SHEEBA



Harry abriu os olhos, era a manhã do passeio para Hogsmeade. Era o primeiro dia da primavera. Mentalmente recapitulou as instruções que Sirius lhe enviara pela última coruja: deveria levar uma coleira ao passeio, e com ela fingir passear com Sirius em sua forma canina. Seria a única oportunidade este ano de estar com seu padrinho. Sirius estava totalmente empenhado em capturar Rabicho com vida e assim livrar-se da condenação que o transformara em um  bruxo renegado quatorze anos antes. Não deixava de ser engraçado que para tomar uma cerveja amanteigada com seu padrinho este necessitasse estar disfarçado como um imenso cão, mas ele já estava acostumado com essas coisas, afinal desde que entrara em Hogwarts sua vida podia ter sido tudo, menos normal. Levantou-se e deu de cara com Rony, que disse animado:
     ‒ ̶̶Então, pronto para encontrar Almofadinhas?   
    ̶̶ ‒ Claro.
     Encontraram Hermione no salão comunal da Grifnória, e ela já trazia escondida em sua mochila a coleira de Bichento, seu gato, devidamente aumentada por um feitiço. Parecia bastante animada neste dia:
    ̶̶ ‒ Acho que nunca fiz um feitiço de aumento tão rápido e bem feito! Espero que a coleira não incomode Almofadinhas.
    ̶̶ ‒ Oh! Só ela sabe fazer feitiços de aumento ‒ ̶̶disse Rony irritado -̶̶... A grande senhora sabe tudo e seu gato psicopata.
     ‒ ̶̶Se não fosse meu gato talvez você estivesse andando com um animago dentro do bolso até hoje.
     ‒ ̶̶Será possível que vocês não conseguem parar de brigar? ‒  ̶̶Harry irritou-se.  No último ano as picuinhas de Rony e Hermione haviam aumentado depois que ela começou a receber corujas regulares de Victor Krum, capitão do time de Quadribol profissional da Bulgária e admirador confesso de Hermione.
    Cerca de meia hora depois chegaram ao lugar combinado. Um grande cão apareceu e os levou para trás das árvores. Lá, transformou-se em Sirius. Estava com uma aparência bem diferente da última vez que Harry o vira, e surpreendentemente usava roupas de trouxa, mas não exatamente roupas comuns. Seu cabelo estava curto, seu rosto menos magro que da última vez que o vira. Usava uma jaqueta de couro preta  bem surrada, com um grande cão desenhado nas costas, uma camiseta preta comum e uma calça surrada e rasgada que um dia havia sido preta.
     ‒ ̶̶Tenho andado assim entre os trouxas para não chamar atenção. Perdemos Voldemort novamente, ele mandou Rabicho para Londres, onde, escondido nos túneis do velho metrô, estaria se encontrando com um outro seguidor  de Voldemort, provavelmente o renegado Karkaroff, que também foi visto por lá... Se conseguir apanhar os dois, ou um deles, tenho uma chance de limpar meu nome.  Lupin me espera lá para tentarmos surpreendê-los. ‒  ̶̶Como sempre, Sirius parecia preocupado, mas em seguida abriu os braços e perguntou:
    ̶̶ ‒ Então, Harry, Rony e Hermione, pareço um trouxa?
     ‒ ̶̶Parece um cantor de rock. ̶̶disse Harry, contendo o riso diante do guarda-roupa extravagante do padrinho.
     ‒ ̶̶Ou um motoqueiro.  ‒ ̶̶ completou Hermione rindo.
    Harry imaginou a cara de Tia Petúnia diante de alguém usando roupas parecidas com aquelas e riu para si mesmo.
     ‒ ̶̶Eu costumava usar isso quando tinha minha moto. ‒ ̶̶suspirou Sirius ‒ ̶̶Pena que ela esteja confiscada.
    Harry conhecia a história da motocicleta voadora gigantesca que Sirius usava quando era o melhor amigo dos seus pais. Antes que se sentisse triste propôs que rumassem para Hogsmeade. Sirius transformou-se num cão gigantesco e Hermione pôs nele a coleira que Harry segurou, preocupado em lembrá-los a história combinada:
     ‒ ̶̶Se perguntarem...
     ‒ ̶̶Já sabemos. -̶̶ disse Rony, com uma cara impaciente ‒ ̶̶este cão pertence a Dumbledore e o levamos para tomar cerveja amanteigada... Só mesmo um cão que pertencesse a Dumbledore tomaria cerveja amanteigada, não é mesmo?
    Voltaram em direção a Hogsmeade e foram direto ao “Três Vassouras” onde sentaram em uma mesa no canto. Madame Rosmerta não gostou muito da presença do cão, mas ao dizerem que pertencia a Dumbledore, a proprietária do bar pareceu aceitar melhor o bichão.  Harry derramou uma garrafa de cerveja amanteigada num prato e Sirius começou a lambê-la com muita satisfação.
    Alguns minutos mais tarde entrou no bar uma bruxa e instantaneamente um silêncio mortal abateu-se sobre o salão. Harry achou que já a tinha visto em algum lugar. Era uma mulher de estatura mediana, razoavelmente bonita. Tinha cabelos negros muito longos e olhos muito negros, com pestanas espessas lhe aveludando o olhar. Era branca como a neve e tinha no meio da testa um sinal, o que logo chamou atenção de Harry. Não era uma cicatriz, como a sua, parecia mais um sinal de nascença, escuro, em forma de foice. Também não usava veste de bruxa comum, mas um corpete muito apertado (Harry nunca havia visto uma mulher com uma cintura tão fina), sobre uma camisa de mangas compridas de um azul cobalto escuro e brilhante, calças compridas pretas como o corpete, botas de saltos altíssimos e luvas de couro também pretas e uma capa, do mesmo azul por dentro e negra por fora,  com um capuz, que trazia descido às suas costas. Conforme avançava para dentro do salão, as pessoas iam se afastando dela, como se não  quisessem tocá-la.
    Ao vê-la, Sirius se engasgou e se encolheu atrás de Harry. Parecia que não queria ser visto pela mulher, mesmo em sua forma canina. Ela tocou a sineta no balcão, e o som morreu no ar.
    ‒ ̶̶Rosmerta! ̶̶ disse sorrindo sem se incomodar com o silêncio sepulcral a sua volta ̶̶ Eu gostaria de tomar meu café da manhã, você sabe o meu pedido. Vou sentar ali.
     Para surpresa de Harry, Hermione e Rony, a mulher apontou diretamente para  a mesa deles. Ela pareceu notar o medo no ar, com uma expressão de estranhamento:
    ‒ ̶̶Podem ficar tranquilos ‒  ̶̶completou, mostrando as costas das mãos enluvadas ‒  Não pretendo prever a morte de ninguém neste salão.
    Rapidamente tudo pareceu voltar ao normal, tudo menos Sirius, que se agitava muito, mas sem sair do lugar.  A mulher se abaixou ao seu lado, sem temer o rosnado e os dentes que Sirius lhe mostrava e disse bem baixo:
     ‒ Não se preocupe, Almofadinhas. Eu sei que você é inocente. ‒ disse e abriu um lindo sorriso, passando a mão na cabeça dele como se fosse um cãozinho de estimação, o que deixou todos na mesa, inclusive Sirius, completamente atônitos. Levantou-se e disse:
     ‒ Harry Potter. Eu te peguei no colo. Posso me sentar? ‒ E antes que qualquer um dos três protestasse, puxou uma cadeira e sentou-se de pernas cruzadas sobre a cadeira, olhando de um para o outro sorridente, sem se incomodar com seu espanto. Hermione sentiu uma onda de raiva e protestou:
     ‒ Quem você pensa que é para sentar assim na nossa mesa?
     ‒ Calma ‒ disse a mulher tocando de leve os dedos de Hermione ‒  ...Hermione Granger,  temos mais em comum do que pode parecer. Eu também nasci trouxa e fui monitora chefe da minha casa em Hogwarts.
     ‒ Mas eu não sou...
     ‒ Não é ainda, querida ‒ a mulher sorriu, já tocando na mão de Rony, antes que este pudesse retirá-la do seu alcance:
      ‒ Rony Weasley. O sexto em sete filhos...Um futuro muito melhor que o passado te aguarda. Você vai ser o maior de sua família, maior até que seu pai, que vai ser ministro da magia. E vai fazer um ótimo casamento. ‒ Disse isso e deu uma piscada marota na direção de Hermione.
    Rony e Hermione coraram, embaraçados, como pimentões. A mulher parou de sorrir e olhou para Harry. Ele engoliu em seco, certo que teria uma série de previsões sombrias pela frente. Neste instante o pedido da mulher chegou: licor de sangue de dragão e um estranho sanduíche de folhas negras. Distraidamente acabou tocando a mão da dona do bar, que estremeceu ligeiramente:
     ‒ Rosmerta, não tenha medo de mim: tenho uma coisa boa para te dizer: prepare-se para aumentar o seu bar. Você vai ser a próxima ganhadora da loteria dos bruxos.
     ‒ Mas eu nem jogo.
    A mulher ficou séria:
     ‒ Vai aparecer aqui dentro de três dias um mascate magro, desdentado e careca vendendo coisas, entre elas  um bilhete da loteria branco e verde. Compre-o. Não deixe sua sorte para quem não a merece. Se você não comprá-lo, um bruxo, amante das artes das trevas, o comprará.
    Rosmerta saiu e foi refugiar-se atrás do balcão, mesmo sendo boa, a previsão da mulher a assustou. Ela voltou seu olhar de novo para Harry.
     ‒ Harry Potter. Nunca te disseram que além de um padrinho, você também tinha uma madrinha?
    O queixo de Harry caiu. Agora sabia. A mulher estava ao lado de sua mãe na foto do casamento dos seus pais. Ele não a reconhecera porque ela era então realmente diferente, assim como Sirius. A sua cabeleira na foto estava cortada e uma franja escondia o sinal em forma de foice.
     ‒ Meu nome é Sheeba Amapoulos, e eu sou sua madrinha. Não se assuste, não vim para prever sua morte, deixo estas previsões idiotas para Sibila Trelawney ‒ disse e sorriu ‒ Eu fui a melhor amiga de sua mãe, assim como Sirius Black foi o melhor amigo de seu pai. Infelizmente eu previ, mas não pude evitar sua morte, mas também previ e disse isso a ela, que você livraria o mundo de Lord Voldemort.
    Uma série da cabeças voltou-se para a mulher, olhando-a com censura. Como Sirius, ela também não temia Voldemort, e não se incomodava em pronunciar seu nome.
     ‒ Harry, eu tenho muitas coisas para te contar, preciso explicar para você porque você nunca soube da minha existência, mas primeiro preciso acertar algumas coisas com... com ele. ‒  Disse e apontou o cão que ganiu e em seguida rosnou para ela. Ela sorriu e disse:
     ‒ Estou acostumada com este tipo de manifestação, cães detestam quem tem o Toque de Prometeu. ‒  Tranquilamente começou a comer o sanduíche de folhas, e bebericar o licor vermelho e fumegante.
     ‒ Sabe Harry, estas folhas só nascem nas Florestas Negras da Morávia, são o alimento preferido dos unicórnios. Crescem debaixo de gelo e tem mais nutrientes que qualquer outro alimento. Certa vez eu fiquei dias sem comer mais nada, apenas me alimentando delas e acredite, não senti nem um pouco de fome. Você deveria experimentar...
     Hermione parecia curiosa, interrompeu-a com olhar inquiridor:
     ‒ Como você pode prever o futuro? Sempre fui informada que esse era um campo bastante impreciso da magia...
     ‒ E é. Provavelmente sua genial professora de adivinhação... eu sei, no seu caso ex-professora, Mione. Posso te chamar de Mione? Bem, como eu ia dizendo, provavelmente Sibila explicou a vocês que isto é uma questão de dom... existem vários tipos de dons premonitórios, uns mais e outros menos precisos, uns com maior ou menor alcance. Compreenda que o Tempo, Mione, é algo muito sutil... Quando o futuro passa a ser presente? Ninguém sabe. Algumas mentes, e isso nada tem a ver com inteligência, podem enxergar o futuro e o passado ao mesmo tempo em que vêem o presente. E não pensem ‒ disse olhando diretamente para Rony ‒  que isso é uma bênção. Vocês viram minha "popularidade" quando eu entrei aqui...
     ‒ E que tipos de dons são esses? Nunca li nada a respeito...
     ‒ Hermione, existem algumas pessoas que não vêem o futuro, mas do qual é impossível esconder qualquer coisa que se tenha feito no passado. São os farejadores da verdade. Ao olhar nos seus olhos, e somente assim, o farejador vê se você está ou não mentindo, e também exatamente o que está escondendo. É como ter um frasco de veritasserum sempre à mão...Muitos bruxos e até mesmo trouxas têm esse dom. Infelizmente, os bruxos das trevas descobriram que os farejadores podem ser parados se seus olhos forem furados. Conheci muitos que perderam o dom desta forma...
     ‒ Existem alguns capazes de dizer o que ninguém seria capaz sobre eventos futuros, notadamente tragédias. Mas suas premonições muitas vezes não são levadas a sério, e inúmeras vezes são completamente inacreditáveis, pois estes não vêem o futuro comum, apenas o extraordinário. Estes, têm o Toque de Cassandra. ‒ Sorriu maliciosamente ‒ Sibila Trelawney daria a vida para ter o Toque de Cassandra.
     ‒ Existem ainda os fatalistas. Ao olhar para uma pessoa, o fatalista sabe sem dúvida que dia, hora e lugar a pessoa vai morrer, o que você pode imaginar, não é muito agradável. A maioria dos que eu conheci está no Hospital St. Mungos... este dom enlouquece qualquer um.
     ‒ Além destes e outros dons premonitórios, qualquer um pode receber  o “Sopro das Parcas”, premonições que saem sozinhas da teia do tempo, e sabe-se lá porque podem acometer qualquer pessoa. Não é um dom treinável. E Harry, você deve lembrar de já ter visto um sopro das parcas, correto? A professora Trelawney há dois anos previu o encontro de ... enfim, você sabe o que ela previu, não é mesmo?
     ‒ E existe o Toque de Prometeu. Para aqueles com o Toque de Prometeu, a vida não é nada fácil. Premonições de futuro e visões do passado convivem dolorosamente diante dos nossos olhos. Basta tocarmos uma pessoa ou objeto para sabermos coisas sobre eles, nem sempre tudo, claro, às vezes mais, às vezes menos,  mas nunca nada. É impossível parar totalmente o Toque, mas podemos evitá-lo em parte protegendo-se com um feitiço de confusão ou, no caso do vidente, filtrá-lo escondendo as mãos sob tecidos devidamente conjurados. Isso torna mais fácil o convívio com a maldição. Estas luvas que uso, disse mostrando as mãos, me possibilitam fazer apenas previsões boas. Isto poupa inúmeros aborrecimentos
     ‒ Eu estou aqui a serviço do ministério da Magia ‒ mostrou um distintivo da polícia do ministério ‒  fui designada para a proteção do povoado e de Hogwarts e auxilio dos aurores para prever a chegada de qualquer força maligna. Vou levá-los à minha casa agora, pois temos muito que conversar. E não adianta este aí tentar fugir de mim.
    Harry olhou em dúvida para Sirius. O cão, resignado, acenou a cabeça em assentimento. Harry estava extremamente curioso para saber o que havia de errado para seus padrinhos parecerem tão hostis entre si.
    Foram andando pelo povoado e chegaram diante de uma casa, bem em frente à suposta casa mal assombrada da aldeia, sem portas e  com janelas totalmente gradeadas, lembrando um caixote muito feio e sem estilo, ao contrário de todas as casas do lugar. Engraçado que Harry já estivera em Hogsmeade inúmeras vezes e nunca vira aquela casa. Sirius estava quieto e parecia contrariado, mas seguia com eles.
     ‒ Esta é minha casa! ‒ Sheeba disse radiante, como se apresentasse um palacete ‒  Eu não consigo morar em outra, portanto, carrego esta para todo lugar, é o único lugar no mundo, tirando Hogwarts, onde eu me sinto realmente à vontade... ‒ como ela carregava a casa, não explicou. ‒ E só há um meio de entrar nela. ‒  disse e mostrou um chaveiro com uma pequena porta pendurada de um lado, e uma chave do outro ‒  Através desta chave. Dêem-se as mãos. Harry, segure bem o cão, vamos entrar. ‒ Disse e girou a chave na pequena porta e num segundo estavam dentro da casa.
    A parte interior da casa era completamente diferente da parte de fora. As janelas eram janelões sem grades, e a casa parecia muito maior , o que era muito comum em casas de bruxas. Tinha uma sala imensa, sem nenhuma mobília e num canto uma piscina redonda pequena sob um teto solar, havia também uma escada que subia para um jirau e dava acesso ao segundo piso, e algumas portas que provavelmente levavam a outros cômodos. A paisagem vista pela janela era diferente da paisagem de Hogsmeade, havia uma praia na frente e outra atrás, o céu que aparecia sobre o teto solar estava limpíssimo, com um sol de verão digno dos trópicos.
     ‒ Uau! ‒ disse Rony ‒ Uma casa com paisagem conjurada! Minha mãe sempre quis uma destas! ‒ Sheeba riu:
     ‒ A direita, o Mar Egeu, à esquerda, o Caribe. O sol é do Marrocos. Esta casa foi construída pelo maior arquiteto bruxo em atividade! Eu descobri o paradeiro de sua filha mais nova que fugiu de casa para casar-se com um trouxa. Ela se limpa sozinha e eu posso escolher a mobília conforme meu estado de espírito.
     -“Bauhaus!” ‒ Ela disse, e surgiu uma mobília moderna, totalmente em tons de azul e amarelo. As paredes brancas tornaram-se amarelas e o chão se cobriu de um piso amarelo canário ‒ Essa é minha decoração favorita.
    A casa era confortável e de temperatura muito agradável. Sheeba tocou a si mesma com a varinha e sua roupa transfigurou-se numa veste longa azul cobalto, em seus pés apareciam agora pantufas azuis com caras de coelhinhos. Um elfo doméstico apareceu eufórico pela casa:
     ‒ Senhorita Sheeba, Senhorita Sheeba! Deseja alguma coisa? Água, folhas da morávia, licor de sangue de dragão????  Limonada rosada para convidados de Senhorita?  Um osso para cão de meia tonelada? Dê uma tarefa para seu pequeno Smiley... por favor.
     ‒ Tenho uma tarefa para você, Smiley: vá la para dentro e descanse por duas horas. Não me volte aqui antes disso.
     ‒ Smiley não aguenta mais descansar ‒ o elfo foi resmungando se refugiar na cozinha ‒ Essa casa que se arruma sozinha não serve para um elfo doméstico.
    Sheeba suspirou:
     ‒ Meu elfo doméstico não é um escravo, ganhei-o de presente e não quero libertá-lo pois sei que ele acabaria nas mãos de algum mestre menos generoso que eu... viu Hermione, como temos coisas em comum?
    Hermione olhou triunfante para Harry e Rony, que imaginaram que  a seguir, provavelmente ela convidaria Sheeba para sua sociedade de libertação de elfos domésticos. Mas Sheeba não perdeu tempo com isso, simplesmente parou no meio da sala, encarando o grande cão:
     ‒ Sirius Black, revele-se. ‒  Sheeba olhou seriamente para o cão que imediatamente transformou-se em Sirius, Sheeba pareceu conter um suspiro de emoção quando o padrinho de Harry apareceu em sua frente, os olhos negros dele a encaravam com uma expressão severa.
    Ficaram um segundo em silêncio, um de frente para o outro, cada um num canto da sala. Sheeba segurava sua varinha na mão direita, e parecia até que iam duelar, com a diferença que Sirius estava totalmente desarmado. Nem Harry, Rony ou Hermione esperavam o que veio a seguir. Ambos começaram a falar, e era muito difícil entender o que discutiam, pois falavam praticamente ao mesmo tempo, um interrompendo o outro, asperamente.  Sheeba olhava Sirius com fúria e batia a varinha contra a mão esquerda impaciente, a medida que ia fazendo isso, uma névoa negra ia saindo da ponta da varinha vagarosamente, indo condensar-se sobre sua cabeça. Em alguns minutos, Sheeba tinha acima de si uma ameaçadora miniatura de nuvem de tempestade que  lançava pequenos raios no ar. Harry, Rony e Hermione conseguiam distinguir da violenta discussão coisas como :
     ‒ COMO VOCÊ TEM CORAGEM DE DIZER QUE NÃO TE AJUDEI??? EU ESPEREI VOCÊ POR QUATORZE ANOS!!
     ‒ SE VOCÊ TINHA CERTEZA DA MINHA INOCÊNCIA PORQUE NÃO ME PROCUROU, SHEEBA, VOCÊ TEM IDÉIA DO QUE SÃO DOZE ANOS EM AZKABAN?
     ‒ O QUE VOCÊ QUERIA QUE EU FIZESSE? EU DISSE QUE VOCÊ ERA O ÚNICO QUE PODIA SER O FIEL DO SEGREDO E VOCÊ NÃO ME ESCUTOU! ISSO FOI UMA VERDADEIRA TRAIÇÃO!
     ‒ EU NÃO TRAÍ NINGUÉM! FOI RABICHO! VOCÊ SABE DISSO, LEMBRA? VOCÊ É A SENHORA SABE TUDO, LEMBRA?
     ‒ DE ONDE VOCÊ TEVE ESTA IDÉIA ESTÚPIDA DE CONFIAR EM RABICHO???
     ‒ ELE ERA MEU AMIGO! VOCÊ NUNCA ME ADVERTIU SOBRE ELE!!!
     ‒ EU NUNCA HAVIA TOCADO NELE, LEMBRA DISSO, SR SIRIUS ARROGANTE BLACK? NÃO DAVA PARA DESCONFIAR DE ALGUÉM QUE TINHA TANTO MEDO DE MIM???
     ‒ NÃO ERA EU QUE TINHA O TOQUE DE PROMETEU, LEMBRA?
     ‒ PORQUE VOCÊ NÃO ME PROCUROU QUANDO ELE APARECEU?
     ‒ VOCÊ HAVIA DESAPARECIDO NA HORA ESSENCIAL, LEMBRA? SEGUINDO A PISTA DAQUELE MALDITO SNAPE! NEM ME AVISOU ONDE ESTAVA!
    Conforme a discussão ia ficando violenta, a nuvem sobre Sheeba ia adensando-se, até que ela gritou:
     ‒ Eu não pude fazer nada! ‒  E explodiu em lágrimas, quase ao mesmo tempo em que a nuvem sobre a sua cabeça despejou uma intensa mini-tempestade sobre ela. Trovões ecoavam pela sala e uma grande poça d'água se formava aos pés da bruxa, agora totalmente molhada. Sirius suspirou profundamente e parou por uns instantes a um passo de Sheeba, em silêncio, então pediu a Harry:
     ‒ Harry, me empreste sua varinha. ‒ Harry passou a varinha a Sirius que a apontou para a nuvem e disse ‒ Flora! ‒ .No mesmo instante a nuvem se transformou em uma nuvem azul da qual caíam camélias enormes, também azuis. Sirius olhava Sheeba em silêncio, Harry, Rony e Hermione se olhavam intrigados.  As vestes e os cabelos dela secaram em menos de um segundo.
     ‒ Eu não esqueci suas flores favoritas ‒ Sirius disse, aproximando-se de Sheeba ‒ se soubesse que durante todo tempo em Azkaban você sabia que eu era inocente, teria tido pelo menos um pensamento feliz para enganar os dementadores.
    Para a supresa de Harry, Rony e Hermione, Sheeba atirou os braços em volta do pescoço de Sirius e os dois se beijaram apaixonadamente. Rony tapou uma risada com a mão, Harry e  Hermione deram a ele um intenso olhar de censura. O casal que continuou se beijando no meio da sala, até que depois do que pareceu uma eternidade Sheeba sussurou:
     ‒ Sirius, precisamos explicar tudo para eles...
Sirius virou-se e disse a Harry:
     ‒ Harry, você já conhece sua madrinha, Sheeba. Bem, eu deveria ter lhe dito que nós éramos... somos, noivos. ‒ O bruxo abraçou Sheeba ternamente e murmurou ‒ Como eu senti a sua falta...
     ‒ Porque nunca ninguém me falou dela? ‒ Harry sentia-se contrariado por nunca ter tido sequer menção da existência de uma madrinha.
     ‒ Harry ‒ Sheeba começou ‒ para que você entenda porque você nunca me conheceu é preciso que você saiba toda a história de como eu me tornei a melhor amiga de sua mãe, e depois, sua madrinha.
     Sheeba convidou-os a sentar-se no imenso sofá que rodeava a sala, então sentou-se ao lado de Sirius, segurando a sua mão, e depois de um suspiro profundo, começou sua história.


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