querida, gosto tanto deles quanto você — disse Fudge, constrangido. — É uma precaução necessária... Infelizmente, mas veja só... Acabei de encontrar alguns. Estão furiosos com Dumbledore porque ele não os deixa entrar nos terrenos da escola.
— É claro que não — disse a Profª. Minerva, rispidamente. — Como é que vamos ensinar com aqueles horrores por todo o lado?
— Apoiado, apoiado! — exclamou o Profº. Flitwick com voz esganiçada, os pés balançando a um palmo do chão.
— Mesmo assim — disse Fudge em tom de dúvida —, eles estão aqui para proteger vocês todos de coisa muito pior... Nós todos sabemos o que Black é capaz de fazer..
— Sabem, eu ainda acho difícil acreditar — disse Madame Rosmerta pensativamente. — De todas as pessoas que passaram para o lado das trevas, Sirius Black é o último em que eu pensaria... Quero dizer, eu me lembro dele quando era garoto em Hogwarts. Se alguém tivesse me dito, então, no que ele iria se transformar, eu teria respondido que a pessoa tinha bebido quentão demais.
— Você não conhece nem metade do que ele fez Rosmerta — disse Fudge com impaciência. — A maioria nem sabe o pior.
— Pior? — exclamou Madame Rosmerta, a voz animada de curiosidade. — O senhor quer dizer pior do que matar todos aqueles coitados?
— Isso mesmo.
— Não posso acreditar. Que poderia ser pior?
— Você diz que se lembra dele em Hogwarts, Rosmerta — murmurou a Profª. Minerva. — Você se lembra quem era o melhor amigo dele?
— Claro — disse Madame Rosmerta, com uma risadinha. — Nunca se via um sem o outro, não é mesmo? O número de vezes que os dois estiveram aqui, ah, me faziam rir o tempo todo. Uma dupla incrível, Sirius Black e Tiago Potter!
Harry deixou cair a caneca com estrépito. Rony deu-lhe um pontapé.
— Exatamente — disse a Profª. Minerva. — Black e Potter líderes de uma turminha. Os dois muito inteligentes, é claro, na verdade excepcionalmente inteligentes, mas acho que nunca tivemos uma dupla de criadores de confusões igual...
— Não sei — disse Hagrid, dando uma risadinha. — Fred e Jorge Weasley seriam páreo duro para os dois.
— Poder-se-ia até pensar que Black e Potter eram irmãos!
O Profº. Flitwick entrou na conversa.
— Inseparáveis!
— Claro que eram — comentou Fudge. — Potter confiava mais em Black do que em qualquer outro amigo. Nada mudou quando os dois terminaram a escola. Black foi o padrinho quando Tiago se casou com Lílian. Depois, eles o escolheram para padrinho de Harry. O garoto nem tem idéia disso, é claro. Vocês podem imaginar como isto o atormentaria.
— Por que Black acabou se aliando a Você-Sabe-Quem? — cochichou Madame Rosmerta.
— Foi muito pior do que isso, minha querida... — Fudge baixou a voz e continuou numa espécie de sussurro grave. — Muita gente desconhece que os Potter sabiam que Você-Sabe-Quem queria pegá-los. Dumbledore, que naturalmente trabalhava sem descanso contra Você-Sabe-Quem, tinha um bom número de espiões úteis. Um deles avisou-o e ele, na mesma hora, alertou Tiago e Lílian, Dumbledore aconselhou os dois a se esconderem. Bem, é claro que não era fácil alguém se esconder de Você-Sabe-Quem.
Dumbledore sugeriu aos dois que teriam maiores chances de escapar se apelassem para o Feitiço Fidelius.
— Como é que é isso? — perguntou Madame Rosmerta, ofegando de interesse, O Profº. Flitwick pigarreou.
— Um feitiço extremamente complexo — explicou com a sua vozinha fina —, que implica esconder o segredo, por meio da magia, em uma única pessoa viva. A informação é guardada no íntimo da pessoa escolhida, ou fiel do segredo, e torna-se impossível encontrá-la, a não ser, é claro, que o fiel do segredo resolva contar a alguém. Enquanto ele se mantiver calado, Você-Sabe-Quem poderia revistar o povoado em que Lílian e Tiago viviam durante anos sem jamais encontrá-los, mesmo que ficasse com o nariz grudado na janela da sala deles!
— Então Black era o fiel do segredo dos Potter? — sussurrou Madame Rosmerta.
— Naturalmente — respondeu a Profª. Minerva. — Tiago Potter contou a Dumbledore que Black preferiria morrer a contar onde eles estavam, que Black estava pensando em se esconder também... Mesmo assim, Dumbledore continuou preocupado. Eu me lembro que ele próprio se ofereceu para ser o fiel do segredo dos Potter.
— Ele suspeitava de Black? — exclamou Madame Rosmerta.
— Ele tinha certeza de que alguém intimo dos Potter tinha mantido Você-Sabe-Quem informado dos movimentos do casal — respondeu a Profª. Minerva sombriamente.
— De fato, ele vinha suspeitando havia algum tempo de que alguém do nosso lado virara traidor e estava passando muita informação para Você-Sabe-Quem.
— Mas Tiago Potter insistiu em usar Black?
— Insistiu — disse Fudge com a voz carregada. — E então, pouco mais de uma semana depois de terem realizado o Feitiço Fidelius...


 


Todos firacam meio sem fala, Sirius era o mais nervoso.


– Era de se esperar. – Quebra o gelo Snape.


– Isso é muita maldade. – diz Alice.


– Sim é, mais meu amigo não faria isso. – Comenta James.


– Sim, não faria. – Concorda Remo.


Sirius ficou em silêncio, que clima tenso!


 


 


— Black traiu os Potter? — murmurou Madame Rosmerta.
— Traiu. Black estava cansado do papel de agente duplo, estava pronto a declarar abertamente o seu apoio a Você-Sabe-Quem, e parece que planejou fazer isso assim que os Potter morressem. Mas, como todos sabem,
Você-Sabe-Quem encontrou sua perdição no pequeno Harry Potter. Despojado de poderes, extremamente enfraquecido, ele fugiu. E isto deixou Black numa posição realmente muito difícil. Seu mestre caíra no exato momento em que ele, Black, mostrara quem de fato era, um traidor. Não teve outra escolha senão fugir...
— Vira-casaca imundo e podre! — exclamou Hagrid tão alto que metade do bar se calou.
— Psiu! — fez a Profª. Minerva.
— Eu o encontrei! — rosnou Hagrid, — Devo ter sido a última pessoa que viu Black antes de ele matar toda aquela gente! Fui eu que salvei Harry da casa de Lílian e Tiago depois que o casal morreu! Tirei o garoto das ruínas, coitadinho, com um grande corte na testa, e os pais mortos... E Sirius Black aparece naquela moto voadora que ele costumava usar. Nunca me ocorreu o que ele estava fazendo ali. Eu não sabia que ele era o fiel do segredo de Lílian e Tiago. Pensei que tivesse acabado de saber da notícia do ataque de Você-Sabe-Quem e vindo ver o que era possível fazer. Estava tremendo, branco. E vocês sabem o que eu fiz? EU CONSOLEI O TRAIDOR ASSASSINO! — bradou Hagrid.
— Hagrid, por favor! — pediu a Profª. Minerva. — Fale baixo!
— Como é que eu ia saber que ele não estava abalado com a morte de Lílian e Tiago? Que estava preocupado era com Você-Sabe-Quem!
Então ele disse:
— "Me dá o Harry, Hagrid. Sou o padrinho dele, vou cuidar dele”... Ah! Mas eu tinha recebido ordens de Dumbledore, e disse não, Dumbledore tinha me mandado levar Harry para a casa dos tios. Black discordou, mas no fim cedeu. Me disse, então, que eu podia pegar a moto dele para levar Harry. "Não vou precisar mais dela", falou. Eu devia ter percebido, naquela hora, que alguma coisa não estava cheirando bem. Black adorava a moto. Por que estava dando ela para mim? Por que não ia precisar mais da moto? A questão é que a moto era muito fácil de localizar. Dumbledore sabia que ele tinha sido o fiel do segredo dos Potter. Black sabia que ia ter que se mandar àquela noite, sabia que era uma questão de horas até o Ministério sair à procura dele. Mas e se eu tivesse entregado Harry a Black, hein? Aposto como ele teria jogado o garoto no mar no meio do caminho. O filho dos melhores amigos dele! Mas quando um bruxo se alia ao lado das trevas, não tem mais nada nem ninguém que tenha importância para ele...
À história de Hagrid seguiu-se um longo silêncio. Então, Madame Rosmerta falou com uma certa satisfação.
— Mas ele não conseguiu desaparecer, não foi? O Ministério da Magia o agarrou no dia seguinte!
— Ah, se ao menos isso fosse verdade — lamentou Fudge com amargura. — Não fomos nós que o encontramos. Foi o pequeno Pedro Pettigrew, outro amigo dos Potter. Com certeza, enlouquecido de pesar e sabendo que Black fora o fiel do segredo dos Potter, Pedro foi pessoalmente atrás dele.
— Pettigrew... Aquele gordinho que sempre andava atrás dos dois em Hogwarts? — perguntou Madame Rosmerta.
— Ele venerava Black e Potter como se fossem heróis — disse a Profª. Minerva. — Não estava bem à altura deles em termos de talento. Muitas vezes fui severa demais com ele. Podem imaginar agora como me... Como me arrependo disso... — Sua voz parecia a de alguém que apanhara de repente um resfriado.
— Vamos, Minerva — consolou-a Fudge, com bondade. — Pettigrew teve uma morte de herói. Testemunhas oculares, trouxas, é claro, depois limpamos a memória deles, nos contaram como Pettigrew encurralou Black. Dizem que ele soluçava: "Lílian e Tiago, Sirius! Como é que você pôde?" Então fez menção de apanhar a varinha. Bem, naturalmente, Black foi mais rápido. Fez Pettigrew em pedacinhos...


 


– O Pedro? Que coisa. – Fala Remo.


– Que coisa né, Black.


– Aff’s Snape, fica na sua, troço chato. – Fala Sirius.


 


A Profª. Minerva assoou o nariz e disse com a voz embargada:
— Menino burro... Menino tolo... Nunca teve jeito para duelar... Deveria ter deixado isso para o ministério...
— E vou dizer uma coisa, se eu tivesse chegado ao Black antes de Pettigrew, não teria apelado para varinhas, eu teria despedaçado ele aos bocadinhos — rosnou Hagrid.
— Você não sabe o que está dizendo, Hagrid — disse Fudge com severidade. — Ninguém, a não ser bruxos de elite do Esquadrão de Execução das Leis da Magia, teria tido uma chance contra Black depois que ele foi encurralado. Na época, eu era ministro júnior no Departamento de Catástrofes Mágicas, e fui um dos primeiros a chegar à cena depois que Black liquidou aquelas pessoas, nunca vou me esquecer. Ainda sonho com o que vi, às vezes. Uma cratera no meio da rua, tão funda que rachou a tubulação de esgoto embaixo. Cadáveres por toda a parte. Trouxas berrando. E Black parado ali, dando gargalhadas, diante do que restava de Pettigrew... Um monte de vestes ensangüentadas e uns poucos, uns poucos fragmentos...


 


– Dramático que só ele.


– Concordo Jay. – Sorri fraco Sirius.


 


A voz de Fudge parou abruptamente. Ouviu-se o barulho de cinco narizes sendo assoados.
— Bem, aí tem você, Rosmerta — disse Fudge com a voz carregada. — Black foi levado por vinte policiais do Esquadrão de Execução das Leis da Magia e Pettigrew recebeu a Ordem de Merlim, Primeira Classe, o que acho que foi algum consolo para a coitada da mãe dele. Black tem estado preso em Azkaban desde então.
Madame Rosmerta deu um longo suspiro.
— É verdade que ele é doido, ministro?
— Eu gostaria de poder dizer que é — disse Fudge lentamente. — Acredito que é certo que a derrota do mestre o desequilibrou por algum tempo. O assassinato de Pettigrew e de todos aqueles trouxas foi trabalho de um homem desesperado e acuado, cruel... Sem sentido. Mas eu encontrei Black na última inspeção que fiz à Azkaban. Vocês sabem que a maioria dos prisioneiros lá ficam sentados no escuro resmungando; não dizem coisa com coisa... Mas fiquei chocado com a aparência normal de Black. Conversou comigo muito racionalmente. Me deixou nervoso. Deu a impressão de estar meramente entediado, perguntou se eu já tinha acabado de ler o meu jornal, com toda a tranqüilidade, disse que sentia falta das palavras cruzadas. Fiquei realmente espantado de ver o pouco efeito que os dementadores estavam causando nele, e, vejam, ele era um dos prisioneiros mais fortemente guardados do lugar. Dementadores à porta da cela dia e noite.
— Mas para que o senhor acha que ele fugiu? — perguntou Madame Rosmerta. — Por Deus, ministro, ele não está tentando se juntar a Você-Sabe-Quem, está?
— Eu diria que esse é o plano dele, hum, a longo prazo — disse Fudge evasivamente. — Mas temos esperança de pegar Black bem antes disso. Devo dizer que Você-Sabe-Quem sozinho e sem amigos é uma coisa... Mas se tiver de volta o seu serviçal mais dedicado, estremeço só em pensar na rapidez com que se reergueria...
Ouviu-se um leve tilintar de copo em madeira. Alguém pousara o copo.
— Sabe, Cornélio, se você vai jantar com o diretor, é melhor voltarmos para o castelo — sugeriu a Profª. Minerva.
Um por um, os pares de pés à frente de Harry retomaram o peso dos seus donos; barras de capas rodopiaram no ar e os saltos cintilantes de Madame Rosmerta desapareceram atrás do balcão do bar. A porta do Três Vassouras tornou a se abrir, deixando entrar mais uma rajada de flocos de neve e os professores desapareceram.
— Harry?
Os rostos de Rony e Hermione surgiram embaixo da mesa. Os dois o encararam, sem encontrar palavras para falar.


 


 


Por fim, Lily conclui a leitura.


– Ufa, que coisa né. – Fala Alice.


– Pois é, tenso demais.


– Já vou indo. – Sai Snape, sem muita vontade de conversar.


Sirius permanência calado.


– Amigo, você não faria isso. – Fala Remo.


– Eu acredito no aluado. Você não faria. – Diz James.


Os três sorriem, e saem junto com Lily e Alice, Lene e Frank.

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