NA FENDA DAS GÁRGULAS



‒ Harry, Harry! ‒ Um sussuro despertou sua mente aos poucos... era a voz de Sirius, tirando-o de um sonho... um sonho com Lord Voldemort. Os dois caíam rodopiando nas trevas e ele gritava a plenos pulmões. Não sentia dor em sua cicatriz, ele não estava por perto, ainda não. Harry sentia seu corpo ser comprimido, como se estivesse entre almofadas que se mexiam. Abriu os olhos e estava de frente para Sirius, mas seu corpo estava preso às almofadas, ou o que quer que fosse que o circundava.
    ‒ São ratos ‒ Sirius disse ‒ estamos num poço cheio de ratos .
    Harry olhou a sua volta. Ele não sabia exatamente onde estava, mas com certeza era um lugar arrepiante. Viu Hermione, depois Rony, ambos inconscientes. À sua frente, de costas para Sirius, bem no meio do poço viu a parte de trás da cabeça de Sheeba, ela parecia inconsciente também, e, ao lado de Sirius, viu o rosto duro e desperto de Severo Snape. Estavam todos dentro de um poço cheio até a boca com ratos.
    ‒ Harry, eu preciso saber de uma coisa... você está se sentindo fraco?
    ‒ Não. Me sinto normal. Talvez um pouco tonto, mas normal.
    ‒ Você está usando a roupa que Sheeba lhe deu?
    ‒ Estou.
    ‒ Ótimo, escute o que eu vou te dizer...
    ‒ Ora, ora, ora... Uma reunião de família... A voz aguda e guinchosa de Rabicho enchia a imensa caverna. Ele se aproximou do poço e disse:
    ‒ Realmente, fui muito mais produtivo que imaginava... Quem diria que o velho Rabicho ia pegar de uma vez só dois inimigos e um traidor... Hoje é meu dia de glória...
    ‒ Pena que ele não vá durar muito ‒ Sirius o olhava com olhar desafiador ‒ Então, seus ratos continuam não funcionando, veja, nada acontece comigo, nem com Harry, nem com Snape... parece que seu mestre não vai gostar disso...
    ‒ É, mas temos aqui três pessoas começando a morrer... a pequena Granger... uma inteligência que se perde.
    ‒ Não se perde nada! ‒ Das sombras ao fundo da caverna ouviu-se uma voz feminina. Um vulto vestido de azul aproximou-se.... Sibila Trelawney, com sua cara fina e chupada e seus olhos de libélula. ‒ Olá Potter. Você é convidado da minha iniciação. Aliás convidado de honra.
    ‒ Ela não é linda? ‒ A voz estridente de Rabicho entremeou-se de risos. Ele se aproximou de Sibila e os dois se beijaram na boca. Harry nunca sentira tanto nojo em sua vida.
    ‒ Vocês realmente se merecem. São feitos um para o outro.
    ‒ Hoje acaba sua era, Harry Potter ‒ Sibila disse entredentes ‒ Finalmente minhas profecias vão se tornar verdade... o garoto de ouro de Dumbledore vai se tornar... passado.
    ‒ E quem te garante isso, Sibila... Você não é Sheeba, que eu saiba até hoje só acertou uma ou duas profecias...
    ‒ Quem te disse isso Potter? ‒ Sibila gritou histérica ‒ Por acaso foi a perfeitinha da sua madrinha? A que não erra?
    ‒ Ela nunca errou. Você nunca acertou, apenas deu sorte.
    ‒ Sorte? Eu te digo quem deu sorte. Eu sempre fui uma aluna aplicada, eficiente. Quando entrei para a escola tinha esperança de prever o futuro, era fascinada pelas artes... Minha mãe era uma grande vidente, tinha o toque de Cassandra... Qual não foi minha decepção quando eu descobri que nascera sem nada? Sem nem um pouquinho de visão... Quando fui para Hogwarts, soube que estudaria com uma menina extraordinária. Eu fiquei ansiosa para conhecê-la... mas ela não era nada extraordinária. Ela arrogante, distante... me desprezava. Eu a odiei desde o primeiro momento que a vi, e minha raiva só aumentou com o tempo... ela era uma vidente conceituada, e eu... bem,  riam de mim pelas minhas costas. Então eu me especializei em feitiços de confusão... Se eu não podia prever nada, ninguém mais poderia.
    ‒ Mas ela desapareceu... evanesceu, sumiu. Eu agradeci ao Lord das Trevas: suas artimanhas afastaram de mim o inimigo... Eu me candidatei à cadeira de professora de adivinhação em Hogwarts, que ela recusara. Dumbledore aceitou por causa de meus conhecimentos, mas nunca me deu valor, fui me isolando naquela torre, até que... há dois anos descobri que finalmente havia feito uma previsão correta. Eu soube. Eu sabia que eles estavam vivos. Decidi deixar de ser a grande incompetente e me tornar uma Comensal da morte, fui pessoalmente ao Lord das Trevas... escolhi uma aluna que me procurara para uma consulta e com uma poção polissuco muito potente e um fluido de delírio, troquei de lugar com ela, simulei um mal súbito e ela foi levada em meu lugar para o St Mungos, ... eu ficaria até o dia da minha iniciação, então, simularia minha morte e a dela... seria fácil. Eu me tornaria uma falsa morta assim como meu querido Pedro...e você, Potter, seria considerado facilmente culpado da morte dela, nós armaríamos tudo, nosso plano era perfeito. Depois, eu e Pedro soltaríamos os ratos em Londres, e seríamos os maiores assassinos de trouxas entre os Comensal da mortes.
    ‒ Então ela reapareceu...Sheeba. Eu sabia que meus feitiços de confusão corriam perigo, fugi da escola, mas fui seguida pelo maldito Snape... eu e Pedro imaginamos que tudo ia dar errado, mas você, seu padrinho e seus amiguinhos vieram aqui para nos ajudar... se enfiaram na boca do lobo, seus imbecis. Agora, vão morrer... ‒ Neste momento, Rabicho invocou
    ‒ Ó Lord das Trevas! Quem te invoca é teu servo mais fiel! Venha, venha até mim, Lord Voldemort, à beira do precipício da fenda das Gárgulas eu te invoco como há mil anos os antigos lordes convocavam o próprio mal.
    A palavra “precipício”, provocou um deja vù em Harry... precipício... o que tinha demais num precipício? Neste momento, uma dor aguda e quente, como se lhe partissem a face em duas tomou conta de sua cicatriz... Pouco acima dele, no lado oposto, Voldemort aparatou. Harry o vira há quase um ano já, mas lembrava-se perfeitamente da sua aparência... a mesma cara de cobra, os olhos oblíquos como olhos de gato, vermelhos e injetados. Suas mãos grandes e brancas. Ele se aproximou do poço e começou a rir, sua risada subindo à medida que ele ia vendo quem estava dentro do fosso.
    ‒ Rabicho... eu nunca esperaria algo assim de alguém tão pusilânime e incompetente... Você me surpreendeu. O próprio Harry Potter... meu inimigo, e fora da proteção de Dumbledore, Snape o traidor, Sirius, o herói... E ela... a pitonisa, a última.... todos reunidos para o sacrifício... Sua noiva merece o que vou lhe dar...
    Voldemort aproximou-se de Sibila e pegando seu braço esquerdo, cravou-lhe as unhas na carne. A mulher gritou insanamente... O sangue escorreu pelo seu braço formando uma marca... uma caveira com uma cobra saindo da boca... a marca das trevas, identidade de todo Comensal da morte. Ele começou a rir alto, a mesma gargalhada que até o ano anterior, Harry só conhecera em seus pesadelos.  A dor em sua cicatriz era insuportável. Voldemort se aproximou da beira do poço.
     ‒ Black... eu sempre achei que fosse te trazer para o meu lado... sempre rebelde, achava que acabaria te fazendo deslizar... mas você resistiu, não foi, resistiu ao meu chamado... foi por causa dela ou de seus amigos nobres? Creio que nem você sabe dizer... se os ratos de Rabicho não acabarem contigo, eu mesmo o atirarei no precipício, mas antes, vou te dar uma visão... a morte do ser amado. Não de uma vez, aos poucos, com sofrimento. Eu sei que ela está aí há mais tempo que os outros... talvez nem dure tanto... Crucio! ‒ Harry podia ver o corpo de Sheeba contorcer-se atrás de Sirius
    Harry lamentou que Sheeba tivesse lhe dado aquela roupa... se pelo menos os ratos o enfraquecessem, assim ele poderia morrer antes de ver todos que amava serem destruídos... então, ele lembrou o que a palavra precipício lhe lembrava... resolveu arriscar e gritou a plenos pulmões:
    ‒ Que grande covarde é o mestre das trevas!
    ‒ Está me desafiando, Potter? ‒ Voldemort parou de torturar Sheeba e olhou para Harry.‒ Daqui posso te matar sem precisar tocá-lo.
    ‒ Exatamente. Isso é fácil, não? Sem proteção, sem Dumbledore... e ainda assim, está 2x0 para mim... mesmo que você me mate agora, eu já te derrotei duas vezes... começo a acreditar que mesmo que você me mate, eu ganho.
    ‒ Mas eu vou te matar, de forma lenta e dolorosa...
    ‒ E covarde, não é mesmo? Indefeso, dentro de um fosso com ratos, você nem foi capaz de me pegar, Voldemort... precisou deste aí, que quando foi pego por Sirius não tinha sequer coragem de dizer seu nome... Solte-me, vamos duelar. ‒ Voldemort começou a gargalhar.
    ‒ Então, você insiste em morrer exatamente como seu pai, não é mesmo? Eu vou fazer sua vontade. Rabicho, solte-o. ‒ Harry procurou ignorar o olhar de Sirius e Snape, um olhar idêntico que dizia: “Ficou maluco???” Harry foi suspenso no ar por Rabicho, e caiu bem de frente para Voldemort... Parecia que fora ontem que isso acontecera pela última vez (deja vù de novo, pensou Harry). A cicatriz continuava a doer.
    ‒ Mas não pense que você vai duelar com sua varinha, não. Eu sou inteligente o suficiente para saber que nossas varinhas não podem lutar uma contra a outra... Dê a ele outra varinha, Rabicho, qualquer varinha que não a dele.
    Se Harry calculara certo, não precisaria de varinha... atrás de Voldemort, pouco depois do fosso, uma fenda se abria... ele estava certo, era a fenda das gárgulas que estudara exatamente aquela semana na aula do Professor Bins. Voldemort estava de costas para ela, se fosse rápido suficiente, conseguiria o que queria sem precisar de sua varinha, ou de qualquer espécie de magica. Apenas de seus reflexos, que afinal de contas, eram bons...
    ‒ Muito bem... Você começa, Voldemort...
    Voldemort ergueu a varinha (...o que você vê?), Harry atirou a varinha que estava em sua mão dentro do fosso dos ratos (...apenas você e o lord das trevas...)  e correu na direção de Voldemort (...lutando?) e saltou, atirando todo seu peso sobre o corpo dele. (...não, caindo) O Lord das Trevas perdeu o  equilíbrio e ambos rolaram para dentro do precipício.


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