O Trato



Eu não costumava sair muito de casa. Na verdade, eu não costumava sair muito do meu próprio mundo. Se os rótulos básicos de séries adolescentes americanas estão certas... sim, eu não era o popular da história. E eu pouco me lixava pra isso.


                Mas estavamos em Dezembro, as malditas férias de verão. É claro que era um alívio não ter de ir pra escola, aliás, eu tinha uma teoria sobre escola. Cada dia que vamos a aula, é um dia a menos que temos de voltar. E isso resume bem o que eu queria dizer.


                Ao mesmo tempo, eu sabia que férias de verão significavam ter de passar alguns longos e patéticos dias no enfadonho sítio do meu primo. Não que eu não gostasse dele ou dos meus tios ou de qualquer outra coisa, mas eu realmente curtia ficar sozinho. Ir para lá era como sair de uma prisão e ser transferido automaticamente para outra.


                Mas eu ainda tinha algum tempo até que minha mãe se preocupasse com minhas horas em frente ao computador e ligasse para meus tios. Ou pelo menos assim eu imaginei.


                – RENATO, TELEFONE PRA VOCÊ!! – berrou minha mãe, do andar de baixo.


                Fiquei paralisado. Quem me ligaria? Não tenho amigos, amigas, colegas, nem mesmo inimigos. E o fato de minha mãe não informar quem era me deixou mais irritado. Antes de pensar em qualquer coisa, tirei o telefone do gancho.


                – Alô – falei, meio receoso.


                – E aí primo, beleza?


                Putz, era o meu primo. Aquele dos meus tios, do sítio. Aquilo não era bom.


                – Ah, oi.


                – Então, vai ter uma festa hoje, lá na casa da Bruninha, manja? E vai ser muito louco, vai ter DJ, pista de dança e até narguile, mano. Vamo colar lá?


                Tirando todas as gírias das quais eu não conhecia, eu consegui enteder o sentido geral do que ele disse.


                – Ah, não sei. – Na verdade, eu sabia. Eu não queria ir. De jeito nenhum. Nem mesmo amarrado. E isso incluiria uma corda. – Eu tenho que fazer umas coisas aqui.


                – Ah mano, que isso. Você precisa sair um pouco e a festa vai ser muito louca, vamos? Eu passo aí em meia hora pra te buscar beleza?


                Tinha uma coisa que eu era pior do que viver no meu próprio mundo. Era não conseguir dizer não.


                – Tá. – Foi isso que saiu da minha boca.


                – Então beleza, se arruma aí que em meia hora eu to passando aí. Já fica no portão. Falou, primo.


                – Tchau. – Mas ele já tinha desligado.


                E minhas pernas já estavam tremendo. Aquilo era tudo que eu tentava evitar. Pessoas reunidas, roupas de marca, pessoas reunidas, música dançante, pessoas reunidas, conversas sobre coisas que eu nem tinha ideia que tivessem sido inventadas, e claro, pessoas reunidas.


                – Você não vai se atrasar né? – Minha mãe estava atrás de mim. Ela se teletransporta agora?


                – Hã?


                – Vai ir para uma festa. Olha só, meu garoto...


                Além de tudo, eu não podia escutar aquele nhenhenhém da minha mãe. Sem alternativas, fui tomar banho. Quando saí, minha mãe não estava mais lá. Fiquei feliz por isso.


                Com a toalha enrolada na minha cintura, olhei em volta e me dei conta de uma coisa. Com que roupa iria? Eu não era do tipo de pessoa que tinha roupas pra sair, além das camisetas polo com duas listras que minha mãe comprava pra eu ir na minha vó e o uniforme da escola que não saia do meu corpo até para dormir.


                Antes de me decidir, uma buzina tocou. Não era possível, já tinha se passado meia hora?


                Coloquei uma das polo com listras da minha mãe e uma calça jeans velha que estava jogada no fundo do guarda-roupas. Só quando entrei no carro dos meus tios, pude notar que a calça estava muito pequena para mim. Acho que por isso ouvi as palavras calça e pescador jogadas entre um monte de muitas outras que não consegui distinguir durante o trajeto.


                Na verdade, eu estava num estado de choque tão grande que nem sei como consegui formar uma frase completa dentro daquele carro. Acho que minha tia me perguntou sobre os meus pais e como eu estava indo na escola, mas eram só palpites. Cheguei a conclusão que deveria ser assim que um dependente se sentia quando se drogava.


                – Que horas que a gente volta pra buscar vocês? – perguntou minha tia quando estacionamos.


                – Ah sei lá, umas quatro horas. – respondeu Guilherme, meu primo.


                Minha tia lançou um olhar sarcástico para ele, ao mesmo tempo severo.


                – Meia-noite estaremos aqui. E vocês também. – ela olhou de rabo de olho pra mim. – Se cuidem.


                Era um sobrado muito bonito. Mas a festa estava acontecendo na garagem, embaixo.


                – Espera aí. – Guilherme me puxou. – Vamos passar na casa de alguém antes.


                Alguém? Quem? Perguntei a mim mesmo, mas não o fiz em voz alta. Qualquer motivo para não entrar naquele enxame de abelhas era um bom motivo pra mim.


                Ele seguiu a calçada e virou a primeira a esquerda. A rua estava calma, sem muita gente e o barulho alto da música eletrônica da festa se distanciava.


                – A gente vai na casa de um amigo meu, eu combinei de passar na casa dele pra gente ir junto. – ele falou, como se soubesse que eu estava me perguntando.


                – Ah – respondi, tentando colocar alguma emoção.


                Ele olhou pra mim, enquanto caminhavamos.


                – Mas... e aí? O que você anda fazendo de bom? – perguntou ele.


                Eu sabia que ele queria puxar conversa e eu não o condenava por isso. Mas aquele era o tipo de pergunta que eu mais odiava ter de responder e, na maioria das vezes, eu nem tinha resposta.


                – Ah, eu vou pra escola, fico na internet... essas coisas.


                – Só? – Pra mim parecia suficiente. – Você não sai? Não joga bola? Nada?


                Esse era um rumo que eu também não queria que a conversa tomasse.


                – E você, tem saido bastante? – Guilherme adorava ter algo pra poder me zoar, mas tinha uma coisa que ele adorava mais, falar de si mesmo.


                – Claro né, mano. Tô indo para um monte de festas, baladas. Fiquei bebado dia desses, mas catei várias também.


                Podia até ser verdade, mas ele sempre aumentava. Antes que ele me perguntasse de volta, tratei de prosseguir aquilo que se sucedeu uma bela entrevista.


                – Várias, é?


                – Tá duvidando, pode perguntar pro Will, pro Marcinho... eu peguei 15 no dia da festa do pijama e além disso...


                E assim se sucedeu a conversa. Eu perguntava, ele respondia. Eu dava corda e ele falava de seus feitos como se exibisse troféus, a cada nova conquista.


                – ...e a Luciana, ah, ela é bonitinha e tal, mas não sabe beijar. Já a Gabi beija muito bem, mas não é bonita, é arrumadinha...


                Com aquela lista de classificação com detalhes sobre as garotas que ele já tinha ficado, eu pensei numa coisa. Tudo bem que eu iria me arriscar mudando o rumo da conversa e o tirando do estado de autosatisfação que o invadia quando falava de si mesmo. Mas eu estava disposto a arriscar, afinal.


                – E você nunca gostou de nenhuma delas? – indaguei.


                Ele parou por um momento, como se tivesse sido interrompido por um trem que o atropelara.


                – Ah, claro que sim. Eu gosto de todas elas. Se não, não teria ficado com elas.


                – Não, não gostar desse jeito. Gostar de verdade, pra valer. Pra namorar.


                Guilherme parou pra pensar, como nunca tinha visto. Quando se tratava dele, ele nunca tinha dúvida nenhuma pra responder. Enfim, achei um ponto fraco, pensei comigo mesmo.


                – Ah, claro que já. – Ele não ia ficar por baixo. – Eu já gostei sim.


                – Ah é? De quem? – Ele não se livraria tão fácil.


                Ele me fitou, com aquele olhar de “você não vai conseguir”. E logo parou de caminhar.


                – A casa do meu amigo, é aqui.


                Alguns segundos de silêncio se sucederam antes que o tal amigo dele aparecesse na sacada do que parecia ser um quarto bem grande, no primeiro andar.


                – E aí muleque, beleza? – Antes que alguém pudesse responder, ele jogou um molho de chaves nas mãos do meu primo. – Entra e sobe aí que eu to terminando de me arrumar.


                E foi exatamente o que fizemos. Quando chegamos ao quarto do tal amigo dele, ele estava terminando de vestir uma camiseta que, segundo o pouco que eu conhecia sobre qualquer coisa, era definitivamente de alguma dessas marcas famosas que eles adoravam usar. Eles se cumprimentaram com um abraço e alguns socos.


                – E aí, quem é esse aí? – indagou ele.


                – Ah, esse é meu primo, Renato. – apontando pra mim. – Esse é o Will. – apontando pra ele.


                Eu devo ter esboçado alguma reação, mas não tenho certeza. Ele, em contrapartida, veio até mim e me cumprimentou com as mãos.


                – E aí, Renato, beleza? – perguntou Will usando um tom um tanto quanto tranquilo, mas me fitando de cabo a rabo com um olhar de desaprovação.


                – É. – Talvez aquilo fosse pouco, então prossegui. – E você?


                – Na paz, muleque. – E foi assim que eu consegui que ele desviasse a atenção de mim. Ele se virou pro meu primo. – Mano, você nem sabe... consegui passar do nível 13 no Racing Cars.


                Se aquilo era uma competição, meu primo não iria de jeito nenhum deixar barato.


                – Ah, eu já passei na semana passada, tô na fase final já. – respondeu num tom de quem já perdeu o interesse naquilo. – Mas então, quantas hoje?


                – Da última vez foram 7, então hoje tem que ser 8.


                Eles ainda estavam falando de níveis de jogos de videogame?


                – Que isso! 9 no mínimo! – contrapôs Felipe e se virou pra mim – Você acredita que ele pegou 7 minas na ultima festa que a gente foi? – Ah, garotas. Entendi. – Mentira, deve ter pegado no máximo 2 e fica contando vantagem...


                – Eu juro. – interrompeu Will. – O Marcinho tá de prova.


                Quanta competição sem sentido. Blá blá.


                – Beleza então, o que vale é hoje. – Felipe lança um olhar desafiador – Dez!


                – Fechado. – responde Will.


                Algumas risadas entre os dois e alguns segundos de pausa. Aquilo poderia piorar.


                – Você também tem que entrar na aposta. – disse Felipe. Os dois, inclusive, já estavam olhando pra mim e eu nem tinha percebido. Will soltou uma leve risada sarcástica.


                Eu tinha de pensar. Eu não iria entrar naquela aposta idiota, mas também não iria deixar de entrar. Eu não conseguiria pegar nem uma vassoura, imagina uma garota. Eu teria de aceitar. Ou talvez não. Enfim, eu iria acabar perdendo de qualquer jeito mesmo.


                – Eu aceito. – Os dois riram muito alto de forma repetitiva por alguns segundos. – Mas, como é a minha primeira aposta, a minha meta tem que ser diferente.


                – Pode ser uma garota se você quiser. – disse Felipe. – Eu duvido que pegue uma sequer.


                Os dois riram novamente por alguns segundos. Aquilo confirmou como eu estava me sentindo bem confortável naquela situação.


                Enquanto iamos de volta para a casa onde acontecia a festa, eu começava a imaginar como seria a minha noite. Não havia começado muito bem e, provavelmente, não terminaria bem também. Talvez se eu encontrasse um canto com uma cadeira, me sentasse por ali e ficasse mexendo no meu celular durante toda a festa. Talvez ainda houvesse esperança.


                Ao chegarmos, percebi que a garagem era relativamente grande, porém se tornava pequena a medida que tantas pesssoas se acomodavam por ali. Haviam muitas garotas com vestidos bem colados ao corpo e saltos bem altos de cores chamativas. E muitos garotos com calça jeans, uma camiseta com um nome de uma marca bem famosa estampada, tênis bem chamativo e boné. Será que eu era o único com uma camiseta polo ali? Algumas meninas dançavam umas com as outras e alguns casais também estavam dançando com os corpos bem colados. Pelo que eu vi, não haviam adultos nesse lugar. Medo.


                Após ter de cumprimentar milhares de amigos do meu primo, finalmente encontramos o Marcinho. Ele era um dos melhores amigos dele, senão o que ele mais considerava. Era tão egocentrico quanto meu primo, talvez mais. A única diferença era que ele chamava mais atenção das garotas do que o Felipe. E tinha mais amigos também. Talvez por isso ele gostasse tanto do Marcinho, pois era alguém que, de certa forma, ele admirava.


                – Marcinho, beleza muleque? – perguntou Felipe, ao mesmo tempo que cumprimentava e abraçava.


                – Suave mano. E você? – respondeu Marcinho.


                – De boa. – Será que existia mais alguma maneira de dizer “tudo bem”?


                O Marcinho já me conhecia, mas fez questão de fingir que eu não estava ali. Talvez por isso que eu goste um pouco dele também. Ele não é de encher o saco. Isso é bom.


                – E a Yasmin? – perguntou Marcinho para o meu primo com cara de desinteresse, mas com meio sorriso sarcástico. Quando ele fazia essa cara é porque ele queria tocar na ferida.


                Felipe olhou pros lados tentando fingir que a pergunta não lhe afetava.


                – Eu que tenho que saber? Ela segue o caminho dela, eu sigo o meu.


                Eu estava gostando dos rumos daquela conversa. Eram raras as oportunidades de ver o Felipe desconcertado.


                – Então quer dizer que já era? – indagou Marcinho.


                – Não posso dizer que já era, porque nunca foi. – respondeu Felipe. – Vamos pegar uma bebida? – complementou, cutucando Will. Ele estava completamente desconfortável naquela situação.


                – Beleza. – respondeu Will.


                Quando vi, os dois já tinham saído. Marcinho me encarou por um momento e foi quando eu percebi que definitivamente teria de sair também. Eu os segui, então.


                A mesa com as bebidas havia sido montada mais para o fundo, perto da escada que dava acesso à casa. Tinham alguns copos com bebidas de diferentes cores. Azul, verde, branco. Mas não tinha nenhuma bebida preta, eu queria só uma Coca-Cola. Enquanto tentava decidir, um copo surgiu na minha frente como um convite.


                – Bebe essa aqui, primo. Você vai curtir. – era o Felipe com o que devia ser uma caipirinha de alguma coisa meio amarelada.


                Já que eu não teria opção, resolvi aceitar. Eu não costumava beber muito. Bebida alcóolica, pelo menos. A última vez que me lembre, foi num aniversário de família no qual beberiquei um pouco de vinho e fiquei sonolento, vermelho e com vontade vomitar. Nada de boas memórias. Mas eu não beberia o copo todo, prometi a mim mesmo.


                Dei o primeiro gole. Dois segundos para entender o que estava acontecendo. Maracujá. Umm, era bom. Vodka. Gelo. Realmente, meu primo tinha razão, curti. Resolvi então dar o segundo gole. Devo ter exagerado um pouco, pois quando afastei o copo da minha boca, só havia sobrado gelo nele.


                Olhei para os lados; as pessoas continuavam dançando ou em grupos conversando, mas não meu primo. Eu não o via. Olhei algumas vezes para os lados, tentando achá-lo, mas eu realmente não o via. Talvez tivesse sido a bebida. Achei melhor deixar o copo ali pela mesa mesmo e fui em direção à rua. Seu eu conseguisse ficar um pouco sozinho...


                Deve ter demorado por volta de uns 5 minutos para eu conseguir atravessar aquela garagem abarrotada de gente. Quando finalmente cheguei a calçada, percebi que na rua também tinha bastante gente. Não era bom sinal. Pra onde eu poderia ir pra me livrar daquelas pessoas que não paravam de me olhar de cima em baixo? Eu estava tão desarrumado assim? Olhei para o lado esquerdo da rua e percebi que era uma rua sem fim. Na verdade, dali onde eu olhava parecia que ela findava num grande gramado. Parecia perfeito para mim.


                Ao me aproximar, percebi que era um grande gramado natural abandonado que mais pra frente dava início a uma floresta. Apesar de parecer que não havia ninguém que cuidasse daquele gramado, ele era bonito. Haviam alguns flores, ou pelo menos pareciam flores, apesar da pouca iluminação que me dispunha. A medida que fui chegando mais pra frente, percebi que havia uma pequena arquibancada velha de madeira que, provavelmente, deveria estar abandonada por ali também. Talvez, no passado, pessoas usassem aquele espaço para jogar futebol. Subi dois níveis na arquibancada e sentei por ali. Fiquei por alguns longos segundos observando tudo a minha volta e, então, pus a mão nos bolsos para pegar meu celular. Ele seria meu único companheiro até o fim da noite. Nada. Não tinha celular no meu bolso. Será que eu tinha esquecido no carro dos meus tios? Será que alguém me roubou durante a festa? Sei lá. Só sei que agora eu teria de usar minha imaginação para ajudar o tempo passar. Ou então eu poderia aproveitar para dormir um pouco.


                – É isso que está procurando?


                Eu realmente pulei da arquibancada. Aquela voz doce e suave me assustou de uma maneira que eu nunca tinha visto na vida. Eu não estava esperando que tivesse ninguém por ali. Risadas leves e divertidas então vieram. Ela devia estar se divertindo com o fato de eu ter me assustado. Resolvi olhar para o lado para ver quem era.


                Ela usava um vestido amarelo que ia até a altura dos joelhos e um sapato de salto alto preto. Seus cabelos eram pretos lisos e seu rosto era muito bonito com olhos verdes vívidos e uma boca carnuda que me chamaram a atenção. Ela definitivamente era muito bonita. Foi então que percebi que ela estava em pé parada no mesmo nível que eu na arquibancada. Como ela subiu até ali? Eu não tinha ouvido barulho algum.


                – Você não vai falar nada? – indagou a moça, esboçando um sorriso delicioso. – Vai ficar aí com essa cara de bobo? – eu devia estar com uma tremenda cara de bobo mesmo.


                – É-é.. – eu não sabia bem o que ia dizer. – Como você... o que você tá fazendo aqui?


                Ela esboçou um sorriso ainda maior e mais charmoso.


                – Como você pode responder minha pergunta com outra? Seja educado, responda primeiro. Isso é seu?


                Foi então que percebi mais uma coisa. Ela estava com a mão direita levantada segurando um celular e apontando pra ele. Eu mirei bem o olhar. Era o meu celular!


                – É, é meu! Como você...?


                – Como você perdeu o próprio celular? Essa é a pergunta. – Realmente, como?


                – Não sei, eu pensei que tivesse deixado no carro dos meus tios. – respondi. Foi finalmente uma frase sem gagueiras.


                – Tá, vamos fazer assim então. O seu celular por um favor.


                Ela estava me chantageando?


                – Favor? – indaguei, incrédulo.


                – Isso. Você quer o seu celular de volta, não quer? É um direito seu, não é? E eu quero uma coisa que é minha de direito que uma pessoa me roubou. É justo.


                Engraçado como aquilo não fazia sentido nenhum pra mim, mas quando eu olhava para ela falando que era justo, eu realmente acredita que era justo.


                – Uma coisa sua que te roubaram? – Eu queria entender.


                – É. – respondeu ela, usando um tom de menininha carente. Eu gostava dela usando aquele tom e fazendo aquilo, queria que ela continuasse.


                – E o que seria essa coisa?


                Ela me fitou por um momento e se aproximou um pouco de mim, devagar.


                – É complicado de explicar assim. – Ela sentou-se ao meu lado. O seu perfume doce e suave então exalou ao meu lado.


                – E como eu vou conseguir te ajudar sem saber o que é? – indaguei.


                – Por que você não precisa saber pra me ajudar. Você só precisa estar disposto a me ajudar.


                Lá estava ela sorrindo de novo. Ela era linda, cheirosa, tinha uma sorriso irresistível e eu tinha bebido um copo de caipirinha. O que eu podia fazer?


                – Tudo bem, eu vou te ajudar. – falei, com um sorriso também.


                Ela então me abraçou de supetão.


                – Êêeee! – gritou. – Eu gravei meu número no seu celular. Vou te mandar uma mensagem amanhã com as primeiras instruções.


                Ela me entregou o celular.


                – Instruções? – perguntei, confuso.


                – Você vai entender. Agora eu tenho que ir, eu tenho uma festa que não estou nem um pouco afim de ir, mas se não for, o nosso trato não vai dar certo.


                Ela se levantou e começou a andar em direção a rua.


                – Peraí! – gritei. Ela parou, virou e me fitou. – Você nem me conhece e me pede pra te ajudar.


                Ela sorriu novamente. Aquele sorriso que me encantava.


                – É claro que eu sei quem você é. – ela parou por um momento – Renato Martins, 17 anos, 3º ano, Colégio Inca, estudioso, não muito sociável, odeia lugares muito cheios ou lotados e adora eletrônicos e videogame.


                Pasmo. Era como eu me encontrava no momento. Eu devia estar boquiaberto, mas aquela altura eu já não sabia.


                Ela se virou e começou a andar novamente em direção a rua. Eu parei para pensar por um momento, ela sabia meu nome, onde eu estudava, conhecia minha personalidade. Como? E quem era ela, afinal? Eu tinha tantas perguntas para fazer e ela estava indo embora. Eu não podia deixar aquilo acontecer. Eu me levantei, desci os degraus da arquibancada e corri um pouco em direção a ela.


– Eiii! – gritei. – Quem é você?


– As pessoas costumam me chamar de Yasmin! – gritou ela de volta, sem ao menos se virar para responder.


Ela continuou andando. E eu parei, chocado.


 

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