Carta jamais enviada I - 1997

 

 

“Você tem o direito de permanecer calado, mas tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal.” Seguindo essa máxima da Justiça, prefiro ficar em silêncio. Não vou tentar justificar a minha longa ausência. Basta dizer que senti saudades... E vamos ao que interessa: a carta (desta vez bem longa).

Em tempo: Feliz 2014, com muita inspiração e magia para todos nós!

Morgana

 

 

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Londres, 20 de junho de 1997.

 

Oi, Ron!

Quanto tempo... Sem cartas, sem notícias, e essa angústia com a desafiante missão que nos aguarda.

Mas, na verdade, não estou escrevendo para falar dessa missão. Escrevo por uma necessidade do coração.

Aliás, já perdi as contas das cartas que escrevi para você e nunca enviei. Nessas cartas escrevi tudo que sinto, mas nunca tive coragem de dizer. Por isso mesmo, também não tive coragem de enviá-las.

A carta que escrevo agora, no entanto, mesmo que eu quisesse, não vai chegar até você. Pelo menos não neste momento, já que as corujas estão sendo interceptadas. E mais uma vez escrevo para ensaiar as palavras que gostaria muito de dizer a você um dia.

Sim, Ron, ainda me falta coragem. Não entendo muito bem o que você sente por mim. Às vezes acho que é uma forte amizade, em outras, parece me considerar uma chata, alguém que apenas suporta, mas tem horas que...

Sei lá por que, Ron, mas o jeito que me olha em muitos momentos me faz pensar... É um olhar profundo, de quem vê o coração da gente e, ao mesmo tempo, de interesse e admiração. E nesses momentos acho que você gosta de mim de um jeito diferente, do mesmo jeito que gosto de você.

Não, falar que eu gosto apenas é muito pouco. Não é fácil admitir (e eu jamais faria isso se soubesse que leria essa carta), mas a verdade é que te amo, Ron, de todo coração. Eu não entendo o porquê desse meu sentimento. Mas sei que é verdadeiro porque tem resistido, ano após ano, apesar das nossas diferenças, divergências e brigas...

Mas é justamente por conta desses desentendimentos e mal entendidos (e  são tantos!) que não consigo compreender como (ainda) te amo tanto.

Se você pudesse ler essa carta... Aliás, se pudesse ler as páginas e páginas de um caderno /diário (que carrego comigo desde o terceiro ano) nas quais falo de você... 

Sim, tenho escrito muito sobre você (mais do que gostaria), por vezes em tom de queixa pela forma como me trata, por nossas brigas que me deixam tão triste. Mas em outras... Bem, fico até com vergonha de dizer isso porque não sou (nem quero ser) uma pessoa melosa. Mas como essa carta está trazendo confidências (as mais secretas, que jamais dividi com ninguém e espero um dia falar apenas para você) devo admitir que escrevo para extravasar o sentimento que, de tão grande, já não cabe mais aqui dentro.

Tudo isso pode estar parecendo sem sentido, meloso, fora de lugar. Principalmente porque pode cair no vazio, uma vez que talvez você não sinta nada especial por mim.

Estava relendo a sua última carta, enviada no verão passado, e fiquei pensando naquela lista de qualidades suas que me pediu. Sei que, no fundo, não esperava que eu fizesse isso. Mas decidi fazer e, sabe, é muito mais fácil do que imagina falar das suas qualidades 

Não posso deixar de dizer que gostei muito de fazer essa lista. Ficou ainda mais claro para mim as razões desse amor que por tanto tempo reprimi e demorei a aceitar. Agora segue, finalmente, a lista das suas qualidades (citei apenas as 10 principais): 

1 - SABER SER AMIGO. Quem conquista sua amizade pode contar com sua lealdade até o fim. Não tenho como agradecer as vezes que saiu em minha defesa, principalmente contra Draco.

2 – INTELIGÊNCIA. O seu raciocínio rápido, perceptivo e lógico sempre me surpreendem. Eu preciso dos livros. Para você, basta a observação.

3 – CORAGEM. Não é qualquer um que, mesmo tendo aracnofobia, enfrenta aranhas gigantes. Isso só para citar um dos seus muitos gestos corajosos. Não é por acaso que sua casa é a Grifinória.

4 – SENSO DE HUMOR. Confesso que custei a entender essa qualidade sua e cheguei a achar que era um defeito. Mas depois vi que você torna tudo mais divertido e me ajuda a olhar o mundo com menos seriedade.

5 – SINCERIDADE. Também custei a entender essa sua qualidade. Sempre reclamei  que você falava sem pensar. Mas depois percebi que você é extremamente sincero e nunca aceitaria falar uma inverdade apenas para agradar, como muitos fazem.

6 – SER ATENCIOSO. Sei que a lista é só de qualidades, mas por vezes acho você bem pouco cortês. Só que se paro para pensar me dou conta que o seu jeito atencioso, sempre interessado no que falo, no que estou sentindo, é uma característica ainda mais marcante em você.

7 – DESCONTRAÇÃO. Essa aí é mais uma qualidade que confundi como defeito. Para uma pessoa como eu, sempre preocupada com os resultados, ter alguém assim por perto é muito bom. Você me ensina que a tensão, o nervosismo, não vão solucionar nada. E que se a gente relaxa, já está tendo o benefício desse momento de descontração.

8 – SENSO DE JUSTIÇA. Nem preciso falar muito sobre isso. Você sempre defende, com unhas e dentes, as causas e as pessoas nas quais acredita.

9 – TALENTO PARA ESTRATÉGIA. Você usa isso perfeitamente bem no xadrez, onde é invencível. Se acreditasse mais nessa qualidade, poderia desenvolvê-la muito.

10 – CORAÇÃO GENEROSO. De certa forma, já falei disso por meio de todas as outras qualidades. Você é uma pessoa do bem, que busca o melhor para todos e sabe abrir mão de seus projetos pelas grandes causas (está fazendo isso ao partir para essa missão ao lado de Harry).

Bem, Ron, mesmo se deixei de lado nessa lista, já que é uma característica bem subjetiva, acho você lindo! Amo seus olhos azuis, seu sorriso, seus cabelos vermelhos...  Gosto muito da sua voz, da sua gargalhada, do seu jeito. Sim, definitivamente, estou louca. Como posso dizer para um cara que vive me destratando, adora arrumar uma briga comigo, que sou assim apaixonada por ele?

Sabe o que me dá coragem? O jeito (que parece) apaixonado com que olha para mim. Nem sempre. Mas muitas vezes. Bem, mais já falei sobre isso, não é? Estou ficando repetitiva (risos).

Então vou terminar por aqui esta carta que não vai chegar às suas mãos. Mas fico pensando... E se alguma criatura mágica, de passagem por aqui, levasse essa mensagem, de alguma forma, até você? Quem sabe assim, caso corresponda ao meu sentimento, ganhe coragem de se declarar.

Tenho muita esperança que seja assim, Ron.

Um beijo. Com amor,

Mione

 

 

 

 

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