Único










-Sim –eu disse tentando sorrir. Era o começo de uma nova vida, diziam alguns, não, era o começo de uma nova vida com Ronald Weasley.


Agora eu finalmente fazia parte da família Weasley. Rony sorriu para mim e eu retribui da melhor forma que pude,eu o amava, de todo meu coração. Mas houve uma época em que eu não sabia mais se o amava. Às vezes quando o olho tento saber se verdadeiramente o amo e a resposta é sim, eu o amo. Mas quando se ama duas pessoas é impossível saber qual delas você devota mais o seu amor.


Uma vez me disseram que “se você ama duas pessoas deve ficar com a segunda, pois se amasse verdadeiramente a primeira não existiria uma segunda opção”. Eu cheguei a acreditar nisso por um tempo, mas a confusão já havia se instalado em minha mente, eu Hermione Jean Granger, agora Weasley, não sabia como podia amar duas pessoas ,tão diferentes, ao mesmo tempo.


-Parabéns Mione –ouvi Gina dizer animada enquanto me dava um abraço caloroso –não acredito que se casou com ele! –ela sussurrou fazendo com que eu me arrepiasse e começasse a respirar com dificuldade. Quando sai de seu abraço ela me deu um pequeno beijo no canto dos lábios e eu senti um forte arrepio, lembrei-me de nossas noites em Londres.


Um pouco depois da guerra e de acabarmos nossos estudos em Hogwarts eu fui morar em Londres e precisava de alguém para dividir o apartamento comigo, Gina já havia me dito algo sobre “sair de debaixo das asas dos pais” e então eu a chamei para dividirmos o apartamento e ela aceitou na hora. Foi difícil convencer a Sra. Weasley, mas com uma ajudinha do Sr. Weasley e do Ron conseguimos.


Ela me olhou nos olhos enquanto forçava um sorriso e se afastou. Recebi dezenas de abraços e parabenizações pelo casamento, quando achei que havia acabado senti a mão quente dele apertando a minha mão.  E então a tão sonhada festa começou. Dancei com Ron, meu pai, Harry, Arthur e me diverti bastante. Estava tudo maravilhoso, do jeito que eu sonhei, era sim o começo de uma nova vida, me forcei a dizer, decidi que já era hora de trocar o vestido por algo confortável e então subi.


Não encontrei ninguém dentro da Toca e imaginei que todos estivessem lá fora aproveitando a festa, subi tentando não pisar no vestido, mas parecia inútil, entrei no quarto onde o outro vestido se encontrava e encontrei uma caixa em cima da cama. Era uma bela caixa, era preta com a tampa rosa e um enorme laço, não resisti e me sentei na cama, acariciei a caixa, ela me fazia lembrar alguém... Desatei o laço e abri a caixa.


A caixa era tão bela por dentro quando por fora, mas não foi à beleza dela que me prendeu a atenção. Havia muitas coisas dentro da caixa, algumas fotos, cartas e até mesmo um chaveiro, eu peguei a primeira carta e sorri com ela. Peguei alguma das fotos ali, dentro daquela caixa, e muitas lembranças invadiram minha mente, e então virei àquelas fotos para baixo. Não queria ver, não podia, mas como se um imã me atraísse para tudo aquilo eu a segurei firme.


Virei a primeira foto e a admirei nela. Gina Weasley sorria na foto e seu sorriso, para mim, era contagiante.  Havíamos tirado a foto ‘naquela noite’, foi a primeira vez que realmente notei que sentia algo por ela, algo mais forte que uma amizade, ou um sentimento de cunhada...


Foi há um bom tempo, mas eu me lembro como se fosse hoje. Eu havia brigado com Ron e fazia uns dias que ele não aparecia lá, no apartamento.


Gina e eu estávamos cada vez mais próximas, não sei se por alguns gostos incomuns ou pela amizade mesmo, nossa amizade parecia estar cada dia mais forte, nossas conversas também estavam mais abertas. Eu estava irritada com Ron e ficava tão focada no trabalho que não tinha tempo para mais nada, chegava cansada e só conseguia dormir depois da meia-noite.  E naquela noite não foi diferente, eu desci para sala porque parecia insuportável ficar no quarto.


A sala estava escura e eu decidi deixá-la assim mesmo, fui até a cozinha, precisava comer algo, fazer algo ou apenas me distrair e tomei um baita susto quando vi Gina comendo um pedaço de torta. Eu parei no momento que a vi e ela deu uma risada gostosa eu apenas sorri e me sentei perto dela, ela me ofereceu uma colher, eu dei de ombros e aceitei.


-O que faz acordada há essa hora? –perguntei.


-Apenas não sinto sono e você? –ela perguntou.


-Esses dias estão sendo infernais –confessei –eu e Ron não nos falamos há dias e por uma coisa tão boba... –falei e então parei para devorar mais um pedaço do bolo.


-Ah, você e meu irmão brigam o tempo todo, nem deveria me impressionar por isso –ela disse.


-Dessa vez foi diferente Gina... Mas não quero falar mais sobre isso, quero esquecer –disse e então vi o sorriso de Gina se abrir.


-Então vamos fazer algo –ela comeu o ultimo pedaço da torta e se levantou –ande Mione, se levante e vamos fazer algo –ela falou animada e eu apenas a segui.


Ela ligou a luz da sala e colocou uma musica animada parta tocar. E então começou a dançar, eu estava parada apenas a observando. Naquele momento eu constatei que tudo havia mudado, Gina havia crescido, não era mais aquela menina –a irmã mais nova do meu melhor amigo –que eu conheci em Hogwarts. Ela parou de dançar alguns momentos e olhou para mim.


-O que foi? –eu perguntei tentando fazê-la ouvir apesar da musica alta.


-Tem que dançar Mione... –ela disse e eu me mexi de um lado para o outro fazendo Gina rir –eu digo dançar de verdade, me espere um minuto –Gina disse enquanto subia as escadas, em menos de um minuto ela voltou, com uma câmera na mão, era trouxa, Harry havia lhe dado de presente de natal e agora ela não desgrudava mais.


-O que vai... ? –antes mesmo que eu pudesse perguntar o que ela faria com a câmera Gina começou a fazer caretas e eu entendi o que ela queria. Começamos a fazer caretas e tirando fotos das mesmas, a partir de certo momento começamos a tirar fotos apenas rindo. Uma musica mais agitada ainda começou a tocar no rádio e eu me comecei a cantar enquanto dançávamos Gina já havia deixado sua câmera de lado e agora fazíamos círculos na sala.


Depois de muito dançarmos cai cansada no chão e Gina também. Agora eu olhava para o teto, em nenhum momento eu imaginaria o que poderia acontecer ali e se alguém me contasse algo assim eu riria, mas assim que virei meus olhos para Gina ela não sorria, apenas encarava meus lábios, e então eu passei a encarar os seus. E me perguntei o que aconteceria se nos beijássemos ali. Foi o que aconteceu, eu apenas fechei os olhos quando senti seus lábios tocarem os meus.


Naquele momento eu não me preocupei com nada, nem pelo fato de estar beijando uma garota, traindo meu namorado ou que essa garota fosse além de minha amiga, minha cunhada. Eu estava gostando, seus lábios pareciam ter sido feitos para os meus, se encaixavam tão bem, nossos corpos se encaixavam bem. Senti um nervosismo imenso quando ela tomou possessivamente dos meus lábios, suas mãos agora percorriam meu corpo como se quisesse me conhecer mais fundo do que qualquer outra pessoa havia conhecido.


Quando seus lábios se afastaram dos meus eu abri meus olhos, não por arrependimento ou nada do tipo, abri os olhos porque queria que ela continuasse. Os olhos castanhos de Gina estavam com um brilho diferente no olhar e seus lábios se curvaram em um belo sorriso, eu queria perguntar algo, saber se ela já havia beijado alguém antes, mas em minha mente não conseguia ver Gina beijando outra garota, que não fosse eu.


Por isso quando ela se inclinou para mais uma vez capturar meus lábios eu não disse nada, apenas aproveitei o momento. Suas mãos voltaram a explorar meu corpo de maneira minuciosa e eu fiz o mesmo. E não me assustei quando Gina começou a tirar o baby-doll que vestia, eu apenas a ajudei. Arfei quando a vi nua em minha frente, seu corpo era realmente muito lindo, sua pele alva era tão macia que não resisti e a toquei. Ela mais uma vez se inclinou e me ajudou a me despir. Tirei a camisola pela cabeça, Gina tocou meu colo e então eu tomei a iniciativa.


A puxei para mais perto e beijei seus lábios, minhas mãos percorriam seu corpo e meus lábios estavam sobre os dela, travávamos uma batalha de línguas, ela parou nosso beijo, mas continuou as caricias, seu lábios gentis exploraram meu corpo me fazendo delirar, não precisou de muito para que eu chegasse ao ápice do prazer, mas e ela? Pensei quando Gina se deitou ao meu lado.


Ouvi o riso dela ecoar pela sala e não soube o que dizer,estávamos suadas, deitadas no chão da sala e eu sentia uma estranha e louca vontade de beijá-la e recomeçar tudo aquilo...


-Mione –ela me chamou e eu a olhei tentando assimilar tudo àquilo –eu...Olha isso...


-Você já havia transado com outra garota ? –não sei como minha voz saiu tão firme,mas ela saiu e Gina me olhou arregalando os olhos.


-Oh Não! –ela negou –nunca... –ela me disse e eu sorri, logo depois ela sorriu também.


-Eu não sei por que, mas não gostaria que tivesse transado com outra garota –eu disse e ela sorriu.


Depois daquela noite tudo ficou diferente. Eu ignorava Ron –meu namorado traído –passava o dia no trabalho e quando voltava para casa eu a encontrava. Nós perdíamos a noite, a compostura , a razão. Era como se cada dia passado a fizesse mais minha. Ron mandou algumas cartas e isso me deixava mais confusa ainda, eu poderia ignorá-lo por um bom tempo, mas seria terrível fazer isso com ele. Não terminei com ele nem nada do tipo, eu apenas dizia que não poderia vê-lo, ou não tinha tempo, ele estava quase sempre em alguma missão com os aurores e isso dificultava nossa possível aproximação.


Enquanto ele estava longe, para Gina e eu era a melhor coisa que poderia acontecer. Passamos mais de quatro meses assim, era apaixonante. Fazíamos amor na sala, na cozinha, em cima da mesa e em qualquer outro lugar que possa imaginar, eu aprendi a amá-la e devorá-la. Na vista de todos éramos as melhores amigas, almoçávamos juntas, estávamos sempre rindo e nunca brigávamos. Em nosso pequeno mundinho –que se resumia a todos os espaços possíveis daquele apartamento –éramos amantes, companheiras, amigas e tudo mais que poderíamos ser.


Aquela noite, estávamos na banheira. Havíamos feito amor naquela banheira milhares de vezes, mas agora apenas tomávamos banho. Estávamos rindo de alguma piada que Gina havia acabado de contar quando ouvimos a campainha no andar de baixo, Gina ia se levantar para atender, mas eu resolvi ir em seu lugar. Levantei-me rápido, deixei que a água caísse pelo meu corpo e então peguei uma das toalhas que estavam no banheiro.


Passei pelo meu quarto e coloquei um robe de seda bege, Ron havia me dado há algum tempo atrás e o usava às vezes quando dormia com Gina , ela parecia não gostar, mas não dizia nada. Não havia esquecido Ron, apenas estava vivendo aquele momento com Gina. Confesso que às vezes me sentia suja, por estar traindo ele, por estar tentando não vê-lo e o ignorando propositalmente, eu o amava é lógico, um amor que se cultiva por anos não morre assim de uma hora para a outra,mas eu também amava Gina.


A campainha soou me tirando dos meus devaneios e eu fui rapidamente atender a porta. Não posso dizer o quanto fiquei nervosa quando vi que era Ronald, nem que quando começamos a conversar eu senti todas aquelas borboletas que eu sentia quando estava ao lado de Gina, muito menos quando Gina desceu perguntando animadamente “Quem era” e depois sumiu de sala como se houvesse visto um fantasma.


A visita de Ron só fez com que tudo se complicasse, depois daquele dia Gina mudou totalmente comigo, ela nunca me explicou o porquê, mas parou de me procurar e quando falava comigo era como se houvesse esquecido tudo e então eu e Ron voltamos. Nosso namoro voltou a ser o que era, mesmo eu ainda sentindo tudo aquilo por Gina. Com o tempo eu entendi que amava os dois, talvez de formas diferentes, mas amava os dois...


Me assustei quando a porta do quarto se abriu e me tirou dos meus devaneios. Era Gina, ela fechou a porta e ficou ali me olhando, eu fechei a caixa e me levantei. Sabia que deveria dizer alguma coisa, mas não sabia o que. Gina estava com seu vestido de madrinha, sim, ela havia sido madrinha do casamento. Ela não sorria como havia feito lá embaixo, nem parecia à vontade com aquilo ali.


-Sabe o que é pior do que ver a mulher que você ama se casando ? É ver a mulher que você se ama se casando com seu irmão e ter que segurar as alianças! –ela disse e então eu me aproximei, a puxei pela nuca e encostei seus lábios nos meus.


Eu precisava sentir os lábios quentes e macio dela sobre os meus. Gina retribuiu com boa vontade. Amava a maneira como ela se tornava possessiva e seus lábios tomavam conta dos meus e suas mãos percorriam meu corpo...Ela se afastou.


-Eu vim aqui para me explicar –ela disse saindo de perto de mim –você está casada com meu irmão agora.


-Estou...


-Mione eu te amo, sempre te amei e acho que nunca vou deixar de amar. Não pense que foi a melhor decisão a que eu tomei quando vi Ron voltar para você. Não ficaria no caminho de vocês dois, ele te ama e ele chegou primeiro –ela falou e eu arregalei os olhos –digo, no seu coração –eu consegui sorrir e Gina veio até mim. Suas mãos delicadas tocaram meu rosto e ela tentou sorrir. Antes que ela dissesse alto eu virei de costas.


-Poderia me ajudar com os botões ?


-Mione...


-Pela ultima vez –eu disse e pude ouvir seu riso.


Logo depois senti as mão de Gina abrindo botão por botão do meu vestido de casamento. Deixei que o vestido branco deslizasse pelo meu corpo e então me virei para ela. Naquele momento eu só pensava que a queria. Eu entendia os motivos de Gina para tentar “esquecer” tudo que aconteceu. Nos amávamos, mas haviam outros amores. O amor de Harry que tentou se manter longe de Gina, mas que a queria mais que tudo.


O amor de Ron que parecia me manter viva e consciente de tudo. O amor que teríamos quando fossemos mãe, e o que tínhamos com nossos pais... Ah, e amor que eu sentia por ela. Não era algo puramente carnal, era mais que desejo ou paixão, era uma irmandade esquisita, eu a amava e a defenderia de tudo, eu sentia vontade de dormir com ela, fazer amor com ela, conversar com ela e fazer tudo que irmãs e amigas faziam, só que com algo mais, algo que Ron nem Harry nunca nos dariam e nós sabíamos disso.


Por isso não me arrependi quando mais uma vez voltamos a nos unir, ali, na minha festa de casamento. No quarto dela, como se nada pudesse estragar aquilo que sentíamos uma pela outra. Nos amamos, sem palavras, nem atos descabidos, muito menos a pressa, no amamos com calma, paixão e carinho. Apenas nos amamos. E isso eu sei que , para mim ,sempre seria o suficiente.


Gina me ajudou a vestir o segundo vestido, o real motivo de eu ter saído da festa. Ela abotoou os botões com o mesmo carinho que abriu os botões do primeiro vestido. Falou muitas coisas e confesso que a maioria das coisas que ela falou não ficaram gravadas em minha memória, eu me sentia feliz. Eu sei que não viveríamos juntas, nem que o que fizemos ali, em seu quarto, se repetiria, mas eu a sentia em mim.  Eu sabia que para sempre seriamos uma da outra, de alguma maneira.


-Acho que agora é para sempre –ela disse se sentando na cama –é como se tudo o que sentimos se tornasse eterno...


-É eterno! –falei com convicção e ela riu –eu te amo Gina!


-E eu te amo tanto Mione –ela disse me abraçando.


Depois daquilo saímos dali e voltamos para a festa. Eu não estava mais confusa, eu sabia que nunca existiria palavras para descrever o que eu sentia por Gina, porque eu a amava, simplesmente amava. Não vou mentir, não fiquei triste por termos nos “despedirmos” , o sentimento é o que importa, certo ? Pois então, eu o levaria por toda a vida.


Toda vez que eu senti seu perfume lembrarei que estive com ela, toda vez que as lembranças invadirem minha mente lembrarei que os momentos que vivemos foram tão especiais que nunca poderão ser apagados, toda vez que nossos olhares se cruzarem eu me lembrarei da sua ternura e toda vez que eu ouvir sua voz terei a certeza de que meu coração batera mais forte e eu sentirei aquelas tão conhecidas borboletas baterem suas asas em minha barriga para me lembrar de que em Gina eu tive e continuo tendo tudo, de amante a amiga.


Haverão outros amores, alguns impossíveis de controlar, outros calmos como o oceano depois da tempestade, haverão os arrebatadores, os gloriosos, os indecisos, os carnais, alguns que até mesmo desconhecerei, mas eu sei que virão, porque a vida é feita de dores e de mais outros amores...


 


Fim!


 

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