12 de Janeiro de 2005

12 de Janeiro de 2005



12 DE JANEIRO DE 2005


Engoli seco. Minhas pernas estavam bambas e pela trigésima vez naquele dia estava treinando o que iria falar para ele na frente do espelho.


- Olá, Tom! Se divertiu nas férias? – perguntei me olhando. Patético, é, eu sei, mas necessário. Caso contrário, as chances de eu acabar gaguejando na frente de Tom Felton seriam triplicadas.


Ouvi alguém batendo na porta do meu camarim – o que atrapalhou meu treino – e fui abri-la. Era Rupert.


- “US Weekly: Rupert Grint e Emma Watson passaram ferias românticas na Austrália durante o ano novo” – o ruivo disse com uma voz propositalmente mais grossa, parecendo com a voz de um locutor de rádio.


Não pude deixar de rir e deixei-o entrar no camarim.


Rumores dizendo que Rupert e eu estávamos namorando estão por todos os tabloides, revistas e jornais imagináveis do planeta. O que é um absurdo, já que somos só amigos e já dissemos isso diversas vezes publicamente, mas parece que as pessoas simplesmente não querem acreditar.


Primeiramente eu me estressava com isso, mas agora já me acostumei e apenas me divirto.


- Eles são tão criativos. Na semana passada vi em uma revista que você e eu estávamos nas Bahamas – Rupert disse com uma sobrancelha arqueada. Balancei a cabeça negativamente com um leve sorriso.


- Estava com saudades do meu camarim – falei pensativa, olhando ao redor. Eu vivia basicamente umas 10 horas de todos os dias do ano inteiro naquela sala, impossível não criar um laço com a mesma, querendo ou não.


Rupert, que até então estava em pé, sentou-se no sofá branco de três lugares e suspirou. Sentei-me a seu lado e encostei minha cabeça em seu ombro.


- Chegamos a dois dias em Leavesden e é tão estranho...


- O que você quer dizer?


- Que passamos os últimos quatro anos de nossas vidas fazendo desse estúdio nossa casa, e quando não estou aqui é como se não me encaixasse em mais nenhum lugar – desabafou e eu o encarei. Rupert nunca foi de expor seus sentimentos e pensamentos assim, então obviamente eu fiquei surpresa.


- Mas, olha, há um mundo inteiro lá fora para você explorar, não existe apenas a Inglaterra, você pode ir para tantos outros lugares, há tantas opções – murmurei. Rupert sorriu de leve e levantou-se, dizendo que iria provar alguns figurinos.


Permaneci sentada e minha mente estava transbordando com tantas coisas que eu estava pensando. Até naquele momento eu nunca tinha parado para pensar que Leavesden poderia ser o único lugar que eu poderia me encaixar, como o Rupert. Nunca sequer tinha parado para me preocupar com isso. E se isso acontecer comigo também?


***


Muitas vezes minha vontade é de ficar o dia inteiro no meu camarim, jogando vídeo game com o Daniel. Ele é a pessoa mais competitiva que eu conheço e por ironia do destino eu sempre venço dele em seus joguinhos.


Nunca fui fã de vídeo games, e a primeira vez que eu joguei um foi há pouco tempo, sendo que eu ganhei de Daniel, fazendo com que ele não me olhasse diretamente por uma semana.


- Caramba, Emma! – esbravejou, enquanto eu ria. O jogo se baseava em matar alguns zumbis e quanto mais você matasse, mais ganhava pontos. Eu estava com 500 pontos e Daniel, com miseráveis 150. – Toma esse controle, engole logo! – descontrolou-se e jogou o seu controle no meu colo.


- Ah, Dan. Não vá embora, tente fazer ao menos 200 pontos primeiro – ok, eu estava brincando com fogo, mas era divertido. Daniel me lançou um olhar que dizia claramente “morra” e eu ri. Ele revirou os olhos e saiu do cômodo.


***


Estava exausta. Não de cansaço, mas, sim, de tédio.


Joguei-me no sofá e fechei os olhos automaticamente. Havia terminado de filmar três cenas seguidas e entre cada uma, como de costume, houve muito tempo de espera, então se eu estivesse cansada, provavelmente eu seria uma doida.


Toc, toc. Contra vontade, levantei-me e fui abrir a porta, dando de cara com um Rupert e um Daniel bastante entediados também. Dei espaço para os dois entrarem e fechei a porta.


Voltei a me sentar no sofá, enquanto Rupert foi para a janela e Dan sentou-se do meu lado. Apoiei a cabeça em seu ombro.


Havíamos chegado a Leavesden havia apenas dois dias, tivemos um recesso de duas semanas e alguns dias por conta dos feriados de fim de ano e voltamos para o trabalho logo em seguida. Eu não podia reclamar, essa era minha vida e eu a adorava. Poder fazer parte de algo tão grandioso e simbólico como Harry Potter era uma honra, apesar de que, admito, às vezes eu queira apenas ir para minha casa e passar um dia inteiro no meu quarto sem fazer absolutamente nada.


- Sabem o que eu tava lembrando? – perguntou Rupert distante enquanto olhava alguma coisa pela janela. Dan e eu negamos, e ele prosseguiu: - Da nossa “escapadinha” – disse risonho. Dan sorriu e eu fui tomada pelo flashback desse dia... ô dia...


(- Ah, Emma, vamos lá! Não custa nada – Daniel tentou me convencer e recebi olhares divertidos de Rupert, Matthew Lewis, Robert Pattinson, Bonnie Wright, Katie Leung e ele... Tom Felton.


- Isso é errado! – ponderei.


- Por isso é divertido – disse Alfred como se fosse óbvio.


Bonnie se aproximou de mim e sorriu.


- Vamos, Em. Se eles aprontarem alguma, prometo que vamos embora, ‘tá?)


Aquele foi um dia infeliz, ah se foi... Concordei e fui. Mas antes de irmos “passear” escondidos pegamos alguns bonés e óculos escuros na sala da figurinista para tentarmos nos esconder dos paparazzos e fãs enlouquecidos. Houve uma hora que nos separamos em duplas para ver qual delas conseguia voltar para Leavesden mais rápido e, por ironia do destino, minha dupla acabou sendo Tom.


Desde sempre eu senti que ele me olhava como se eu fosse sua irmãzinha, tentando me proteger, e isso me dava nos nervos. Enfim... nós não ganhamos a “corrida”, a dupla vencedora foi Daniel e Rupert, como de costume. Mas eu lembro que ainda naquele dia, no finalzinho da tarde, quando os assistentes do diretor, a figurinista, os câmeras e todo mundo do set descobriram da nossa escapada, ele veio até meu camarim.


(Fui abrir a porta e me deparei com Tom, sorrindo angelicalmente. “Foco, Emma. Foco!”, pensei duramente e sorri de volta.


- Será que posso entrar? – ele perguntou e eu confirmei com a cabeça, abrindo espaço. Fechei a porta e me voltei para ele. Um silêncio constrangedor, pelo menos para mim, atingiu a sala e eu queria que ele falasse alguma coisa... qualquer coisa! – Vim aqui só para dizer que adorei você ter aceitado fugir com a gente. Sei que não é do seu feitio fazer uma coisa dessas e que por isso foi bem difícil fazê-lo, então...


Não pude deixar de sorrir. Abri a boca para falar, mas em seguida a fechei. Tom tinha a péssima mania de me fazer esquecer o que eu tinha pra falar.


- Era só isso. Já vou indo – disse, indo em direção a porta, e então consegui falar:


- Tom – parabéns, Emma, seu melhor foi esse?!


- Sim? – respondeu simpaticamente.


- Obrigado.


- Pelo que?


- Por ter vindo aqui... Quero dizer, você foi o único que teve essa atitude – respondi sinceramente e ele abriu um sorriso que me fez querer desmaiar.


- Sem problema – falou e em seguida saiu do camarim)


Esse foi o último dia de gravações antes das festas de fim de ano e também foi o último dia que nos falamos.


- Foi bem legal aquele dia – Dan disse com um ar pensativo.


- Legal?! – repreendi-o. – Poderiam ter nos pegado.


- Exatamente, poderiam. Mas não nos pegaram – Rupert disse dando de ombros. – E você pode até não querer admitir, mas você gostou de viver perigosamente, pelo menos por um diazinho! – o ruivo disse sorrindo e eu cruzei os braços teimosamente.


- Emma, Emma... ninguém poderia interpretar a Hermione melhor que você – Dan falou.


Ficamos conversando amenidades por um tempo e quando anoiteceu eles foram embora. Olhei para minha estante de livros e fui até a mesma, arrumando meus tão preciosos tesouros. Peguei um livro que estava na minha mesa e vi que Rupert esqueceu a revista que havia levado naquela manhã ali.


Segurei a mesma e passei o olho rapidamente pela capa, entretanto uma pequena nota me chamou a atenção. Era a foto do Tom, sorrindo angelicalmente, e logo abaixo dela havia uma frase.


Tom Felton: ‘Sim, estou namorando.’” E meu mundo foi sacudido sem hesitação.

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