Scorpio



Provavelmente o verão fora muito mais difícil para muita gente, mas para aquele menino pálido, de rosto fino e cabelos louros quase brancos deitado na cama olhando para a janela tinha sido enlouquecedor.


Scorpio passou dia após dia, semana após semana sentado na janela olhando para o céu. Os dias eram todos agradáveis, o que irritava ainda mais ele. Porque o mundo não poderia ficar deprimido se ele estava também? Mas não chovera apenas um dia naquele maldito verão. Ele ficou tão empenhado em olhar o céu, na esperança de ver um pontinho preto se aproximando carregando o que ele tanto esperava que comia e dormia ali. Teve dias que sua mãe não agüentava de tanto pedir para que ele saísse dali.


 


- Scorpio, pelas barbas de Merlim! Faz dias que você não sai daí. Os jardins são enormes, com certeza você pode encontrar o que fazer sem ser dormir colado nessa janela!


 


Mas ele não ligava, nunca tivera muitos amigos mesmo, nunca fora um menino de correr e se sujar, a única parte do ar livre que gostava eram as arvores, ele adorava subir nelas e passar o dia olhando as nuvens, seu pai dizia que ele tinha idéias tão estranhas porque passava muito tempo sozinho. Por falar nisso, seu pai dizia muitas coisas, ele era seu herói é claro, e tudo o que ele dizia Scorpio absorvia feito uma esponja, sonhava em ser igual ao pai, até dissera isso pra ele uma noite, junto a lareira depois de um jantar.


 


- Não seja burro. Tem muita gente melhor no mundo para você se espelhar. Mas esqueça isso! Nunca se espelhe em ninguém, seja você e apenas você, mantenha pessoas que gostem de você como você é por perto e aquelas que querem te mudar a quilômetros.


 


Claro que a primeira parte ele ignorara, seu pai era tudo o que um garoto poderia querer ser um dia, mas o resto absorveu e guardou bem fundo dentro de si. Afinal ele queria deixar seu pai orgulhoso e se ele queria isso, era isso que iria fazer.


Scorpio acabou se perdendo em pensamentos sobre o pai – no dia em que ele o levara ao Ministério, nas historias sobre seus dias em Hogwarts e em como ele não se orgulhava de muitas coisas do que fizera na época e o fato de um tal Harry Potter estar presente em muitas situações ou até mesmo no enterro de seu avô, Lucio, no qual ele viu seu pai chorando pela primeira vez – e embargado assim nas lembranças acabou não percebendo a coruja que se aproximava da casa, cada vez mais perto, carregando algo não muito pequeno, mas que não era grande o suficiente para ser um pacote.


 


- Scorpio! – ele ouviu sua mãe chamar, devia querer que ele saísse da janela de novo.


- Já disse que não vou sair mãe! Só quando ela chegar!


- Então desça rápido menino, acabou de chegar uma coruja!


 


Scorpio sentiu o coração parar e depois disparar feito um tambor que nunca ouviu falar em ritmo. Uma coruja. Uma coruja tinha chego. Ele precisava acreditar que dessa vez seria o que tanto ansiava se não acabaria acreditando que era mesmo um aborto. Ele ouvira o pai comentar sobre isso, tinha um numero bem baixo, mas existiam. Filhos de famílias bruxas que simplesmente não eram mágicos. E se ele fosse um aborto? A família de seu pai era inteira de bruxos, de sua mãe também, uma família de sangue puro – não que ele ligasse muito pra isso – e ele seria o fim disso? Um trouxa no meio de todos aqueles bruxos, um garoto que simplesmente não era bom o suficiente pra ir a Hogwarts, estudar magia e estar naquele mundo. Ele não pertencia aquele mundo.


Não. Ele não podia se deixar consumir por isso, ele ia até a cozinha, ia ver o que a coruja trouxera e iria ser o que ele tanto esperou.


 


Ele desceu as escadas com o coração na boca – e se não fosse? - cruzou o batente da cozinha e já estava gelado – será que era mesmo?


 


- Cadê mãe? Não era pra mim?


- Não sei querido, fiquei ansiosa de mais com isso e decidi que seria melhor você receber e ver você mesmo.


 


Ótimo! Ela deixou ele receber o impacto sozinho, se não fosse ele poderia cair duro ali mesmo no chão da cozinha, mas se fosse....


Ele passou o olhar pela cozinha e se dirigiu a coruja de penas castanhas – um tanto comum – que estava em cima do balcão. Era uma carta, isso podia ver claramente, mas será que era a carta dele? Ele esperava que sim, respirou fundo e pegou a carta, endereçada a...


 


SCORPIO MALFOY


 


MANSÃO MALFOY,


A CADEIRA JUNTO A JANELA.


 


Ele parou ai, não precisava ler o resto. O resto não importava! A carta era pra ele! Uma carta pra ele, vinda de Hogwarts, finalmente!


Abriu a carta com tanta rapidez que quase a rasgou, tirou a carta do envelope – e claro o papel tinha q enroscar, como se já não bastasse passar um mês sentado com o rosto colado na janela ele também teria que ter paciência para abrir a carta! – o papel saiu, ele desdobrou, estava tudo ali! Que ele fora aceito em Hogwarts e sua lista de materiais: uniforme, livros, animais permitidos, e etc. Mas quem se importava? Ele não com certeza! Teria tempo de olhar isso depois, quando fosse ao Beco Diagonal, agora ele queria gritar, berrar ao mundo: EU SOU UM BRUXO!!


 


Olhou para sua mãe – ela estava com o rosto ansioso, como se esperasse vê-lo desabar e estava pronta pra consolá-lo – será que ela duvidava que ele seria um bruxo? Não, ela devia ter estranhado a demora assim como ele.


 


- Eu consegui mãe, a carta finalmente chegou! Eu vou pra Hogwarts!


 


Ela abriu um sorriso que ele não poderia competir – ele estava muito feliz claro – mas aquele sorriso não continha apenas felicidade, havia orgulho nele. E era tudo o que Scorpio mais adorava em ver no rosto de seus pais: orgulho. E o mais importante, orgulho dele. Ela o abraçou.


 


- Vamos contar pro seu pai hoje no jantar ok? Ele vai ficar tão feliz!


 ...


Depois de passar a tarde inteira sem conseguir se manter parado, querendo adiantar o tempo para o dia 1º de setembro, Scorpio estava quase subindo pelas paredes antes do jantar. Mal podia pra esperar pra contar para seu pai que a carta chegara. Ele estava tão feliz!


 


Mas quando seu pai chegou quase perdeu a vontade de jantar, viu em seu rosto raiva – não com ele, afinal ele nem tinha falado com o pai o dia todo – mas estava muito nervoso com algo ou alguém e muito.


Quando se sentaram à mesa do jantar sua mãe também tinha notado a expressão de seu pai e estava claramente com receio, mas acabou sendo a primeira a falar.


 


- Então querido, como foi seu dia?


- Ótimo! Mais uma vez estamos todos salvos graças ao santo Potter! – ele disse enquanto batia o garfo no prato mais parecendo que queria quebrá-lo do que pegar o bife.


- Ah, e mais alguma novidade? - sua mãe estava insistindo em território perigoso.


- Claro que não! Quando o santo Potter entra em ação ninguém mais existe! Ele prende o milésimo bruxo criminoso em Azkaban, que já deve estar lotada a essa altura, e todo mundo festeja! Mas a minha nova descoberta para a medicina mágica ninguém nem ouviu falar!


 


A mesa ficou silenciosa, havia anos em desde que o pai se estressara por algo assim, principalmente relacionado a esse tal Potter, claro que Scorpio nem sabia quem era ele, seu pai nunca deu muitos detalhes, mas ele aparecia direto no Profeta e em muitas historias que seu pai contava dos tempos de escola. Mas sua mãe insistiu, dessa vez com a voz mais firme.


 


- Draco, faz anos que você nem vê Harry Potter ou fica no mesmo ambiente que ele e mesmo assim fica nervoso com tudo o que ele faz. Ele é uma “celebridade” no mundo bruxo, é claro que todos ficam de olho no que ele faz.


- De olho¿ Eles praticamente relatam o dia a dia dele no Profeta!


- E isso te incomoda por que...? Vocês não estão mais em Hogwarts, não estão mais competindo Draco! Nem no Ministério você trabalha!


- Eu sei, eu sei... É só que... – ele já não parecia saber mais porque estava bravo.


 


Scorpio via isso acontecer muito quando eu pai estava estressado, sempre que sua mãe argumentava, ele simplesmente se acalmava e esquecia o motivo de tanto estresse. Ele adorava isso nela.


 


- Bom, já que você já nos contou como foi seu dia, temos uma novidade para você. Acho que Scorpio vai querer contar essa parte. – ela olhou para ele, encorajando-o.


- É... Então, pai... É que... – ele não sabia por onde começar e lançou um olhar pedindo ajuda a sua mãe, mas ela o instigou a continuar – você lembra que eu estava muito preocupado, com medo por que minha carta não tinha chego...?


- Claro que sei filho, eu até fui aos correios ver se alguma coruja tinha sofrido algum acidente, chego machucada ou sem a correspondência, mas não tinha nada.


- Eu sei pai. Porque hoje à tarde, minha carta finalmente chegou.


 


Quando viu a expressão no rosto dele nem dava pra acreditar que pouco antes ele estava bravo com alguma coisa, Scorpio não se lembrava de nunca ter visto um sorriso tão grande no rosto de seu pai.


 


- Pelas barbas de Merlim! Por que não me disse isso antes? Vamos ao Beco Diagonal semana que vem é claro, temos que comprar todo o seu material, passar ma Madame Malkin, comprar uma varinha, no Olivaras óbvio, e... Você vai querer um animal?


- Ah... Não sei. – Scorpio estava claramente atordoado com essa repentina mudança de humor, mas estava tão feliz que não se importava.


 


Tudo o que Scorpio conseguiu pensar o restante do jantar foi que finalmente iria para Hogwarts. Iria conhecer os lugares que seu pai conhecera estudar magia nas mesmas salas e talvez com os mesmos professores. Era tanta agitação de uma vez só, que ele nem conseguia dormir. Scorpio passou a noite na mesma cadeira que passou o verão todo, olhando o céu, mas dessa vez, com um sentimento tão bom dentro de si, um sentimento tão feliz, que ele poderia brilhar mais do que as estrelas.

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Comentários (3)

  • Lilian Potter 10

    Adorei a discussão do Draco com a esposa kkk"Vocês não estão mais em Hogwarts, não estão mais competindo Draco! Nem no Ministério você trabalha!"kkkkO Scorpius, adorei ele!!! 

    2013-11-12
  • Lari Vieira

    Ah mtoo obrigada! *--*Eu adoro quando as pessoas comentam, é minha primeira fic aqui então espero não estar indo mto mal, obrigada por se o primeiro comentario *--* e se alguem achar q algo pode ser melhorado é só falar q eu estou a disposição! Fico feliz q vc tenha gostado! 

    2012-10-12
  • Lana Silva

    Nossa eu amei o capitulo. Senti a felicidade dele aqui, senti a apreensão dele , o medo de ser um aborto. Consegui sentir isso e mais um pouco nesse capitulo. Eu simplesmente amei, nunca tinha visto tudo por esse lado, nem ao menos pensava em como foi o verão deles esperando a carta. Scorpius deve ter tido bastante essa pressão na mento por medo de não conseguir entrar, o  Alvo  obviamente foi perturbado o verão inteiro pelo irmão dizendo que ele não entraria e a Rose deveria estar morrendo de medo, depois de ouvir a historia dos pais e saber que a mãe foi a melhor aluna da sua época, a bruxa mais inteligente ela um resquicio de medo se instalou sobre ela...Ahhhhhhh vou ler o próximo capitulo *-*  

    2012-10-10
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