Capítulo Único




[...]Debaixo de nós nada mais se via senão uma tempestade negra, até que, olhando para oriente, entre as nuvens e as vagas, divisamos uma cascata de sangue misturado com fogo, e próximo de nós emergiu e afundou-se de novo o vulto escamoso de uma serpente volumosa. Por fim, a três graus de distância, na direção do oriente, apareceu sobre as ondas uma crista incendiada: lentamente elevou-se como um recife de ouro, até avistarmos dois globos de fogo carmesim, dos quais o mar se escapa em nuvens de fumo. Vimos então que se tratava da cabeça do Leviatã a sua fronte, tal como a do tigre, era sulcada por listras de verde e púrpura. Em breve vimos a boca e as guelras pendendo sobre a espuma enfurecida, tingindo o negro abismo com raios de sangue, avançando para nós com toda a fúria de uma existência espiritual.   
  

W. Blake
 


    (Trecho de uma carta a um amigo)



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- Por William Blake -
 
 
Queria acreditar que bastaria ver o sol, respirar da brisa matinal, ouvir o cantarolar dos pássaros para sentir a Tua presença para que, então, eu ficasse bem, com fé renovada, mas desanimador era a vista que encontrei ao abrir meus olhos, carregados, que fitavam o que sobrara do que outrora eram as imponentes embarcações. Toras... trapos... corpos a boiar num mar carmesim. Chorei por Jadon, e por todos os outros, senti a culpa reverberar no peito, por, sem merecer, ter sobrevivido àquele inferno, à criatura abissal... o maldito, escamoso, espírito maligno de Leviatã. 
Receoso, escrevi a um amigo, delatando os fatos e, também, minhas crenças e culpa... Torcia para que ele me acreditasse; no entanto, às vezes nem mesmo eu acreditava... Fui criado nos pilares do cristianismo, e, agora, vejo-me a compartilhar das mesmas crenças, ter a mesma fé que a dos judeus? Céus!, o que a conteceu comigo? De consolo, logo penso que todas as religiões são uma só*. Porque nosso destino certamente se encontrarão, cedo ou tarde, mas se encontrarão! 
A resposta de meu amigo veio rápido, numa breve carta, disse que estava a caminho. Pelo que eu conhecia dele, tinha aceitado o serviço, eu sabia que, com espírito de fera que tinha, nunca rejeitaria uma aventura, principalmente, se trouxesse riscos. Meu amigo era desses, do tipo destemido, do tipo que eu agradecia a Ele por existir!
Numa taverna, sentado na períferia com a mesmíssima feição do passado, que eu tanto conhecia, com a diferença do chápeu cônico, habitual, ausente; o que me fez rir um bocado, o encontrei. 
— Sem seu chápeu?! — brinquei. 
— Olá pra você também... — sorriu, enquanto eu me sentava, a sua frente. — Me acompanha? 
— Oh, não, não. Quero ficar bem sóbrio hoje.  
— Talvez seja melhor mesmo — disse num tom sério, e, sem hesitar, foi direto ao assunto. — Então, William, o que aconteceu? 
— Bem... aconteceu exatamente o que disse... — vi-o coçar a longa barba rubra, pensativo, mas muito atento ao que eu lhe dizia — Foi horrível, Godric... Ah, se você estivesse lá pra ver tudo, pra sentir aquele inferno... gritos... .mortos.. o desespero. Ah, Godric, Godric, meu amigo... quem derá se fosse como você... Eles gritavam, gritavam e gritavam, e eu... papéis, penas... nanquins... de que me vale isso? De que me vale a palavra, a arte, hein, Godric? — chorei.
Os demais homens me olharam com estranheza, por chorar quando eu deveria ser rude, vestir roupas puídas, ter barba crescida, na altura da cintura, beber no copo sujo, comer com mãos e não conhecer o asco, flertar, e deflorar donzelas. Ser homem, um homem sem fracassos ou fantasmas. 
Godric fingiu não ver minha fraqueza. Perguntava-me se, ao menos, meu amigo, se ele tinha chorado alguma vez, mesmo que às escondidas, sozinho... Não, não. Creio que não. Godric não é desses, pois a coragem o veste longa e perpetuamente, e é rodeado, famoso, as moças o querem, nunca que haveria de ser recusado... 
Godric é o homem certo.
— E a gravura? Está contigo? 
— Perdi... naufragou... — lamentei, mas Godric disse que não tinha problema, apenas queria ver o inimigo, conhecê-lo, achar um ponto fraco, apenas. 
— Bem — falou —, uma serpente... Enfim, falarei com Salazar, e — levatou-se; ajeitou a capa negra com um rápido movimento — tente arranjar uma tripulação; pois, em breve, meu amigo, acharemos essa cobra, e não sobrará nem presas nem guizo. 
Godric e eu nos despedimos, seu otimismo tinha me contagiado, pouco liguei para os olhares atravessados, tomei um gole d’água, no copo limpo, pensando em quem chamaria para enfrentar a morte, em quem seria louco o bastante para embarcar no mesmo barco, comigo.
Aproveitei a súbita coragem que circulava em minhas veias para enfrentar meus fantasmas. Fui ter com Jabriel, irmão de Jadon. Muito conversei com Jadon a bordo da embarcação que naufragou. Era judeu, um detentor da palavra, um seguidor de Deus... ou o seu Javé, como ele costumava se referir. Não era voltado ao trabalho braçal, mas quando foi preciso algum esforço, Jadon não hesitou em empunhar uma lança, que sequer encostou em Leviatã. 
— Perdoe-me, eu fui um rato. — falei a Jabriel.  
— O que você poderia ter feito, afinal? Morrer, o que isso ajudaria? Você trouxe notícias... — consolou-me. — Não havia meio de vencê-lo... teria sucumbido como os outros, não tenho dúvida. 
— Ó jabriel, é tão bom, generoso. Eu não mereço. 
— Se se salvou é porque Jeová tem planos pra você. Lembre-se disso. Eu vou lhe ajudar, vou contigo, e se quiser dar sua vida pela minha, vou aceitar, porque o contrário eu faria com gosto. 
Então Jabriel e eu nos tornamos irmãos.


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 "...ninguém é bastante ousado para provocá-lo; quem o resistiria face a face? Quem pôde afrontá-lo e sair com vida debaixo de toda a extensão do céu? ....Quem lhe abriu os dois batentes da goela, em que seus dentes fazem reinar o terror?...... Quando se levanta, tremem as ondas do mar, as vagas do mar se afastam. Se uma espada o toca, ela não resiste, nem a lança, nem a azagaia, nem o dardo. O ferro para ele é palha, o bronze pau podre." — ao terminar a leitura, Rowena pôs o Livro Sagrado ao lado, numa mesa da imensa Biblioteca, recém-construída.   
— Bem, veremos se o diabo é tão ruim quanto o pintam — falou Godric num tom trivial.    
— Isso não é uma brincadeira, Godric.   
— Sei disso, minha cara, mas acredito na força do meu braço e no poder da minha espada. Essa besta eu hei de matar, Rowena, nem que seja a última coisa que faça aqui.   
— Godric...   
Ele a tomou tomou nos braços, acalentou seu medo com beijo terno e demorado, quando se afastou falou.   
— Se assim for, que seja essa, a nossa despedida.   
Partiu ele, então.   
   
   


xXx

   
   
   
— Vem comigo, Salazar.   
— Esta guerra não me pertence... Não arriscarei meu pescoço pelos trouxas, não mesmo!   
— Por Deus Salazar! — desesperou-se Godric. — Pertence o mar somente aos trouxas? Sabe, que não! 
— Tanto faz... Não vou. Não vá! Fique.    
— E ser um covarde, não, muito obrigado. Não quero ser como...    
— … a mim? É o que ia dizer?    
— Interprete como quiser — exaltou-se Godric.    
Havia tanto ódio nos olhos Slytherins. Soltavam faíscas. A decepção mútua, uma amizade abalada, um rancor que talvez demorasse eras para ser olvidado, tudo isso se esboçava ali, no imponente catelo erguido, cujo nobre intuito era formar jovens iguais a eles.    
— Amigo — chamou um Salazar sarcástico, antes que Godric deixasse o castelo. — Espero que tenha se despedido de Rowena... Nunca se sabe quando a morte irá chegar, e é uma pena quando ela separa os apaixonados, rezarei por vocês, mas se algo lhe acontecer Rowena contará comigo, sempre.    
— Não tenho dúvidas — Godric tentou segurar a vontade que tinha de esbofetear Salazar, que ria, com vontade, então Godric atacou, uma vez mais, com palavras: — mas Rowena não se contém com pouco, precisa de alguém que não corra, que não fuja...    
— Precisa de alguém vivo, isso sim! Vá, Godric —gesticulou enfáticamente.— , e me poupe da sua bravura, ou melhor, vá pro diabo que lhe carregue. Ou Leviatã!    
Dessa vez não houve como se conter... Godric puxou a varinha, mas já era tarde, pois Salazar estava dentro dos domínios de Hogwats, sua azaração ricocheteou na barreira invisível, voltou-se contra ele, feroz, em seguida. Irritadiço, aparatou logo, mas as gargalhadas de Salazar ainda ecoavam em seus ouvidos. 


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- Por William Blake -
 
 
Conheci Christopher, filho dum pescador, que morava num vilarejo, próximo à praia. Caminhava por aquelas bandas junto a Jabriel, quando o avistei. Ele tinha lá seus onze anos, o corpo mui franzino, frágil. O menino não notara a nossa presença, na verdade, ninguém nos percebeu, pois a praia, sem nós, estava deserta. Christopher estava bem concetrado, mantinha o cenho franzido, enquanto os finos dedos teciam uma enorme rede de pesca. 
— Um pouco grande, não acha? — disse a ele a suas costas. Devagar, ele virou-se, foi então que notei, surpreso, que seus olhos transmitiam uma idade maior do que tinha. — O que pensa em pegar...?
— Um. Dos grandes.
Seu tom de voz revelava que aquela rede não estava sendo feita a esmo, Jabriel e eu nos entreolhamos, pois, naquele momento, pensamos a mesmíssima coisa, mas foi ele, Jabriel, quem falou.
— Que quer dizer o que com isso?
— Ora, que vou pescar um grande peixe.
Jabriel riu-se, tinha achado graça do sarcasmo e língua afiadada do jovem, que parecia mais uma criaça emburrada a um jovem rebelde.
Jabriel continuou a conversa como se nada tivesse acontecido.— E os outros onde estão... seu pai? 
Foi ai que confirmamos nossas suspeitas. Christopher chorava. Falar na perda do pai explicava o porquê de ter olhos tão tristonhos. Pobre Christopher! Se bem que não há motivo pra tanta pena, é, não mesmo; pois era destemido, planejava o mesmo que nós: enfrentar o mar,a criatura abissal... a queda de Leviatã.
— Todos morreram? — perguntei um tempo depois.
— Não sei. Nunca retornaram... Parace que Leviatã não deixa sobreviventes, mas, fiquem sabendo que, vou matar essa baleia.
— Baleia? - perguntei com certa diversão, que confesso ter sido inapropriada para a ocasião. — Quem lhe disse? Digo que é uma cobra.
— Como sabe?
     
— Will é um sobrevivente! — contou Jabriel com um sorriso à face, ignorando a confissão que eu fizera a ele. 
— Mesmo?! — Christopher largou a rede, e se pôs de pé. Havia brilho em seus olhos. — Como foi? Como é Leviatã? Quanto de comprimento...e a cor, qual a cor? Era pesada....as presas, longas? Ah, aposto que eram — disparou a fazer perguntas, sem ouvir as respostas — Nossa! Você um sobrevivente! 
— Arranjou um fã, William — falou Jabriel divertido-se.  
Fiquei calado, pois Jabriel sabia bem que eu era um fracasso. 
— Um sobrevivente... um sobrevivente! — continuava a exclamar enquanto caminhávamos pela areia sob o sol ainda morno. — Vocês querem uma tripulação, certo? Eu vou ajudá-los!  
— Como? 
— Darei a sua tripulação. Sei de quais homens precisam. Vamos!
Christopher tinha sido de grande ajuda levando Jabriel e eu até os tais homens, alguns declinaram nossa oferta enfáticamente, sem, ao menos, ouvir os argumentos; pois os rumores sobre a besta terrível chegava a terra. Leviatã ganhava dos homens primeiramente pelo medo. Por destruir e devastar flotilhas e famílias. Quantos marujos ou pescadores tinham desaparecido, definhado nas águas? Não era de se espantar a dificuldade em que tivemos de arranjar uma tripulação, os homens temiam que, no final, fossem incluidos nas baixas de guerra. Era uma guerra.  
“É suicídio.” — ouvi um homem corpulento dizer, e isso foi o estopim para a enorme confusão de vozes que se misturavam e conflitaram entre si.  
Foi ai que Jabriel tomou a palavra:  
— Pode sim ser uma aventura sem volta; mais que isso, senhores, uma missão de riscos; porém, qual risco é maior: enfrentar você mesmo a criatura vil, fazer o seu destino, ou esperar que, em nome de Jeová, ou melhor, senhores, em nome do Deus que vocês creem, que os peixes voltem a aparecerem, que seus filhos tenham então do que comer. Abraçar o suicídio, como chamam, senhores, ou ver seus entes e seus mundinhos se desmoronarem enquanto lamentam e culpam Deus por tudo, perdem a fé... curvam-se ao mal. Temem Leviatã quando deveriam temer somente, somente a Ele. Que o Deus de vocês se apiede, pois não sei se meu Jeová deixaria estar.  
Senti tanto orgulho de meu irmão Jabriel... enxerguei um pouco de seu irmão de sangue, Jadon, nele.  
De repente um homem deu passo à frente, depois outro e outro, estavam aceitando o desafio, no entanto, aquele homem corpulento fez um pergunta que sequer eu havia me questionado.  
— Têm a tripulação, mas e o navio... barco... ou caravela, o que dizem sobre isso?
— Temos o navio — falou uma voz atrás de nós, rapidamente me virei, tinha o rosto tão bruto quanto o sotaque carregado, os traços do rosto, bem, não ficava para trás, sombrancelhas espessas, nariz levemente avantajado, queixo anguloso, rosto de guerreiro. Se o estranho estrangeiro não estivesse acompanhado por Godric, sentiria medo.  
— Já estava me perguntando se não tinha acontecido algum imprevisto, meu amigo — cumprimentei-o com abraço fraternal.  
— Um dos melhores... — sorriu.  
— Seja bem-vindo, Salazar — estendi a mão para cumprimentar o homem, mas, naquela hora, senti que tinha dito algo errado, muito errado mesmo, ele soltava fogo pelas ventas. Percebi então que aquele não Salazar. Claro que, antes, eu deveria ter perguntado quem era... Que mal há em confundir nomes? E Godric tinha dito que falaria com um tal de Salazar... Godric tentou apaziguar a situação, mas aquele sujeito era difícil... Imagine só que queria partir minha cara em duas, não, não, em mil pedacinhos! Gênio difícil aquele... do tipo que resolve no braço e não leva desaforo pra casa. — Oh, desculpe... eu...  
— Este é Mstislav — falou Godric num tom mais firme e alto que pode —, o nosso capitão.
      
Ninguém ousou duvidar das habilidades de Mstislav, que nos ganhou assim que abriu a boca.
— Homens, partiremos dentro de dois dias, peguem tudo que poder: facas, lanças , arcos e flechas, armam-se da cabeça aos pés, não serão meros pescadores daqui em diante, não pescaram um simples peixe... — falou Mstislav meio truncado, lento, tropeçando nas palavras. — … essa é hora de nos vingarmos, de trazer o coração, força, e fé para nossas armas e mãos, acreditem, seja lá você... ou você, o inimigo está em nós mesmos, no pessimismo, na baixa-estima, na culpa...
Parecia que Mstislav enxergara através de m’alma, de todas as almas... Olhávamos para chão não a mirar nossos sapatos, mas, pra dentro de nós mesmos como que a absorver cada palavra, cada ponto e vírgula do que Mstislav, o capitão, nos disse, em pensar que nunca o vimos antes. Mas, que saber, eu já confiava o rumo que minha vida tomasse às mãos do nosso capitão. Eu estava a bordo.
   No entanto, dizer a Christopher que a jornada dele terminaria quando a nossa começasse, foi difícel.
— Meu pai morreu,eu lhe disse... tenho que ir, você não entende? — gritou. — quero ser como você! Você foi ao mar e retornou ...
— Se quer ser como eu, saiba que não sou quem você pensa... Fui ao mar e temi a criatura, me escondi feito rato, enquanto os outros ergueram seus braços contra Leviatã. Sou um covarde... — confessei.
Aguardei sua acusação, esperava que me chamasse de farsante, por ter me calado tantas vezes que ele havia me elogiado, mas não aconteceu. Ficou silêncio, até o dia do embarque.
— William — Christopher me chamou.— fiz pra prender Leviatã, leve-a contigo.
Era a rede que ele tinha terminado de tecer.
— Vou usá-la. — disse ao embarcar no enorme navio. As velas se abriram, e, aos poucos, começams a navegar.
— Mande notícias — gritou William, em terra. — Quero saber como é Leviatã, com detalhes.
— Pode deixar!

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As andorinhas iam à frente, abrindo o caminho para uma proa que apontava, imponente, para o horizonte. O mapa foi consultado, a bússola indicava que teriam de mudar a rota a estibordo, em breve. William Blake continuava a fazer seu próprio diário de bordo, mais para a memorizar acontecimentos, fatos a qualquer outra coisa. Ele queria saber, com precisão, o que dizer ao seu jovem amigo Christopher, quando retornasse.  
Queria acreditar que retornaria, que todos retornariam, e logo. Preocupa-se de fazer desta, uma viagem diferente da que fizera anteriormente. Não queria perder Jabriel como perdera Jadon. Quanto a Jabriel, seja em terra ou em alto mar, seguia a risca os costumes de seu povo, alguns marujos torciam os narizes para suas vestes e, principalmente, para o Tanakh que levava consigo, debaixo do braços, quando ele passava. Era como se debochassem de Deus... de Jeová. Naquela altura acreditavam mais na força de seus corpos à Divina. Godric era diferente, igual a Mstislav. Confiavam na força, mas tinham fé.  
Seguiam quietos, o capitão-timoneiro segurava o leme firmemente, enquanto Godric estudava o mapa, atitudes bem comuns a bordo, mas William achava espontoso, sabia bem que, quando quisessem, ambos poderiam usar suas habilidades secretas...  
William descobriu por acaso, alguns anos atrás, quando, à noite, vagava pelas ruas desertas com uma garrafa de bebida na mão. Não bebeu nenhuma gota, mas achou que tivesse feito, pois tinha ouvido um Crack, e, então, um homem tinha aparecido simplesmente do nada. Seguiu o homem. Godric. William conheceu o Mundo Bruxo, e soube que, para eles, era um trouxa. Mstislav e Godric fingiam ser também a bordo. Se usassem da magia encontrariam facilmente Leviatã. Mas tudo a seu tempo...  
No extinguir do sol, viram os rastros da besta a cobrir o mar, como uma enorme colcha fúnebre, onde centenas de milhares de peixes jaziam.
 — Está próximo? — falou um dos marujos, o mais velho, com um misto de euforia e receio. 
— Não — todos voltaram-se para William Blake, com ar de interrogação nos olhos. — O cheiro, digo, quando Leviatã aparecer sentirão náuseas... o diabo fede um milhão de vezes mais que isso aqui.  
— Passou por aqui, não há dúvidas... mas não faz muito tempo — falou o Capitão — não vimos abutres nos céu, quando o sol estava de pé; e outros peixes, maiores que estes, ainda não apareceram para limpar o mar, para comer os restos... Hm, homens, aumentem a velocidade! Vamos pegar o grande predador.  
Ouviu-se um coro, saudando Mstislav e sua obstinação. Jabriel e William não se juntaram ao coro, era um momento de reflexão, de falar com Ele
— Que o luar continue guiando nosso caminho — falou William, ao lado de Jabriel. 
— E que a fé nunca nos falte, meu irmão. 
Chovia muito, muito forte. Parecia que ondas do mar os engoliriam numa só onda... faziam uma força descomunal para manobrar as velas, enquanto o capitão, Mstislav, mantinha aos mãos firmes na roda do leme atento para o exato momento de mudar a direção.    
O vento soprava numa furia visceral, inimigo, fazendo com que o velame tremesse, teriam que mudar a direção, e rápido.   
— VIRANDO POR DAVANTE— gritou Mstislav.   
O navio começou a costurar o mar, em zigue-zague, num bordejo de 45 º de cada leito do vento. De um bordo a outro ele, o vento, passava em sua forma real. Mstislav comprovou ser um grande capitão, excelente timoneiro, pois completara a manobra, dominara o vento, mas ainda faltava Leviatã, e este não demorou-se em aparecer.   
Estavam felizes, não se importaram com as roupas molhadas, sentiam-se aquecidos por terem vencido a tempestade, Mstislav não deu importância quando o mar baixou abruptamente, pois havia adrenalina correndo em cada cécula sua, vibrava no íntimo, mesmo que grito de vitória não tivesse saído da garganta.  
— Já somos vencedores — falou, enfim.   
Godric sorria, dava palmadas nas costas do amigo.
— Essa foi boa.
Riram a todos.
No entanto, havia algo errado naquelas águas, foi William quem notou, sentiu náuseas, a cabeça doía, latejava, não teve tempo de gritar, alertar os outro, tudo ficou escuro...
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- Por William Blake -
  
  
Soube, depois, que não tinha sido o único a sentir náuseas pela presença de Leviatã; mas, mesmo assim, me sentia um fraco, como um garotinho assustado, que se esconde da mãe após ter urinado nas calças, eu não tinha culhões, não era o varão que meus pais pudessem se orgulhar. Eu não era nada. Nada.
— Sou mesmo um inútil — falei numa conversa com Godric, dentro de um dos aposentos do navio.
— Parece que uma das armas de Leviatã é feder pior que um gambá. — riu-se ele. — Ninguém suportou...
— Como? Todos desmaiaram? Você?! — Godric assentiu. Sua confidência me pegou de surpresa, fiquei boquiaberto, desconfiado, nunca imaginaria que... Bem, deixa pra lá. — Não entendo... Se todos nós passamos mal, como escapamos?
— Ah!, eu não tenho certeza... Sabe quando você se lembra de coisas, mas não sabe se ,de fato, elas aconteceram? Talvez... talvez eu tenha puxado minha varinha, e, por reflexo, não sei, lançado um feitiço... Talvez eu tenha feito isso, mas não sei se fiz... — disse confuso. — Hm, pelo sim e pelo não, acredito no que Jabriel acredita. Definitivamente há alguém velando por nós lá em cima, meu amigo, e isso muito bom.
— É...
— Porque não nos disse sobre seu desmaio, creio que na primeira vez que ficou frente a frente a Leviatã foi isso que aconteceu, não? — pergunto, de chofre.
— Não me lembro, Godric, não mesmo, se tivesse lembrado eu...
—Tudo bem, já passou. Lembra-se do ataque, com detalhes?
Meneei a cabeça negativamente. Não lembrava, que estranho.
— Bem, tenho que ir. Mstislav me espera. Ah, e outra coisa: não se martirize, meu amigo. Você é tão homem quanto eu...
— Se for um medroso e chorão, então sim, somo iguais.
— Ora, também sinto medo... — falou sério. — Homens choram às vezes, William. Não há mau nisso. Quando deixarmos de não temer a nada e não demarrar lágrimas, deixamos de viver. 
— Mas nunca lhe vi chorar.
— Ora, o que aconteceria se Godric Griffindor chorasse ao encarar Leviatã?
— Não sei ... Desmaiamos não, como duas moças?
— Muito bem lembrado, William.
Rimos. Eu me sentia bem melhor, mas entendi o que Godric queria dizer. Se, numa situação difícil como nós estávamos, víssimos um homem como Godric aos prantos seria, no mínimo, desesperador, não haveria esperanças, entraríamos derrotados antes mesmo da abordagem, do ataque a Leviatã.
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Acalmar os tripulantes não tinha sido tarefa fácil, mas Jabriel provou seu valor novamente, ressaltando a sobrevivência, até então conseguida, e através da palavra de Jeová. E para os descrentes havia a imponente presença de Godric ou Mstislav para renovar-lhes o espírito náutico e bélico. William perguntava-se quando usariam da magia... Sequer soube que os dois bruxos, sorrateiramente, já tinham executado feitiços para bloquear e impelir o mau cheiro. Livres dele, teriam, não de olhar avante, mas para as profundezas do oceano e notificar, mesmo que insiguinificante, o nível das águas, pois seria o único modo de antever o ataque da criatura. 
O tempo corria depressa; no entanto, o pairar do navio dava a falsa impressão de estagnização, como se as ondas não existissem e nem vento soprasse o suficiente para acelerar a jornada. O navio havia parado feito ponteiro do relógio velho, cansado, isso era o que lhes parecia, e tal sentimento aumentava conforme o escurecer do céu. Foram invadidos por um melâncolia, salvos Mstislav, Godric e Jabriel, que apenas a emersão do inimigo seria capaz de dissipar. Para o bem ou par ao mal.
Aproando para o norte, mergulharam num silêncio perturbador, sentiram medo, prefiriam mil trovões àquela calma, maldita. Constante.
Mstislav e Godric esquadrinharam ao arredores, o mar permanecia imóvel, o mesmo, nem menos nem mais água então, de chofre, o silêncio silênciou-se. Numa sinfonia de ondas vieram as bolhas, espuma e fumaça, trajado de uma ira mortal, erguia-se o maestro Leviatã.
— HOMENS, PREPAREM-SE! — bradou Mstislav e Godric, juntos. Armaram-se como pode, as modestas armas, contudo, não eram suficientes para penetrar Leviatã, o desespero levou alguns tripulantes a acovardaram-se, saltando do navio, e outros caíram feridos ou mortos, quando a fera pôs a cabeçorra a bordo, “Homem ao mar”, gritaram, mas ja era tarde, pelo menos para os que cairam no leito malígno. 
Gritos, da superfície às profundezas, muitos gritos se ouviram, até mesmo o da criatura vil, quando percebeu que a sua arma, o cheiro nauseabundo, não surtia efeito. Fogo, cuspiu fogo na embarcação, por pouco tempo, é claro, pois um jato d’água, surgido misteriosamente, talvez por mágica, apagou as infernais chamas, porém a barreira de odor contra Leviatã
permanecia.
— Vamos morrer — desesperou-se aquele homem corpulento, William caminhou até ele, e o esbofeteou, com vontade.
— Seja homem! — disse William, mas homem tremia feito vara verde, ou podre, atemorizado, ele correu até a popa do navio e jogou-se… William sacudiu a cabeça, pois viu-se no homem a ele mesmo, tomado pelo súbito instinto de firmação, agarrou uma faca, pegou a enorme rede e levou-os consigo, para cima. William pois-se a escalar o mastaréu.
Godric e Mstislav, enquanto isso, desferiam feitiços silenciosos, que, naquela confusão, não eram vistos. Os golpes se dispersavam por todo corpo de Leviatã, que grunhia, por dor... fúria. 
Porque ainda havia sobreviventes? Imergiu a cabeçorra, por um tempo longo no mar, as borbulhas cessaram... as águas se alcamaram, mas corações dos marujo sabiam que dali coisa boa não sairia, que a qualquer momento, o mal viria na mesma intesidade que antes. Ou pior.
O ataque não foi direto, Leviatã, ao se levantar, causou uma grande onda, tal qual uma tempestade violenta, muita violanta, outros homens foram jogados ao mar com o impacto. 
Mas Leviatã continuava a gritar de dor, pois várias luzes verdes, ofuscantes, voavam até a criatura. Com a grossa cauda desferiu o golpe contra Mstislav, que repeli-o rapidamente. Godric atacava pelo outro lado, mas Leviatã percebendo o intento de usar a longa espada Griffindor nele, soltou uma baforada de fogo, a barba do bruxo ficou levemente chamuscada, teria de aguardar para pegá-lo desprivinido. Se não fossem bruxos já estariam mortos, e Leviatã não precisaria se esquivar dos feitiços, que às vezes o pegava em cheio.
William tinha carregado a faca na boca, e, a rede, nos ombros, no topo do mastaréu, prendeu, com a faca, a rede à madeira, e depois a enrelou, fez um nó, o melhor que pode, tudo estava pronto para a grande pesca.
Porém Leviatã não estava próximo o bastante, e Mstislav e Godric estavam entretidos com o duelo, foi então que, lá de baixo, Jabriel chamava pela besta escamosa. 
— HEI — Jabriel jogova em Leviatã, o que encontrava pela frente: lascas de madeira e lâminas de espadas, que se partiram. — AQUI SEU MISERÁVEL, TOME ISSO! 
Os grandes olhos carmesim de Leviatã voltaram-se para Jabriel, antes de dar o bote, a criatura soltou um rosnado, Mstislav e Goodric entenderam o que aconteceria depois. 
Leviatã voou em direção a Jabriel, que sequer se móvel perante o perigo, cada vez mais Leviatã se aproximava... se apromava e... 
A rede foi lançada, Leviatã tentou escapar, mas Godric e Mstislav usavam a varinha a esmo, sem se importar se eram vistos, levitaram o próprio corpo, voando como anjos entorno da rede enfeitiçada, que se enrolou na fera. Leviatã se debatia desesperadamente, o mastro se envergou, poderia, a qualquer momento, partir-se... Godric feriu os olhos da criatura, da boca fétida saiu um grito horripilante, enfurecido, cuspiu fogo, mas as ondas as apagaram. Ondas, muitas delas, se formavam no mar, provocadas pela ira de Leviatã, e fou numa delas, bem grande, que tudo cessou. 
A onda veio de repente, e teria levado o navio para sul, se a rede não o prendesse a Leviatã. A embarcação girou em 360º , e, num fantásttico golpe de maré , sorte e magia, arrebatou Leviatã. 
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- Por William Blake -
   
   
Num estáculo macabro, vi a vida alimentar-se da morte, os peixes e outros criaturas marinhas, carnívoras, desfacelaram Leviatã, com tanta fúria e gana que me causou arrepios. 
Tiramos o corpo do nosso Capitão do mar. Mstislav. Como queria ter conhecido a sua história, saber de seus triunfos, glórias e amores, saber o motivo pelo qual detestava Salazar. Porém o Capitão cultivava mistérios. Vieram reclamar o navio um tempo depois. Era um estrangeiro, como Mstislav, disse a mim que ele o tinha roubado e fugido do país, em seguida. Quando eu disse que navio tinha naufragado, ele deu meia-volta, deixando um enigmatico “farei um melhor, que nunca naufragará, e que mergulha nas águas e aparece onde quer ”, penso que ele se referia a mágica, bem... quem sabe?
A questão é que não fui com a cara do sujeito, sendo assim, não tenho remorso nenhum de o ter mentido, o navio está salvo, num lugar próximo a praia onde, por sinal, vive um excelente fabricante de redes.
Jabriel curou o braço queimado, eu mesmo fiz questão de fazer os curativos. Ele estava bem feliz, com o Tanakh à cabeceira, e muitas vezes conversámos sobre a nossa aventura e estratégia: ele fazendo o papel de isca, e eu sendo o pescador. Lembrávamos de Jadon com saudade, mas não me sentia mais culpado, tinha m’alma lavada.
Sofri somente por Godric. Ele escapou, mas não resistiu aos ferimentos, morreu em Hogwarts como queria, sendo assim eu fico feliz, acho, feliz por ele, é. Mas é uma pena que não teve tempo de desposar aquela donzela de que ele tanto falava.
Eu sai de toda àquela história melhor do que entrei, ganhei confiança, iria me casar com moça, Catherine!
Porém o melhor de tudo era o fato de eu não me julgar mais como fazia antes. Continuo a derramar algumas lágrimas, torcendo para que ninguém me veja, pois tenho uma reputação a zelar, afinal. Não sou menos homem por isso,claro!, mas o que faria uma donzela se me visse? Catherine desistiria de se se unir a mim? Muito difícil alguem ver um chorão com bons olhos. Provavelmente diria que um chorão seria incapaz de ter escalado o mastro, ter ficado face a face com Leviatã.
As aparencias enganam, senhores!
Enfim, até hoje Jabriel e eu conversamos sobre essse feito, ele sempre me pergunta os detalhes da visão, quando disse a ele que tinha visto o que fazer antes de fazer... que sabia que se levasse a faca e a rede... Visões tive muitas outras quando moço, mas nenhuma chegou a acontecer, exceto...
Acreditamos que o que vi foi obra de Deus, Jeová ou qualquer outro nome, que dermos a Ele.
Quanto ao outro, o espírito do mal - Leviatã - ,deitou-se para nunca mais se levantar, jazeu num mar, no Mar Morte. Enganei-me muito quanto a sua aparencia, escrevi contando a Christopher como era a besta, afinal. Não era baleia, como ele falou naquela vez, nem cobra, como eu pensava que fosse. Era mil criaturas malígnas numa só. Era um não-alado dragão, que cuspia fogo e matava com próprio cheiro, Jabriel e eu cremos que a besta tinha ciência disso, e admistrava o seu odor conforme a vítima, isso explica o porquê de eu não ter desacordado no primeiro ataque, Leviatã não tinha me visto. 
Mas no fim, nos encontramos, ele teve a pior, sua morte compensava as 32 mortes de uma tripulação de 37, mas nunca valeria um tostão perto da Mstislav e Godric. 
Dois valoros guerreiros, e amigos, senti muto em mantê-los no anonimato, mas os bruxos me disseram que teria de ser assim, tive de aceitar, então o único registro que fiz de nossa glória foi uma gravura, cujos heróis não apareceram como são, não têm face, estão representados apenas em espírito e coragem.  
Quanto aos trouxas; excetuando Jabriel e eu, nunca saberão que por trás de um pedaço de papel desenhado por mim, William, encontra-se uma das mais genuínas histórias do mundo. Se, por ventura, algum trouxa vier a saber, este será o mais afortunado das criaturas. Um filho de Deus. 
 


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(Behemoth e Leviatã, de William Blake)
 


 




     



 


 Fim/


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N/A: 
1 - Utilizo a mit. judaica/cristã, enfim, mas como há certa complexidade, alguns dados conflitantes, escolhi ao que melhor se adequou ao enredo, enfim.

2 - Contém bastantes PO( Jadon e Jabriel, por exemplo), porém há possibilidade de surgirem outros. Da JK. Serão utilizados os fundadores, acho.

3 - O conteúdo inicial, que apresentei em forma de carta pertence a William Blake, além de dar os créditos, plotei com ele, então... fazer o quê? Portanto esse W. Blake é uma personagem real em uma situação falsa e, principalmente, conduta e moral defloradas por mim, é.

4 - Alternância entre 1 e 3 ª pessoa na narração.

5 - *Todas as religiões são uma só, é uma prosa de Blake publica em 1788.

6 - Há o uso de terminologia náutica, mas são simples, de fácil entendimento, a única coisa complexa, talvez seja as manobras, mas foram explicadas no texto.  
  
7 - Tanakh se equivale ao Velho testamento para os judeus.

8 - Desconsiderem o contexto histórico geral. E, os fundadores e William Blake, aqui, são da mesma época, talvez tudo tenha acontecido em 1778 :p

9 - esperando uma alma bondosa pra ler e comentar, é.


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