oneshot



Talvez as lamparinas se apaguem quando eu passar. Talvez você não possa me escutar enquanto sigo procurando achar a trilha de volta. Depois talvez não me acolha em seus braços. Não sei se minha sombra ainda me segue. Quem sabe a dádiva da coragem não me foi dada. Talvez eu tenha feito às escolhas erradas.


Desço até o hall da ‘minha’ mansão. As paredes gélidas me encaram duramente, não me deixando escolha alguma a não ser olhar meu próprio reflexo no piso polido. Os cabelos louros pálidos parecem se misturar com meu rosto sem expressão. Um fantasma.


- Vamos. – Minha mãe disse, com sua face sofrida. E eu a segui.”


Isso pode ser tudo. ‘Isso’ provavelmente não significa nada. Talvez o crepitar das lareiras seja vago demais para nos incendiar. A velha promessa já deve estar se gastando, assim como seus pés já não devem aguentar mais se sustentarem. Talvez os meus também.


“Caminhávamos devagar na estrada escura, mas não tínhamos medo, ambos sabíamos que tanto fazia estar bem ou mal, tudo seria o mesmo. A mesma melancolia, a mesma partilha de sentimentos de dor, com suas pegadas deixando um rastro para sempre na terra batida.


- Sempre vem por esse caminho? – Você perguntou.


- Nunca sei para onde estou indo. – Eu disse, pondo as mãos nos bolsos.”


Acho que não sei o que faço, que nunca soube. Quem sabe você serviu para me desorientar mais. Talvez os cães latam para mim, talvez os latidos ecoem para sempre a meus ouvidos. Me pergunto se sua pele continua áspera como costumava ser. E eu talvez também não seja mais como antes. Sabe-se lá se ainda sou eu.


“ - Eu nunca tinha percebido o quanto aqui é bonito – Minha voz soou distante, e meu olhar a acompanhava. Você continuava sem dizer nada, e talvez tenha sido aquilo que me conquistou. Você conseguia dizer tudo sem precisar dizer nada.


O silêncio continuou, você não falou. Apenas me olhou com seus orbes vazios. E o surpreendente é que eu entendia o seu voto temporário por silêncio. ”


Talvez a lâmina cortante fez nossas cabeças rolarem. Acho que a dor será meu único consolo, e não sei se voltarei a formar algo que lembre um sorriso em meus lábios. O holofote poderá destacar um outro alguém. Quem sabe a vida é não sonhar. Talvez as saias floridas não esvoacem mais, os poemas percam suas poesias. Talvez a esperança seja quem morra primeiro.


Seus cabelos estavam entre meus dedos e uni nossos lábios. Nada acontecia. Como sempre. Talvez não houvesse nada mesmo, apenas o simples frio na barriga causado pela sensação de um beijo. Seu lábios eram quentes, mas pareciam não ser nada em contraste com os meus. Frios.”


As ruas lá fora talvez sejam frias. O vento talvez dance conforme a batida fúnebre dos batimentos de um qualquer. Amanhã talvez não haja luz. Amanhã talvez as poucas cores que me restaram não existam. Amanhã talvez eu não te ame mais.


“Seu copo virou de uma vez. Eu me impressionava com sua disposição, tão forte, e ao mesmo tempo tão fraca, igual a mim. A pouca luminosidade no lugar dava um ar sombrio a sua pele branca e sem imperfeição alguma. Você era perfeitamente imperfeita, o que eu precisava.


Seus olhos oscilavam uma luz negra, se é que isso é possível, mas não havia maldade alguma neles, muito pelo contrário, havia dor. E era essa dor que fazia valer à pena eu estar ali.”

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