Capítulo único



CASTANHO




"Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba."


(Hermann Hesse)




Castanho. Castanho era a cor dos cabelos dela, a cor dos olhos dela. Ela era toda castanha. Eu não gostava do castanho. O castanho era sujo, pobre, errado, imundo. Como ela. Ela era imunda, uma sangue ruim que não deveria fazer parte do meu mundo, pisar no mesmo lugar que eu piso, muito menos olhar nos meus magníficos olhos e me desafiar como se fosse uma igual ou superior à mim. Mas, era o que ela fazia. Cada vez mais. E eu a odiava por isso. Maldita sabe-tudo irritante.


Olhar para ela era como um mártirio para mim, pois eu sabia que o que estava fazendo era errado. Era errado olhar para uma grifinória, pensar numa grifinória e pior, estar se apaixonando por uma sangue-ruim. Sim, me apaixonando. Descobri isso numa das vezes em que não consegui tirar os olhos dela numa das aulas que a grifinória tinha junto com a turma da sonserina e, logo após, quando estava indo para o Salão Principal a vi chorando em um dos corredores. A dor em meu coração foi tão grande que me fez ter vontade de ir até ela, abraçá-la, consolá-la, dizer que ficaria ali ao seu lado para sempre enquanto ela me permitisse e que jamais a deixaria ir embora.


Me surpreendi com meus próprios pensamentos,afinal ela ainda era a sangue-ruim amiga do Potter testa-rachada e do Weasley pobretão. Dei meia volta e corri para o salão comunal da minha casa onde ficaria mais seguro longe de sangue-ruins e evitaria cometer ações que sei que me arrependeria depois. Não podia ter esses pensamentos com uma impura. Ela nem era tão bonita, era só mais uma garota comum, com seus tons castanhos, sua beleza monótona e seu sangue imundo correndo pelas veias trouxas.


Era assim que eu tentava me convencer que tudo era um erro, com mentiras. Na verdade, ela era linda. Muito mais linda que qualquer outra garota de Hogwarts, mais do que Pansy ou Astoria ou Daphne, até mais do que a Weasley fêmea (que não é nem um pouco bonita). Ela é a menina mais linda que eu já tinha visto. Não fazia esforço para ficar bonita, como Pansy fazia com suas mil e uma técnicas de beleza. Não andava desfilando pela escola com roupas curtas e decotadas. Não paquerava os meninos, nem tentava chamar a atenção deles com atitudes vulgares, como muitas garotas faziam. Não, ela era simplesmente ela. E era bela do seu jeito.


Porém, na minha vida não tinha espaço pra ela e seu castanho. Na minha vida não existia imundície e tudo que ela tinha era imundo. Tudo relacionado à ela deveria ser expurgado de mim. E o seu castanho banido das cores que habitavam meus pensamentos. Hermione Granger jamais seria digna de um Malfoy. E isso me fazia odiá-la ainda mais.


"O ódio não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente."


(Chico Xavier)


 

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