O assassinato dos Riddle – o a



            ESTAVA DEITADO em sua cama no conhecido orfanato que tanto odiava. As mesmas pessoas o faziam lembrar de quando ele era um simples bruxo no meio de um monte de trouxas. O professor Dippet, apesar da escola não ter sido fechada, não deixou-o permanecer em seu verdadeiro lar nas férias de verão. O 5º ano marcou-o para sempre, como no mesmo dia em que levara duas crianças a uma caverna. Aquele seria para sempre um dia memorável: o auge de seus poderes antes mesmo de saber que era um bruxo. Mas o ano passado, em seu 4º ano, é que tudo mudou. O livro da biblioteca continuava em seu poder, não iria devolvê-lo até extrair tudo que fosse possível dele. Seu diário estava em seu lado, registradas todas as memórias que teve sobre a Câmara Secreta e a prova de que era o herdeiro de Salazar Slytherin.


 Os ataques afloraram em sua mente como se os tivesse cometido há poucas horas. A morte daquela sangue-ruim era o melhor que se pudesse imaginar, salvo o fato de que os professores apoiassem a ideia de tirar os sangues-ruins da escola, mas pelo contrário, estavam combatendo-o. O que estava acontecendo? Tinha algo errado nisso tudo e teria que mudar. Leu os escritos no diário e sentiu um leve tremor nele. Sua alma estava ali, vendo tudo, presenciando tudo. A qualquer momento, ela poderia aparecer e lhe mostrar ao vivo todos os acontecimentos do ano que se passou. Mas não seria necessário, ele tinha tudo em sua mente. Lembrou-se de certas coisas que havia escrito no diário. Uma iria resolver em poucas horas quando partisse para Little Hangleton. A outra, apesar de se lembrar de algo, estava longe de resolver. Hoácrio Horcrux lembrava-lhe alguém. Mas quem? Passou todas as pessoas que conhecia em seu diário, mas nada. Adormeceu antes mesmo de folhear o diário novamente.


Sobre a poção, ainda não sabia que nome dar. Decidira a cor: verde fosforescente. É claro que a cor não importava, mas decididamente assustaria. Já havia pensando nos ingredientes: veneno de basilisco (cuja propriedade seria, talvez, a de uma paralisação, não petrificação); veneno de acromântula (tirada de uma morta por ele) para diminuir a rapidez dos movimentos; pele de Ararambóia, pela cor verde; chifre do Chifre Longo Romeno, cuja propriedade do chifre é a de faiscar a cor predominante; um bicho papão no qual Riddle forçou-o a adentrar na poção após explodi-lo; raízes de Valeriana, que fervidas a temperaturas superiores a 400º C desidratam o indivíduo; bezoar, para garantir que ninguém (que tentasse quando tivesse à mão) engolir a pedra se safasse do veneno – afinal, a pedra na poção comprovaria que é um ingrediente, não uma cura –; pedra da lua (com esse nome, provocaria os delírios); raiz de Beladona, cuja toxicidade será tão alta provocando a vontade de se matar e, o mais difícil que deveria procurar, seria o poderia mágico de um dementador. Como faria isso não fazia ideia, tampouco como acrescentar os ingredientes na poção (imaginando, é claro, que funcionaria nem explodiria). Onde arrumaria um dementador...?


 


            Era hoje, pensou, logo que acordou. Era 12 de agosto e este seria o dia em que visitaria sua família. E o melhor era que em menos de três semanas estaria de volta a Hogwarts.


– Tom, venha tomar o café.


Era a Sra. Cole, mais irritante do que nunca. Suas perguntas sobre a escola o importunavam sempre que voltava. Se ao menos pudesse usar a varinha acabaria com isso. Mas não, os alunos menores de idade eram proibidos de usar magia fora da escola. E ainda mais de um trouxa ver a magia, aí sim estaria em encrenca. Hagrid, que acusou há pouco mais de um mês, foi expulso da escola e soube que funcionários do Ministério quebraram sua varinha. Bem feito. Uma aberração daquelas não deveria nem ter o direito de entrar na escola, muito menos de fazer uso de uma varinha. Vestiu-se, calçou os sapatos e guardou a varinha no bolso. Sempre a levava consigo, a verdadeira prova de que era bruxo. Desceu as escadas e se dirigiu a cozinha. Alguns garotos, já tão grandes quanto ele, se afastaram quando sentou. Entre eles Erico Whalley, de quem havia roubado um brinquedo, mas tivera que devolver. Não a mando de Dumbledore, pensou, mas porque era necessário para ingressar no mundo bruxo.


Comeu rapidamente, pegou escondido dinheiro do orfanato que sempre estava a mostra na sala e saiu. Não fazia ideia de onde ficaria Little Hangleton, nunca ouviu falar daquele lugar. Resolveu is até o metrô e procurar nos mapas de Londres. Talvez não ficasse muito longe de King’s Cross e talvez tivesse que pegar um trem. Ah, como se enganou. Abriu o mapa, já no metrô, e constatou que Little Hangleton ficava a quase 200 km dali. Do lado, tinha uma cidade chamada Great Hangleton, a qual um trem por ali passava e que ficava a uns 6 km da cidade de sua família. Dali, teria que andar a pé. Pegou o metrô e foi até King’s Cross. Lá pagou a passagem e esperou o trem. Cerca de uma hora depois de espera, chegou o trem. Como esperava, lotado de trouxas nojentos, mas teve que aguentar. Durante quase quatro horas, o trem andou. Paisagens por paisagens passavam pelas janelas. Parecia a viagem a Hogwarts, embora esta estivesse um pouco menos agravável e demorada.


Chegou a Great Hangleton. Já estava anoitecendo e teve de pagar um lampião numa loja da estação da cidadezinha rural. Não queria usar a magia por algo tão banal. Poderia ser descoberto. Pediu informações a um homem e seguiu diante para Little Hangleton. A cidade era bem calma e quase tudo que via eram fazendas e grandes casas, provavelmente dos donos. Vales e mais vales eram vistos e os animais pastavam tranquilamente neles. Após quase três horas andando, chegou a uma placa onde se lia: Little Hangleton, 1,6 km e uma seta para o norte. Seguiu caminho e continuou a observar tudo. A estrada empoeirada de repente fez uma curva para a esquerda e caiu. Era muito inclinada e, ao que parecia, estava à encosta de um morro. Viu o vale inteiro. Havia uma pequena aldeia, uma igreja e um cemitério ao lado. Do outro lado, uma gigantesca casa senhorial se destacava frente a todas as outras casas pequenas, provavelmente onde morava seu avô e sua família. De repente, um homem estava saindo de dentro do casarão na mesma hora e viu-o. Não devia ter mais de 30 anos, mas o olhar que deu a Riddle foi superficial, pois logo deu as costas e saiu andando para longe. Sequer deve tê-lo enxergado direto, visto a longitude em que se encontravam.


Mais de repente ainda, a estradinha virou para a direita e chegou, talvez, a um beco, exceto que o final não era um muro, mas um penhasco onde se passava um rio. Pelo jeito, se enganara. Seria impossível ir até o casarão. E com certeza não voltaria durante quilômetros para outro caminho. A estrada era ruim demais, muito esburacada. Teria que perguntar algo a alguém. Ouviu uma cobra sibilando ao longe e lembrou-se de quando conversou com uma num vasto campo.


Então, lembrou-se de quando estava em uma árvore quando ela apareceu à procura de comida. Resolveu olhar as árvores à procura de alguma. Foi que viu algo muito estranho. A árvore que de detivera a olhar parecia mais escura do que o normal, havia algo por trás dela, algo escuro. Foi então que viu: havia uma casa suja, pequena e empoeirada entalhada no meio da árvore. As folhas cobriam todo o telhado e alguns galhos saíam de dentro da casa. Talvez fosse uma casa abandonada. As paredes cobertas de musgo. Plantas e mais plantas cresciam ao redor e o gramado estava imenso. Foi então que viu algo curioso: havia uma caveira de uma cobra entalhada no que parecia ser a cobra da casa. Resolveu entrar. Pulou o gramado, ergueu o lampião para melhor iluminar o caminho. Abriu a porta. A casa estava pior dentro do que fora. Várias teias de aranha inundavam a casa, junto com uma grossa camada de poeira. Comida por todo o lado e o cheiro era horrível. Na mesma hora que entrou, viu uma vela acesa e algo muito estranho de seu lado. Um homem o mais horrível do que se podia imaginar. Cabelos longos e grudados na face. Não era possível saber a cor do cabelo tamanha a quantidade de sujeira. O homem arregalou os olhos estrábicos para falar alguma coisa e Riddle constatou que quase não havia dentes em sua boca quando a abriu, gritando de raiva:


VOCÊ. VOCÊ.


Riddle percebeu que não era um trouxa por duas razões. Segurava uma varinha e estava falando a linguagem de cobras. Então, era um ofidioglota assim como ele. Seria de sua família?


Levantou-se rapidamente e ergueu uma faca, mas Riddle se contentou em ordenar, na mesma maneira de falar em ofidioglossia:


Pare.


O homem parou na hora e se jogou a uma mesa. As panelas caíram. Ele olhou novamente Tom Riddle e perguntou, ainda em linguagem de cobra:


Você sabe falar?


Sei falar – respondeu Riddle. Entrou na sala e a porta se fechou automaticamente. O gramado empurrou a porta a fechar. Riddle não parecia nada feliz. Aquele seria seu parente? Aquele homem desgrenhado? – Onde está Servolo? – perguntou. Era necessário ao menos saber se estava no lugar certo.


Morreu. Morreu há anos, não foi?


Aquilo não podia ser verdade. Franziu a testa pensando no que deveria falar.


Quem é você, então? – perguntou, desconfiado e ansioso ao mesmo tempo. Não queria ouvir que era seu parente.


Sou Morfino, não sou?


Lembrou-se do que leu. Morfino, ao que parecia, estava ligado a Servolo. Era seu filho, irmão, portanto, de sua mãe. Morfino era seu tio.


O filho de Servolo? – retrucou rapidamente.


Claro que sou, então...


Morfino tirou os cabelos da face e apertou os olhos para ver Riddle melhor. Segurava o lampião perto do rosto e distinguia-se muito bem seu rosto.


Pensei que você fosse aquele trouxa – disse, ainda com o lampião erguido. – Você é a cara daquele trouxa.


O quê?, pensou Riddle, estaria ele falando de seu pai? Seu pai trouxa? Ele moraria ali perto?


Que trouxa?


Aquele trouxa que minha irmã gostava, aquele trouxa que mora na casa grande mais adiante na estrada – respondeu. E, do nada, cuspiu com raiva no chão. – Você é igualzinho a ele. Riddle – aquela última palavra o fez congelar. – Mas ele está mais velho agora, não é? Mais velho do que você, agora que estou pensando...


Será que o que ele queria dizer era a verdade? Seu pai, Riddle, era um trouxa? E onde estaria agora seu pai? Na casa?


Ele voltou, sabe – disse Morfino, parecendo atordoado.


Riddle pensou antes de perguntar. Vingaria sua mãe, se era o que estava pensando. Se fosse, ele ia fazê-lo pagar.


Riddle voltou?


Arrr, deixou ela, e foi bem feito, casar com ralé – explicou Morfino, tornando-se a cuspir violentamente no chão. – E roubou a gente, veja bem, antes de fugir! Onde está o medalhão, eh, onde está o medalhão de Slytherin?


Nada disse, sua cabeça estava a mil. Aqueles eram sua família. Como saberia da relíquia de Salazar, o medalhão que dava astúcia e rebatia feitiços? Eles eram a última descendência de Salazar até chegar a vez de Tom Servolo Riddle nascer, o herdeiro. Morfino parecia que iria dizer mais, pois brandiu novamente a faca.


Ela desonrou a gente, foi o que ela fez, a vadia! – começou a se irritar ele, com a faca erguida. – E quem é você para entra aqui e ficar fazendo perguntas sobre isso? Já acabou, não é... acabou...


Não, pensou Riddle, acabaria em poucas horas. Vingaria o homem que abandonou sua mãe, uma descendente de Slytherin, a própria sorte e culminando em sua morte.


Riddle segurou o lampião mais baixo e apertou, com a outra mão, a varinha no bolso. Começou a se aproximar de Morfino.


Que é que você quer agora?


– Somente isto... – e num movimento rápido e preciso, Morfino nada pôde fazer para tentar impedir. – Estupefaça!


O jato vermelho saiu da varinha de teixo e atingiu em cheio Morfino no peito. Foi lançado através de toda a casa até bater na parede oposta. A casa deu um pequeno tremelique, mas não desabou. Morfino tinha desmaiado e demoraria para voltar à consciência.


Estava feito. Em poucas horas, o Ministério saberia que um menor de idade cometera um feitiço e viris investigar. Seria melhor não usar mais sua varinha para o que iria fazer. Aproximou-se de Morfino, inconsciente, e tirou de seu dedo um anel com uma pedra negra no meio, com um estranho símbolo engastado nele. Talvez fosse o símbolo da família Gaunt, mas nada poderia dizer. Pegou também sua varinha e saiu. Não importava mais se faria feitiços ou não. Teria que atravessar o vale rapidamente em direção à grande casa.


Invictor Totallum – e com um tapinha de sua varinha, desapareceu completamente. Na verdade, estava se confundindo com a escuridão da noite. Mas ainda tinha que atravessar o vale:


Hórus flier – e com um largo arco, descrito pela varinha, começou a flutuar. Apontou a varinha para a casa e começou a voar até ela. Aquele feitiço foi inventado por Riddle e ainda não o tinha testado fora da escola. Tinha voado quase 6 metros acima do chão até começar a descer lentamente contra sua vontade. Pelo menos não despencou, pensou, mas teria que ser aperfeiçoado. E este seria o momento perfeito.


Atravessou o vale sem nenhuma decaída e chegou à grande casa. Algumas janelas estavam abertas e era possível ouvir vozes. Guardou sua varinha no bolso e teria que começar a usar a de Morfino. A grama estava cuidadosamente aparada e a casa estava intacta em termos de sujeira e poeira.


Alorromora.


Apontou a varinha de Morfino para a porta dos fundos e por ela entrou. Estava numa bela e vasta cozinha, tão grande quanto a do orfanato, mas não tão bela. Esta era totalmente branca. Atravessou-a e chegou a um hall. O corredor guarnecia alguns lampiões e Riddle apagou-os, silenciosamente. Haviam várias portas para outros cômodos, mas não queria saber como eram. Iria logo para o alto, onde se ouviam as vozes. Subiu as escadas e chegou a um novo corredor. Ouviu um homem conversando com uma mulher, mas estes pareciam velhos. Decididamente, a julgar pelos cabelos grisalhos, eram velhos. Foi então que ouviu uma voz parecida, algo que se parecia com a dele. Seguiu em diante o corredor e chegou a uma vasta sala. Havia um homem sentado numa poltrona e de costas a porta. Era uma extensa sala de estar, com móveis novos em folha. Só era possível ver seus cabelos negros e sua voz:


– Sim, Cecília. Amanhã, então. Meus pais irão a Great Hangleton e Robert não virá aqui.  Franco também não, acabou de sair. Além disso, foi convocado para a guerra, então demorará a voltar. É, eu sei. Mas quem manda ser um inútil? Te amo, até mais.


 


Pelo jeito, estava falando pelo telefone, um aparelho usado pelos trouxas para se comunicar. Riddle se adiantou e fechou a porta. Guardou as duas varinhas e foi até o meio da sala onde o rapaz se encontrava, agora prestes a levantar da poltrona e se virar.


Foi então que ele se levantou e saiu da poltrona. Aquela seria a hora. Mas o rapaz foi até a janela e olhou através dela até a casa onde Morfino se encontrava e disse consigo mesmo:


– Hunf, traste mesmo.


Foi então que viu o reflexo de Tom no vidro e virou-se, rapidamente.


– Quem é você? O que faz aqui? – perguntou assustado, talvez mais assustado de ver seu duplo à frente.


Eles eram idênticos. Tom Servolo Riddle tinha sua altura, seus cabelos, seus olhos, seu rosto e todas as suas características físicas, embora menos velho. Era possível dizer que eram gêmeos se não fosse a diferença de idade.


– Eu sou Tom Servolo Riddle. Você é Tom Riddle? – indagou Tom Riddle filho, virando o pescoço e analisando-o furiosamente.


– Sou, mas quem é você? Como entrou em minha casa? – o homem parecia apavorado e tentava gritar, mas o grito não saía. Aquilo era nojento: ter um pai trouxa, idêntico a ele e ainda por cima, covarde.


– Você conheceu Mérope Gaunt – começou Riddle a dizer, cada vez com mais raiva –, irmã de Morfino Gaunt e filha de Servolo Gaunt?


Os nomes vieram automaticamente a sua cabeça.


– Se eu...? E quem é você para fazer essa pergunta? – perguntou Riddle pai, se intercalando a não responder à sua pergunta.


– Eu sou o filho dela.


O homem arregalou os olhos. Seria verdade? Lembrou-se de que Mérope estava grávida quando escapou.


– Filho?


– Filho! – Riddle gritou e a sala onde estavam deu um pequeno tremelique, mas parece que somente Riddle pai tinha ouvido. – E você casou-se com ela e depois fugiu!


– Ora essa! – agora era o pai quem gritava. – Aquela megera deve ter me confundido de algum jeito. Eu logo vi que ela devia ser uma bruxa. Sempre a via com uma “varinha de condão” no bolso, mas, por algum motivo, eu não me importava com aquilo. O pai louco dela e o filho devem estar com ela neste momento. Vá lá, logo ali – ele apontou para a janela e para onde ficava a casa dos Gaunt –, eles moram naquele casebre sujo e imundo.


– Não adianta mais – rosnou Riddle. – Mérope Gaunt, minha mãe, morreu no dia em que nasci.


– Ora essa, e eu com isso? – suas palavras eram suficientes para fazer Riddle atacá-lo, mas ele se segurou.


– Conhecia sim. Morfino disse que ela e você fugiram juntos e que depois você voltou. Você a abandonou e ela morreu!


– E daí se a abandonei? Eu nem queria fugir com ela, ele deve ter feito alguma coisa comigo! – O que era verdade, embora Tom Riddle filho não soubesse.


 – Seu desgraçado! Eu pensando que minha mãe era uma trouxa e que por isto tinha morrido e que você não era. Que você era como eu! Caso contrário, ela não teria morrido. Se fosse ela, não poderia morrer!


– Trouxa? Eu sou como você? Do que está falando? – Riddle gritava desesperadamente olhando para a porta atrás de Riddle filho, até seu pedido ter sido atendido.


A porta se escancarou e duas pessoas entraram. Eram um casal de velhos, de uns 60 anos, e pareciam abalados.


– Tom, minha nossa – disse a mulher – Quem é... ele? – disse, apontando para Riddle. Os pais do homem iam e vinham de Tom Riddle filho para Tom Riddle pai.


– Ora, ora – disse Tom Riddle filho sorridente, num tom de voz letal –, são seus pais, Tom Riddle? Meus avós, portanto? – perguntou, colocando a mão sobre seu próprio peito e olhando maliciosamente para os velhos.


– Isso, o que quer com eles agora?


– Acabar com a sua raça nojenta – tirou a varinha de Morfino, apontou-a para a velha e pela primeira vez na vida, exclamou a conhecida maldição:


Avada Kedavra!


Tom Riddle sentiu alegria. Uma sensação de bem estar que nada mais do que a maldição poderia lhe trazer. Seu cérebro jorrou prazer ao ver a velha ser atingida por um relâmpago verde e tombar, inerte, no meio da sala.


– MARY! – gritou o avô de Riddle. Ele correu até ela e sua pele estava branca e fria. Não podia ser verdade.


– O que você fez com minha mulher? O que foi esse relâmpago? – gritava o velho desesperado, pedindo ajuda ao filho.


– Ela está morta – disse Riddle, rindo.


– Não está, não! – gritou Riddle pai e correu junto com sua mãe e seu pai. Tocou a mãe e estava fria com os olhos abertos. O coração não mais batia e nada que pudessem fazer a traria de volta.


– NÃÃÃÃÃO! – gritou Thomas Riddle, o avô de Riddle. Avançou com as mãos tremendo em direção ao garoto, que riu antes de amaldiçoar novamente.


O relâmpago acertou o rosto do velho. Ele não foi lançado para trás como fez a velha, mas foi mais prazeroso ainda seu olhar assustado, ainda em pé, e cair lentamente para trás, morto.


– PAAAI! – gritou Riddle pai, atravessando a sala até onde seu pai tinha caído morto pela maldição.


– O que você fez? O que é essa coisa?


– Isto é uma varinha. Você é um reles trouxa nojento que não entende nada de magia. Sou um bruxo. Minha mãe também era. Servolo e Morfino também. Minha mãe, sendo uma descendente direta de Slytherin, te amava. Não entendo por que, mas ela te amava. E no momento em que mais precisava, você a abandonou, resultando em sua morte...


– Ah, magia. Eu sabia muito bem o que era aquilo que ela fazia – disse Riddle pai, ajoelhado diante do próprio pai. – Ela deve ter me enfeitiçado para fugir com ela e me obrigou a casar. Ainda por cima, dormi com ela e me disse que estava grávida de você. Não poderia suportar aquilo – as palavras de seu pai o atingiam fazendo sua fúria aumentar ainda mais. – Então, fugi e me separei quando ela parou de me enfeitiçar. Bruxa era o que ela era, eu não acreditava em magia!


– Minha mãe sofreu antes de morrer, me contaram – Tom Riddle aumentou a voz e agora Riddle pai saberia o que viria –, e ainda por cima conseguiu dizer meu nome. Meu nome do meio seria Servolo, por causa do pai dela, e Tom Riddle em sua homenagem. Tenho vergonha disso, ter o mesmo nome de um trouxa nojento e imundo. Mas isso vai mudar, mudarei isso. Mudarei meu nome. O mundo me conhecerá e ninguém irá poder me enfrentar...


– Eu imploro... eu não queria – Riddle pai estava começando a tremer. Havia chegado a sua hora.


– Temerão meu nome e serei o bruxo mais poderoso do mundo – discursou Riddle. E com o olhar vingativo, continuou – E vingarei minha mãe...


– Não, não... – aquilo o enojava. Riddle pai estava diante dos cadáveres de seus pais e tremia mais ainda – por favor, já matou meus pais. Vá embora e não contarei a ninguém – ele era mais nojento do que se pudesse imaginar. Tampouco se importava com seus pais já mortos, apenas se preocupava com si mesmo.


Riddle apontou a varinha de Morfino lentamente para seu próprio pai e queria ver aquilo acontecer de perto. Se aproximou lentamente e todo o ódio em ver seu rosto encarnado num trouxa o possuía. Seu nome era para lembrar para sempre um trouxa qualquer. Imaginou sua mãe implorando pelo homem que fugiu e abandonou-a grávida, sozinha, e perdida nesse mundo. Imaginou-o sabendo que a mulher com quem tinha casado era bruxa e que fugiria para não criar seu filho. Nunca mais...


AVADA KEDAVRA!


A maldição estourou da varinha e se dirigiu como uma explosão ao rosto de Tom Riddle. Quando tocou em seu rosto, viu o brilho daqueles olhos desaparecer. A pele ficou branca e tombou em cima dos cadáveres dos velhos já caídos. Seu coração batia forte e sua mãe fora vingada. Tirou o anel de Morfino do bolso e colocou-o diante dos cadáveres. Tirou a varinha de teixo e agora seria a vez de usá-la. Lembrou da primeira vez e do que o livro dizia. Seria mais fácil agora...


Claudere anima!


Saiu a massa escura de seu peito. Ela gritava, talvez mais do que da primeira vez. A varinha tremia. Sentiu-se como a primeira vez: pesado e leve. O coração acelerado, a pupila dilatada. O anel começou a obter em seu redor uma aura dourada e começou também a tremer. Logo, toda a massa saiu e se dirigiu, quase que automaticamente, ao anel. Logo, este parou de tremer e o processo estava feito. Era sua segunda Horcrux. Colocou-o no dedo do meio da mão esquerda e deu uma última olhada no pai morto junto com os avós. Amanhã, a aldeia teria uma grande surpresa. Os três Riddle mortos na sala de visitas.


Desceu as escadas, saiu pela porta dos fundos e trancou-a, novamente com a varinha de Morfino.


Pegou a sua varinha e exclamou:


Hórus flier!


Não adiantava mais o feitiço de desilusão. Ninguém o veria nessa hora da noite. Atravessou o vale e chegou ao outro lado, até a casa onde Morfino se encontrava desmaiado. Entrou na casa imunda e Morfino continuava caído. Foi até ele e deixou sua varinha junto às suas mãos. Teria que incriminá-lo. Logo, o Ministério receberia informações sobre a morte desconhecida de três pessoas. Concentrando-se como nunca e lembrando do que havia lido em Compêndio de feitiços complexos disse, apontando a varinha para Morfino:


Obliviate!


E algo branco saiu da varinha indo em direção ao cérebro de Morfino. Tom Riddle pensou fortemente em tudo que acontecera desde que chegara a outra casa. Imaginou-se abrindo a porta dos fundos, atravessando a cozinha, apagando os lampiões do hall, subindo o corredor e chegando à sala onde Tom Riddle estava. Depois, uma alegre conversa até a hora dos velhos intrometidos aparecerem. Matou-os e depois Tom Riddle, e saiu. É claro, com um porém: era Morfino quem teria cometido aquilo. Por isso pegara sua varinha, o Prior incantato serviria para provarem que Morfino cometera o triplo assassinato. Todo o feitiço fora completado. Morfino acordaria pensando nisso e somente nisso. Se o interrogassem, ele diria que fez aquilo com prazer. Se entrassem em sua mente, a memória estava fresca. Saiu da casa e fechou a porta, com a varinha de teixo no bolso e o anel no dedo. Caminhou feliz para a estação da cidade, pegou o primeiro trem e chegou a King’s Cross. Lá, pegou o trem para uma estação em Londres, pegou um metrô e chegou ao orfanato. Já era noite, mas o novo guarda, Luís, deixou-o entrar. Subiu e logo dormiu.


 


Passou os próximos dias pensando naquilo tudo. O anel estava em seu dedo e não o tiraria dali tão cedo. A Sra. Cole vivia perguntando como era a sua família e Tom respondia alegremente: estão bem melhores depois que apareci. Ele teve o cuidado de mentir onde ficava o local, pois no dia seguinte, num aparelho trouxa chamado de televisão, notícias informavam a estranha morte de uma família em Great Hangleton. Soube que prenderam o jardineiro da família, Franco, mas nada soube de Morfino. Já era 1º de setembro de 1943 e havia chegada a hora do começo do 6º ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.


Foi a King’s Cross e atravessou a barreira. Lá estavam seus amigos: Aurum, Natrium, Laurêncio, Tecnécio e Evan, que havia feito amizade no primeiro ano de Tom, mas que não conversavam tanto quanto os outros quatro. Mas, definitivamente, Rubídio também era grande amigos deles, apesar de estar no último ano.


Entrou no Expresso de Hogwarts e teve que se dirigiu ao compartimento dos monitores. Rubídio Rosier se tornara monitor chefe da escola e de tudo sabia. Contara agora pouco que a professora Merrythought iria em breve se aposentar. Recebeu as senhas do mês e logo pôde procurar os amigos em outros compartimentos. Achou-os e logo começaram a conversar. Riddle não falaria sobre o que fez nas férias de verão, pois isso implicaria em contar aos amigos que seu pai era trouxa e isso não aconteceria. Mas não tinha problema em falar uma coisa...


– Tom, como foram as suas férias? – era sempre a mesma pergunta de Tecnécio. Estava começando a chatear.


– Visitei meu tio, irmão de minha mãe que já morreu. Descobri que ele também é ofidioglota e que nossa família é descendente direta de Slytherin. Minha mãe estava com o medalhão no dia em que morreu. Suponho que deve estar perdido por aí, mas encontrarei-o.


– Uau – disseram os três em uníssono, até Aurum apontar o dedo para a mãe de Riddle e perguntar, ansioso:


– Tom, o que é isto? – indagou Aurum, olhando para o anel de ouro com a pedra negra em deu dedo.


Havia esquecido do anel-Horcrux em sua mão, mas não seria problema:


– Meu tio me deu – mentiu ele. – É uma distante relíquia da família Gaunt e agora me pertence.


Ele mostrou o anel com a pedra negra encravada para todos poderem ver melhor.


Logo chegaram à escola. Novos alunos foram selecionados, o banquete terminou e um novo ano letivo começou. Tom levava sempre consigo o anel, no dedo do meio da mão esquerda, exatamente onde Morfino usava antes de roubá-lo. Leu no Profeta Diário sobre um triplo assassinato trouxa e resolveu ler, curioso:


Assassinato (?) triplo assusta povoado


 


Há poucas semanas, uma família trouxa foi encontrada morta no povoado de Little Hangleton. A empregada da família (algo semelhante como um elfo doméstico) prestou depoimento aos encarregados em crimes trouxas dizendo que foi trabalhar de manhã e nada de estranho havia acontecido. Até subir no patamar mais alto e encontrar os cadáveres na sala. Na mesma hora, saiu correndo e gritando pelo vilarejo até chegar a uma delegacia (parecido com o nosso quartel-general de aurores). O povo não bruxo ficou pasmo com o caso, pois não havia sinais de assassinato. Não tinham sido esfaqueados, envenenados, feridos a bala (projéteis de alta velocidade que armam os trouxas) nem torturados. Pareciam ter morrido de medo, pois suas expressões faciais eram pavorosas. Um trouxa, chamado Franco Bryce, 26 anos, que cuidava da casa após ter voltado da guerra trouxa, foi preso, mas por falta de provas mais conclusivas foi liberado.


“Foi então que soubemos que foi um assassinato bruxo”, disse o chefe da Seção de Aurores, Jamelin Squiggler. “Fomos atrás de um conhecido bruxo que já havia sido preso por atacar um dos assassinados. Ele confessou abertamente o crime, dizendo que estava há anos esperando pela oportunidade e que tinha orgulho do que fizera. Se não fosse sua perfeita confissão, já que tudo o que dissera foi comprovado (inclusive a varinha que matou a família) este seria dado como louco, já que não parava de dizer inconscientemente: ‘Ele vai me matar por ter perdido o anel’”.


“Casos como este nos fazem distanciar ainda mais de nós mesmos e nos aproximar dos trouxas que matam por ambição e prazer. Sem falar que isso pode provocar sérias cláusulas caso algum trouxa veja algo de estranho”, concluiu Squiggler.


“Mas estranho foi que o Ministério recebeu alerta de magia ilegal praticada por menores na região”, como exemplifica o superintendente do Departamento de Execução das Leis da Magia, Ceifer Weiler, “mas nada encontramos. Infelizmente, nosso departamento não conseguiu nenhum avanço em saber o autor de magia ilegal.”


 


O texto acabava aí. Aquilo foi pura sorte, pensou. Então o Ministério sabia que algo ilegal aconteceu, mas não quem o fez.


– Que achou, Tom? – indagou Aurum, que havia lhe passado o jornal?


– Bem feito – respondeu com ferocidade.


Mas havia algo que ainda o incomodava. Seu nome. Não queria mais portar tampouco ser conhecido por um nome trouxa. Teria que mudar aquilo e seria hoje.


Logo após a aula do professor Longen, muito boa, diga-se de passagem, em que aprenderam a mudança de letras em uma palavra e suas diversas probabilidades, sabia como resolver seu problema. Aprendera análise combinatória e iria mudar seu nome.


 Primeiro, teria que obter um título de nobreza. Pensou em Lord, pois sempre havia gostado desse título. Então, de TOM SERVOLO RIDDLE, tiraria LORD e ficaria TOM SERVO IDLE. Gostaria que fosse sempre apresentado, um “e aí vem” ficaria muito cafona. Um “eis” ficaria melhor. De TOM SERVO IDLE, tiraria EIS e sobraria TOMRVODLE. Teria que significar algo digno e foi procurar em livros tradutores que contivessem essas letras. Passou para o francês e achou perfeita a tradução: Roubar a morte – Voldemort. Seria esse como seria apresentado: EIS LORD VOLDEMORT. E foi assim que pediria aos amigos que o chamassem sempre que estivessem sozinhos, pois a mudança de nome geraria perguntas incômodas.


Só faltava esse nome para ser o “bambambã” da escola.  Após sua demonstração de ofidioglossia e suas “predições” sobre os ataques, passou a exercer grande influência na casa Sonserina. Alguns o seguiam por puro respeito. Tecnécio, apesar de viver falando mal dos trouxas, era só boca. Nada fazia com medo de ser apanhado. Era um dos mais medrosos em busca de coragem. Aurum e Rubídio eram sedentos pelo poder e glória. Natrium, mesmo sendo o certinho, e Laurêncio eram os violentos do grupo. Arrumar brigas eram seus dons. Mas respeitavam Riddle, pois sabiam o que poderia fazer se quisesse.Eram o grupo mais fascinante, e também, o mais perigoso da escola. Todos comandados por um único líder, Tom Riddle, ou melhor, Lord Voldemort.


            O sexto ano estava muito difícil, já que escolheriam as matérias para o N.I.E.M. do próximo ano. É claro que, para a ascensão, estudou todas as matérias possíveis, exceto Estudo dos Trouxas. Agora, no dormitório, recordou-se de tudo o que fizera. Pegou o livro embaixo da cama e começou a relê-lo. Alertas sobre a instabilidade da alma não o preocupavam, mas havia algo que queria fazer. O livro nada dizia sobre o que aconteceria ao bruxo que fizesse mais do que uma Horcrux. Era óbvio que nada, pois Riddle já tinha duas, mas qual seria o limite? Seria bom se fortalecer cada vez mais pela busca da imortalidade. O professor Binns havia dito sobre o número 7 ser o mais poderoso número mágico. Então, sete Horcruxes estavam de bom tamanho. Ou seria melhor sete pedaços de alma? Nesse caso, seriam seis Horcruxes. Já tinha duas, teria que pensar mais tarde nas outras quatro. Teriam que ser objetos importantes, já que o diário provava sua ancestralidade e o anel pertencia a sua família, ancestral também de Slytherin. As mortes também teriam que ter valor, já que a morte da garota foi ocasionada pela Câmara Secreta que o herdeiro abriu e a morte de seu pai trouxa o fez criar um novo nome. O medalhão de Slytherin seria a próxima, pois era a única relíquia que conhecia que o pertencia. Talvez algo dos fundadores, que criaram seu primeiro e verdadeiro lar. Objetos dos fundadores com certeza o satisfaria. Resolveu ler algo a respeito em: Hogwarts: uma história.


 


A espada de Godric Gryffindor, criador da casa Grifinória e primeiro diretor de Hogwarts. Feita com uma lâmina de prata fabricada por duendes e com um punho cravejado de rubis. A lâmina repele a sujeira e absorve qualquer substância que pode deixá-la mais forte. Diz a lenda que Gryffindor a legou a qualquer aluno grifinório corajoso e que precisasse se ajuda. A espada se encontra em Hogwarts.


O medalhão de Salazar Slytherin, criador da casa Sonserina. O medalhão dá astúcia para o bruxo e seus espelhos, atrás da abertura, repelem feitiços. Cravejado por esmeraldas. Slytherin legou-o através dos séculos para sua família e não se sabe sua atual localização.


A taça de Helga Hufflepuff, criadora da casa Lufa-Lufa. Dá lealdade a quem sabiamente usá-la e é mais útil do que o feitiço Legilimens, já que não pode ser combatida. Usada para “ver” a mente. Feita de ouro e foi legada a família Hufflepuff. Não se sabe a atual localização.


O diadema de Rowena Ravenclaw, criadora da casa Corvinal. Espécie de tiara que dá sabedoria e inteligência. Estão gravados os dizeres: O espírito sem limites é o maior tesouro do homem. Sumiu misteriosamente antes da morte de Ravenclaw.


 


Bem, pensou, o diadema seria o mais difícil, pois há quase um milênio estava sumido. A espada poderia roubar em Hogwarts, faltava saber sua localização. Seria realmente difícil se estivesse na casa da Grifinória. Chutaria que os outros objetos estavam nas outras casas, mas somente a taça iria apostar. Vasculhou todo o salão comunal e nunca achou nada parecido com o medalhão. A taça, se não estivesse no salão comunal da Lufa-Lufa, devia estar com os descendentes de Helga. Isso teria que pesquisar depois.


Os meses se passaram velozmente e já estava final de novembro quando recebeu uma carta. Devia ser de Slughorn sobre suas festinhas e mais bajulação do professor.


Abriu-a e leu:


 


            “Caro Tom,


 


Como bem sabe, é meu preferido aluno. Sei que se dará muitíssimo bem quando terminar Hogwarts e sentirei sua falta. Espero que junte-se a mim num último jantar de fim de ano. Será na véspera de Natal, às 20h, na minha sala. Aguardarei sua resposta.


 


            Sinceramente,


            Professor H. E. F. Slughorn”


 


            Riddle arregalou os olhos e olhou para os lados para se certificar de que ninguém o observava. Seria coincidência ou o destino receber aquela carta naquele momento tão crucial? O que andava desesperadamente para saber estava na frente de seu nariz? Por que não conversou mais sobre o basilisco sobre as coisas que ouvia? Teria que comprovar o que achava e se dirigiu a biblioteca. Achou rapidamente aquele livro de Genealogias de Servolo Gaunt e achou o nome que procurava: Hoácrio Érbio Férmio Horcrux. Era um anagrama perfeito, pensou. Trocava-se duas palavras e Hoácrio virava Horácio. Seria tudo ao acaso? Procurou através de outro livro para provar um nome. Era o registro de todos os professores que passaram por Hogwarts. Procurou os atuais. Leu o nome do professor Ózon de relance e viu o cumprido nome do professor Dumbledore.


Enfim, achou o nome inteiro de seu professor de Poções: Horácio Érbio Férmio Slughorn. Faltava voltar ao livro de Genealogias, mas nele nada achou. Procurou por outro livro, tão velho quanto, e achou a árvore genealógica de Horcrux. Seu último descendente era uma mulher de nome Epitânia Horcrux que se ligava por um traço a Polaro Slughorn e, de sua junção, aparecia Horácio Slughorn.


 Será que era por isso que o professor nunca assinava seu nome inteiro? Vergonha? Era descendente direto de Hoácrio Horcrux e nunca mencionou nada disso a ninguém, tampouco ao seu favorito, pensou Riddle. A mãe do professor era parente distante do assassino que criou a pior invenção da Arte das Trevas. A mãe não queria que o nome de seu filho mudasse para Slughorn, mas era a lei. Então, mudou duas letras do nome de seu filho que pudessem fazê-lo lembrar de Hoácrio que, afinal, tinha duas partes de alma. Por isso as duas letras. Então, o professor preferido de Riddle era parente do homem que mudou sua vida ao criar acidentalmente uma Horcrux. Vários jantares já foram realizados, várias perguntas sobre as famílias dos participantes já foram feitas e só agora se tocou de que o professor nunca mencionava sua mãe, apenas o pai Polaro. Sempre que sua mãe aparecia nas conversas, aparentemente o professor fingia-se de surdo ou então acabava com o jantar. Fazia de tudo para o assunto ser esquecido e essa era a razão. Não queria ser relacionada ao pavor que seu antepassado realizou há quase dois milênios. Bruxo brilhante que o professor era, sabia quase tudo de bruxos famosos, sendo a maioria das trevas.


Com certeza conheceria todo o processo de criação e teria se informado de todos os passos de Hoácrio Horcrux. Então, saberia algo a mais, algo de especial em relação a Horcrux. Talvez soubesse a dúvida que Riddle queria tanto tirar, a possibilidade de seis Horcruxes. Não iria deixar seu mais brilhante aluno em dúvida, mesmo neste caso. Sabia como o professor era, nunca queria deixar os alunos curiosos e sempre dava a resposta completa para eventuais duvidas. Ele não se negaria a responder a Tom, tão persuasível que era. Não negaria ao seu melhor e mais “curioso aluno” que vivia sedento a aprender cada vez mais. Teria que ser tudo muito bem planejado. Ele relutaria se Riddle insistisse no assunto. Talvez fugisse do assunto ou fugisse literalmente. Soube do caso que o professor aprontou no bar conhecido 2 Vassouras, exceto que na época era apenas 1 Vassoura. O professor, bêbado, tentou agarrar a dona do bar e quase foi enfeitiçado. Apenas se estrunchou, pois aparentemente aparatou para o castelo com medo do feitiço e causou muita confusão. Suas pernas ficaram estáticas no bar, mas isso é outra história.


 O caso é que o professor poderia fugir do jantar. Aparatar seria insanidade, duvidava que o professor tentaria isso de novo. Sua sala era muito pequena e sequer tinha lareira, então também não poderia escapar por ali. Então, estaria encurralado. É claro, teria que “amaciar” o professor antes. Deixá-lo feliz, relaxado, se possível bêbado e ganharia uma caixa de seu preferido doce.  Talvez um hidromel que tanto gostava. Mas tudo poderia dar errado. Riddle não poderia demonstrar ansiedade. Teria como saber parar ante a alguma pergunta embaraçosa do professor. Teria que ficar envergonhado caso o professor se relutasse a falar algo a mais, deixando-o infeliz ao ver seu melhor aluno de cabeça baixa. Pararia nas horas certas, olharia nos olhos nos momentos certos. Teria que bajulá-lo discretamente, saberia hesitar e perguntar como se não se importasse muito com o assunto. A excitação seria seu maior desafio. Sobre isso, teria que aprender rigorosamente. Não podia dar errado.


 


            O mês passou voando com Riddle ensaiando a conversa. Mas havia algo que queria contar aos amigos e assim o fez. Contou tudo sobre Horcruxes e sobre o livro. Demonstraram algo que acharia que não fariam. Nojo. Como poderiam sentir nojo quando seu líder viveria para sempre. Seria o mais poderoso de sua época e todos o temeriam. Porém, explicou somente o diário-Horcrux e nada disse sobre o anel e as prováveis outras. Já era véspera de Natal.


– Aurum, Laurêncio! Vamos logo – gritava Tom Riddle.


– Espere, Tom. Quer dizer, Voldemort. Não entregamos nossos trabalhos de pedra da lua – não haviam entregado porque sequer o tinham feito, mas Riddle estava nem aí.


– Dane-se. Vamos logo. Depois vocês vêem isso!


– É – gritou Natrium –, Slughorn sempre dá um tempo.


– Tecnécio – disse Riddle para o colega do lado que respondeu: sim? – Vá ver se Evan já está pronto.


– Estou indo – e Tecnécio foi correndo para o outro dormitório.


Tom Riddle teve que esperar ainda por mais cinco minutos ato todos chegarem. Logo, foram para o jantar. Riddle tinha que controlar a excitação. Chegaram à sala do professor e bateram.


– Tom, que bom que veio, meu rapaz. Entre, entre, não precisa pedir licença. Vocês também, Nott, Travers, Lestrange, Avery e Rubídio.


Os seis amigos entraram e Slughorn virou-se para Tom:


– Que é que você tem aí, Tom? – perguntou, virando a cabeça para ver o que Tom carregava.


– Trouxe ao senhor, professor – e entregou a caixa que havia há poucas horas encomendado.


– Ah, Tom. Seu danadinho. É meu doce preferido – informou, feliz. – Obrigado mesmo.


Riddle se segurou para dizer: Eu sei, mas logo incrementou outra coisa:


– E trouxemos também esse hidromel.


– Minha nossa, você trouxeram tudo? Cadê o banquete? – perguntou, assustado, mas com um ar de felicidade no rosto – Está escondendo ele, Travers?


O professor ria gostosamente e os alunos acompanharam.


– Bem, vamos logo.


O jantar já estava à mesa e estava tudo muito bom. Conversaram sobre tudo, inclusive sobre as famílias de cada um, exceto a de Tom e a do próprio professor. Riddle começou a prever coisas que ninguém mais sabia, exceto Rubídio que o havia contado:


– Senhor, é verdade que o Professor Merrythought está se aposentando? – ele deu uma leve piscadela para Rubídio, que contribuiu. Então, virou-se rapidamente para o professor. O anel que roubara, que era uma Horcrux, estava em seu dedo. Brilhava o ouro no contraste com a luz logo acima.


– Tom, Tom, se eu soubesse não poderia lhe dizer – o professor deu um leve sorriso e apontou o dedo lambuzado de abacaxi para ele. Então, deu seu conhecido piscar para Tom. – Confesso que gostaria de saber onde você obtém suas informações, rapaz. Sabe mais do que metade dos professores.


Riddle sorriu. Os outros garotos, a exceção de Rubídio que também sabia da informação, o olharam com respeito e admiração.


– Com a sua fantástica habilidade para saber o que não deve e a sua cuidadosa bajulação das pessoas certas... – ele olhou para o doce que tanto gostava e levantou-o para todos verem –, aliás, obrigado pelo abacaxi, você acertou, é o meu preferido – os garotos tornaram a rir e a olhar Riddle. – Estou seguro que chegará a Ministro da Magia em vinte anos. Quinze, se continuar a me mandar abacaxis. Tenho excelentes contatos no Ministério.


Novamente, Riddle sorriu e os colegas riam com satisfação. Todos o consideravam um nato líder.


– Não sei se a política me conviria, senhor – o que era verdade. Não precisava ficar sentado atrás de uma mesa com a burocracia diária, mas não falaria sobre isso. – Primeiro porque não pertenço as bem-nascidas.


Riddle falava, por parte, a verdade. Afinal, era trouxa por pai e descendente se Slytherin por mão. Mas Aurum e Tecnécio trocaram olhares debochados, pois sabiam que o amigo estava falando aquilo somente na frente de Slughorn para, talvez, ganhar pena do professor.


– Tolice – replicou o professor –, não poderia ser mais evidente que você descende de boa família bruxa – isso é verdade, pensou Riddle –, com as habilidades que tem. Não – disse o professor, olhando em seus olhos –, você irá longe, Tom. Até hoje, jamais me enganei a respeito de um aluno – isso seria verdade. Iria longe, mas não como pensava Slughorn.


Um relógio de ouro bateu e já eram 11 horas. Passaram três horas ali. Todos se viraram e Slughorn anunciou:


– Céus, já é tão tarde assim? – exclamou, aparvalhado. – É melhor vocês irem andando, rapazes, ou todos ficaremos encrencados – ele se virou a Aurum e a Laurêncio e os garotos, envergonhados, saberiam o que viria. – Lestrange, quero o seu trabalho até amanhã ou receberá uma detenção. O mesmo se aplica a você, Avery.


Os garotos concordaram e também se levantaram. Rubídio, como monitor chefe, logo saiu, seguido de Natrium e Tecnécio, que disse para Riddle, baixinho:


– Boa sorte.


O professor tinha ido guardar seu cálice a Riddle resolveu apressar as coisas. Levantou o braço como se estivesse se esticando e o professor virou-se rapidamente.


– Ande logo, Tom, você não quer ser apanhado fora da cama depois da hora, ainda mais sendo monitor – disse o professor.


Agora era a hora. Controlou-se e falou:


– Senhor, eu queria lhe perguntar uma coisa.


– Então pergunte, meu rapaz, pergunte.


– Senhor, estive imaginando o que o senhor saberia sobre... – teria que ser imparcial –, sobre Horcruxes.


Slughorn arregalou os olhos, mas não demonstrou nada. Resolveu que não era com ele e acariciou a taça em sua mão.


– Um trabalho para a Defesa Contra as Artes das Trevas, é?


Tom sabia que o professor estava se fazendo de desentendido, mas também seria burrice dizer sim quando não havia trabalho algum.


– Não exatamente, senhor. Encontrei o termo em um livro e não entendi muito bem – mentira pura.


– Não... bem... você estaria num apuro para encontrar em Hogwarts um livro com detalhes sobre Horcruxes, Tom – é claro que não, pensou, afinal o livro estava em sua posse. – É feitiço das trevas, realmente das trevas.


O professor estava pensando em cada palavra antes de falá-la. Não queria falar disso.


– Mas obviamente o senhor conhece bem todos eles, não? – afinal, era parente de Horcrux. Mas percebeu que estava muito ansioso e baixou o ritmo. – Quero dizer, um bruxo como o senhor... me desculpe, quero dizer, se o senhor não puder me falar, obviamente... achei que se alguém pudesse, seria o senhor... então pensei em perguntar – esforçou-se ao máximo para realizar todo esse teatro.


– Bem – disse o professor, após um breve momento pensando e agora brincando com a fita do doce –, bem, é claro que não pode haver mal algum em lhe dar uma ideia geral. Só para você entender o termo: Horcrux é a palavra usada para um objeto em que a pessoa ocultou parte da própria alma.


– Mas não entendo muito bem como se faz isso, senhor.


Exceto que já tinha feito, mas a pergunta que queria fazer viria depois.


– Bem, a pessoa divide a alma, entende – explicou –, e esconde uma metade dela em um objeto externo ao corpo – ele fez um movimento em direção a caixa em cima da mesa. – Então, mesmo que seu corpo seja atacado ou destruído, a pessoa não poderá morrer porque parte de sua alma continuara presa a terra, intacta. Mas, naturalmente, a existência sob tal forma... – Slughorn deu uma engolida em seco apenas pensando no caso –  ... poucas pessoas iriam querer, Tom, muitas poucas. A morte seria preferível.


Não aguentava mais. Apesar de já ter lido sobre isso, a imortalidade, o modo como o professor explicou era fantástica e sua excitação já estava estampada em seu rosto.


– E como é que se divide a alma? – perguntou, acariciando de leve o anel que guardava um pedaço de sua alma.


– Bem, você precisa compreender que a alma deve permanecer intacta e una – respondeu o professor, tentando de tudo esquecer o assunto. – A divisão é um ato de violação, é contra a natureza.


– Mas como é que se faz? – insistiu na pergunta, apesar de já saber a resposta.


– Por meio de uma ação maligna: a suprema maldade – e com uma nota enigmática, o professor fez uma careta. – Matando alguém. Matar rompe a alma. O bruxo que desejasse criar um Horcrux usaria essa ruptura em seu proveito: encerraria a parte que se rompeu...


– Encerraria? Mas como...? – é claro que ele sabia. A pergunta era só para saber até onde o professor continuaria.


– Há um feitiço, não me pergunte, eu não conheço – retrucou na mesma hora acenando com a cabeça negativamente. – Tenho cara de quem já experimentou isso... tenho cara de homicida?


O professor estava se descontrolando e Riddle logo interveio:


– Não, senhor, naturalmente que não. Desculpe, não pretendi ofender o senhor... – murmurou ele, querendo parecer que fora longe demais diante do professor favorito dele.


– Tudo bem, tudo bem, não me ofendi. É natural sentir alguma curiosidade por essas coisas... bruxos de certo calibre sempre se sentiram atraídos por este aspecto de magia...


– Sim, senhor – agora seria a hora. – Mas o que não entendo... por curiosidade – pelos olhos do professor, viu que não queria ter entrado na conversa. Logo, tirou o contato visual e olhou para várias fotos de antigos alunos do professor. Mas então desandou a falar. – Quero dizer, será que uma Horcrux serve para alguma coisa? Pode-se dividir a alma apenas uma vez? Não seria melhor, fortaleceria mais a pessoa, se ela dividisse a alma em várias partes? Quero dizer, por exemplo, sete não é o número mágico mais poderoso, será que sete...?


– Pelas barbas de Merlin, Tom – exclamou assustado o professor. Parecia um homem cuja pressão ocular havia aumentado drasticamente. – Sete! Já não é bastante ruim pensar em matar uma pessoa? E em todo caso... bastante ruim romper a alma uma vez... mas rompê-la em sete partes...


O professor parecia realmente abalado. Olhava diretamente para Riddle como um náufrago olhava em direção ao oceano à procura de um navio. Queria se certificar de algo, mas Riddle não deixou. A resposta tinha sido dada. Apenas disse que seria ruim essa probabilidade. Mas para ele, não para Tom. Senão, falaria logo. O professor recomeçou:


– É claro – falou baixinho –, isto é uma hipótese, o que estamos discutindo, não é mesmo? Uma questão acadêmica...


– É claro que sim, senhor – concordou quase que imediatamente. Não queria que o professor, não importasse o motivo, saísse por aí murmurando ou até falando em voz alta sobre isso. Mas Riddle não se preocupou ao ouvir novamente o professor dizendo, apreensivo:


– Ainda assim, Tom... – disse o professor, olhando para toda a sala como se esperasse ver alguém. – Não repita para ninguém o que eu disse... ou melhor,  o que discutimos – acrescentou. – As pessoas não gostariam de pensar que estivemos conversando sobre Horcruxes, sabe... Dumbledore é particularmente rigoroso nisso...


– Não direi uma palavra, senhor – prometeu, virando para ir embora. Dele, emanava a felicidade, um brilho espalhava-se em seus olhos do mesmo jeito em que fizera no dia em que descobrira que era bruxo. O tipo de alegria que preenchia seus espaços, mas que o deixavam cada vez mais feio, cada vez menos humano. Riddle abriu a porta e desejou boa noite ao professor, que nada disse. Sua excitação aumentava a cada passo que dava em direção ao salão comunal. Passou pela parede de pedra e foi direto ao dormitório. Todos estavam acordados, mas foi Tecnécio quem perguntou primeiro:


– Ele contou?


– Contou – respondeu. Os amigos sorriram e voltaram a se deitar. Riddle foi para sua cama lembrando de toda a conversa. Tinha dado tudo certo e tudo continuaria certo. Faria outra Horcrux. E mais outras três. Já era Natal quando acordou e seu melhor presente foi aquela conversa. Ganhou chocolates, roupas e alguns livros dos amigos, mas nada se comparou ao diálogo com o professor na noite anterior.


            Os meses se passaram. Naquele mesmo ano, apenas alguns meses à frente, começaria o ano em que prestaria os Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia e logo terminaria os estudos. Mas não queria sair da escola, queria lá ficar. Sempre desejou ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas e ensinar tudo o que sabia. Afinal, a professora Merrythought logo sairia e a vaga estaria aberta. Iria acabar virando diretor e somente sangues-puros entrariam em sua escola. Iria impor uma nova ordem no mundo bruxo e os trouxas nunca mais existiriam.


            Já era o último dia na escola e Riddle foi correndo à biblioteca devolver aquele livro que estava em sua posse há dois anos. Não precisaria mais dele depois de tudo o que aconteceu. Tanto a prática quanto a teoria estavam em sua memória, talvez mais a segunda, pois fora o único bruxo da história a fazer duas Horcruxes.


            O expresso de Hogwarts apitava quando já estava a caminho de Londres. Eram os cinco amigos no compartimento, mas para Riddle eram sete. O diário estava em seu bolso, junto à varinha, e o anel não sairia tão cedo de seu dedo.

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