Quando o Sol se Pôr



O sol de verão cobria toda a superfície verde dos pequenos morros e refletia nos cabelos platinados do rapaz sentado na relva de forma tão ofuscante que seria impossível observá-lo por muito tempo. O brilho do astro maior fazia com que ele mantivesse os olhos semicerrados para evitar a luz direta, mas ele não desviou o olhar nem por um minuto, como se não quisesse perder nenhum momento da grande apresentação.


Ela o havia enfeitiçado. Não havia outra explicação. E o feitiço o acertara em cheio, como se o céu tivesse caído sobre ele e o tomado por inteiro. Os meses que passaram juntos, concluiu ele posteriormente, pareciam mais ter feito parte da vida de uma outra pessoa, não era como se fosse ele ali, nas tantas tardes que passaram enroscados naquele mesmo lugar, onde os cabelos dela se espalhavam pela relva dando aquele enorme contraste do verde contra o vermelho. E os sorrisos que ele dera enquanto tirava os dentes de leão enroscados nos fios rubros também não pareciam lhe pertencer. Ele era outro quando estava com ela. Deixava de ser o egoísta mimado de sempre e se tornava um homem melhor, capaz de amar alguém acima de si mesmo.


Mas então ela escolheu o outro. O bom, o justo, o adorado da família. Ele não podia culpá-la. Afinal que mulher, em sã consciência, arriscaria um casamento feliz e seguro com seu amor de infância por uma paixão ardente com um antigo inimigo?


Por um momento, ele achou que ela arriscaria. Mas se enganara. Ali estava ele, seis meses depois dela tê-lo deixado, no mesmo lugar onde costumavam se encontrar, enquanto ela estava em algum lugar, se preparando para o casamento que poderia ser o deles, se ela tivesse tido coragem.


Seria logo após o pôr do sol. Pelo menos era o que dizia o convite que ele recebera do noivo por pura educação e que rasgara em mil pedaços logo em seguida.


Sentado na relva e assistindo ao sol perder o brilho, ele não sabia como se sentir. Apenas uma coisa era certa: Quando o sol se fosse, seu universo jamais seria o mesmo.


Fechou os olhos por alguns minutos, cansado, e quando tornou a abri-los, o sol estava prestes a se por. Só mais alguns segundos e ia começar a desaparecer no horizonte. Estava prestes a acontecer, e ele não tinha o poder de interferir. Seu coração se apertou.


Ficou observando o grande círculo amarelo tornar-se mais e mais vermelho enquanto descia cada vez mais em direção ao horizonte, até que um movimento chamou sua atenção. Uma sombra, bem ao seu lado. Virou-se para olhar e se deparou com a dona de seus pensamentos, o vestido branco arrastando na relva e os cabelos meio-presos caindo sobre o rosto, como se ela tivesse fugido antes que pudessem terminar. A luz avermelhada do sol batia em seu rosto, realçando ainda mais a cor vibrante que ela própria possuía. Devagar, ela sentou-se ao lado dele. Estava ofegante, como se tivesse corrido. A expressão no rosto era indecifrável. Dúvida? Susto? Contentamento?


Ele abriu a boca para falar, mas ela se limitou a colocar o indicador sobre os lábios e apontar para o oeste. O sol começara a desaparecer.


Não demorou muito, e os dois fizeram extremo silêncio até que nenhum resquício do sol pudesse ser visto no horizonte. Ele respirou fundo e quebrou o silêncio.


- Você não deveria estar se casando?


- Estou exatamente onde deveria estar.


- Estou feliz que você veio.


 


FIM


 


N/A: Baseada em “Glad You Came – The Wanted”. Está na minha cabeça há algum tempo, porém sob outra forma, com outros personagens, e então isso me surgiu e eu escrevi. Espero que gostem e, por favor, comentem e me façam feliz! Beijos!

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