Imposições que machucam

Imposições que machucam



Na manhã após o Natal o castelo de Hogwarts continuava vazio, Lilian caminhava calmamente entre os corredores vazios, estava com muita fome e mesmo sendo cedo demais ela esperava que já houvesse café da manhã. A noite anterior havia sido confusa para ela, ela sempre sentiu que algo estranho ligava ela a Severo, era um sentimento louco que ela preferia chamar de grande amizade. Ela tinha começado a namorar Potter há pouco tempo, e mesmo ele sendo como era, ela se sentia bastante atraída por ele. Ele era implicante e muitas vezes infantil, muito diferente de Severo, sério e falava como um adulto.  Na verdade, no fundo, ela achou que Severo nunca revelaria o que sente, por isso se sentiu tão confusa com a noite anterior.


Severo ainda estava deitado, mantinha as cortinas da cama fechadas e respirava devagar. Estava relembrando cada segundo da noite anterior. Como poderia ser tão louco? Ele havia prometido para ele mesmo que nunca revelaria o que sentia, mesmo sendo óbvio, e que nunca enfraqueceria a ponto de...a ponto de beijá-la! “Droga!” murmurou ao lembrar-se dessa parte, as coisas nunca mais seriam as mesmas. Se ele pudesse voltar no tempo, ele nunca faria aquilo. Agora, quem sabe quando Lily falaria com ele de novo. Sentiu que não poderia ficar remoendo por mais tempo a situação e se levantou para o café da manhã.


Na agitada mesa da Grifinória, quatro amigos comiam fazendo bagunça. Falavam alto, riam e jogavam algumas coisas nos outros. Um deles, de cabelos pretos e rosto bonito gritou a ver Lilian entrando no Salão:


- Aqui, Lily! Venha comer aqui!


Era Potter, que sorriu largamente para ela. Lilian corou e foi até eles.


- Bom dia Lily. – Disse Lupin sorrindo. – Espero que com sua presença, estes baderneiros se acalmem.


Lily sorriu sem dizer nada e se sentou ao lado de Potter. Se serviu de algumas frutas e comeu em silêncio enquanto eles conversavam sobre o próximo jogo de quadribol, ao qual , aparentemente, a Grifinória iria acabar com a Sonserina.


- Você está muito quieta hoje, Lilian. – Disse seu namorado segurando sua mão e mudando de assunto.


- Ahn? Ah, sim... É que eu tenho estudado muito para os exames e estou meio cansada.


- Estudar é a única coisa que você sabe fazer...Já era de se esperar, em pleno feriado! – Sorriu e a beijou no rosto.


Do outro lado do Salão, na mesa da Sonserina, Severo olhava com cara de nojo a cena. Ele a queria tanto, que por mais que seu ódio ao Potter fosse infinito, conseguia aumentar quando via coisas deste tipo. Ficou observando e resolveu ir embora para não se magoar ainda mais.


Ao ver Severo indo embora Lily comentou:


- Eu...Preciso ir, tem algo que quero falar com Snape.


Sirius parou de gracejar uma menina que estava a sua direita só para replicar Lilian.


- Como AINDA consegue ser amiga deste ser com tantos outros amigos melhores por aqui, ruiva? Desgrude dele...


- É... – Potter falou arrogante. – Ele é seu único defeito.


- Como ousam? – Lilian manteve um tom calmo. – Vocês não param com isso, né? E, independente de quem eu namore, eu posso ser amiga de quem quiser. Existem qualidades em todas as pessoas. Até em você achei uma, Potter. – Sorriu para ele o intimidando e levantou.


- Ui, podia dormir sem essa, Potter. – Sirius ria do amigo.


Lilian foi embora se se despedir. Pensava em como conseguia gostar tanto de Potter se ele era assim. Mas com ela ele não era, lembrou. E apesar dos comentários sobre Snape, ele era sempre muito romântico com ela. Mas ela gostava muito do amigo, e não sabia como lidar com isso tudo.


Encontrou Snape saindo para o Jardim Interno do castelo e gritou sem nome. Ele parou e esperou de cara feia.


- Nossa, que cara é essa?


- Precisava ficar um tempo sozinho, não esperei que viesse. Estava tão a vontade com seus amigos lá trás.


- Como você consegue ser tão irritado? – Disse saindo para o jardim e o puxando pelo braço.


A neve tinha parado e tudo estava coberto de branco. Ali era um dos lugares preferidos de Lilian, era bonito, aberto e ainda assim, cercado pela beleza da construção de Hogwarts.


Os dois caminharam até um banco e sentaram.


- Você sabe por que estou aqui, quero falar sobre ontem, Severo.


Ele não disse nada.


- Eu gosto de Potter, e estamos namorando. Você sabe. Nunca esperei que você se sentisse abertamente assim sobre mim. Nunca imaginei que você falaria ou...não sei. Fiquei assustada.


Ele suspirou e falou baixo, mesmo estando somente os dois ali.


- Lily, sei como você se sente. Eu nunca faria algo para te deixar magoada. Foi um impulso, não sou de ter impulsos. Perdoe-me. Não quero ser mais que seu amigo.


Aquela resposta deixou Lilian sem palavras.


- Nossa...Achei que você...


- Achou o que? – Ele interrompeu sendo meio grosso e com tom impaciente. – Achou que eu diria que te quero como quero a vida, que você é tudo que importa e que lutarei até o fim por isso com Potter? Sei das suas decisões, não quero sofrer.


Lily o encarou com lágrimas nos olhos.


- Não, só achei...Achei que você tentaria.


- E te aliviou saber que não vou tentar?


Eles se olharam por uns segundos, agora Lily chorava.


- Por incrível que pareça... Não. Não Severo, não me aliviou.


- Lily, por favor, não chore. É que, você sabe como é minha vida. Você é a única pessoa que importa, e não vou te perder por ter que lutar com alguém por você. Entre nada e ter você como amiga, prefiro sua amizade.  Se eu começar a insistir você se afastará.


- Eu nunca me afastaria.


- Sim, você faria isso, por ele. – Severo respirou fundo. – Da pra ver que estão destinados um ao outro. E eu não serei nada, nada na sua vida.


Ela parou, sem forçar para argumentar e olhou para o céu. Não esperava estas atitudes dele.  Ficarem um tempo calados até que sem olhar para ele, ela disse baixinho.


- O quanto...?


Sem precisar terminar a frase ele respondeu.


- Absurdamente. Chega a doer. É como se o universo existisse somente aqui, tem torno de nós.


Ela encarou o rapaz, que agora estava com o rosto mais pálido que o normal.


- Eu preciso de você na minha vida, Severo. Sempre achei que o teria como um grande amigo que sempre estará presente.


- Se você ficar com ele, nunca estarei presente, mesmo que você insista.


Ela colocou a mão sobre a mão dele e ele retirou rápido.


- Não... Não me faça sentir coisas estúpidas, senão farei coisas mais estúpidas ainda. – Disse um Severo mais triste que o normal.


Foi então que ele percebeu que não poderia continuar assim, que ele não poderia mais sentir essas coisas e deveria tomar uma decisão.


- Lily, olha, tenho que te falar algo. Não vou lutar com Potter por você, pois sei quem venceria e quem ficaria solitário o resto da vida sem ter você até como amiga. Mas posso te prometer uma coisa. Posso te prometer dedicação, posso te prometer o mundo, sentimentos infinitos e tudo que você quiser. Posso te prometer, em absoluto,  minha vida. Mas não quero me ferir mais enquanto você esta com ele. Vou me afastar...


- Não, não diga isso!


- Deixe-me terminar, isso dói em mim também... Mas preciso me afastar. Dói ver vocês. Mas preciso de uma certeza, se alguma vez tive ou terei alguma oportunidade... Então vou ficar uma semana longe de você. E por favor, me encontre em nosso local de sempre, exatamente daqui uma semana. Meia noite, como sempre.


- O que você quer que eu faça? Que decida entre você e ele? Não posso...


Ele levantou.


- Só quero respostas, e quero antes que eu me afaste de vez. Desculpe por te fazer decidir isso. Mas preciso. Estarei lá, te esperando, como sempre estive nos últimos anos.


E ele saiu, deixando a menina com rosto vermelho e sentada sozinha, sem saber o que pensar. Ao chegar ao quarto, Snape não sabia o que fazer. Não sabia de onde tinha tirado todas aquelas palavras e a força de dizer aquilo. Mais cedo tinha medo de perder a amizade dela e agora fizera isso? Com risco de ela o odiar ou nunca mais falar com ela...


Com raiva socou a parede machucando a mão.  Mas não sentiu dor, havia outra dor o incomodando mais.

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