RAPTO EM HOGSMEADE



    No dia seguinte, Harry foi a Hogsmeade apenas para não ficar mais sozinho do que já estava no castelo... sentia-se como parte da mobília: a Grifinória inteira o desprezava (justiça seja feita, Neville falava com ele muito envergonhado). Ao chegar em Hogsmeade, comprou alguns doces na Dedosdemel e resolveu ir para o alto da colina da casa dos gritos e ficar comendo doces sozinho lá, enquanto curtia a própria depressão adolescente: “Quem sabe eu não pego um feijãozinho sabor veneno e morro logo... nada se perde, Harry Potter, o canalha que se aproveitou de uma menina um ano mais nova para dar vazão à ira de seus hormônios e que levou à vergonha todo o time da Grifinória, eu decepcionei todos... eu não presto” ‒ Tinha esses pensamentos extremamente felizes (para um dementador, é claro) enquanto olhava um coche negro, sem cavalo nenhum, parado na colina à frente.
    ‒ Harry? ‒ A voz de Willy o assustou.
    ‒ Willy? ‒ ele se virou e seu queixo bateu no peito. Willy estava parada na sua frente, mas não era Willy, o Elfo Doméstico. Ela estava vestida em vestes mais justas, cor de ameixa, que deixavam ver como ela tinha um corpo de menina delicado, o cabelo castanho solto em volta do seu rosto, com reflexos dourados de sol. ‒ Willy, porque você está vestida deste jeito?
    ‒ Harry, essa é minha tia Sarina ‒ Então Harry viu uma bruxa, que devia ser um pouco mais velha que Sheeba, com cabelos longuíssimos de um louro prateado (parecia muito uma Veela), olhos azul-acinzentados e um rosto que parecia feito de gelo, de tão branco ‒ Eu vou embora, Harry, vou visitar minha tia Artêmis... parece que ela recobrou a memória. Dá para se despedir do Rony por mim?
    ‒ Sua... tia?  Mas Willy... eu..
    ‒ Harry? Harry Potter? ‒ a bruxa pareceu extremamente interessada em Harry ‒ Oh! Eu não vou embora de Hogsmeade sem tomar uma cerveja amanteigada com este menino ‒ Harry não gostou muito dela, mas era uma das tias de Willy, e ele resolveu aceitar apenas para ser educado.  
    O Três Vassouras estava numa confusão bem maior que a habitual, sua dona ganhara na loteria e arquitetos bruxos estavam por toda parte, tomando notas para o projeto de ampliação do bar. Chegou lá e viu Rony e Hermione conversando sentados. Seus joelhos se tocavam por debaixo da mesa, ele estava cor de rosa e ela parecia engasgada com as palavras... Harry rezou para que estivessem se acertando, e sentou-se com a mulher e Willy. Não conseguia conversar com Willy, que na presença da tia não só parecia, como também não era a mesma Willy, parecia feita de madeira, como um boneco. Então Willy pediu licença para ir ao banheiro e deixou-o só com a mulher... ele não estava mesmo à vontade, ela parecia querer adulá-lo... ele pediu licença, com a mesma desculpa de Willy e saiu rapidamente, escapando do bar lotado sem que a mulher o visse.
    Viu então que Willy corria povoado acima, rumo à casa dos gritos. Foi atrás dela e viu quando ela descia a colina e entrava no coche que ele vira mais cedo, e correu até ela bem a tempo de sentir que alguém invisível e muito forte o levantava pela nuca, quase arrancando um tufo de seus cabelos no processo, foi então jogado dentro do coche sem dificuldade nenhuma para o oponente invisível e bateu a cabeça, ficando inconsciente por uns instantes. Quando voltou a si, Willy estava olhando-o com um olhar apavorado:
    ‒ Harry... como chegamos aqui?
    ‒ Você não se lembra?
    ‒ Eu estava no três vassouras, lembro que disse alguma coisa e levantei, então senti uma vontade louca de correr até aqui... eu ouvi uma voz que me disse: “Sua mãe , se quer encontrá-la entre no coche” e quando dei por mim, você estava sendo jogado aqui dentro... o que aconteceu?
    ‒ Não sei, mas vamos sair daqui, ‒ disse ‒ a porta está trancada, vou fazer um feitiço  de destrancar portas ‒ pegou a varinha e disse:  ‒ Alorromorra ‒ mas nada aconteceu.
    ‒ Oh, não ‒ eu sei o que é isso... um coche isolado... deve ser muito antigo, não se fazem mais há pelo menos 100 anos!
    ‒ E agora, Willy?
    Foi quando a porta do coche se abriu e Rony e Hermione foram jogados dentro, provavelmente pelo mesmo oponente.
    ‒ Harry! Willy! O que vocês estão fazendo aqui dentro? ‒ perguntou Hermione ‒ como viemos parar aqui?
    -Vocês ouviram vozes? ‒ perguntou Willy?
    ‒ Na verdade, eu ouvi. Estava com Hermione no Três Vassouras, quando ouvi uma voz que me disse que se eu e ela viéssemos aqui.. deixa, esquece ‒ disse Rony corando.
    ‒ Vamos fazer um feitiço para abrir as portas! ‒ disse Hermione
    ‒ Não dá! Eu tentei e não consegui, esse coche é isolado contra mágica!
    Ouviram um relincho. E o coche começou a se mover, puxado por algum cavalo muito rápido.  Em pouco tempo estavam se locomovendo mais rápido que num automóvel, apavorados, em pânico. Mas em menos de um minuto, foram sentindo-se tranqüilos, como se estivessem sendo embalados por uma canção suave... Willy e Harry se olharam, sentindo os olhos muito pesados, uma moleza gostosa se espalhando pelo corpo, e aninharam-se um nos braços do outro, como bebês, Rony e Hermione fizeram o mesmo, e em menos de meio minuto, estavam dormindo profundamente, sem saber que rumavam para Londres.
    Harry não soube dizer quanto tempo dormira, mas quando acordou, estava tão tranqüilo, que nada no mundo podia fazê-lo acreditar que estava num lugar maligno ou coisa parecida, a carruagem ainda rodava, e os outros dormiam, pelos vidros ele podia ver que estava anoitecendo, e não entendia como estava tão calmo... passou de leve as mãos pelo cabelo de Willy... e compreendeu que gostava dela, e que não deixaria ninguém no mundo fazer nada com aquela menina... neste momento a carruagem parou, e todos os outros acordaram com um salto.
    Passaram-se alguns minutos antes que uma voz amedrontadora começasse a falar do lado de fora do coche, era uma voz profunda, gutural, como se viesse do fundo de um túmulo... Harry achou que aquela só podia ser a voz de um fantasma, ou de um morto vivo:
    ‒ Eu sei que a forma com que vocês foram retirados do povoado não foi a mais correta e peço perdão a todos por isso. Também sei que minha voz provavelmente amedronta mais ainda vocês que as circunstâncias, mas peço que confiem em mim: não sou um Comensal da Morte...  para provar, deixo que vocês saiam daí e me vejam, com suas varinhas na mão. Se não confiarem em mim podem fazer o que quiserem, eu só peço que não me julguem pela minha voz ou aparência.
    A porta do coche abriu-se de um golpe, aos poucos eles saíram de dentro do coche, sentindo o medo voltar... estavam na beira de uma floresta, a noite caía rápida e as árvores punham no chão sombras aterradoras, mais adiante, para completar o quadro lúgubre, Harry pôde divisar as silhuetas de túmulos... estavam perto de um cemitério, e seu coração gelou... a última vez que estivera num cemitério...
    Uma figura de mais de dois metros de altura, encapuzada, com os braços abertos estava diante deles, contra o resto de luz do pôr-de-sol. Ele mostrava silenciosamente que não tinha varinha alguma, e eles não sabiam o que fazer, então, o ser estranho, como se fosse um mágico de circo, levantou uma manga da camisa, depois a outra, mostrando a eles que realmente não possuía a marca das trevas. Levantou seu rosto encapuzado, e lentamente desceu o capuz que o escondia. Willy deu um grito.
    Debaixo do capuz, mesmo cortado por uma cicatriz diagonal que ia de um lado ao outro do rosto, ela pôde reconhecer o rosto de seu pai. Harry também gritou. Poucos metros atrás do homem, Sirius e Sheeba  saíram de trás das árvores.

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