Faça um pedido!

Faça um pedido!



Sentada na minha varanda, eu olhava mais uma vez para a praia.


Estava tudo ótimo. Havia luzes coloridas espalhadas por todos os lados. Enormes lanternas rodeavam um pequeno compartimento de madeira arredondado que logo mais serviria de pista de dança. Havia três mesas diferentes, uma com comidas variadas, outra com doces de diferentes tipos e a última com bebidas, onde um barman preparava os drinks. O mar estava calmo, apenas algumas ondas rebeldes quebravam ao longe. E as pessoas não paravam de chegar.


Um aniversário perfeito me esperava, pelo menos era o que a tia Rosalie disse tentando me animar.


Hoje eu fazia dezoito anos. Bem, a menos que eu continuasse me recusando a soprar as malditas velas. O primo mais velho e idiota do meu pai inventou essa besteira e agora todos seguiam a regra: temos que soprar as velas e pedir. Um ato simples, rápido, fácil e idiota. Mas, em respeito à memória dos meus pais, eu decidi que faria isso.


– Vamos, Julie, seus amigos já chegaram.


Fui desperta pela minha tia me chamando. Rosalie era a irmã mais nova do meu pai, e era como uma irmã mais velha para mim. Não éramos nenhum pouco parecidas. Rose é bronzeada, eu sou branca igual papel, eu tenho olhos azuis e ela castanhos, ela tem cabelo loiro e eu, bem, pelo menos o meu era preto, agora ele está roxo. Tia Rose não gostava que eu a chamasse de tia na frente dos outros que não fossem da família, mas eu nem ligava.


– Já estou indo, tia!


Suspirei e levantei do divã. Arrumei a roupa e guardei a foto dos meus pais no bolso, para eles estarem comigo nessa noite. Me olhei uma última vez no espelho antes de sair do quarto e fechar a porta. Caminhei devagar pelos corredores da mansão. Os empregados andavam de um lado para o outro, organizando os últimos detalhes necessários lá fora. Eu, sinceramente, preferia estar trancada no meu quarto relendo Harry Potter.


– Ora, querida, anime-se. Está fazendo dezoito anos. Deveria estar feliz por finalmente ser dona do seu dinheiro e da sua vida.


– Tia Rose, eu estou feliz.


– Pois não parece.


Ela pegou minha mão e caminhou comigo para fora de casa.


– Seus pais não queriam que você ficasse triste, lembrasse o que eles disseram no testamento?


– “Siga em frente de cabeça erguida. Sinta a nossa falta, mas viva a sua vida normalmente. Nós queremos que seja a pessoa mais feliz desse mundo.” Eu sei, tia Rose.


Pensar nos meus pais me fazia feliz apesar de tudo. Eu já havia aceitado que eles se foram, eu esperava realmente que eles estivessem em um lugar melhor. Eu só não queria ter ficado sozinha. E lembrar que a cinco meses eles estavam comigo...


– Você não está cumprindo sua promessa.


Respirei fundo e ensaiei um sorriso.


– Tudo bem, tia. Prometo que vou me divertir hoje à noite.


– Isso mesmo. Agora vá encontrar seus amigos, eu vou falar com o Felipe.


Felipe Montés era namorado de Rosálie a dois anos, ele era aluno recém contratado na empresa da nossa família e assim que a tia Rose – que era secretária do meu pai na época – pôs os olhos nele, se apaixonou. Era uma história fantasiosa sobre amor à primeira vista, mas quando olhávamos para os dois, nós entendíamos.


– Ok.


[...]


A festa estava quase no fim, e, ao contrário do que a Rose imaginava, eu não tinha amigos, mas consegui me divertir realmente. Encontrei o meu primo Frank – filho da irmã da minha mãe – e nós dançamos a noite inteira. Agora estava na hora de acabar a festa, ou seja, estava na hora de cantar os parabéns. Eu não entendia também o porque de cantar os parabéns apenas no final, mas tudo bem.


Rose, Felipe e Frank trouxeram um bolo pequeno, mas simbólico o suficiente e o seguraram na minha frente enquanto todos cantavam a música mais conhecida do universo. Todos cantavam e batiam palmas, Frank e Felipe sorriam enquanto cantavam as últimas palavras.


– Julie, faça um pedido!


Era de Rose a voz que eu escutava mais nitidamente por causa da proximidade, e, assim como ela, todos ali esperavam que eu pedisse alguma coisa. Eu não sabia o que iria pedir, na verdade. Meus pais morreram, não havia a possibilidade de eu pedir eles de volta. Ao partirem, me deixaram dinheiro suficiente para eu viver o resto da minha vida, junto aos meus filhos. Eu tinha uma casa boa, um único amigo – mas ele era ótimo – um trabalho de modelo que me rendia bastante também..


Já sei!


Sorri com a minha própria loucura. Seria um pedido meio estranho e totalmente impossível, possivelmente classificado como desperdício de poder, mas eu não liguei. Era um pedido que eles queriam, era um pedido que eles teriam. Eu sei, sou meio retardada às vezes, mas nem liguei quando fechei os olhos e soprei as velas, pensando em uma única frase:


“Gostaria de conhecer Draco Malfoy”

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Comentários (1)

  • JuhSnape

    Continue! Muito boa!Nota: 1000000000000000000000000000000[...] 

    2013-04-06
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