Capítulo 13



Não demoramos muito para chegar ao tal hospital. Logo tia Mione estava preenchendo alguns papeis enquanto eu aguardava sentada entre meu pai e minha mãe e Alvo rodava pelo hospital junto com James. Não sei ao certo se era pelo exagero no café da manhã ou pela anciedade em que estava mas meu estômago embrulhava me forçando a fazer uma respiração mais ritimada e uniforme, "puxe o ar pelas narinas e o solte pela boca" pensava comigo mesma tentando acalmar os ânimos para que eu não acabasse colocando todos os cinco pedaços de bolo e dois de torta para fora. Estava tão ocupada com meu exercício anti-vômito que nem percebi quando tia Mione se juntou a nós e pouco tempo depois uma mulher vestida totalmente de branco e com cabelos presos em um coque perfeito apareceu no local com uma prancheta na mão.


-Lilian Luna Potter. - a mulher perguntou correndo os olhos pelo recinto.


Abri a boca para respondê-la mas minha mãe me poupou deste trabalho se levantando rapidamente e explicando a situação para a enfermeira.


-Por favor me acompanhem. - Disse a mulher que ficou visivelmente assustada quando seis pessoas começaram a andar atrás dela. - Somente a garota e os pais se possivel. - Vi Alvo fechar a cara e resmungar algo parecido com "Queria assistir um homicidio de perto" então virou-se e continuou a andar pelo hospital seguido de James enquanto tia Mione se sentava e pegava uma revista.


Em pouco tempo já estávamos em um cubiculo de sala totalmente pintada de branco com uma maca ao fundo e uma mesinha perto da porta onde um homem de cabelos grisalhos com um óculos caindo sobre o nariz observava a ficha que a pouco lhe fora entregue pela enfermeira.


-Senhorita Potter, o que está sentindo? - novamente antes mesmo que abrisse a boca minha mãe começou a falar.


-Ela sentiu um mal estar hoje pela manhã e desmaiou e desde que chegamos aqui ela está visivelmente enjoada.


O homem ajeitou os óculos e me encarou por um instante - Como papai e mamãe se sentaram nas unicas cadeiras viradas para o médico tive que ficar de pé próxima a porta.


-Levando as atuais circunstancias creio que não precisa se preocupar senhora Potter. - ele voltou a atenção para a ficha em suas mãos.


-Que circunstancias? - ouvi a voz de papai um tanto confusa enquanto se dirigia ao médico.


-A gravidez senhor Potter. - o médico lhe olhou com uma sobrancelha arqueada.


-Ah claro. - o tom em sua voz havia mudado, pouco mas eu pude perceber que ele se esforçava para não parecer surpreso nem gritar. - Ainda não me acostumei com a ideia, sempre esqueço de que ela está gravida. - Ele deu um destaque notável para a ultima palavra e eu senti meu estômago revirar.


_____


Durante todo o caminho de volta o único barulho que se ouvia era o de nossas respirações, a não ser quando Alvo ou James tentavam quebrar o clima com uma piada sem graça que nunca resolvia. Assim que o carro foi parado e o ronco do motor morreu, papai abriu a porta do carro e caminhou em passadas longas de volta para casa. Senti um frio correr toda minha espinha ao ouvir mamãe me chamando para entrar, eu estava assustada como um gato que havia sido molhado, mesmo em passos lentos e pequenos, alcancei a porta da casa sem muita demora. Não eram nem meio dia mas pelo cheiro que vinha da cozinha o almoço já estava sendo preparado, tio Ron surgiu da porta da mesma sorridente trazendo consigo uma colher e insistindo para tia Mione experimentar a tal coisa.


- E então, o que nossa ruivinha tem? - Perguntou quando finalmente venceu a mulher. - Puxei os dons de mamãe. - disse sorrindo ao ver a cara surpresa de tia Mione.


-Sabe Ron, é uma pergunta, o que Lily tem? - A voz de meu pai foi aumentando até que se calou e eu pude ver sua silhueta parada bem a minha frente. Era como se o sangue tivesse parado de correr por minhas veias e uma onde gelada inundasse meu corpo, me encolhi em meu canto abraçando meu corpo tentando fazer com que o frio repentino sumisse. - Não tem nada para nos contar Lilian? - não respondi nada, apenas fique ali ,me encolhendo mais ainda na esperança de que uma hora estaria tão pequena que ningm iria me ver, não preciso dizer que fora em vão. - Eu vou perguntar mais uma vez,


-Harry, por Merlim, a garota está assustada.


-Não tem nada para nos contar Lilian? - ele perguntou ignorando o cometário de mamãe.


-Tenho. - Minha voz saiu num sussurro quase em um sopro


-Não entendi.


-Tenho. - Levantei a cabeça olhando para um ponto fixo na parede, olha-lo nos olhos seria muito cruel. Reparei que todos estavam me olhando apreensivos mas as unicas pessoas alheias aos fatos eram tio Ron e tia Mione.


-Então nos conte a grande novidade princesa. - Eu podia sentir os olhos verdes dele parados sobre mim como uma estaca no coração. Engoli o choro que havia chegado sem aviso nenhum e quase me fez soluçar, fechei os olhos impedindo as lágrimas de descerem e somente quando tive certeza de que não precisaria repetir, afirmei em voz alta para todos ouvirem.


-Estou grávida.


Ouvi uma risada vindo de sua direção, mas não uma risada boa ou alegre, uma risada fria e distante. A surpresa de meus tios era tão grande que tio Ron nem havia percebido que estava boquiaberto. Estava prestes a falar algo quando meu pai foi mais rápido e se virando para minha mãe perguntou.


-A quanto tempo você sabia?


-Descobri ontem a noite.


-Eu sou o unico que não sabia?


-Eu ia contar hoje, mas não desse jeito. - Minha cabeça estava baixa novamente, me sentia tão, envergonhada.


-Eu simplesmente não consigo acreditar.


-Pois acredite, é essa a verdade papai.


-Por Merlim Lilian, você é apenas uma criança!


-Está na hora de rever seus conceitos não é papai? - As lágrimas escorriam pelos meus olhos e eu não sabia se sentia raiva ou tristeza. - Dizem que quando uma criança faz outra criança ela cresce.


-Não, não está na hora de rever nada, você só tem 17 anos Lilian, ainda é um bebê, não sabe nada sobre nada!


-Vovó Lily também engravidou aos 17 anos, por que vocês tem que fazer com que eu me sinta a pior pessoa do mundo com isso? Eu errei e olha que engraçado, talvez seja mal do nome. - Todo o esforço que eu fazia para não chorar fora em vão assim que vi a expressão em seu rosto, decepção, angústia e um pouco de raiva graças a meu ultimo e infeliz comentário.


-Sua avó não engravidou nesta idade - ele disse entre dentes


-Quem garante? Não sobrou ninguém vivo para contar a história. - Qual era o meu problema? Eu me sentia mal pelo jeito que ele me olhava e queria que ele também se sentisse assim mas isso era, inaceitável! Que tipo de monstro eu sou? Abaixei a cabeça fazendo com que as lágrimas caíssem sobre o piso de madeira e suspirei arrependida em uma leve tentativa de acalmar os nervos. - Sinto muito eu...eu não tive a intensão de...


-Para o seu quarto Lilian, não quero ouvir mais nada.


Levantei a cabeça e pude ver ele sumindo pela porta da cozinha, suspirei novamente e subi para meu quarto sem dizer mais nada.


______


Passei o resto do dia trancada em meu quarto, não conseguia nem queria sair dali, pedi para que ninguém mais além de Rose ou mamãe entrassem lá, não queria responder a perguntas nem ter que aturar piadas idiotas de Alvo.


-Aqui. - Rose colocou o livro sobre a cama. - Trouxe para distrai-la um pouco.


_Encarei o livro por um momento e ergui meu olhar para Rose. - Hogwarts, uma história. É sério isso?


-Ah qual é Li, funciona comigo.


Suspirei e abri um sorriso amarelo.


-Não custa nada tentar não é?


-Exatamente. - ela sorriu e se levantou. - Já está escurecendo, vai querer mais alguma coisa?


-Não obrigada, agora vou me concentrar em ler um livro gigante e depois vou dormir. - Ri fraco ao me imaginar passando o resto da noite lendo aquele livro. - Obrigada mesmo Ro, até amanhã.


Ela acentiu com a cabeça em resposta a meu agradecimento e saiu do quarto fechando a porta atrás de si. Encarei a capa do livro e suspirei.


-Não custa nada tentar. - repeti para mim mesma e puxei o livro para perto abrindo-o e começando a leitura.


_____


Um vento forte entrou pela janela fazendo com que as cortinas dançassem me tirando a atenção do livro. Ao reparar que pequenos flocos de neve caiam e o vento ficava mais gelado a cada segundo , me senti na obrigação de levantar e fechar a janela. Suspirei colocando o livro de lado e me livrando das camadas de edrodons que cobriam minhas pernas, caminhei preguiçosamente até a janela e fechei a mesma com uma rapidez incrível assim que o vento frio bateu em meu rosto fazendo com que todos os pelos do meu corpo se arrepiassem. Encostei minha cabeça no vidro e fiquei observando o lado de fora. A lua estava alta no céu mas quase invisivel devido aos vários flocos de neve que caiam cobrindo o chão e o deixando tudo completamente branco. Tudo a não ser o velho for anglia que se encontrava abaixo de uma árvore e mesmo com alguns respingos de neve, o verde-água do carro ganhava destaque em meio a monotomia de branco e preto. Tio Ron havia me contado quando ainda era pequena que um dia a muito tempo atrás ele junto com tio George e o falecido tio Fred tinham roubado o carro no meio da madrugada para salvar papai dos tios trouxas que o haviam trancado em seu quarto. Suspirei ao perceber a coincidencia dos fatos e voltei para minha cama. "A prisão Dursley" a risada de tio Ron ecoou pela minha mente.


-A prisão Potter. - suspirei puxando o livro para perto.


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-Mas que droga! - reclamei jogando o livro de lado após ler o mesmo paragrafro pela 7º vez.


O status de estar em uma prisão me perturbava e agora eu não conseguia pensar em mais nada.


-Na casa de tia Fleur com toda a certeza eu não estaria trancada no quarto. - Bufei. - Como não pensei nisso antes? - Me levantei da cama apressada e puxei as malas que estavam debaixo da mesa e comecei a colocar as poucas roupas que haviam sido tiradas dali no lugar.


Com varinha já em punhos e pronta para aparatar senti uma bicada forte de Melth em minha cabeça.


-Aaaaai. - reclamei olhando a ave. - O que foi?? - Outra bicada. - Por Merlim! - disse passando a mão na cabeça. - Doeu!


Melth voou até a escrivaninha e começou a bicar o pergaminho que estava ali.


-Você quer que eu escreva que estou indo? - A ave quietou e voou para meu braço como se confirmasse. - Estás louco? - Mais uma bicada na cabeça. - Argh - Bufei - Está certo, você ganhou.


Após escrever em um pedaço de pergaminho e largar o bilhete sobre a cama, voltei para onde as malas e Melth me esperavam. Estava novamente prestes a aparatar quando um surto de conciência me impediu de continuar.


-Pode ser perigoso. - Disse para mim mesma. - Nunca aparatei de um país para outro e devido as circunstâncias. - Olhei para as diversas malas a minha volta e pousei a mão sobre a barriga. - É melhor não. - Suspirei derrotada e caminhei até a janela.


A neve ainda caia calma formando um fino tapete branco sobre o chão. O ford anglia se destacou novamente aos meus olhos e de repente duas palavras brilharam em minha mente. "Porque não?"


Mas o carro é velho e nevando seria perigoso voar até Paris. Então vá até o aeroporto. Mas para viajar de avião eu preciso de um tal de pessi, passe


-Passaporte! - Afirmei correndo até as gavetas da cômoda e revirando-as a procura do meu. Há dois anos quando voltei para Londres me lembro de ter feito um desses com tia Fleur. - Achei. - exclamei animada segurando o passaporte em minhas mãos. - Agora...dinheiro trouxa. - Mordi meu lábio inferior pensando onde encontraria dinheiro a uma hora dessas. - A caixinha de emergência da tia Mione. - Bufei como se fosse obvio de mais. Aquilo era uma emergência certo? Certo!


Voltei a me sentar na escrivaninha e comecei a escrever uma carta rapidamente, assim que terminei, amarrei a carta nas patas de Melth que mesmo fazendo um pouco de "pirraça" na hora de voar sobre a neve cedeu e foi. Abri a porta de meu quarto e percebi que todas as luzes estavam apagadas e a casa incrivelmente silenciosa. Será possivel que havia passado tanto tempo assim desde que comecei a ler o livro? Dei de ombros, melhor assim.


-Wingardium Leviosa - Apontei para as malas que começaram a flutuar a poucos centímetros do chão e caminhei silenciosamente escadas a baixo. Pausa na cozinha para pegar as chaves e o dinheiro.


Mesmo agasalhada assim que pisei para fora de casa pude sentir o frio insuportável que fazia ali. Coloquei as malas rapida e silenciosamente no porta-malas do carro antes que mudasse de ideia e adentrei o mesmo colocando a chave na ignição.


-Sem mais prisões, eu prometo. - Passei a mão rapidamente pela minha barriga e depois a coloquei sobre a chave. - Não pode ser tão dificil, tio Ron me ensinou isso ano passado, hora de fazer valer os ensinamentos dele. - Suspirei e girei a chave, o ronco do motor foi tão estrondoso que não pude conter o susto, olhei rapidamente pela janela do carro e era obvio que eu havia acordado alguém. - Droga, droga, droga. - Disse enquanto pisava no acelerador em vão devido a neve que cobria as rodas. Uma pequena luz surgiu no quarto do segundo andar, mais necessariamente no quarto de meus pais. - Isso não vai dar certo. - Fechei os olhos e antes que pudesse pensar duas vezes apertei o botão do carro e este começou a voar.


-//-


-Lumus. - Harry sussurrou enquanto se sentava na cama.


-O que foi querido? - a voz de uma Gina sonolenta preencheu o silêncio do quarto.


-Não ouviu esse barulho?


-Deve ser Lily pegando algo na cozinha, a pobre coitada ficou o dia todo preso no quarto.


-Eu vou lá conferir. - ele fez menção a se levantar mas Gina o segurou pelo braço encarando-o seriamente. - Harry volte para a cama, a menina precisa de um pouco de espaço, amanhã vocês conversam.


-Odeio quando você tem razão. - ele revirou os olhos e se deitou ao lado da esposa. - Nox.


-Eu sempre tenho. - ela beijou de leve o rosto do marido e voltou a dormir.


-\\-


Graças as poucas e curtas aulas que tive no verão passado estava dirigindo sem maiores complicações, o unico problema era que estava fazendo isso completamente as cegas, a neve caia rapida porém delicadamente impedindo qualquer tentativa minha de enxergar o caminho. Já poderia ter voltado ao chão mas o risco de não fazer um "pouso perfeito" era grande demais para eu ao menos arriscar, então optei pela opção de continuar voando, mesmo sem ter ideia de para onde estava indo. Uma coisa era certa, uma hora teria que chegar a algum lugar.

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