Capítulo 1 - A Mordida



Albus não estava bem. Quando terminou de tomar o banho e se mirou no espelho do banheiro, viu que estava com olheiras e todo o seu rosto tinha uma aparência cansada. O banho fora uma sensação ruim: estava febril e o choque térmico com a água gelada foi uma péssima maneira de acordar. Eles iriam para o Beco Diagonal em alguns instantes. Não queria Ginny lhe apressando, então preferiu não demorar. Mas, antes de sair, olhou mais uma vez o próprio corpo no espelho. Perdera muito peso no verão. Ginny estava preocupada. Harry ocupado. Rose dizia que ele precisava sair um pouco mais. Não acreditou quando ele recusou o convite de Alice para uma festa na casa de Steven nas férias. Mesmo tentanto convencer a prima que estava bem, no fundo ele realmente queria que naquele ano algo de diferente acontecesse. Mas, se todos os dias começassem como aquele, não podia esperar muito. Ouviu o canto de um corvo que passou raspando na janela e e se arrepiou. Depois, foram passos no corredor. Apressou-se em abrir a porta antes que alguém batesse nela lhe apressando. Tinha um mau pressentimento.


Embora o dia estivesse frio e o céu nublado, muitas famílias enchiam as lojas e ruas do Beco Diagonal comprando o material escolar de última hora. Na loja de livros, a Floreio de Borrões, os Potter e os Weasley compravam os últimos itens da lista. Hermione e Rose estavam na fila, enquanto os outros aguardavam no centro da loja. Ginny colocava a mão na testa de Albus, preocupada.
- Você devia ter ficado em casa, Albus. Está quente. - falou a mulher.
- Está com uma cara péssima! - falou uma garota, mais jovem, idêntica a ela.
- Eu vou ficar bem. Por favor, vamos só comprar os livros. Eu estou bem.
Albus conseguiu se desvenchilhar da mãe. Algumas pessoas o olhavam ao passar, algo ao qual ele já havia se acostumado mas ainda achava bastante estúpido. É claro que o olhavam por ser filho de Harry Potter. Um som de livros despencando de uma pilha, e James Potter surgiu ofegante mas com um grande sorriso no rosto.
- ALBUS! - gritou, sem parecer se importar com os livros que derrubara. - Uma garota na estante de herbologia. Ela estava olhando para você e dizendo para a amiga que - parou por um segundo, até voltar a falar com uma voz debochada - você era um garoto incrivelmente fofo e ela não conseguia tirar olhos de você na aula!
Albus não soube bem o que falar. Olhou para a estante da qual seu irmão mais velho lhe falara. Marilyn, uma colega de seu ano em Hogwarts, da Grifinória, conversava animadamente com uma amiga que ele não conhecia. Sentiu uma sensação horrível no estômago naquele momento. Não que ela tivesse feito algo de ruim com ele, mas ela sempre o incomodara.
- Então, o que está esperando? - parecia não cogitar a possibilidade do irmão não ter nenhuma reação. Ela era de fato uma garota muito bonita, mas ele não tinha nenhum interesse por ela.
- Nada. Deixa pra lá, James. - falou.
- Como assim, cara? Você não cresce? Já está na hora de...
- Esquece, James!
Rose Weasley voltara do balcão onde estivera comprando seus livros e os do primo do mesmo ano. Uma garota de temperamento forte, ela olhava para James com desprezo.
- Por quê você não o deixa em paz? Tem que ser sempre imaturo e incoveniente.
- Eu não fiz para chateá-lo...
- Sim, você fez.
Rose olhou para James com um pouco de raiva, e depois sacudiu a cabeça, impaciente.
- Quer saber? Eu não dou a mínima. Vocês que se resolvam.
E atirou os livros que comprara numa pequena pilha que a irmã mais nova Lily estava guardando.
Albus conseguiu se afastar de James e estava agora dando uma olhada na estante de livros fantasiosos. Quando ele se tornava o centro das atenções, sempre procurava fugir. E sempre achara ler um livro uma ótima alternativa a enfrentar a realidade. E sempre detestara James. Sentiu a prima se aproximar. Não sabia se queria conversar naquela hora. Estava febril com um pouco de dor de cabeça e gostaria muito de ser deixado em paz.
- Albus, por quê você não enfrenta o James? Tudo que ele faz é tão patético.
- Eu... eu não quero chateá-lo. Se ele já é insuportável sem eu fazer nada, imagina se o enfrentasse? Eu só queria que vocês me deixassem sozinho.
Falou a última frase sem agressividade, mas demonstrando um pouco de tristeza.
- Albus, quanto mais você demonstra querer ficar sozinho, mais as pessoas vão querer saber se está tudo bem com você. Você devia acordar algum dia e dizer "hoje eu vou sorrir para todos e a partir de agora minha vida será ok." Pare de ser a vítima.
- Me deixa em paz, Rose. - falou, mas se arrependeu depois. Rose sempre fora muito carinhosa com ele.
- Vai pro inferno, Albus.
A prima perdia a paciência com muita falicidade, mas os dois se gostavam bastante a ponto de sempre se apoiarem. Ela se afastou, e quando Albus virou o rosto, viu James se aproximando. Não era obrigado a aturar o irmão. Colocou o exemplar que estava folheando de volta na prateleira e começou a andar na direção da porta da livraria.
Lá fora estava muito frio e ele desejou ter trazido um casaco. Se protejeu um pouco com os próprios braços e começou a andar pelo beco. Inicialmente, estava muito distraído e mal parecia notar para onde estava indo. Deixou o acaso lhe conduzir. Passou pela loja de artigos de quadribol e seus vários meninos que admiravam as vassouras mais caras, o boticário, a loja de roupas, o empório de corujas, até ver uns bruxos de aparência estranha se esquivando por uma ruazinha íngreme e estreita. Lembrou-se de tudo que já ouvira falar sobre a travessa do tranco: os bruxos com artigos roubados, as poções malignas e os livros que você nunca encontraria na biblioteca de Hogwarts. Sentiu uma grande curiosidade que lhe levou a entrar na rua.
Era cheia de pedras no caminho, e os bruxos por quem passava lhe olhavam com desprezo, outros com interesse. Havia uma velhinha mal vestida que parecia estar sob efeitos alucinógenos. Segurava um gatinho preto e xingava alto um homem que, segundo ela, lhe roubara ingredientes de uma poção para algo que Albus não entendeu.
Olhou para as placas da loja. Nenhuma lhe parecia convidativa. Uma cheia de velas negras e animais negros enjaulados particulamente lhe assustou. E ele desejou voltar logo para a livraria. Já deviam estar lhe procurando.
- Para sacrifício. - disse um bruxo ao seu lado que também examinava a vitrine da loja. Estava rindo.
- Hum... perdão. Para o quê?
- Sacrifício. - falou, com uma risadinha como se aquilo fosse óbvio. Deu uma olhada mais profunda no garoto, e teve seu interesse aumentado. - O que está fazendo aqui, moçinho? Garotos da sua idade andam em lojas de quadribol, compram uniformes para escola...
- Eu... eu já estou de saída. - disse Albus, se virando, mas o bruxo falou:
- Espere. Seu rosto me é familiar.
O coração de Albus acelerou. O rosto do bruxo se iluminou:
- Você é... é claro. Você é filho de Harry Potter.
A menção daquele nome fez vários transeuntes se virarem para os dois que conversavam.
Um outro bruxo, em particular, pareceu ainda mais surpreso ao ouvir o nome. Como se subitamente se lembrasse de algo, lançou um olhar fixo para Albus e aparatou ali mesmo. O garoto ficou assustado.
- Eu preciso ir. Agora. - falou com firmeza.
Deu as costas para o bruxo, e começou a caminhar apressado até o fim da travessa, que parecia estar muito distante. Não sentia-se perseguido, mas ainda assim estranhamente observado. Desejou chegar logo para junto dos outros. Que idiota fora de sair da livraria. Mas não queria sentir remorso. Se pelo menos ter ido para aquela travessa sozinho fizesse James ser menos implicante, estaria no lucro.
Depois de ter andado por quase um minuto, foi que o dia que já não havia começado bem tornou-se um vivo pesadelo. Vultos encapuzados aparataram bem na sua frente, todos com o rosto fixado nele. Usavam longas vestes negras que não revelavam nem um centímetro de sua pele. Se aproximaram. Ele virou para trás, mas estava cercado: outros haviam aparatado por trás também. Não sabia quem eles eram, mas tinha certeza do que eles queriam. Será que era capaz de enfrentar todos? Não de uma vez
O corpo de Albus começava a tremer enquanto ele tentava descobrir o que estava acontecendo. O coração mais acelerado que nunca, ouviu uma voz gritar.
- ALBUS!
Era James. Sentiu um leve alívio. Mas James sozinho não iria tirá-lo dali.
- Albus, o que você está fazendo aí, estão todos te procurando, mamãe está ficando preocupada... e quem são esses caras?
Notara os vultos. E o medo na face de Albus.
- Mais um Potter. - disse uma voz sinistra, seguida de um grunhido. O dono da voz levantou o capuz, revelando o rosto mais nojento e sujo que o garoto já vira.. Uma grande cicatriz ocupava quase toda a sua bochecha direita. Seus cabelos não pareciam ser lavados há anos. Mas, além daquilo, o que mais o tornava diferente era seus dentes. Ele parecia ter os dentes caninos mais desenvolvidos que o normal, o que lhe dava uma aparência desumanamanete feroz. Estava rindo enquanto se aproximava de Albus, com um grande sorriso maligno no rosto.
- ESTUPEFAÇA! - era a voz de Ginny. Albus não conseguia saber em que momento ela chegara, mas atacara os vultos por trás e um deles caíra com a cara no chão de pedras e estava inconsciente e sangrando no nariz.
Albus que estava um pouco atordoado com a cena aproveitou a distração e tentou ir até a mãe, mas parou quando o homem-cão falou:
- Fique quieta, vadia! - disse, na direção de Ginny. Por um instante, olhou-a com uma leve curiosidade. Mas logo voltou seu foco para Albus, que estava tremendo e suando frio. Se seu pai estivesse aqui, tudo estaria resolvido. Mas desde que tinha aquela idade Harry Potter já sabia se virar sozinho, e Albus sentiu-se envergonhado de não ter nenhum movimento em reação à aproximação do homem. Lembrava-se que ultimamente tinha desejado com frequência poder provar para o pai que podia ser independente.
- Você virá com nós. Agora.
Falava para Albus. Ele prendeu a respiração. Tentou dar alguns passos para trás. Sentiu um bruxo chegar por trás dele e impedí-lo de fugir, passando o braço ao redor de seu tronco e o apertando com força. Ao olhar para trás, estava de fato um outro homem encapuzado.
- Não mova mais um músculo, rapazinho. - o homem falou bem no seu ouvido, e Albus sentiu um cheiro grotesco vindo de sua boca.
- Jasper! Pegue ele, leve-o para fora daqui...
Foi interrompido pelo som de vários bruxos adentrando a travessa.
- AVADA KEDAVRA! - gritou um deles.
Pela primeira vez viu o jato de luz verde de que tanto ouvira falar. O raio de luz verde atingira um dos vultos, que caiu morto no chão com os olhos vidrados. Albus começava a se sentir enjoado, além de estar com todo o corpo tremendo. Tentou virar o rosto para ver quem eram os que chegavam, mas o encapuzado que o prendia não lhe permitia mover-se.
- Não precisa ser impulsivo, Jack! Não sabemos quem eles são e não iremos se você os matar.
Uma reconfortante sensação preencheu todo o seu corpo ao ouvir aquela voz. Era o seu pai vindo salvá-lo. Tudo ficaria bem, ou quase tudo, já que Albus ainda se incomodava com a ideia de que Harry com sua idade teria escapado.
- Agora, escutem, SOMOS AURORES E O TERRORISMO QUE FIZERAM AQUI PODEM COLOCÁ-LO PELO RESTO DA VIDA EM AZKABAN. É MELHOR SE ENTREGAREM! ESSE LOCAL JÁ ESTÁ ISOLADO E VOCÊS NÃO PODEM APARATAR! - gritou com a varinha empunhada.
- Você não precisa me ensinar como ser um auror, Potter. E talvez você reconsidere meu método de trabalho se vir que um deles está com um dos seus... - falou o bruxo, agora com tom de desprezo.
O homem que o segurava afrouxou um pouco o aperto, e Albus pode virar seu rosto e encontrar o do pai a alguns metros na sua frente que o mirava com a varinha erguida. A expressão do rosto de Harry era de preocupação. Durante rápidos segundos, Harry e os aurores que o acompanhavam vasculharam o a travessa com o olhar.
- Agora, solte o garoto.
- Fui enviado para pegá-lo. Eu não vou retornar sem ele. - disse Jasper.
- Sim, você vai, se quiser sair daqui vivo. - disse Harry, começando a elevar a voz.
- Fui enviado para pegá-lo. Eu não vou retornar sem ele.
- HARRY! Ele foi hipnotizado! Imperius! - era a voz de Hermione Granger, que parecia ter chegado na cena junto com os aurores. Albus deduziu que ela deveria tê-los chamado. Agradeceu pelo bom senso de Hermione, já que o instinto materno de Ginny provavelmente a teria feito atacar todos os vultos sozinha sem pensar duas vezes. Harry se virou para a amiga, sem saber o que fazer.
- Ele está com Albus! - gritou.
- Não mais! - disse Jack, enquanto virava sua varinha para a direção de onde Albus estava.
- Jack, cuidado, você pode acertar o Albus...
- Eu sei o que estou fazendo, Potter, e é exatamente o que você como chefe do departamento deveria ter feito no instante em que chegou. Precisa-se de sangue frio para ser um auror, Potter, e você desde o início de sua vida demonstrou não ter nem um pouco, sendo estupidamente sentimental.
Jack era o vice-chefe do departamento de auror, e nunca se dera bem com Harry. Albus pouco sabia dele, mas ele tinha uma filha em Hogwarts em Slytherin que sua melhor amiga, Alice, detestava.
- Agora...
- Jasper! Solte-o. - era a voz do homem-cão, firme.
- Eu não vou...
- Solte-o!
E dessa vez o homem perdeu a paciência. Se lançou num salto voando por quase toda A travessa um salto impossível mesmo para um bruxo treinado. Estava vindo na direção de Albus e Jasper. Tudo aconteceu muito rapidamente. Num instante sentiu o corpo dele colidir com o seu, e os dois despencaram no chão, Albus em cima do bruxo fedido que o segurava. No outro, a cara do homem estava em cima da sua, mil vezes mais canina vista de perto. Saliva caia de sua boca no rosto de Albus enquanto ele, ofegante, aproximava o rosto do garoto e falava:
- Que fique o aviso!
E então ele o mordeu com uma selvageria desumana. Ginny gritou lá no alto. Albus pensava o que podia ser aquilo, sentia a pior dor de sua vida como se estivesse perdendo toda a forma do seu rosto que ficava encharcado de sangue. Sentiu que perdia uma parte do nariz. Mais um grito, vários feitiços eram lançados lá em cima, sentia o peso do corpo do lobisomem sair de cima dele e alguém tentando fazê-lo levantar. Foi aí que ele perdeu os sentidos.


 


 

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Comentários (1)

  • Rosie Bolger

    Cap muito bom, é bem interessante o seu jeito de escrever, eu ainda não li uma slash mais a sua me chamou atenção, está bem detalhada e não me parece nenhum pouco com o que pensei do que seria uma slash.parabéns pelo otimo cap.  

    2012-10-28
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