Capítulo único



N/A: Tudo o que estiver em itálico é como se fosse um flashback! Boa leitura! :)


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– Potter.


– Malfoy. – eles se apertaram as mãos como velhos conhecidos, mas era impossível não sentir o arrepio que os percorreu com o contato da pele. As lembranças inundavam a mente involuntariamente. – Sente-se.


O loiro de olhos cinza sentou-se e pediu para o garçom trazer uma dose de seu whisky favorito. Harry o observava atentamente sem evitar as batidas descompassadas de seu coração. Fazia tanto tempo que não via o loiro e estava surpreso que ele tivesse aceitado se encontrar com ele, afinal a última vez que se viram não era uma memória boa.


Mas Harry tinha memórias boas. E eram elas que o mantinham firme, como uma lembrança que sustenta um patronus. A primeira foi daquela noite de setembro.


A guerra havia acabado, o mundo bruxo estava retomando sua rotina e Hogwarts reabrira, mesmo que ainda faltassem uns retoques em sua reforma. Hermione insistiu para que ele e Rony terminassem a escola junto com ela. Rony topou na mesma hora, afinal não queria contrariar a namorada e muito menos ficar longe dela durante todo o ano letivo. Agora que havia descoberto que a amiga era a mulher de sua vida, Rony não a deixava um segundo, e não se podia dizer que Hermione não gostava daquela atenção, afinal sempre fora apaixonada pelo ruivo. Harry acabou topando, embora não soubesse bem o porquê.


Ele estava cansado. Cansado de toda a atenção que recebia, cansado das entrevistas do jornal, das cartas de agradecimento, dos olhares admirados e temerosos. Estava cansado de toda aquela gente, muito provavelmente porque tudo e todos sempre pareciam muito falsos pra ele, tanto em palavras como em gestos. Eles só queriam um pouco de sua fama e de sua graça. Ele achou que em Hogwarts poderia ter um pouco de paz, terminar os estudos e poder desfrutar de uma tranquilidade muito merecida no lugar que sempre teve como lar, mas foi totalmente o contrário. Depois que souberam que ele voltara à escola, ela se encheu de novo e todos queriam “um pouco do Potter”. Fosse um bom dia, um olá, uma aula junto. Porque “Potter salvou o mundo bruxo”, “Potter acertou uma poção” “Potter, Potter, Potter...”.


Ele nunca havia desejado tanto ser outra pessoa.


Até mesmo seu relacionamento com Ginny não fora do jeito que ele esperava. Ele pensou que ela, acima de todos, entenderia sua vontade de privacidade e isolamento e que o apoiasse e ajudasse. Mas se decepcionou, a ruiva gostava daquela atenção, gostava de ser “a namorada do Potter”. Ele nem se importou com as cartas indignadas depois da manchete que ele tinha rompido com ela.


Ele queria um descanso daquele mundo, e estava quase surtando por não o conseguir.


Então, em uma fria noite de setembro, depois de um dia particularmente cansativo com direito a olhares admirados de fãs e chorosos de uma Ginny ainda inconformada pelo término, ele vestiu sua capa de invisibilidade e vagou pelo castelo. Andar a noite por Hogwarts era quase um hábito e uma ótima maneira de colocar os pensamentos no lugar. Aquela noite ele foi até a Torre de Astronomia, ignorando o aviso de obras e todas as madeiras espalhadas pelo local que ainda estava em reforma, ele o adentrou e se posicionou próximo a sacada que não havia sido destruída. Pôs-se a pensar na sua vida, nas suas frustrações, na guerra que passara e em tudo que perdera. Uma lágrima rolou pelo seu rosto e ele chutou uma madeira para extravasar a frustração.


– Quem está aí? – a pergunta viera de alguém que estava envolto na escuridão do lugar. Harry segurou firme a varinha e apertou mais a capa contra o corpo. Quem estaria naquele lugar àquela hora da noite? O moreno ouviu passos, e logo um rosto pálido e pontudo, com pequenas olheiras debaixo dos olhos cinza, foi iluminado pela luz da lua que entrava pela sacada.


– O quê faz aqui, Malfoy? – ele perguntara. Não pretendia fazer aquilo, mas sua curiosidade por ver o loiro ali foi maior.


– Potter? – o outro perguntou olhando para onde vinha a voz do garoto sem poder vê-lo. Harry tirou a capa e o outro pode visualizar sua silhueta na escuridão. – O quê você faz aqui?! Aqueles seus amigos grifinórios e a legião de fãs babões vão ficar preocupados se você sumir!


Embora Draco não pudesse ver, Harry ficara muito vermelho com aquela declaração. Será que aquele insuportável não o ia deixar em paz? E afinal, o quê ele estava fazendo ali? Porque voltara a escola? As perguntas giravam em sua mente e ele queria muito jogar boas verdades na cara daquele loiro metido, mas a única coisa que saiu de seus lábios raivosos foi um:


– Cale a boca, Malfoy!


Harry quase riu daquele pequeno fragmento de sua lembrança que viera a sua mente de forma rápida e involuntária, então para não parecer estranho, ele bebeu um gole de sua vodka com limão. Em pensar que foi aquele mesmo loiro que lhe apresentara aquela bebida e o viciara nela. Eram tantas lembranças.


Sem que percebesse, aqueles olhos cinzas também o examinavam. Ele queria muito saber o porquê Potter o chamara ali depois de tudo o que acontecera, mas principalmente queria entender o porquê de ter aceitado aquele convite. Quando suas mãos se tocaram, uma descarga de lembranças inundou sua mente e agora, enquanto via o moreno tomar um gole da bebida que ele o ensinara a gostar com um sutil sorriso, ele se lembrou daquela noite de setembro em que o encontrou na Torre de Astronomia. O próprio Draco ainda não se conformava de ter aceitado voltar àquela escola por insistência de sua mãe que dizia que ele deveria terminar seus estudos e continuar a vida “normal”.


Como se tudo fosse voltar ao normal depois daquela guerra.


Depois de um ano lidando com jornais, julgamentos, inquéritos e olhares tortos, ele teria de lidar com tudo isso em Hogwarts, onde todos achavam que ele ainda era um comensal perigoso e o “Santo Potter” era o herói que devia exterminá-lo. E embora ele pudesse notar que até mesmo o Potter não parecia muito contente com toda aquela atenção, ele não podia deixar de nutrir sua habitual antipatia pelo seu arquiinimigo. Então, depois de um dia normal tendo de aturar olhares raivosos e tendo que ameaçar alguns idiotas por falarem mal de sua família, ele resolveu ir até seu refúgio silencioso na Torre, afinal, o que era mais uma noite sem dormir?! E qual não foi a surpresa de achar Potter ali, estragando até mesmo seu refúgio. Ah, mas ele não podia deixar de alfinetar o moreno que, apesar de ter prestado um depoimento a favor de sua mãe e dele, chegara a piorar a situação de seu pai expondo todos os planos do Lord das Trevas. E qual não foi sua pequena decepção com aquela resposta infantil? Afinal, ele precisava extravasar, e quem melhor que o cicatriz pra isso?! Mas Potter já fora melhor em lhe responder.


– Oras Potter, onde estão seus modos? Ou você só os utiliza com os repórteres?! Será que devo chamar O Profeta e contar que você está desrespeitando as regras de não andar a noite pelos corredores? Se bem que se for você, eles criariam até uma cláusula especial no regulamento, “ Só Potter pode fazer o que quiser nessa escola, porque ele é O Eleito!”.


Malfoy despejava frases debochadas sem ligar para a crescente raiva dentro de Harry. Ali estava aquela doninha irritante expondo tudo o que ele mais estava detestando em sua vida no momento, como se ele gostasse de ver a pessoas passarem por ele como se andasse num tapete vermelho. Ele estava cansado daquilo.


– CALE-SE! – o moreno gritou cortando a próxima frase desdenhosa do loiro. O outro se surpreendeu com o tom do garoto, para o Potter estar gritando daquele jeito, era porque estava mesmo frustrado. – Você não sabe de nada, NADA! Você acha que eu gosto disso? Que eu queria isso, essa atenção, esse estardalhaço sobre a minha vida? Eu só queria paz! Só queria viver num mundo em que não tivesse que ficar com medo de andar por aí por causa de um maluco com cara de cobra querendo me matar! EU SÓ QUERIA SER NORMAL!


Harry estava desabafando. As palavras gritadas eram uma explosão de seu interior que contivera por tanto tempo. Nem mesmo com Rony e Hermione conseguira ser sincero daquela forma, pois achava que seus amigos já tinham os próprios problemas pra lidar com o fim daquela guerra, embora nada fosse como ser ele. Ele não sabia porque desabafava ali, com Malfoy, mas sabia que um peso era tirado de si. E ele nem ligava para as lágrimas ou para a expressão curiosa e compreensiva no rosto do loiro. Depois da sua explosão, eles ficaram em silêncio. Harry respirava rápido e tentava controlar as lágrimas, e Draco apenas fitava o outro sem expressão. Ele não podia ver o rosto do moreno, mas supunha que estivesse vermelho de raiva e ofegante.


– O que foi? Desistiu de me encher? Desistiu de jogar na minha cara sobre a minha “adorada fama”?! Vamos Malfoy, fale! Fale se tiver coragem! FALE!


Harry se aproximou do loiro de forma desafiante, e este por sua vez estava chocado. Potter estava chorando. Aquela realidade penetrou em si de forma inesperada, e repentinamente, toda a raiva e desprezo sumiram. Draco não sabia descrever o que houve com ele, mas soube que foi preenchido por um sentimento novo.


O moreno ainda respirava com dificuldade, mas não tirou os olhos verdes dos cinzas de Malfoy. Foi com surpresa que viu o desprezo dar lugar a surpresa, e daí se iluminarem com algo novo que ele nunca observara em seu inimigo. O silêncio se instalou mais uma vez, e aquela mudança estava incomodando Harry. Porque Malfoy não reagia? Porque não o xingava? De certa forma, o deboche de Malfoy o ajudava a extravasar as frustrações, o lembrava de tempos em que ele não era “Potter, O Eleito”, mas aquele silêncio o pertubava.


– Vai ficar aí parado? Faz alguma coisa! – Harry o empurrou, mas ele não disse nada, apenas lhe olhou com... compaixão?! – Anda Malfoy, FAZ ALGUMA COISA! Eu aceito isso de qualquer um, mas não de você! NÃO DE VOCÊ! SE MEXE MAL...


Mas antes que pudesse acabar aquela frase, ele foi abraçado. Os braços fortes do loiro o envolveram e foi apenas o choque daquele ato que o impediu de se soltar. Mas assim que percebeu o que acontecera ele se debateu, gritou, empurrou, porém Malfoy ainda o envolvia num abraço apertado que ele não sabia explicar porque acontecera. Num instante olhava pra Potter tentando entender o que estava sentido, e no outro cedendo a sua súbita vontade de tocá-lo. Depois de um tempo em que Harry tentou se livrar de Draco, ele finalmente cedeu. Não tinha mais forças pra lutar ou falar, ele só queria desabafar, e aquele abraço quente naquela noite fria abriu a tampa de seu coração.


E Harry chorou.


Chorou tudo que não pôde chorar após o término da guerra. Chorou pelas vidas perdidas, pelo sofrimento, pelas frustrações, pela raiva, por tudo. O moreno se agarrou ao outro como se ali estivesse sua salvação, e Malfoy apenas o aconchegou em seus braços, sem ligar para o fato de estar abraçando Potter ou que o simples toque do garoto lhe provocara um arrepio nas costas. Não saberiam dizer por quanto tempo ficaram ali abraçados, mas depois que Harry se acalmou, eles afrouxaram o aperto dos braços e se encararam. Não havia como descrever toda a reação de seus corpos e corações quando verde e cinza se encontraram, mas Draco sabia que se continuassem naquele silêncio e com aquela aproximação, eles poderiam se arrepender do que ocorreria.


– Está melhor? – Draco perguntou em um tom suave e compreensivo. Harry fez que sim e se afastou do loiro que o deixou ir, embora a contragosto.


– Porque fez isso? – a intenção de Harry era agradecer, se desculpar, mas a pergunta saltara de seus lábios antes que pudesse impedir. Era compreensível, afinal ele fora abraçado e consolado por Draco Malfoy. Não era algo normal de se acontecer.


– Eu... – Draco engoliu em seco. Como explicaria ao outro que cedera a uma vontade súbita e forte? Que ao ver as lágrimas nos olhos verdes, seu coração quebrara e se preenchera de algo novo que ele ainda tentava descobrir o que era? O loiro respirou fundo e deu de ombros, tinha de voltar a sua pose fria de Malfoy. – Eu sei o que é estar frustrado e não ter um apoio.


Aquela talvez não fosse a resposta que Harry esperava, mas fazia sentido. Ele se lembrava de seu 6º ano quando vira o loiro chorar no banheiro da Murta por causa de toda a pressão de sua missão de matar Dumbledore. Draco não tivera um consolo, e superara tudo sozinho.


– Obrigado. – o moreno dissera baixinho e sem encarar o colega nos olhos, por isso não percebeu um pequeno sorriso surgir nos finos lábios do loiro.


– Esqueça, Potter, está tudo bem. – disse Draco se virando para sair. Mas antes que pudesse deixar a Torre ele disse, sem se virar para o moreno que ficara confuso após ouvir aquilo. – Um dia eu irei cobrar.


O garçom trouxera uma bandeja com aperitivos e a depositou na mesa dos dois que estavam tão imersos em lembranças que haviam se esquecido de onde realmente estavam. Harry tomou um gole de sua bebida para tentar clarear a mente e Draco saboreou um pedaço de salame. Em pensar que fora o moreno a sua frente que o fizera aceitar essas coisas de trouxa.


– Então, - Harry tossiu e encarou o outro. – Como você está? Quero dizer, como anda a sua vida?


Era perceptível o nervosismo do moreno, e Draco apenas ergueu uma das sobrancelhas. Será que Potter o chamara ali apenas para perguntar de sua vida? Ele duvidava que fosse, mas não sabia se queria mesmo chegar ao assunto principal daquele reencontro. Ele suspirou e começou a falar dos negócios da família que ele herdara e comandava com maestria. Harry ouvia com atenção sobre todas as conquistas do loiro como atual líder das empresas dos Malfoy. Após uma breve estadia em Askaban, Lucius Malfoy cedera ao sofrimento e à idade, morrera dormindo em sua confortável cama de sua grande mansão, e deixara tudo para seu único filho. Harry se lembrava bem daquele dia, foi a segunda vez que viu Draco chorar.


– Anda Harry, você precisa parar com isso! – Harry falava consigo mesmo enquanto se dirigia a Torre de Astronomia mais uma vez.


Depois daquele encontro em que Draco o consolou, eles voltaram praticamente todas as noites para conversar. Pode parecer estranho dois inimigos jurados que viviam trocando ofensas o dia todo se reunirem naquele lugar deserto para conversar, mas era o que acontecia, e Harry agradecia por aqueles momentos, pois era uma fuga do seu “dia-a-dia glamuroso” como Malfoy costumava dizer. Harry até tentou parar de ir até a Torre, mas não conseguia. Aquela noite ele estava decidido a acabar com aquilo, e nem precisaria ter ido até a Torre se Malfoy não tivesse sumido da escola após receber o correio coruja de manhã. Harry suspeitou que ele ficara na Torre o dia todo, mas não pôde ir até lá por estar sempre com alguém querendo um “pedaço do Potter” (frase também de Malfoy). O moreno abriu a porta e adentrou o local escuro, não demorou muito para localizar o colega sentado em um amontoado de tábuas onde costumavam ficar conversando. Draco demorou a perceber a presença do outro, mas havia sido tarde demais. Potter vira suas lágrimas.


– O quê houve, Malfoy? – perguntou o garoto chocado sentando-se ao lado do loiro.


– Meu pai morreu, Potter. – Draco queria mandar o Potter sumir, despejar um monte de xingamentos, mas depois de todo aquele tempo em que haviam criado aquele clima de cumplicidade, não havia porque mentir. E doía tanto que ele precisava desabafar.


A surpresa pegou Harry desprevenido, e por uns instantes ele apenas ficou fitando Draco com incredulidade e surpresa. O loiro ainda chorava silenciosamente, embora tentasse parar, foi quando Harry percebeu que era o momento de retribuir o favor. Aproximando-se mais do garoto, Harry aconchegou a cabeça de cabelos platinados em seu ombro e abraçou Draco. Por um tempo ele se surpreendeu com aquele gesto, mas logo se aconchegou naquele abraço reconfortante e chorou.


Harry achou que depois daquilo não voltariam a se encontrar na Torre, primeiro porque o loiro saíra da escola para o enterro do pai e para colocar os negócios da família em ordem, já que lhe pertenciam. Em segundo lugar porque a dívida estava paga, Draco o consolara e ele fizera o mesmo. Então porque toda vez que pensava em deixar de ver e conversar com ele, seu coração falhava uma batida?!


Mas depois que Draco voltou, tudo mudou. As lembranças daquele dia eram as mais frescas em sua mente, pois não cansava de relembrá-las.


Harry tentava não se apressar, tentando esconder de si mesmo que não sentira falta do loiro durante aquele período em que esteve fora, tentando omitir de si mesmo que não ficara feliz ao receber o discreto bilhete durante a aula de DCAT dizendo que queria vê-lo “no local de sempre, no horário de sempre”. Ele tentava, mas o barulho de seus passos afobados enquanto subia as escadas diziam o contrário. Ele parou na frente da porta da Torre observando o aviso que impedia a entrada, mas sem vê-lo realmente, respirou fundo e entrou.


E lá estava ele. Com a mesma pose de aristocrata rico, o mesmo sorriso suave que sempre lhe dirigia ao dizer “Boa noite, Potter”, sentado no mesmo lugar. Era como se o tempo em que estiveram separados não tivesse ocorrido, exceto pelas batidas descompassadas do coração. Por Merlim, o quê estava havendo com ele?!


– Bem vindo de volta, Malfoy! – disse Harry sentando ao lado do outro. – E então, resolveu tudo?


– Sim. Na verdade foi fácil, eu sou o único herdeiro de meu pai e já estava a par dos negócios há muito tempo. O difícil foi minha mãe. – Ele suspirou e olhou para a janela, observando as estrelas. – Foi um choque, ela amava muito meu pai.


– Ela vai ficar bem? – Perguntou Harry preocupado. Nutria certa simpatia por Narcisa, provavelmente porque ela lhe salvara ao mentir pra Voldemort no dia da guerra em Hogwarts.


– Vai, nós conversamos muito e eu programei umas férias pra ela. Acho que ela estará melhor quando voltar do cruzeiro. – Malfoy suspirou e fechou os olhos, como se estivesse cansado depois de um dia cheio de trabalho, e Harry pôde observar o quanto ele era belo. Pela barba gigante de Merlim! Ele estava achando Draco Malfoy bonito? O que raios aconteceu com ele!?! – Mas não foi sobre isso que eu chamei você aqui.


Harry arqueou as sobrancelhas em confusão.


– Então porque me chamou aqui?


– Porque precisamos parar com isso. – Draco o encarou profundamente e Harry sentiu o coração falhar uma batida. O quê ele queria dizer com aquilo? Que não iam mais se ver?


– Co-como assim?


– Sabe Potter, eu tive muito tempo pra pensar enquanto estava em casa e devo dizer que minha mãe também me fez entender muita coisa. – Draco dizia sem deixar de encarar Harry que já começava a sentir o rosto esquentar, eles estavam próximos demais. – E agora que meu pai não está aqui pra morrer de desgosto, acho que posso mudar tudo.


– O quê está dizendo Malfoy? – Harry perguntou frustrado e curioso. Ele realmente não sabia o quê o loiro queria dizer.


Mas Draco não quis perder tempo com palavras, ele apenas sorriu e o beijou. A surpresa foi o que o impediu de registrar o que estava acontecendo, mas assim que a língua pediu passagem, Harry se entregou aquele momento.


Foi quando tudo mudou.


– Acho que você não está me ouvindo, Potter. – reclamou com loiro o fitando com certa raiva por estar falando sozinho.


Harry piscou para voltar ao presente, mas a sensação dos lábios do loiro nos seus pela primeira vez ainda estava marcado nele.


– Desculpe Malfoy, eu me distraí. – ele tomou um gole de sua bebida, tentando colocar os pensamentos no lugar.


Draco o observou por uns instantes. Não duvidava que o moreno estivesse absorto em lembranças e pensamentos sobre o passado. Ele mesmo estava se contendo para não se deixar levar para aqueles tempos e agarrá-lo ali mesmo. Mas sempre que algumas lembranças vinham a sua mente, aquela última também vinha, e apesar daquela conversa amena sobre sua vida, aquela lembrança estava viva em sua mente.


Harry encarou o loiro e percebeu que ele o observava. Via nos olhos de Draco o que temia ver, a decepção e a mágoa. Em pensar em tudo pelo que passaram juntos. Depois daquele beijo, eles não conseguiram se desgrudar mais. Viam-se todas as noites, conversavam horas a fio e se beijavam sem impedimento ou pudor. Às vezes, durante o dia quando a vontade era grande, eles encontravam num canto escondido só para matar o desejo. Harry lembrava-se de sua primeira vez, na sala precisa, quando Draco fora tão gentil quanto um Malfoy poderia ser. Lembrava-se de quando Hermione descobrira e, apesar de ter ficado chocada no início, o apoiou e até ajudava nas suas escapadas quando precisava.


E então o ano letivo acabou, e Harry achou que com seu treinamento do auror e todo o trabalho nas empresas de Malfoy, eles teriam de acabar com aquele relacionamento, mas Draco dera um jeito, ele sempre dava. Compraram um apartamento na Londres trouxa onde ninguém os reconheceria ou incomodaria. Harry ensinou Draco a tolerar e a utilizar coisas trouxas, e Draco o ensinara o requinte e a suas boas maneiras aristocráticas.


Tudo sempre regado a muita paixão. Fora o melhor verão de sua vida.


O outono frio chegou, houve uma semana em que eles mal puderam se ver por causa das viagens de Draco e do final do treinamento de Harry que já estava para ingressar oficialmente no corpo de aurores. Mas quando se encontraram, ficaram todo um fim de semana juntos, trancados em seu apartamento e desfrutando de seu mundo particular.


Foi a primeira vez que disseram “Eu te amo”, ambos, de uma vez, após uma ardente noite de amor.


E então começou a nevar. Harry não queria lembrar-se daquele dezembro.


– Porque me chamou aqui, Potter? – perguntou o loiro em um tom frio. Harry engoliu em seco, sem saber realmente como responder.


– Soube que tinha voltado à cidade, achei que... Achei que seria uma boa oportunidade para conversar.


– Conversar sobre o quê? Sobre a mentira que vivemos ou sobre aquilo que achamos que era verdade e não era?


Draco conservava o tom gelado e despido de emoção, mas Harry aprendera há tempos a distinguir as emoções por detrás daquela voz. Sabia que o loiro falava do relacionamento que tiveram escondido de todos, mostrando ao mundo que eles eram cordiais ex-inimigos com pouco contato, só para que ninguém percebesse que viviam uma história de amor entre quatro paredes. Uma mentira que encobria uma verdade, mas depois de um tempo, elas acabaram por se misturar. Draco queria assumir tudo, e Harry não. Sem que percebesse, as lembranças daquela noite gelada de dezembro vieram à sua mente.


Draco chegara ao apartamento com um pouco de neve nos cabelos e um buquê de rosas. Ele sabia que o moreno gostava daquelas pieguisses, e queria agradá-lo aquele dia, sabia que Harry estava tenso depois que ele lhe fizera a proposta de assumir publicamente seu relacionamento. O loiro adentrou o local e encontrou o outro sentado na mesa da cozinha apreciando um pouco de whisky. Draco riu.


– Eu sabia que não devia ter te apresentado essas bebidas.


Harry o encarou e esboçou um pequeno sorriso, bebendo mais um gole do copo. Draco estranhou aquilo, pois ele sempre era receptivo para com ele. Deixou o buquê em cima da pia e sentou-se ao lado do moreno.


– O quê houve, Harry? Está pensando na proposta que lhe fiz?


– Não estou certo disso ainda, Draco. – respondeu ele sem encarar o outro nos olhos.


– E porquê não?! Boa parte dos nossos amigos íntimos sabe de nossa relação. Até mesmo a Granger disse que seria mais fácil para nós assumirmos. – Harry suspirou e Draco segurou seu rosto, o obrigando a encará-lo. – Eu quero ficar com você, não me importa o resto.


– Mas e todas as manchetes, entrevistas e matérias maldosas que escreverão sobre nós? Eu cansei dessa publicidade toda.


– Que se danem eles! Uma hora eles vão cansar, sem contar que eu e você ficaríamos lindos juntos em uma foto de capa! – Draco sorriu com a ideia, mas Harry não estava achando graça.


– Você não entende Malfoy, eu não quero mais essas pessoas fuçando a minha vida! Eu quero paz! – ele se levantou da mesa sem nem reparar no olhar magoado que Draco começava a exibir. – Estamos tão bem assim, porque estragar tudo contando pra todos?


– Por quê? – Draco perguntou desdenhoso. – Porque eu quero ir pra minha casa sem precisar me preocupar em saber se estou sendo seguido. Eu quero ir até uma praça qualquer e passear com você sem me importar com olhares. Eu quero ir até o Beco Diagonal e pedir sua opinião sem me importar com cochichos. Eu quero ter uma vida normal também, Potter!


O tom de Draco começara a se tornar frio e ele assumira a sua “pose Malfoy”, àquela que Harry aprendera que devia evitar, pois significava que o loiro esta bravo. Mas Harry também estava bravo, ele achou que de todos, Draco entenderia que eles já tiveram o suficiente de publicidade pra uma vida toda.


– Nunca teremos uma vida normal, Malfoy. – Harry disse cansado, olhou para as rosas que o outro trouxera e suspirou. – Nunca seremos um casal normal que passeia na praça.


– Que estranho. – dissera Draco se levantando para ir embora. – Eu te amo, como um casal normal.


– Draco, espera. – disse Harry o seguindo até a porta.


– Eu só preciso de uma frase pra ficar Harry, senão isso será um adeus.


Harry ficou em silêncio sem saber o que dizer. Então Draco se foi, e as rosas morreram.


Ele podia ver naqueles olhos cinza que ele também sofria com aquela lembrança. Ele sofrera todos os dias posteriores em que se ignoraram, e embora poucos reparassem nessa mudança entre eles, Hermione entendeu tudo quando Harry se recusou a ligar para o loiro em seu aniversário. E fora no ombro dela que ele chorara daquela vez. Ah se Draco soubesse o quanto Harry gostaria de voltar no tempo e consertar tudo. Eles ficaram em silêncio por um tempo, apenas se encarando. Draco ainda exibindo mágoa no olhar, e Harry, arrependimento.


– Eu tenho compromissos, Potter, e creio que você também tenha. Será que pode ser direto? – Draco tomou um gole de seu whisky para evitar de encarar de novo os olhos verdes. Ele ouviu Harry suspirar.


– Me desculpe, Draco. – Harry disse com a voz embargada, e Draco se surpreendeu ao ver aqueles olhos que tanto amara marejados. – Me desculpe por te fazer perder tempo comigo. Pode terminar sua bebida.


Harry deixou o dinheiro na mesa e saiu. Draco ficou estático, tentando descobrir se realmente havia um segundo significado naquela frase. O garçom veio até sua mesa recolhendo as louças vazias e perguntou a Draco.


– O senhor aceita mais alguma coisa? – o loiro fez que não, e já se preparava para sair, quando o mesmo garçom o chamou. – Senhor, acho que esse bilhete é seu.


Junto do dinheiro que Harry deixara havia um pequeno pedaço de papel que o garçom lhe entregou. Ele agradeceu, pegou seu casaco e saiu para a movimentada rua de Londres. Draco andou meio sem destino, pensando naquele jantar com Harry, e bufou. Maldito Potter que vinha lhe perturbar depois de todo aquele tempo! Depois daquele dia de dezembro em que disseram adeus, ele viajara a negócios por todo o mundo, conheceu lugares, pessoas, mas ninguém conseguia lhe dar o mesmo calor que o moreno.


Ele sentou-se numa pequena pracinha, que parecia vazia àquela hora, e tentou não se lembrar dos velhos tempos. Colocou as mãos nos bolsos para esquentar-se, e sentiu o bilhete ali guardado. Sua curiosidade era maior que qualquer coisa, por isso o abriu e leu.


 


Draco,


Sinto sua falta. Sinto falta da sua pele, do seu sorriso doce, tudo tão bom para mim e tão certo. Sempre me lembro de como você me segurou nos seus braços naquela noite de setembro. A primeira vez que você me viu chorar. Talvez isso seja pensamento positivo, provavelmente sonhos sem fundamento, mas se nós nos amássemos de novo, eu juro que te amaria certo. Eu sinto muito por tudo que te fiz passar. Se eu pudesse, voltaria no tempo e mudaria tudo, mas não posso. Então se a sua porta estiver trancada, eu entendo. Mas aqui estou eu engolindo o meu orgulho na sua frente e pedindo desculpas por aquela noite (mesmo que eu não tenha coragem de dizer tudo durante o jantar, como eu provavelmente farei.). Eu volto para dezembro toda hora e me lembro de toda a bobeira que lhe disse. Acontece que descobri que a liberdade não passa de saudades de você. Desejava ter percebido o que tinha quando você era meu. Acredite, eu voltaria para dezembro, mudaria tudo e faria tudo certo, pensaria diferente. Não adianta lamentar o passado, mas se você permitir, quero voltar a escrever um futuro contigo.


Estarei te esperando.


Harry.




Draco terminou de ler o bilhete e suspirou. Realmente, o Potter sabia surpreender. Ele se levantou e colocou as mãos no bolso, segurando sua varinha e fazendo um feitiço silencioso. Logo, um molho de chaves estava em suas mãos. Esperava que ele não tivesse mudados as fechaduras, provavelmente nem poderia, já que aquele lugar também era seu. Ele voltou a caminhar pelas ruas de Londres apinhada de trouxas e pensando que, quem sabe não poderiam, realmente, voltar no tempo e relembrar algumas coisinhas?!

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