Capítulo 3 - Amor Cura



Se havia algum lado bom em ter um ano tão cheio de deveres de casa como o quinto, era que pelo menos Albus conseguia esquecer por alguns momentos os seus problemas. Na noite de quarta-feira, estava escrevendo um longo trabalho de Poções (ele detestava escrever sobre essa matéria, pois achava que apenas saber preparar as poções já era suficiente) numa mesa da Sala Comunal. Alice estava sentada ao seu lado, segurando seu gatinho, o Snow, que era branco como os cristais de gelo de onde foi tirado o seu nome. Não trabalhava, mas olhava constantemente para o buraco do retrato, como se esperasse alguém.


- Aposto que você não vai me dizer quem está esperando. - falou Albus, sem erguer os olhos do papel. Levantou e o observou em outros ângulos de luz, imaginando em que posição o professor o corrigiria. Estava com um humor bem melhor nesse dia, graças a aula de Runas Antigas que tivera com Scorpius. Os dois garotos sentaram juntos e ainda combinaram de fazer o dever de casa em companhia um do outro na biblioteca na sexta-feira. Em todas as aulas do terceiro e do quarto ano quando começaram a ter a disciplina, eles nunca haviam se falado. Na verdade, Albus o tratava com uma recíproca indiferença. Era estranho que o mesmo jeito metido que tanto o fizera evitar o garoto nso anos anteriores agora o deixava pensando nele o tempo inteiro ou algo muito próximo disso. Não contara nada para Alice, no entanto. Na verdade, ela nem imaginava que Albus poderia estar interessado em um outro garoto.


- Não há nenhum garoto, Albus.


Mas ela falou isso com um sorriso no rosto que deixava bem claro que a verdade era o oposto do que falava. Foi naquela noite que a primeira carta dos pais chegou. A coruja de Albus, Agatha, deu umas batidinhas na janela que o fez virar imediatamente. Sabia quem era o remetente da carta. Só podiam ser seus pais. Foi até a janela, abriu-a e pegou o envelope. A coruja foi até a mesa onde ele estava sentado e bicou o petisco que ele comia enquanto estudava.


- De quem é, Albus?


- Dos meus pais...


Abriu o envelope e viu a caligrafia redonda de Ginny Weasley .


Albus,


Já estamos morrendo de saudades. Mandamos a carta pela Agatha porquê seu pai está com a coruja de casa ocupada - o trabalho está uma loucura, andou lendo os jornais?


Como foram seus primeiros dias em Hogwarts? As aulas estão muito difíceis? Sei que o quinto é um ano trabalhoso mas tudo dará certo.


Molly pediu para te mandar uns doces mas achei que a coruja não aguentaria o peso do pacote.


Espero que tudo esteja bem.


Estamos pensando em você sempre.


Papai mandou um beijo.


Com amor,


Mamãe.


P.S: Um médico do St. Mungus irá te visitar em Hogwarts na sexta-feira. Ele irá te ajudar com tudo que você tem passado. Por favor, entenda que é para seu melhor.


É claro que o propósito da carta toda resumia-se ao post scriptum. Isso o irritou profundamente. Amassou a carta e a atirou numa lixeira próxima. Sentou-se na mesa e sentiu toda a felicidade que o dia com Scorpius lhe trouxera sumir rapidamente. Agora um médico iria visitá-lo? Não se deu o trabalho de responder a carta. Nem tinha muito tempo para isso. Em um outro ano qualquer, teria ficado frustrado e subido para o dormitório para se isolar. Mas no quinto ano, ele teve que tirar aquilo tudo da cabeça e voltar ao trabalho de Poções. Gostaria muito de ter Scorpius ali agora.


Mal se podia ver os jardins e o céu do lado de fora das janelas castigadas pela chuva da Ala Hospitalar. A bruxa enfermeira lhe colocou num quartinho particular, longe das outras camas, onde ele se sentou e ficou esperando entediado o que lhe aguardava. Era um cômodo bem apertado, com apenas uma cama, uma mesa, armário cheio de toalhas e pijamas, um quadro de um bruxo que fazia medidas numa balança e se animava com os resultados e a janela que Albus observava.


Começou a bater o pé impacientemente no chão, passando a olhar ao redor como se procurasse uma saída daquele lugar entediante, mesmo que a porta não tivesse sido trancada. Mais alguns minutos se passaram e ele escutou a voz da diretora Lovebird e um homem com sotaque forte de outra parte da Europa que ele não reconhecia. A porta se abriu e um homem jovem, bonito e sorridente por ela entrou. Lovebird o observava fixamente do lado de fora, lançou-lhe mais um olhar penetrante antes de ir embora.


- Olá, Albus, sou Marcus Mayer.


Albus ergueu as sobrancelhas. Não falou nada, apenas aguardou, olhando para a parede. O médico foi até uma mesinha, onde colocou uma maleta que segurava e então virou-se para Albus, que falou com um pouco de grosseria:


- Aí dentro... são os medicamentos que vai fazer para me domar? Me colocar numa jaula sem ter risco de eu quebrá-la? Ou então de arrancar as pernas dos meus colegas de dormitório?


O médico sorriu. Isso irritou Albus.


- Na verdade, nada disso. Mas você tem uma boa imaginação. Sinto lhe desapontar mas a maleta não é para você. Eu só quero conversar.


- Pode ir falando.


O médico pensou por alguns segundos, e então disse:


- Sr. Potter, no dia 25 deste mês teremos a sua primeira Lua Cheia. Eu conversei com a diretora, a Lovebird, sobre as circunstâncias, e você deverá naturalmente tomar a Poção do Acônito, também conhecida como Poção do Mata-Cão. É uma poção trabalhosíssima, e somente os melhores dos melhores estão aptos para prepará-la. Eu fiz dois caldeirões cheios dela nessas últimas semanas, e trouxe-os para a diretora examiná-los com o professor de Poções do colégio. Ambos aprovaram o conteúdo. Você deverá tomar uma taça da Poção todos os dias na semana que precede a Lua Cheia.


Ele sorriu, como se esperasse que Albus sentisse conforto ou alívio. Ele só se sentia, na verdade, um pouco envergonhado, pois odiava a sensação de estar perto das pessoas que sabiam que ele era um lobisomem. Não queria que sentissem pena dele. Não queria que sentissem nada.


Como não podia ficar sem falar nada, ele apenas olhou para o médico por alguns instantes e perguntou:


- É só isso?


- Bem, é sim. A não ser que você tenha alguma dúvida... qualquer dúvida sobre todo o... o... o processo.


Ele odiou como o médico levou tanto tempo para encontrar a palavra correta.


Levantou-se da cama de um salto.


- Não tenho nenhuma pergunta. Obrigado.


E saiu do quartinho, sentindo o olhar curioso do médico atrás dele que não tentou lhe impedir de sair, pelo que ficou grato.


Fora da Ala Hospitalar, começou a andar pelos corredores, imaginando onde iria agora. O fantasma da bruxa da Corvinal passou por ele, olhando-o com um leve interesse, fazendo-o tremer. Será que até os fantasmas já sabiam de tudo?


Continuou andando, até que lembrou-se repentinamente de algo que o fez parar e bater a mão na testa.


Merda!


Era sexta-feira. Scorpius estava lhe esperando na biblioteca. Ele perdera um momento com ele por causa daquele médico idiota que ainda se atrasara um pouco!


Começou a correr, até o corredor da biblioteca, e os quadros e alunos por quem passava lhe olhavam com desaprovação. Ele não se importou. Ao chegar na biblioteca (onde teve de parar de correr) deu uma olhada em volta e não encontrou Scorpius por lá. Havia apenas grupinhos de estudantes com quem ele nunca falara.


A bibliotecária chegou por trás dele sem ele notar.


- O que está fazendo aqui, rapaz?


- Nada, nada...


O garoto estava ofegante.


Ele olhou para a mulher, e então saiu da biblioteca, voltando a andar apressado em seguida.


Temia que Scorpius se chateasse. Nunca fora sua intenção.


Não encontrou Scorpius naquela tarde, nem no jantar, em que comeu distraidamente um pudim enquanto olhava para todos os lados a procura do garoto. Alice perguntou o que havia de errado com ele, mas ele não respondeu.


Assustou-se quando James chegou ao seu lado na mesa e começou a falar:


- Albus, você sabe quem é aquele garoto que está com a Rose?


Albus olhou para o irmão, incrédulo que alguém pudesse lhe incomodar tanto.


- Eu não sei, James. - disse impacientemente - Nem estava prestando atenção.


Mas olhou para a irmã. Ela conversava animadamente com um garoto bonito, de pele e cabelo escuros e que não tirava os olhos dela. Achava que já o vira antes.


- Pois eu sei. Ele é capitão do time de Quadribol.


- Que legal. - disse Albus, colocando mais uma colher de pudim na boca.


- Da Sonserina.


Albus virou para ele, um pouco espantado.


- Então é por isso que ela está com raiva do tio Ron? Por quê está a fim de um Sonserino e ele nunca apoiaria?


- Muito provavelmente. - respondeu o irmão, mordendo o lábio. - Eu soube que ele escolherá o time da Sonserina no Sábado. Provavelmente todas as vagas já estão ocupadas, é claro.


Lembrou-se de Scorpius falando do treino no primeiro dia de aula. Fora uma longa semana. Mas, ao pensar naquilo, seu sorriso se iluminou. Nem tudo estava perdido. Mais alegre, até fingiu estar interessado no papo de James sobre o time da Grifinória e a taça de Quadribol desse ano. Quando foi dormir naquela noite, ficou se revirando na cama, animado com o dia seguinte.


Acordou na manhã seguinte com muito frio. Dormira com a janela aberta, e dela vinha um vento que deixava seus pêlos eriçados. Todos os outros do dormitório ainda estavam dormindo. Levantou-se e foi até o banheiro trocar o pijama por uma roupa qualquer que poderia usar no colégio diferente do fardamento, acrescida de um casaco. Lavou o rosto, tentando não olhar muito para a própria imagem no espelho, pois ainda não se acostumara com a cicatriz na bochecha e o nariz torto.


Desceu para o Salão Comunal e andou em círculos por alguns minutos. Não tinha a menor ideia de quando era a escolha do time da Sonserina, então devia ir logo. Estava querendo muito que Scorpius ficasse contente com a sua presença, e sabia que ficaria muito irritado caso se decepcionasse.


Chegando no Salão Principal, que estava com pouquíssimos estudantes. A mesa da Sonserina praticamente vazia, sem nenhum rosto com cabelos loiros e olhos cinzas a vista. Tomou o café rápido, pois imaginava que já podia estar começando.


Andou pelo terreno de Hogwarts até o Campo de Quadribol. Mesmo com o casaco, ainda sentia um pouco de frio. Embora tivesse estado lá pouquíssimas vezes, não fora tão difícil chegar até lá. Subiu por trás, pelas arquibancadas, e ao chegar no topo, não se surpreendeu ao ver que o time da Sonserina já se reunia ali. Na verdade, era o time e mais um grupinho de mais ou menos vinte alunos que almejava se juntar a ele. Entre os que já eram do time, estava a pesosa que desesperadamente procurava desde ontem. Sorriu e cruzou os dedos para que tudo desse certo.


Reconheceu o garoto que estava com Rose ontem no jantar dando ordens a toda a equipe. Imaginou que talvez a Sonserina marcar o treino num dia tão frio seria um modo de testar o quanto os concorrentes queriam estar ali.


Scorpius montou em sua vassoura e deu algumas voltas pelo campo, para aquecer - Albus não entendia nada de Quadribol, mas devia ser algo relacionado a isso. Quando chegou perto de onde ele estava, seu rosto ficou surpreso. Voou até ficar ao lado dele e, ainda na vassoura, falou:


- Albus. Não esperava você aqui.


- Hmm... eu lembrei que você tinha me dito na segunda-feira, sobre o treino hoje. Imaginei que devesse ser bem cedinho. A propósito, está muito frio e ainda assim você está voando muito bem.


Scorpius o olhou por alguns instantes e então soltou uma risada.


- Albus, Albus... não precisa me bajular. Mas eu ainda estou bravo com você.


Ele tentou fazer uma cara séria, mas não conseguiu. Albus notou como ficava sexy com o uniforme verde e prata da Sonserina, que mostrava muito mais pele que a roupa diária.


- Me desculpe. Eu... eu fui chamado pela diretora e esqueci completamente. É claro que eu preferia ter ficado com você. Estudando.


Fez uma cara interessada ao ouvir isso.


- Pela diretora? Novamente? Albus, não vai me dizer o que tanto conversa com ele?


- Desculpe, mas acho melhor não.


Albus olhou para baixo naquele momento, como se a cicatriz em seu rosto ou o nariz pudessem denunciar o que, no que dependesse dele, ficaria guardado para sempre. É claro que um garoto tão perfeito como Scorpius nunca se interessaria por um lobo.


Ouviram um apito.


- Eu tenho que voltar ao treino, Albus. Mas acredite, eu sempre. Sempre. Sempre consigo descobrir o que quero. E mesmo que isso te deixe emputecido comigo, minha curiosidade será mais forte. Ela sempre foi.


Levantou o rosto. Scorpius lhe lançava um olhar penetrante, como se tentasse enxergar através de seus olhos para descobrir seu segredo, como se não houvesse cicatriz nenhuma ou nariz torto nenhum ali, apenas duas almas que desjevam compreender uma a outra.


Scorpius lhe olhou por uma última vez antes de voar de volta ao campo. Albus não conseguiu prestar muita atenção nos jogadores, tanto é que não poderia nem dizer quais foram escolhidos para o time que, ele sabia, era formado por sete pessoas.


O pomo de ouro não foi lançado naquela manhã, pois a vaga de apanhador já era ocupada por Scorpius. O time, no entanto, ganhou um novo goleiro, e um artilheiro. No mais, mantia-se o mesmo do ano passado. Provavelmente o capitão não iria querer arriscar muito nesse campeonato.


No final de tudo, Scorpius voltou até ele. Estava muito suado, mas continuava atraente para Albus. Com quinze anos sem ter nunca ficado com ninguém, não conseguia notar defeitos em sua paquera.


- Eca, estou todo sujo! Mas você gostou dos novos jogadores?


- Hunhum. Estão todos ótimos. Acho que esse Campeonato será de vocês.


Scorpius riu.


- Se eu não soubesse que você não entende absolutamente nada de Quadribol, talvez me sentisse animado com o comentário.


Albus também deu uma risadinha.


- Mas o mais importante foi a intenção. Albus, vou tomar uma ducha. Te vejo em cinco minutos, ok? A gente pode voltar junto para o castelo.


- Cinco minutos? É só o que leva num banho? Que nojo, Scorpius!


- Ha ha, engraçadinho.


Quando os dois voltaram para o castelo juntos (dez minutos mais tarde, para a alegria de Albus), o garoto sentiu-se subitamente feliz. Estava com passos mais descontraídos, olhando para cima, para o sol que agora finalmente dava as caras depois do início de manhã nublado, conversando com o amigo feliz. Era difícil imaginar que, assim que os dois se dessem as costas, ele voltaria a pensar em tudo aquilo que lhe incomodava.


- Então, Albus, você acompanha o que seu pai faz no trabalho, certo?


- O quê? - Albus não entendeu a pergunta.


- Ele não te fala dos últimos acontecimentos? Na verdade, todos falam dos últimos acontecimentos.


- Desculpe, estou por fora.


Scorpius riu.


- Em que realidade você vive, Al?


- Do que está falando?


- Da fugitiva de Azkaban. Willie Louise. Moça esperta.


Albus sentiu um frio na espinha ao ouvir essa frase. Não entendia o motivo, mas aquele nome acompanhado de "fugitiva de Azkaban" lhe causou um certo desconforto.


- Mas meio burra. Ok, contraditório. Ela conseguiu muita coisa mas foi pega de um jeito tão... óbvio. No Departamento de Mistérios. Seu pai está atrás dela. Você tem certeza de que não ouviu falar?


Ele fez que não com a cabeça, mas, assim que chegou no Salão Comunal, pegou um Profeta Diário.


Leu uma notícia na capa acompanhada de uma foto de uma mulher jovem e belíssima, de cabelos castanhos e lábios cor de rosa, com roupas simples que poderiam ser encontradas numa loja de trouxas. Sorria para todos ao seu redor, apesar de estar sendo guiada por aurores e ter repórteres lhe cercando.


Pegou frases soltas como:


"Dementadores nunca deviam ter sido expulsos de Azkaban" "Primeira crise do governo Shacklebolt" e "Potter e sua equipe estão empenhados..."


Sentou-se na poltrona mais próxima e ficou a par da história inteira.

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Comentários (1)

  • meroku

    ta otima a historia!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!posta o proximo logo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!to doida pra saber se o Scorpius vai descobrir o segredo do Albus ou não!!!!!!!!!!!!!!!!e qual vai ser a sua reação!!!!!!!!!!!!

    2012-12-27
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