Um Erro Terrível



Foi no primeiro dia de aula que Sheeba notou. Sirius estava andando disfarçadamente, contando os passos, pelo corredor do terceiro andar. Aquilo intrigou a garota. Mais tarde, ela viu Tiago fazendo a mesma coisa, mas ele estava contando os degraus de uma escada... se ela não tivesse visto Sirius contando os passos no corredor talvez não notasse que Tiago fazia o mesmo... ele era bem mais discreto. Foi quando viu Pedro Pettigrew fazendo a mesmíssima coisa no corredor que levava  aos banheiros no segundo andar que ela concluiu que ali havia alguma coisa.  
    Pensando em descobrir o que eles estavam aprontando, ela perguntou para Tiago e Pedro, que disfarçaram e não lhe deram atenção... tinha uma forma de saber... talvez se provocasse Sirius, quando ele se esquentava, acabava falando as coisas...
    - Olá, arrogante! – ela disse, se aproximando dele     que saía de uma aula de transformação.
-    Ah, percebeu que existe mais um garoto na Grifnória além de Remo?- Sheeba notou que ele tinha um livro diferente debaixo do braço: “Cartografia Mágica – Mapeando e Monitorando Lugares Mágicos” .
-    Eu não sabia que se estudava Cartografia Mágica aqui.
-    E não se estuda... estou pensando no futuro. Quero trabalhar com isso.
-    Você? Pensando no futuro? O único futuro em que você pensa é a hora do jantar, para saber o que você vai comer...
-    Ah, garota, não enche... resolveu pegar no meu pé?
-    Por falar em pé, porque você e os seus amigos andam contando os passos pelos corredores?
-    Porque você não cuida da sua vida, hein? Vai lavar estas luvas imundas, Pitonisa Sabe Tudo.
-    MINHAS LUVAS NÃO SÃO IMUNDAS, SEU NOJENTO!
-    ÓTIMO! ENTÃO LIMPE O CHÃO COM ELAS – ele entrou num corredor e ela ficou ali matutando uma forma de descobrir o segredo deles. Repentinamente, ela bateu na testa... que idiota ela era! Estava nas mãos dela... bastava tirar as luvas e tocar por um instante Sirius Black. Como tinha sido burra.
    Mas então lembrou-se que recebera uma recomendação... não podia tocar em ninguém... não sem as luvas...era contra as regas. Mas era por uma boa causa não era? Ia perturbar Sirius Black dizendo que sabia um segredo dele e ainda ia saber o que afinal aqueles garotos astavam aprontando. Não seria tão difícil.
    No dia seguinte, saiu correndo de uma aula, para tocaiar os marotos, que saíam da aula de Defesa contra as Artes das Trevas. Atrás de uma pilastra ela os viu, era mais fácil que imaginava... Sirius vinha logo na ponta, seguido de Remo e Tiago. Ia ser fácil. Ela tirou as luvas e esperou eles estarem bem perto.
    Saiu como um raio de trás da pilastra. Sirius desviou-se e ela o perdeu e sua mão desenluvada bateu diretamente no peito de Remo Lupin. Um choque percorreu seu corpo, conforme ela sentiu uma dor intensa... fechou os olhos e viu uma lua cheia bem diante de seus olhos... e uma silhueta grande e amedrontadora... pôde ouvir um uivo longo e sofrido. Abriu os olhos para encarar assustada o não menos assustado garoto.
-    Sheeba... por que você fez isso? – Alvo Dumbledore disse bem atrás dela.

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    Lágrimas grandes desciam dos olhos de Sheeba, que olhava para as mãos cruzadas sobre suas pernas. Às vezes ela levava uma delas aos olhos para enxugar as lágrimas que insistiam em cair dos olhos... ela estava na sala do diretor, tentando achar uma explicação convincente para o que fizera... mas não achava. A lembrança do que descobrira sobre Remo Lupin ainda doía na alma da menina... não era para ter feito aquilo, ela sabia. Mas agora não tinha jeito. Encarou Dumbledore e disse:
-    Eu sei que isso não justifica... mas não era ele que eu queria tocar...
-    Sendo ele ou não, você foi recomendada para não tocar em ninguém sem suas luvas... o fato de ter tocado o pior aluno possível desta escola para ter um segredo revelado apenas torna isso um pouco pior. Eu só quero saber porquê. Porquê você fez isso, Sheeba?
Sheeba quedou-se muda. Ela queria descobrir o que os garotos estavam fazendo, mas não queria dizer  que achava que eles estavam aprontando alguma coisa... ela não era uma dedo duro.
-    Foi uma idiotice minha... eu brigo muito com Sirius Black, queria saber se ele tinha algum segredo para atormentá-lo... isso não é muito bonito, eu sei.
Dumbledore reprimiu um riso. Conhecia casos assim. Um casal que se cutuca até acabar se apaixonando... talvez eles fossem assim, talvez não, quem sabe? Mas a garota cometera um erro. Ele a encarou e disse:
-    Eu te chamei na minha sala apenas porque sou seu mentor e protetor... fui eu que a recomendei para o ministério da magia, eu sou o responsável por você até certo ponto... mas quem vai decidir sua punição não sou eu, mas a chefe da sua casa. Ela está do lado de fora, vou chamá-la.
Sheeba sentiu o chão sumir debaixo dos seus pés... além do Professor Dumbledore ia também decepcionar Viviane Lake, que entrou, uma expressão severa pairando pelos olhos azuis escuros, a boca contraída num ricto. Um toque e traíra a confiança de duas pessoas que admirava.
-    Obrigada por mandar me avisar, Prof. Dumbledore. – Ela olhou Sheeba, que encolheu ligeiramente na cadeira – Sheeba... você tem sido uma pupila de muito valor... mas cometeu um erro terrível e imperdoável. Se cai nos ouvidos dos pais dos outros alunos que você tem tocado alguns por aí...
-    Foi uma só vez!
-    Não importa... uma só vez, viu o estrago que provocou? Você imagina o que aconteceria com esse menino se descobrissem quem ele é? Ele foi recusado em diversas escolas, eles não queriam o problema... Foi uma sorte para ele que Dumbledore se tornasse diretor bem no ano que ele seria admitido... tivemos que convencer outros professores e até o ministério de que valia a pena mantê-lo aqui... entende as conseqüências do que você fez e como é importante que você guarde esse segredo?
-    Eu vou guardar.
-    Ótimo. Entende que eu tenho que te punir para que os outros saibam que nada os ameaça.
-    Entendo... – Sheeba esperava detenções por muito tempo e desconto de pontos para a Corvinal... nunca o que se seguiu.
-    Suas luvas estão bem abotoadas?
-    Estão.
-    Muito bem... estenda as mãos. – Sheeba estendeu as mãos imaginando o que aconteceria e Viviane tocou-as com a varinha, fazendo com que elas apertassem suas mãos por um segundo, depois parecessem normais novamente. A professora prosseguiu: - Agora as luvas estão conjuradas nas suas mãos... você pode tirá-las dez minutos pela manhã e quinze pela noite, após os quais elas voltarão para suas mãos. Esse tempo é para sua higiene pessoal. Fora isso, só com  a minha permissão você poderá tirá-las. Vou pensar se durante as férias vou te permitir retirá-las. E você perdeu doze pontos para a Corvinal.
Sheeba suspirou fundo, profundamente entristecida. Não havia punição pior. Então ela lembrou-se da cigana Zara e perguntou aos dois professores por ela. Eles se entreolharam e Viviane disse:
-    Zara abandonou a comunidade mágica há quase quarenta anos...ela foi a maior vidente que eu conheci.
-    Porque ela abandonou tudo?
-    Sofrimento. Ela não previu a morte de um filho e não se conformou com isso... foi viver com trouxas, até sua morte.
-    Ela não morreu... eu a vi há poucas semanas! – Sheeba disse enfaticamente
-    Ela morreu sim, Sheeba – disse Dumbledore. - No dia seguinte ao que você a viu. Ela só estava esperando você para isso. Zara era ótima até a amargura tomar conta dela... foi minha professora de adivinhação aqui em Hogwarts.
Fora da sala de Dumbledore, Sheeba procurou esquecer Zara. Não queria que a amargura tomasse conta dela também. Queria pedir desculpas a Remo. Não era justo que tivesse tocado nele, ele tinha que saber que com ela seu segredo estava salvo. Ia andando pelo corredor quando ouviu atrás de si:
-    Que vida você pretende arruinar agora? – Era Sirius. Mas não havia zombaria na sua voz. O garoto falava sério, como ela nunca vira.
-    Eu não fiz de propósito. Não era ele que eu queria tocar.
-    Eu vi. Você queria tocar em mim... antes eu tivesse deixado. Você ia poder ver exatamente o quanto eu te detesto, garota.
-    Sirius, eu...
-    Cale a boca e  escute o que eu vou te dizer... não conte nada sobre Remo...
-    Mas eu não vou contar...
-    Eu disse pra você ficar quieta – ele quase gritou – se eu sonhar que alguém soube por você que ele é... o que é, eu juro que eu te mato, garota – ele avançou para ela e a segurou pelo braço – eu juro que eu te mato. – ela o encarou com fúria
-    Eu nunca vou contar nada sobre ele... pode ficar sossegado.
-    Ótimo – Sirius largou o braço dela e saiu pelo corredor. Sheeba ainda virou-se para ele e perguntou:
-    Onde está Remo? Eu quero pedir desculpas.
-    Ele está trancado no dormitório, apavorado. Por sua culpa – Sirius disse sem se voltar.
Sheeba sentiu um nó na garganta vendo o garoto se afastar pelo corredor.

Foi só no dia seguinte que conseguiu ver Remo, que fugiu dela no primeiro minuto. Ela correu atrás dele e disse:
-    Remo por favor... me escute. – Ela contou toda a história desde a hora que vira Sirius contando passos pelo corredor até o momento em que o encontrara depois de ter saído da sala do Professor Dumbledore. Por fim pediu desculpas: - Eu juro que nunca vou contar a ninguém que você é assim... lembre-se que de uma certa forma eu sei o que é ser amaldiçoada – ela disse com amargura – ou você acha que se eu pudesse evitar alguém saberia que eu tenho essa coisa de toque premonitório? – O garoto a encarou, e teve pela primeira vez a consciência que a situação dela não parecia, mas era quase tão ruim quanto a dele... ela o encarava séria, e ele sabia que ela falava a verdade. Deu um breve sorriso, como lhe era habitual, ele não era de sorrir muito para quem não conhecia bem.
-    Tudo bem, Sheeba. Eu acredito. Você nunca ia contar a ninguém, eu sei.
    Sheeba deu um imenso sorriso aliviado, e sem saber exatamente porque, ele sentiu-se melhor.

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