E ONDE ESTAVAM SIRIUS E SHEEBA



Sheeba descansava tranqüilamente deitada numa esteira de palha, flutuando a três metros do chão. Acima dela um guarda sol de mais de dois metros de largura impedia que o mínimo raio de sol a atingisse.  Se tinha uma coisa que ela realmente não gostava era de bronzear a pele, estava de maiô negro e lia a última edição da revista “Bruxa Semanal”. Ela e Sirius haviam levado sua casa havia três semanas para aquela praia, muito, muito, muito longe de Hogwarts e principalmente de Londres. Era uma pequena e deserta ilha, ideal para uma lua de mel, mas que depois de algum tempo, ela estava achando muito chata.
    Sirius por sua vez estava se divertindo horrores! Descobrira o surf !!! Porém, como quase todo bruxo que se preza, não queria fazer as coisas do modo normal, encantara uma prancha com um feitiço especial e além de surfar na água, de vez em quando ele levantava vôo e ele passava bem por cima de onde Sheeba estava, acenava para ela, que acenava de volta entediada. “Mulheres, ‒ ele pensava,‒ quinze anos planejando uma lua de mel numa praia deserta, e fica com essa cara o dia inteiro”. Na verdade, Sirius estava fazendo a coisa certa para esquecer os últimos quatorze horríveis anos que vivera, em que os momentos bons tinham sido muito poucos, mas não sabia que Sheeba estava muito preocupada porque, como sempre, sabia quando algo ruim ia acontecer.
    E afinal de contas, ali era o paraíso... havia de tudo para deixá-la feliz, uma natureza exuberante, era um lugar maravilhoso, fora ali que se escondera com Bicuço quando escapara de Hogwarts, não havia homem nenhum, bruxo ou trouxa, por quilômetros em volta da costa da ilhota. Ele se preocupara com isso: conjurara um feitiço antitrouxa para fazer com que os barulhentos aviões e os chatos navios passassem bem longe da ilha... era a sua ilha... agora, tinha até um cavalo que ele não sabia de onde tinha vindo, mas que era muito benvindo: ele adorava levá-la para passear no fim da tarde sentada atravessada na frente do cavalo, a cabeça apoiada em seu peito.
    A única coisa que realmente chateava Sirius eram as tais corujas. O dia inteiro chegavam corujas para Sheeba, que abria as cartas numa ansiedade que realmente o deixava doente de ciúmes. Principalmente se a coruja era caolha e amarelada, porque aí ele sabia que era uma carta do tal Sobrenatural de Almeida, um brasileiro que ele não conhecia, não sabia quem era, nunca vira, mas decididamente detestava. As amigas dela também mandavam muitas cartas que ela (que absurdo! ‒ ele pensava) não deixava ele ler de jeito nenhum: ele conhecia muito bem a coruja cor de cereja de Silvia Spring (essa uma vez veio com uma carta para ele mandada por Lupin, o que era muito estranho...), a vermelha de Beth Fall e a cinzenta com  olhos prateados de Liza LionHeart. E havia Edwiges, que trazia notícias de Harry, a única coruja que ele gostava de ver aparecer no horizonte.
    E foi Edwiges mesmo que ele viu sobrevoar elegantemente a praia aquela manhã, para depois pousar suavemente ao lado de Sheeba e bicar-lhe delicadamente a mão direita, com carinho. Sirius apontou sua prancha para a praia e levantou vôo dando a volta atrás da esteira e parando em pé na prancha, bem ao lado de Sheeba, que começou a ler em voz alta:

    “Oi Sirius! Oi Sheeba!
    Aqui está tudo bem, tirando o fato meio chato de que Rony pegou um resfriado de seburrêlho e vai ficar até o fim do mês na ala hospitalar. A coisa boa disso tudo foi que o Malfoy pegou o mesmo resfriado que ele e também está lá, com o nariz vermelho. Bem feito”
    ‒ Ele tem que redirecionar esse ódio para coisas produtivas, Sirius...
    ‒ Se ele redirecionar o ódio para o nariz do filho de Lúcio Malfoy, está tudo bem... ‒ Sheeba olhou-o de cara feia e continuou:
    “ Hermione está louca para saber quando ela e Sheeba vão começar as aulas, e não vê a hora de vocês voltarem.”
    ‒ Não faça essa cara, Sirius, não podemos ficar em lua de mel o resto da vida.
    “Como o cretino do Malfoy está doente, Sonserina tem uma nova apanhadora, por sinal muito boa. Ela me preocupa, Sirius, tenho medo de perder para ela e virar piada na escola”
    ‒ Se acontecer isso, realmente eu vou ficar chateado com ele... Tiago nunca perdeu para uma mulher!
    ‒ Porque vocês levam isso tão a sério, hein? É só quadribol!
    “Tenho me correspondido com Bianca Fall... ela é legal.”
    Aqui Sirius e Sheeba deram-se um olhar satisfeito e concordaram com a cabeça.
    “Mas aconteceu uma coisa meio estranha...”
    ‒ Oh, oh ‒ disse Sirius, ‒ A última vez que ele me escreveu isso numa carta não gostei do que veio depois...
    “Ontem estávamos tendo uma aula teórica com o professor Snape e ele estava falando das poções que não podem mais ser feitas porque precisam ser cozidas em fogo sagrado, e não existe mais fogo sagrado... bem, o fato é que quando eu caí na fenda das gárgulas, aquela gárgula, o Gérard, lembra dele, Sirius? “
    ‒ Como se gárgulas fossem a coisa mais esquecível do mundo...
    “Bem, ele tinha uma tocha de fogo sagrado. Isso é ruim ou bom?”
    Sirius e Sheeba olharam-se atônitos. Sirius disse:
    ‒ Gárgula, fogo sagrado... fogo sagrado, gárgula... ISSO NÃO É RUIM, É PÉSSIMO!!!
    ‒ Vamos voltar agora ‒ Sheeba disse ‒ Mas antes deixa eu terminar a carta:
    “Eu fiquei sem graça de falar disso com o professor Snape (ainda acho que ele não gosta de mim...) e depois acabei esquecendo. Vocês acham que eu devo falar com Dumbledore?
    Espero que esteja tudo bem com vocês e com o Bicuço, mandem lembranças para a motocachorro e pro Smiley.
    Um abraço
    Harry.”    
‒ Muito bem ‒ Sirius agora parecia o velho Sirius ansioso da época da clandestinidade ‒ A primeira providência é mandar Edwiges na nossa frente, dizendo para ele comunicar isso com urgência para Dumbledore. Depois nós vamos voando e tentamos tomar alguma providência .
    ‒ O que você acha de falar com o Ministério?
    ‒ O Ministério? Sheeba, realmente eles continuam agindo como se Voldemort não houvesse voltado, como se nada estivesse acontecendo. Eles são capazes até de jurar que isso é invenção de Harry. Só podemos contar com uma pessoa, aliás com duas: Dumbledore e Lupin.
    ‒ Então ‒ disse Sheeba acabando de amarrar uma carta na pata de Edwiges ‒ Desculpe querida, sei que você tem voado muito, mas é urgente. Vá Edwiges! ‒ a coruja levantou vôo e sumiu no ar ‒ Vamos arrumar nossas coisas.

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