Fevereiro



Fevereiro


 


                Parte 1- por Sirius Black


 


Estava andando a caminho da creche (naqueles dias tão nebulosos, eu preferia andar um pouco para distrair os pensamentos), quando a encontro tomando café em uma pequena lanchonete do centro.


                Tão bonita, tão elegante... Seu olhar distante registrava apenas parcialmente o que se passava na rua, provavelmente minha Sophie estava perdida em pensamentos. Em outros tempos, eu entraria sem hesitar, ela sorriria ao me ver passar pela porta e tomaríamos café juntos.


                Mas hoje eu não sabia se devia ou não entrar – não queria que o levíssimo bom humor que ela demonstrava passasse. Por fim, lembrei que era 14 de fevereiro, e que ainda tinha 40 minutos até ter que entrar no trabalho.


                Sophie não me percebeu até que estivesse sentado a frente dela, ao que ela se sobressaltou.             


                -O que está fazendo aqui?


                -Queria te ver.


                -Não podia fazer isso de longe?


                -Soph...


                Ela se calou e tomou mais um gole de café.


                -Sirius, você sabe que aquela noite da festa não muda nada, não?


                -É o que você diz. Eu prefiro manter a mente aberta a possibilidades.


                Ela esboçou um sorriso, que morreu ao encarar o meu olhar, denunciador das minhas saudades.


                -Quantas vezes terei que me desculpar Soph?


                - A questão não é essa. Eu sei o quanto você sente muito, mas não vai adiantar muita coisa se você não mudar. Nós... Eu não posso mais viver assim, Sirius.


                Ela me lançou um olhar estranho, como se quisesse me dizer algo. Naquele instante eu senti realmente a distância enorme que se havia colocado entre nós – em outros tempos, Sophie jamais me esconderia nada.


                -Bom... Eu só passei para desejar feliz dia dos namorados. Te amo.


                Ela mordeu o lábio inferior, seus olhos um tanto brilhantes. Eu me levantei e a deixei terminar seu chá. Meus sapatos pareciam feitos de chumbo naquele momento.


                Passei o dia todo pensando naquele olhar no rosto de Sophie na lanchonete. O que temos ainda não acabou – se tivesse, ela já teria pedido o divórcio e se mudado de volta para França. Quando ela decide uma coisa, nunca olha para trás. Ainda há algo que eu possa fazer para reconquistá-la, e nenhum dia é melhor do que hoje, 14 de fevereiro.


 


Parte 2 – por Sophie Black


                -Só passei para desejar feliz dia dos namorados. Te amo.


                Sirius me disse isso com tal intensidade no olhar, que por um momento eu quase me atirei em seus braços como em um filme trouxa. Mas a realidade que nos cercava era bem diferente.


                Em vez disso, fiquei colada a minha cadeira, vendo-o se afastar desapontado. Uma vontade incontrolável de chorar me invadiu, mas me mantive firme.


                Eu sei que falando assim, vocês leitores fãs do Sirius vão me detestar. Mas a verdade que nunca contamos a ninguém sobre nossa separação é a seguinte: um ano atrás eu estava grávida e não sabia. Sirius e eu tínhamos ido a uma festa de alguns amigos, e ele estava dirigindo a moto, bêbado. Tivemos um acidente, e... Enfim.


                Naquela época, a guerra tinha acabado havia pouquíssimo tempo, e Sirius ainda estava abalado pela prisão do Rabicho, um de seus melhores amigos, e pela morte de seu irmão, e eu havia perdido meu pai... Eu não sabia, ele não sabia, foi um acidente, e estávamos tristes por outros motivos também. Mas os ressentimentos surgiram involuntariamente entre nós – ele por se sentir culpado, e eu por me sentir culpada por não conseguir perdoá-lo por inteiro. Quando vimos, havia tantas coisas entre nós, que aquele beijo idiota acabou sendo apenas a confirmação de que não devíamos continuar juntos.


                Eu me mudei, e ele passou a beber tanto que ficou raro vê-lo sóbrio.  Foi provavelmente a pior época da minha vida – tirando essa, sem Sirius nenhum. A vida é tão estranha... A gente imagina que amor é tudo que uma relação precisa, e de repente aprende que nem sempre as relações são tão simples.


 


                Parte 3 – por Remus Lupin.


                Fazia três anos que eu não ia a Londres.  Desde antes de a guerra acabar, na verdade. Naquela época, eu trabalhava como espião para Dumbledore, em meio a lobisomens e todo tipo de criatura das trevas, passando informações úteis aos aurores e à Ordem da Fênix – tempos realmente obscuros, que me ensinaram muito sobre lealdade e força de caráter.


                Quando a guerra acabou, eu sentia que já tinha visto o bastante sobre a alma humana, e não queria voltar para a cidade. Resolvi viajar e explorar os lugares mais exóticos e selvagens do planeta, o mais longe possível de outros seres humanos.  Nenhum lugar, entretanto, poderia ter me surpreendido mais que um vilarejo bruxo próximo da Sibéria.


                Cheguei lá duas semanas antes da lua cheia. O meu “probleminha peludo” como Prongs gostava de chamar, começava a me preocupar, e imagino que os moradores começavam a perceber (ser o único forasteiro no lugar por si só já é bastante chamativo, que o dirá ficando claramente doente com a proximidade da lua cheia).


                Um dia antes da lua cheia, uma idosa veio até o casebre onde eu estava ficando, bastante afastado da vila, por via das dúvidas. Ela me explicou, com um desses feitiços tradutores, que havia uma forma de controlar a transformação – seu filho também havia sido transformado por um lobisomem quando era criança, por isso havia reconhecido em mim os sintomas.


                Ela então me ofereceu um extrato de uma planta local, prometendo-me que iria controlar a situação – chamavam-na “mata-cão”. É claro que imaginei que algo como aquilo poderia ser veneno, já que lobisomens são odiados ao redor do globo, mas nem por isso pensei em deixar de toma-lo.


                Percebam – eu tinha visto muito mais do que queria, ou do que pensava que suportaria. Vi amigos morrerem, outros passarem para o lado sombrio... Para mim, mesmo depois que a guerra acabasse, a vida nunca seria normal – eu era um lobisomem. Sendo assim, tomei o tal extrato sem hesitar.


                E qual não foi a surpresa quando passei a transformação inteira lúcido?! Completamente são, consciente de todos os meus atos... A sensação mais libertadora que já havia sentido.


                Quando a lua passou, voltei para agradecê-la, mas ela dispensou qualquer gentileza. Disse que eu poderia levar algumas mudas se eu quisesse, muitos estrangeiros que passavam por ali o faziam. Foi o que fiz.


                Estava de volta a Londres com algumas mudas da planta, esperando que, com um pouco de ajuda da melhor preparadora de poções que conhecia, pudesse criar uma poção potente o bastante para reproduzir o efeito que havia experimentado na Rússia.


               


                Parte 4 – por Lilian Evans.


                Estava eu subindo as malditas escadas até o 212 – perdoem o mau humor, mas eu simplesmente não consigo entender o porquê de ter elevadores se os QUATRO   estão amaldiçoados além de qualquer conserto...


                Nisso, encontrei Sara, a vizinha do 214, com seus três filhos , um carrinho de bebê e várias sacolas de compra (imagino que com o trabalho que aquelas crianças dão ela não pensou em levar magicamente todas aquelas coisas).


                -Olá Sara, precisando de uma mão?


                -Ah, oi Lily... Acho que uma ajudinha seria bem-vinda...


                Eu sorri e peguei as compras e o carrinho enquanto ela pegava a filha mais nova no colo.


                -Você sabe qual é a dos elevadores? – perguntei casualmente.


                -Parece que um ex-morador teve uma briga com o Archibald... Disse que os elevadores só voltariam a funcionar quando ele vendesse o prédio...  Enfim, ninguém sabe o motivo da briga.


                -Uau... Acho que o Archibald tem confundido contratos desde sempre, então?


                -Mais ou menos... Paul e eu, por exemplo, devíamos estar morando no 120. – Sara riu. – Will pode parar de correr!


                Havíamos chegado ao nosso andar, e Sara já estava abrindo a porta de seu apartamento, quando me disse:


                -Lily... Não ligue para o que aquelas velhotas andam dizendo...


                -O quê? – eu respondi surpresa.


                -Ah, você não sabia? Bom, as McDowell estão espalhando por aí que você, o James e o Sirius estão... Bem... Juntos.


                -Ahn... Obrigada por me avisar Sara... Tenha um bom dia...


                Entrei em casa sentindo uma raiva enorme daquelas duas velhotas! Como era possível, que a uma altura daquelas do século XX, elas ainda fossem tão puritanas!


                -James! James vocês está em casa?!


                -Lily? Calma, onde é o incêndio?


                James saiu do quarto com a cara amassada, provavelmente tinha passado a manhã dormindo.


                -Aquelas duas velhotas estão espalhando para o prédio que nós, eu você e o Sirius, estamos juntos! Digo... juntos.


                -Ahn? – James começou a ter um ataque de risos. – Eu e o Sirius? Ah! A Skeeter ia adorar isso!


                -James, não é hora para risos! Aquelas duas estão tentando fazer a gente se mudar! Eu me recuso a ser intimidada por duas fofoqueiras carolas!


                -Hum... E o que você pretende?


                -Fazer elas se mudarem!


                James me encarava espantado. Acho que nunca tinha me visto brava com outra pessoa que não ele.


                -Você tem noção de que está falando sobre duas senhoras de setenta anos? Logo elas vão enjoar disso e encher outra pessoa...


                -Não estou falando em fazer nada demais... Mas se elas querem fofocar, quero ver se aguentam mexer com criadores de confusão de verdade.


                James sorriu divertido.


                -Acho que tenho a solução para você, Srta. Evans. Siga-me.


                Fomos até o quarto dele, o único cômodo que dividia paredes com as McDowell.


                -Depois de você, minha cara.


                Meia hora de gemidos e gritos depois, elas começaram a bater nas paredes com vassouras. Nosso trabalho estava feito. James e eu rimos até ficarmos sem ar... E de repente lá estava – aquele olhar da noite de ano novo...


                -Você está vermelha. – ele disse se aproximando de mim.


                -Você também. – eu respondi bobamente quando suas mãos me enlaçaram pela cintura.


               


 


Parte 5 – por Remus (horrorizado) Lupin


                Era engraçado imaginar Lily e James morando juntos – mesmo que isso não significasse nada demais. Quando James me mandou a carta contando o que havia acontecido, fiquei pensando em como a vida dá voltas...


                Depois de sete (!!!) lances de escada, cheguei ao 212. Toquei a campainha, sem respostas. Estranho, já que tinha avisado Pontas que viria, e ele tinha me assegurado de que estaria em casa.


                Bati mais uma vez, ainda sem respostas. Intrigado, resolvi testar a porta, que estava destrancada.


                -Só faltava essa...


                Algo entre a paranoia de que algo pudesse ter acontecido a eles e a total falta de vontade de voltar para a rua gélida me fez entrar no apartamento.


                -James? Lily? Alguém em casa? – eu chamei, andando pela casa.


                E aqui segue um conselho muito valioso a todos vocês: NUNCA abram a porta de um quarto sem saber quem está dentro, ou o que a pessoa dentro do quarto está fazendo. Eu, que sou um completo imbecil, não segui essa regra...


                -Tem alguém...


                -ALUADO, FORA DAQUI AGORA! – berrou um James Potter sem roupas, ao lado de uma Lilian Evans igualmente sem roupas.


                Já repararam que as pessoas mais brilhantes aparentemente se esquecem de ser brilhantes nas horas mais impróprias?


 


 


                Parte 6 – por um muitíssimo satisfeito (ainda que ligeiramente embaraçado) James Potter.


 


-ALUADO, FORA DAQUI AGORA! – eu gritei para o Aluado assim que ele desavisadamente entrou em meu quarto.


                Aluado saiu do quarto com um pedido de desculpas apressado e desconcertado. Eu lancei um olhar para Lily ao meu lado, que parecia petrificada.


                -Tudo bem? – eu perguntei, me preparando para outra crise de gritos.


                -Bom... Quem você acha que ficou mais chocado? O Remus ou as vizinhas? – ela disse antes de começar a rir.


                -Então... Aqui está você. Outra vez. – eu disse hesitantemente quando paramos de rir.


                -Pois é...


                -Sem gritarias e vidros quebrando dessa vez?


                Ela me encarou com um sorriso por alguns momentos antes de responder.


                -Sabe James... Acho que eu percebi uma coisa hoje. No fim das contas, acho que eu queria mesmo era ficar com você.


                De todas as coisas que ela poderia dizer, eu nunca, nunca teria imaginado que seria aquilo. Não que fosse uma coisa ruim, porque acho que eu também sentia falta dela há mais tempo do que teria admitido.


                -Você tem certeza que não está sob o efeito de nenhuma poção ou feitiço?


                -Talvez. – ela deu de ombros. – Por isso, se eu fosse você, aproveitava enquanto o efeito dura.


                Eu ri e a beijei novamente, porque no fim das contas, o que eu sempre quis foi ficar com a Lilian Evans.


 


                Parte 7 – por Sophie Black.


Os dias 14 de fevereiro foram sempre os meus preferidos nos últimos 8 anos, simplesmente por serem o dia em que Sirius e eu decidimos ficar juntos. Hoje, pela primeira vez, era o dia mais enfadonho da minha vida. Pelo lado bom, em vez de ter duas datas para nos lembrar do nosso relacionamento estraçalhado, Sirius e eu tínhamos fechado um pacote só!


                Felizmente, estava sendo um dia bem agitado no escritório do Profeta Diário, onde eu trabalhava no caderno de cultura, junto com a Tonks, prima do Sirius – desde a separação, eu estava dividindo um apartamento com ela. Infelizmente, uma persistente e inquietante sensação de enjoo estava me acompanhando durante toda a manhã...


                -Soph, quer sair hoje à noite? – ela me perguntou enquanto montava a esquematização da edição de sábado do caderno.


                -Hmm... Eu e o Rodrigo temos um show essa noite, quer vir?


                -Sim! – ela respondeu empolgada - Eu estou decidindo se saio ou não com esse cara que é muito gracinha, mas meio esquisito e preciso de uma segunda opinião!


                Tonks tinha uma queda por caras excêntricos, e sempre era divertido ver como eles se espantavam com o jeito decidido dela. Eu ri da cara pensativa que ela fez ao descrever o moço e passei o endereço do bar em que íamos tocar aquela noite – um pub trouxa no centro da cidade, para variar um pouco o público.


                Catorze de fevereiro... Espera...


                -Tonks... Preciso dar uma saída. – eu disse repentinamente depois de começar a fazer algumas contas na minha cabeça.


               


Parte 8 – por Lilian Evans, ainda surpresa com os encaminhamentos do dia.


                -Então... Quer fazer alguma coisa hoje à noite? – James me perguntou nem tão displicentemente assim enquanto tomávamos café depois de todo o episódio com Remus.


                -Hmm... Sim, sim, vamos fazer alguma coisa sim... – eu respondi, me perguntando se aquilo era um convite do tipo “vamos ter um encontro de dia dos namorados” ou “vamos jantar fora para não ter que arrumar a cozinha depois”.


                Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Sirius irrompe pela cozinha, com a mesma cara que ele fazia em Hogwarts, quando estava prestes a colocar algum plano em ação.


                -Me diz que você não é manchete de novo, Almofadinhas... – James disse à guisa de olá.


                -Não. Muito melhor que isso! Hoje, senhor Pontas e senhorita Evans, Sophie Black será convencida a parar com essa história absurda de querer o divórcio!


                -Ah é? Ela bateu com a cabeça ou algo assim? – eu perguntei fingindo estar alarmada, fazendo James rir.


                -Hahaha. Muito engraçado. Quase tanto quanto vocês serem pegos pelo Aluado. – ele começou a rir. – Nos encontramos no saguão agora pouco.


                -Aluado linguarudo... – James resmungou.


                -Ah, mas não surpreende ninguém, surpreende? – Sirius me deu uma piscadela. – De qualquer modo, Remus e eu estaremos no pub Golden Pint esta noite, onde eu vou reconquistar a Sophie!


                James e eu nos entreolhamos, e decidimos ir. Sirius e Sophie tinham uma história tão longa, que era realmente irreal ver os dois separados – ainda mais sendo visível o quanto eles queriam estar juntos.


                -É estranho eu te chamar para sair? – James perguntou quando Sirius saiu da cozinha.


                -Acho que não, na verdade. É que eu tenho essa mania de pensar em excesso nas coisas...


                -Como assim? – ele riu. – Por que hoje é dia dos namorados?


                -É. – eu admiti um pouco envergonhada. – É que essas datas parecem forçar situações, entende?


                James realmente riu dessa vez.


                -Você acha mesmo que eu só estou te chamando para sair porque hoje é Dia dos Namorados? – ele perguntou divertido.


                -Ah, que bom que eu te divirto. – respondi um pouco mal-humorada. Não gostava muito de ver James sendo mais maduro do que eu (mesmo achando isso altamente atraente).


                Eu me levantei para colocar a caneca na pia, mas ele me puxou para sim.


                -Sua boba. – ele disse sorrindo antes de me beijar.


 


Parte 9 – por Sophie Black, surtando assim de leve...


Sabe aqueles dias que mudam a sua vida do nada, e para todo o sempre? Estou tendo um desses. E ele ainda está razoavelmente longe de acabar.


                Tonks e eu tínhamos acabado de chegar ao Golden Pint, onde eu e Rodrigo íamos tocar. Era um lugar bem normal, palco pequeno, balcão comprido e mesinhas apertadas em um canto escuro, com decorações variadas de bandas que já tinham passado por ali.


                Assim que entramos, encontramos Lily, James e Remus já instalados em uma das mesas – o que me deu a certeza de que Sirius estava em algum lugar por ali e ia tentar alguma coisa hoje, como eu suspeitava desde esta manhã.


                -Ah! O cara gracinha já chegou! – Tonks me disse zombeteira.


                -É? Quem é?


                -Remus! – ela sorriu e foi cumprimentar o grupo.


                Claro. Como nunca tinha pensado nisso antes? Tonks e Remus são perfeitos um para o outro! Mais uma curiosidade do passado para compartilhar com os queridos leitores: Remus e eu namoramos por duas semanas em Hogwarts, mas essa é uma história meio longa para contar agora, e no momento o que me preocupa mesmo é a possibilidade de encontrar Sirius, o que eu esperava que só fosse acontecer em um lugar tranquilo e sem um monte de enxeridos por perto.


                -Mas como vocês se encontraram? Ele voltou hoje! – eu perguntei um pouco confusa.


                -Ah, nos encontramos no Caldeirão Furado na hora do almoço. Eu tinha um escritor para entrevistar por lá e vi quando ele chegou, daí ficamos conversando, e ele disse que estava pensando em rever os amigos hoje...


                -Hmm... Ele ainda não sabe que está em um encontro, sabe?


                -Não. – Tonks me respondeu marotamente, fazendo-me rir enquanto nos aproximávamos deles.


                -Heey! Olha só quem apareceu! – James disse me abraçando.


                -Oi! – eu estava genuinamente feliz em ver James e Remus. Eles eram meus amigos também, e acabamos nos vendo pouco nos últimos meses, com tudo o que aconteceu. – Tudo bem?


                -Sim! – James piscou marotamente e deu um discretíssimo aceno em direção a Lily.


                -Sério??? – eu respondi empolgada.


Eu já perdi a conta de quantas vezes escutei James falar de Lily quando ficava muito bêbado...


                -Aham! 


                -Boa Pontas! Conte-me os detalhes depois! – eu respondi com outra piscadela. - E você, que voltou e não me disse nada, seu tratante?


                Remus sorriu e me abraçou.


                -Você está bem? – ele perguntou. Remus conhecia toda a história da separação, e fora eu e o Sirius, ele era o único que sabia do acidente de moto do ano passado.


                -Sim, acho que sim, pelo menos.


                Nesse instante, escutamos Sirius começar a se apresentar no palco.


                -Boa noite a todos... Eu me chamo Sirius Black, e vou tocar uma música antes da atração principal de hoje.


                Qual não foi minha surpresa ao ver que Sirius estava sóbrio! Isso tinha se tornado uma coisa muito rara no último ano... E eu sabia exatamente que música ele ia tocar – a do nosso casamento.


 










Come a little bit closer


Hear what I have to say


Just like children sleepin‘


We could dream this night away


But there‘s a full moon risin‘


Let‘s go dancin‘ in the light


We know where the music‘s playin‘


Let‘s go out and feel the night


Because I‘m still in love with you


I want to see you dance again


Because I‘m still in love with you


On this harvest moon


 



When we were strangers


I watched you from afar


When we were lovers


I loved you with all my heart


But now it‘s gettin‘ late


And the moon is climbin‘ high


I want to celebrate


See it shinin‘ in your eye


Because I‘m still in love with you


I want to see you dance again


Because I‘m still in love with you


On this harvest moon


 



 


                Quando a música acabou, Sirius sorria. Ele colocou o violão no chão cuidadosamente e desceu do palco, vindo em minha direção. Eu não tinha a menor noção do que acontecia ao meu redor, ainda absorta em todas as memórias que aquela música trazia.


                -Sério? Harvest moon? Pouco criativo, não acha? – eu disse quando ele se aproximou, ainda sorrindo.


                -Eu não precisava ser criativo. Só queria chamar a sua atenção.


                -Bom, você conseguiu. E agora?


                -Vem comigo? – ele me encarava com o familiar (e muito querido) sorriso de lado, entendendo a mão para mim.


                -Eu...  


                -Sophie, você está ficando maluca?


                Rodrigo, que aparentemente tinha estado do meu lado durante toda a música, resolveu se declarar, quando eu estava prestes a dizer sim.


                -Ahn... O quê?! – eu disse, mais confusa do que nunca.


                -Sophie, esse cara é um imbecil! Você... Você não pode ficar com ele!


                -Como assim, Rodrigo, você não está fazendo o menor sentido!


                E, completamente do nada, Rodrigo me beijou, ao que eu o afastei em choque.


                -Seu merda! – Sirius exclamou antes de começar uma briga com Rodrigo no meio do bar.


                O que se seguiu foi uma série murros e gritos e uma invasão de seguranças que expulsaram Sirius e Rodrigo dali. James e Remus os acompanharam, mas eu preferi me sentar e tentar organizar as ideias. Lily e Tonks me observavam atentamente – eu devia estar com uma cara realmente horrível, pela preocupação nos rostos delas.


-Acho que eu vou para casa. – eu disse depois de alguns minutos. – Tonks, você pode explicar o que houve para o dono do bar?


-Claro. Você está bem?


-Sim... Eu só... Seu primo me enerva. Nos vemos mais tarde, Tonks. Até mais, Lily!


-Até.


 


Quando acordei no dia seguinte, a irritante sensação de náusea ainda me acompanhava. Pelo menos era sábado, e eu não precisava ir trabalhar.


-Bom dia Tonks. – eu disse enquanto preparava um chá.


                -Oi. Ahn... Soph, você ouviu alguma coisa estranha essa noite?


                -Não, nada. Por quê?


                -Sério?!


                -Sim. Eu cheguei e apaguei. Acho que estava muito cansada... Aconteceu alguma coisa?


                -Sirius apareceu aqui na frente do prédio essa madrugada.


                -Oh... – eu finalmente comecei a entender a cara de espanto de Tonks.


                -E não termina aí.


                -Obviamente.


                -Ele apareceu berrando com um feitiço amplificador, dizendo que você precisa perdoá-lo, e que ele nunca teve intenção de te magoar, e que tirando essa noite, faz um mês que ele não fica bêbado... Aí como ele não parava e você não aparecia, os vizinhos chamaram a polícia.


                -E o que aconteceu?


                -Ele foi com eles. Acho que estava tão decepcionado por você não ter aparecido que sequer resistiu.


                -Você falou com ele? – eu perguntei, preocupada.


                -Não, quando cheguei aqui ele já estava sendo levado. Mandei uma coruja para o James, ele ainda não está em casa.


                -Que ótimo... Vou terminar o meu chá e depois resolvo isso.


                -Você vai falar com ele? – Tonks perguntou animada.


                Eu acenei que sim, sorrindo. Acho que já é hora de voltar para casa.


 


Parte 10 – por Sirius Black, o mais genial (ou idiota) de todos os quase ex-maridos.


                Eis que o dia 15 de fevereiro havia chegado, e longe de ter conseguido por em prática meu plano de reconquistar Sophie, eu amanhecia em uma cela de delegacia trouxa...


                Eu não estava particularmente orgulhoso de ter socado o Rodrigo, mas sendo muito sincero... Acho que eu queria fazer aquilo desde o dia que percebi que ele estava apaixonado por Sophie. Não sei como ela não percebeu isso (pela cara de surpresa que ela fez quando ele a beijou ontem, imagino que ela não soubesse, pelo menos)...


                Depois que aquele imbecil atrapalhou tudo no Golden Pint, eu fui para o meu pub favorito, em uma rua desconhecida perto de King’s Cross. Não sei exatamente como aconteceu, mas a certa altura eu resolvi que deveria ir dizer a Sophie o que eu pensava de qualquer forma.


                Enquanto eu estourava os pulmões (desnecessariamente, porque o feitiço amplificador já aumenta a voz o bastante), dizendo o quanto a amava e a queria de volta, e tudo o mais, ela sequer abriu a janela. Como era possível? Por um instante, enquanto eu tocava Harvest moon, eu tive certeza que ela voltaria...


                Um guarda me acordou dos meus devaneios.


                -Hey, você tem visita.


                -Olá. – Sophie disse sorrindo e acenando atrás do guarda mal humorado.


                -Soph? O que...?


                -Eu soube que você fez uma visita inconveniente no meu prédio essa noite.


                -Soube? Você não estava lá?


                -Eu estava. Mas apaguei... Estava muito cansada ontem. Ah! Trouxe isso para você.


                Ela me passou um café e gomas de mascar pelas grades.


                -Obrigado. Soph...


                -Espera... – ela enfeitiçou as grades para poder passar e se sentar ao meu lado.


                -Desculpa por ontem. E por todo o ano passado. Acho que eu andei um pouco insano por um tempo.


                -Eu sei... Foi um ano difícil. – ela ficou em silêncio um tempo, encarando o chão sujo, antes de se virar para mim e dizer: - Desculpa por eu não ter te perdoado quando tudo aconteceu ano passado.


                Nós ficamos nos entreolhando por um tempo, em silêncio, pensando em tudo o que havia acontecido... A essa altura do ano, nós devíamos estar às voltas cuidando de um bebê.


                -Nah... Acho que eu também não teria me perdoado...


                -Mas eu devia! Depois de todas as coisas horríveis da guerra... Eu fui egoísta.


                -É... Talvez um pouquinho...


                Nós rimos um pouco, pelo puro hábito que ganhamos durante a guerra de tentar ver graça nas desgraças.


                -Eu não quero mais ficar discutindo de quem foi a culpa das coisas, Sirius. – ela me disse, com um ar cansado. – Eu também sinto sua falta.


                -É mesmo? – eu respondi, um pouco surpreso.


                -É claro que sim! A rotina é muito entediante sem você por perto.


                Eu fiquei sentado ali encarando os olhos castanho claros que me fascinavam há oito anos, sentindo a maravilha desses momentos em que o tempo fica em suspenso.


                -Eu te amo Sophia Marie Black. Muito. Eu não quero mais ficar só.


                Ela sorriu e me beijou.


                -Eu também te amo, Sirius Black. Ah, tem mais uma coisa!


                -O quê?


                -Eu estou grávida!


                -Sério?


                -Sim.


                -Acho que esse é o segundo melhor dia da minha vida. – eu disse, ao que ela abriu ainda mais o sorriso e me beijou novamente. Eu a abracei e pensei comigo mesmo que nunca mais deixaria aquela moça ir para longe outra vez.


               


                

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