QUEDA LIVRE E FRUSTRAÇÃO



CAPÍTULO 8


 


QUEDA LIVRE E FRUSTRAÇÃO


 


 


 


 


 


 


 


 


O mau tempo, fosse com vento ou com chuva, não impedia a realização das partidas de Quadribol. E aquele dia, no qual Grifinória e Lufa-Lufa iriam se defrontar, parecia ser mais um daqueles. Um céu escuro e triste, acompanhado de um forte vento que mudava de direção aleatoriamente, prenunciavam a chuva, que não tardou a cair com força. Todos nas arquibancadas estavam debaixo de guarda-chuvas ou com capas, sempre com chapéus ou rostos pintados com as cores das Casas para as quais estavam torcendo.


No vestiário da Grifinória, Oliver Wood fazia uma última preleção aos jogadores.


 


_Gente, este é o meu último ano em Hogwarts e eu gostaria de me despedir da escola com um título da Copa de Quadribol das Casas. Sei que tivemos problemas nos últimos dois anos, que nos impediram de vencer, mas sinto que este ano será nosso. No ano retrasado, tivemos a questão da Pedra Filosofal, quando Harry e Nereida lutaram e impediram que ela caísse nas mãos do Você-Sabe-Quem. Há gente que não acredita que ele ainda possa estar vivo, mas eu acredito. No ano passado, a Copa foi cancelada, devido às petrificações.


_E mais uma vez o mistério foi solucionado por Harry _ disse Jorge, dando um tapinha nas costas do bruxinho _ Além de que salvou a vida da nossa caçulinha.


_Imaginem. _ disse Harry _ Fiz o que devia fazer e jamais deixaria que acontecesse algo de mal à minha namorada.


_O tempo hoje está terrível. _ disse Angelina Johnson.


_Mas nós temos uma vantagem em relação à Lufa-Lufa. _ disse Katie Bell.


_Tem razão. _ disse Alícia Spinnett _ Eles quase não treinaram em dias de mau tempo, ao contrário de nós.


_Mesmo assim, vamos tomar cuidado com Diggory. _ disse Fred _ Ele joga limpo, mas é extremamente habilidoso.


_Harry já o venceu antes. _ disse Wood _ Bem, agora vamos para o jogo.


 


Montaram nas vassouras e saíram do vestiário, encarando o vento. Posicionadas, as duas equipes aguardavam que Madame Hooch desse início à partida.


 


_Ainda bem que colocamos Feitiços Impervius nos óculos. Seria difícil encarar esse tempo com a chuva dificultando a visão. _ disse Angelina _ Diferente dos pilotos de Fórmula 1, não temos capacetes com várias viseiras que podem ser retiradas conforme a capacidade de repelir a água vai enfraquecendo.


_Sim. E olha que mesmo assim não está fácil. _ disse Harry _ Vamos tentar vencer esta partida o mais rápido possível. Da minha parte, vou me esforçar ao máximo para capturar o pomo.


 


Na arquibancada, os Inseparáveis também aguardavam o tão esperado início da primeira partida da temporada. Rony e Hermione, Gina, Neville e Luna, Soraya, Nereida e Janine, esta curiosa e ansiosa pela primeira vez em que assistiria a um jogo do famoso esporte bruxo. Todos tinham algo nas cores da Grifinória, além de alguns usarem pinturas de rosto. Luna usava azul e vermelho, enquanto que no rosto de Nereida o que se via eram o verde e o vermelho. Assim manifestavam sua simpatia, sem deixar de afirmar a qual Casa pertenciam. Hagrid e Lupin assistiriam à partida junto aos alunos em vez de na tribuna dos professores.


Com as equipes posicionadas, Madame Hooch abriu a canastra e soltou as presilhas dos balaços, que logo subiram a uma grande altura. Pegou o pomo de ouro com a mão enluvada e liberou a esfera alada. Em seguida pegou a goles e, ao soar seu apito, lançou-a para o alto, dando início à partida.


Angelina pegou a goles e avançou, fintando dois Artilheiros da Lufa-Lufa que tentavam tomá-la. Rapidamente passou para Alícia, que arremessou em direção ao aro da esquerda, parecendo que iria errar. Mas a Artilheira da Grifinória havia levado em conta o desvio provocado pelo vento e, enganando o Goleiro, o gol foi marcado.


 


_Grifinória abre o placar! Dez a zero! _ anunciou Jordan, narrador oficial das partidas da escola _ Vamos ver como será a reação dos Texugos!


 


Com efeito, Smith pegou a goles, avançou e, executando um “Woollongong Shimmy”, desviou-se dos adversários e marcou no aro do centro, em um momento no qual Wood estava defendendo um dos laterais. A partida estava empatada.


Enquanto isso, Harry procurava pelo pomo de ouro, lutando contra o vento e a chuva, além de evitar os balaços. Diggory fazia o mesmo do outro lado, até que os dois avistaram o pomo, ao mesmo tempo. A batalha havia começado, enquanto o restante dos times ia marcando pontos. Emparelhados, os dois Apanhadores perseguiam a rápida esfera alada, que ia subindo cada vez mais.


 


_Até onde será que esse pomo pretende chegar? _ perguntou Cedric, alto o suficiente para que Harry ouvisse _ Será que ele quer ir até a estratosfera?


_Acho que ele foi criado pela NASA. _ respondeu Harry _ Vamos atrás dele e que vença o melhor.


 


A perseguição continuava em meio à chuva, aos clarões dos relâmpagos e ao ruído dos trovões até que, em certo momento, quando Harry estava com uma ligeira vantagem, um clarão particularmente intenso e seguido pelo ribombar de um trovão, delineou uma silhueta nas nuvens, nítida demais para ser coincidência.


A cabeça de um cão de aspecto ameaçador, com a boca aberta e dentes pontiagudos era facilmente visível. Aquilo fez com que Harry se lembrasse do episódio na pracinha de Little Whinging e o bruxinho hesitou um pouco, permitindo que Cedric avançasse. Mas o pior ainda estava para vir.


Uma desagradável alteração na frequência vibracional do Ki, acompanhada por um calafrio que nada tinha a ver com a chuva fria se fez sentir. As gotas que escorriam pelo cabo da vassoura de Harry começaram a congelar e ele viu a horrenda silhueta, desviando-se da criatura na última hora.


Um Dementador. E não era só um.


Aquele primeiro foi seguido por outro e mais outro, todos eles indo atrás de Harry. Agora havia muito mais para ele lidar. Lutar contra a sensação depressiva e o torpor provocado pelas criaturas, desviar-se delas e continuar a perseguição do pomo de ouro, tentando capturá-lo antes que Cedric o fizesse. O Apanhador da Lufa-Lufa ia um pouco mais à frente e não vira os Dementadores, embora tivesse sentido uma momentânea sensação desagradável.


Enquanto isso, Harry aproximava-se dele, ainda se esquivando dos Dementadores mas, quando estava quase emparelhando com Cedric, foi cercado por uma centena daqueles asquerosos seres e aí não houve jeito.


A sensação de frio foi aumentando, enquanto em sua mente sucediam-se as lembranças de quando ele tinha um ano, os sons do duelo de seu pai contra Voldemort, sendo estuporado pelo bruxo das Trevas, sua mãe, grávida de Algie, enfrentando Voldemort e o Lorde das Trevas disparando a Avada Kedavra que, milagrosamente, não os matou e retornou para ele. Então o torpor foi aumentando e ele sentiu que perdia a consciência. Como Cedric estava à frente, nada vira do que estava acontecendo com Harry.


Por fim, Harry perdeu os sentidos e começou a cair.


Gritos desesperados ouviram-se nas arquibancadas.


 


_Merlin! O que aconteceu?! _ gritou Susana Bones.


_Ele está caindo! _ exclamou Parvati.


_Alguém, faça alguma coisa! _ gritou Gina, apavorada.


_Não deixem que aconteça nada a ele! _ gritou Janine, que sentia-se revivendo o acidente fatal de seu pai.


 


Na mesma hora, Dumbledore, Minerva e Snape, na tribuna dos professores, bem como Lupin, junto aos Inseparáveis, levantaram suas varinhas e prepararam-se para salvar Harry da morte certa. Percebendo o que iriam fazer, Hermione também pegou sua varinha e tratou de ajudá-los pois conhecia o feitiço, embora não estivesse certa de possuir poder suficiente para lançá-lo com a intensidade adequada.


 


_ “ARESTO MOMENTUM!!!” _ os cinco bruxos lançaram o feitiço ao mesmo tempo, desacelerando a queda de Harry e minimizando o impacto de seu corpo no chão.


 


Lá em cima, alheio aos acontecimentos, Cedric capturava o pomo de ouro, somente percebendo o que havia acontecido quando direcionou sua vassoura para baixo, logo após o apito de Madame Hooch, encerrando a partida.


 


_Madame Hooch, não há como anular esta partida e disputarmos outra? Minha captura do pomo não foi justa, a meu ver. _ perguntou Cedric para a professora de Voo, assim que pousou.


_Lamento, Sr. Diggory mas, mesmo com o acidente do Sr. Potter, sua captura foi totalmente legal. _ disse Madame Hooch _ Tudo dentro das regras.


_Eu não vi o que estava acontecendo. _ disse Cedric, triste _ Se eu tivesse visto, teria ajudado Harry e poderíamos continuar disputando o pomo em igualdade de condições. Não foi justo.


_Bem, sinto muito. _ disse Madame Hooch _ Agora temos de levar o Sr. Potter para a Enfermaria, para que Madame Pomfrey cuide dele.


 


Uma maca flutuante foi conjurada e Harry foi colocado nela. Com Gina segurando sua mão, o bruxinho foi levado para a Enfermaria.


 


Cerca de meia hora depois...


 


_Finalmente ele está acordando. _ disse Rony.


_Ora, não exagere. _ disse Fred _ Foram só uns trinta minutos.


_Insensível. _ disse Gina, que não havia largado a mão de Harry o tempo todo.


_Oi, gente. _ disse Harry, abrindo os olhos _ Merlin! Estou sentindo dores em músculos que eu nem sabia que tinha. Perdemos a partida, não foi?


 


Todos ficaram quietos, enquanto o rosto de Harry assumia uma expressão triste, até que Jorge rompeu o silêncio.


 


_Bem, ninguém é infalível, Harry. Um dia isso tinha de acontecer.


_Pelo menos foi contra o Cedric. Já pensou se fosse contra o Malfoy? Os sonserinos iriam rir de nós o ano todo. _ disse Fred.


_Essa eu ouvi, Weasley. _ disse Draco, entrando na enfermaria _ Tudo bem, Harry? Você está proibido de morrer antes de jogar contra nós.


_Estou bem, Draco. O que aconteceu depois que desmaiei?


_Você caiu de uma grande altura. _ disse Janine, enquanto só Harry e Gina notavam que Draco não tirava os olhos dela.


_E não iria sobrar muito de você se não tivesse havido a intervenção de Dumbledore e outros. _ disse Neville, com Luna abraçada a ele.


_Assim que você começou a cair, cinco bruxos lançaram feitiços Aresto Momentum. Sua queda desacelerou e você não bateu com força no chão. _ disse Algie, aliviado em ver que o irmão estava bem _ Dumbledore, McGonnagall, Snape, Lupin e Hermione tiveram a ideia ao mesmo tempo.


 


Draco se despediu e, quase no mesmo instante, Cedric Diggory entrou na Enfermaria.


 


_Ei, Cedric, você não deveria estar na festa da vitória? _ perguntou Harry.


_Sinceramente, Harry, a festa está a coisa mais chocha que eu já vi. Eu não mereci aquela captura, não vi que você estava enfrentando aqueles cem Dementadores. Se eu tivesse visto, teria tentado ajudar e disputaríamos o pomo mais tarde.


_Então o pessoal nem está comemorando? _ perguntou Angelina.


_Não. Recebi cumprimentos do pessoal, tomamos algumas cervejas amanteigadas e logo vim para cá. _ disse Cedric _ Perguntei a Madame Hooch se a partida poderia ser anulada e remarcada e ela me disse que a vitória da Lufa-Lufa havia sido totalmente legal. Mera tecnicalidade, na minha opinião. Para mim, não valeu.


_Então vou até o vestiário. _ disse Jorge.


_Para quê? _ perguntou Soraya.


_Avisar Oliver Wood que ele não precisa se matar.


_Sem-graça. _ disse Katie _ Olha ele aí.


_Oi, Harry. Desculpe a demora. Tive de ficar no vestiário um pouco mais, conferindo o equipamento (“Na verdade foi diarreia nervosa. Ele tem esse problema há algum tempo, quando se estressa”, sussurrou Fred ao ouvido de Nereida, que segurou o riso). Mas agora a nossa situação vai ficar mais difícil.


_É verdade. Teremos de depender de resultados paralelos para irmos às finais.


_Vocês vão precisar de muita sorte. _ disse Cedric _ Vencer as partidas e contar com resultados de outras. Bem, acho que já vou indo. Até mais.


_Até, Cedric. Obrigado pela visita. _ disse Harry.


 


Um a um os membros do time e outros amigos foram se despedindo, até que ficaram somente os Inseparáveis e Janine.


 


_E quanto a Dumbledore? O que ele fez? _ perguntou Harry.


_Nunca o vi tão furioso, ele chegou a perder a classe com aquelas criaturas horrorosas. _ disse Algie _ Os Dementadores desceram ao campo logo após você cair e Dumbledore os xingou de tudo quanto foi nome.


_Alguns daqueles palavrões que ele utilizou para xingá-los eu jamais havia ouvido falar. _ disse Rony _ Acho que todas as meninas devem ter ficado vermelhas.


_Vermelhas? _ espantou-se Janine _ Se tivesse havido um apagão em toda a Grã-Bretanha, não haveria problema algum. Só as nossas caras já serviriam para iluminar tudo. Em seguida, ele lançou uma luz prateada com a varinha e espantou os Dementadores.


_Certamente foi um Patrono. _ disse Harry _ Com o que se parecia?


_Um pássaro grande. _ respondeu Soraya.


_Então foi mesmo um Patrono. _ disse Harry _ É a coisa que os Dementadores mais temem.


_Acho que passou a ser a segunda coisa. _ disse Luna _ Eu os vi recuarem enquanto Dumbledore os xingava.


 


Todos riram.


 


_Alguém recolheu minha vassoura? _ perguntou Harry, enquanto o ambiente voltava a ficar meio triste.


_Sim, Harry. _ disse Hermione _ Mas as notícias não são nada boas.


 


Foi quando Harry prestou atenção em algo que Rony carregava, um embrulho feito com seu casaco.


 


_O vento estava muito forte e, quando você caiu, a vassoura foi levada até os jardins, batendo bem no Salgueiro Lutador. _ disse Rony _ E você já pode imaginar o resto.


_É, posso. _ disse Harry _ Basta lembrar do ano passado, quando batemos nele com o carro voador de seu pai. Me deixe ver o que foi que sobrou dela.


 


Rony abriu o casaco e mostrou a Harry os pedaços da Nimbus 2000. O Salgueiro Lutador havia feito um serviço completo.


 


_Perda total. _ disse Algie.


_Com certeza, mano. _ disse Harry _ Não há como recuperá-la, o estrago foi muito grande.


_E como vai ser agora para você treinar? _ perguntou Gina _ Vai demorar um pouco para que seus pais mandem uma outra vassoura.


Bem, a Shooting Star de treinamento foi reformada, mas já está muito velha e logo os reparos mágicos começam a perder o efeito. _ disse Harry.


_Quanto a isso não haverá problema algum, Harry. _ disse Janine _ Pode usar a minha vassoura, pelo tempo que precisar.


_Sua Nimbus 2001-Lite? É uma excelente vassoura. Muitíssimo obrigado, Janine. Agora vamos esperar pela “Tempestade Potter”. _ disse Harry.


_E ela não vai demorar. Veja só o que Edwiges está trazendo. _ disse Gina.


 


Com efeito, a coruja branca de Harry largou um volume no colo do bruxinho. Harry abriu o pacote e retirou uma Bolha de Mensagem. Assim que ela se rompeu, as imagens de Lílian e Tiago Potter apareceram e sua voz pôde ser ouvida.


 


_ “Filho, soubemos do acidente e sua mãe quis ir imediatamente a Hogwarts para ver você.” _ disse Tiago.


_ “Mas Dumbledore já havia mandado uma mensagem, dizendo que você não estava correndo risco algum, que já estava bem.” _ disse Lílian.


_ “Soubemos de sua vassoura, filho. Só que vai demorar para mandar uma nova, pois as fábricas entraram em greve, por tempo indeterminado.”. _ disse Tiago.


 


_Li sobre essa greve no “Profeta Diário”. _ disse Hermione _ As lojas estão desesperadas.


 


_ “Não se encontra nenhuma nas lojas.” _ continuou Tiago _ “Principalmente vassouras de corrida. Nas vitrines não se vê uma Nimbus, uma Cleansweep, uma Comet ou uma Silver Fairy sequer. Até mesmo as Firebolt sumiram.


 


_E olha que são caríssimas. _ disse Janine _ Eu quase caí de costas quando vi o preço de uma, lá no Beco Diagonal.


 


_ “Espero que haja uma vassoura sobressalente no time, que você possa usar até que possamos lhe mandar outra.” _ disse Lílian _ “Mas o mais importante é que você está vivo e bem, nas competentes mãos de Papoula Pomfrey. Trate de se recuperar logo e procure não se meter em encrencas. O mesmo vale para você, Algie. Um grande beijo e até.”


_ “Faço minhas as palavras de Lílian, filho.” _ disse Tiago _ “E a gente pode acabar se vendo em Hogsmeade, durante uma das visitas. Será um prazer tomarmos uma cerveja amanteigada no Três Vassouras, para matar a saudade dos velhos tempos. Até a próxima.


 


A Bolha de Mensagem se desfez completamente e a Enfermaria ficou em silêncio.


 


Até que não foi tanto. _ disse Harry _ Nada comparado com aquela do ano passado, quando viemos para cá no Ford Anglia voador do Sr. Weasley.


_Ainda bem que não foi uma Bolha de Mensagem Prioritária. A mensagem iria ecoar por todo o andar, no mínimo. _ disse Algie.


_Mas vocês ouviram o que sua mãe falou. _ disse Hermione _ “Procure não se meter em encrencas.


_Eu não procuro por encrencas. _ protestou Harry.


_Mas, infelizmente, parece que elas procuram por você. _ disse Nereida.


_Quanto a isso, não posso te contestar. _ disse Harry, com um suspiro.


 


Madame Pomfrey aproximou-se.


 


_Bem, meus jovens, vamos deixar que Harry descanse. Não se preocupem, pois ele terá alta amanhã. Encarar uma centena de Dementadores não é mole. Assim como limpar a lama que vocês deixaram. _ disse ela _ Infelizmente eu sempre tive dificuldade com alguns feitiços domésticos.


_Quanto a isso não se preocupe. Madame Pomfrey. _ disse Hermione, enquanto os amigos se despediam de Harry e Gina o beijava. Ao passar pela porta, ela apontou a varinha para o chão _ “Limpar.”


 


O chão ficou limpo, como se um pelotão de faxineiras tivesse passado por ali.


 


Na manhã seguinte, Harry teve alta. Completamente recuperado, o bruxinho estava bastante animado, pois logo chegaria o Dia das Bruxas e, com ele, começariam as visitas periódicas a Hogsmeade. A semana passou sem que ele se desse por conta e enfim chegou o dia do primeiro passeio. No acesso à ponte que conduzia à saída do castelo, Filch conferia a lista dos alunos autorizados a sair da escola para o povoado. Quando chegou a vez de Harry...


 


_Sr. Potter, lamento mas o senhor não poderá ir.


_Como, Sr. Filch? _ espantou-se Harry _ Meus pais assinaram a autorização.


_Sim, mas o Ministro Fudge emitiu uma nota dizendo que, para sua própria segurança, o senhor deverá ficar no castelo. Veja aqui.


 


Harry viu o documento, com a assinatura de Fudge. Inconformado, retirou-se para o castelo, encontrando Lupin no caminho.


 


_Olá, Harry. Eu já soube da última do Fudge. _ disse Lupin.


_Ele está totalmente errado. _ disse Harry, aborrecido _ Não há risco nenhum à minha segurança, ele só pode estar senil.


_Fudge sempre foi assim. _ disse Lupin _ mete os pés pelas mãos e depois quer corrigir tudo com soluções radicais. Bem, que tal aproveitar esse tempo aprendendo o Feitiço do Patrono?


_Ótima ideia, Remus. _ disse Harry _ Será bem útil e servirá para desviar um pouco a frustração.


 


Remus sorriu. Aquele era bem o filho de Tiago. Foram até a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas e o professor apontou para um baú.


 


_Prendi um Bicho-Papão ali. É o mais próximo que poderemos chegar de um Dementador. Eu não seria louco de pedir para que um deles viesse aqui colaborar.


_Realmente. E nem seria bom ter uma daquelas coisas dentro do castelo. Aliás, por que foi que eles invadiram o campo de Quadribol?


_Estavam famintos e a concentração de emoções durante a partida era como que um banquete para eles. Normalmente os Dementadores procuram se controlar, mas a tentação foi muito grande. Bem, antes de soltar o Bicho-Papão, vou lhe ensinar a invocação. O Patrono é uma manifestação de energia mágica que funciona como um escudo entre o bruxo e o Dementador. Patronos Corpóreos são mais difíceis de invocar e demandam uma maior concentração de energia. A forma é única para cada bruxo que o invoca e deve-se manter a concentração em uma boa lembrança, A fórmula é “Expecto Patronum”. Vamos lá, tente.


_ “Expecto Patronum!” _ Harry invocou o feitiço e um vapor prateado luminoso saiu da ponta de sua varinha _ Viu, Remus?


_Está bom para começar, Harry. _ disse Lupin _ A maioria dos bruxos não consegue nada da primeira vez. Vamos tentar com o Bicho-Papão. Como um monstro transmorfo, ele pode emular as capacidades daquilo em que se transforma, só que em menor grau.


_Então ele vai tentar drenar minha força, como um Dementador de verdade o faria?


_Exatamente, Harry. _ disse Lupin _ Por isso você deverá estar preparado e lançar o Patrono com convicção. A lembrança é importantíssima para isso. Vamos lá.


 


Lupin abriu as trancas do baú e o Bicho-Papão saiu, já com a forma de um Dementador.


 


_ “EXPECTO PATRONUM!” _ Harry lançou o feitiço e uma barreira prateada se formou entre ele e o Papão-Dementador. Só que não foi o suficiente. Harry começou a ficar tonto e a barreira enfraqueceu, até que tudo ficou escuro. Quando Harry acordou, o Papão estava novamente no baú.


_Foi forte, mas não o bastante. No que foi que você pensou, Harry?


_No dia em que recebi a carta de Hogwarts. Fizemos uma pequena comemoração em casa. Você também esteve lá, lembra-se?


_Ah, sim. Mas se não foi o bastante, significa que você tem outra lembrança, ainda mais forte do que essa. Que tal tentar descobrir qual é ela?


_Acho que eu já sei. _ disse Harry, sorrindo e dando uma mordida no pedaço de chocolate que Lupin lhe oferecera _ Vamos tentar novamente.


_Se você acha que já dá para repetir, vamos nessa, então. _ disse Remus Lupin, preparando-se para abrir o baú.


 


O baú foi novamente aberto e o Papão-Dementador saiu, avançando para Harry.


 


_ “EXPECTO PATRONUM!” _ o Feitiço do Patrono foi novamente lançado mas, diferente da vez anterior, a barreira estava mais brilhante e quase sólida, forçando a criatura a recuar cada vez mais, até que voltou para o baú.Lupin fechou as trancas e olhou orgulhosamente para Harry, que ofegava a transpirava.


_Excelente, Harry. Conjurar um Patrono-Escudo forte assim na segunda tentativa não é para qualquer bruxo. _ disse Lupin _ Qual foi a lembrança?


_Bem, as lembranças de família são bastante fortes, mas a lembrança mais poderosa que pude evocar foi a do Natal do ano retrasado, na Toca. Foi quando eu e Gina nos declaramos e começamos a namorar. _ disse Harry, ficando vermelho.


_O amor. O sentimento mais forte e poderoso de todos, como diria Dumbledore... oh, olá, Severo. _ disse Lupin, vendo que Snape entrava na sala.


_Olá, Lupin. Trouxe um frasco da sua poção medicinal. _ disse Snape, colocando sobre a mesa um frasco cujo conteúdo fumegava _ Não foi para Hogsmeade, Potter?


_Não, Prof. Snape, graças ao Fudge. _ disse Harry _ Ele pôs na cabeça que seria mais seguro para mim ficar aqui.


_Fudge, sempre metendo os pés pelas mãos. Essa história de Dementadores em Hogwarts não é nada agradável, todos nós temos alguma lembrança ruim do passado que aqueles nojentos adoram desenterrar. _ comentou Snape _ Bem, quanto antes Sirius Black for pego, eles sairão daqui.


_Continuo afirmando que Sirius é inocente, professor. _ disse Harry.


_Você não é o único, Potter. Muitos na Bruxidade concordam com você, mas Fudge utiliza-se do poder de seu cargo para tomar decisões, às vezes intempestivas, às vezes até mesmo estúpidas. _ disse Snape _ Fomos contemporâneos em Hogwarts e, mesmo que ele e os Marotos tenham me zoado muito eu queria acreditar na inocência dele. Porém esse conjunto de provas que surgiu é muito forte. Se acreditarmos nelas, significa que ele enganou a todo mundo durante todos esses anos. Mudando de assunto, você estava aprendendo o Feitiço do Patrono?


_Sim, Prof. Snape. _ respondeu Harry _ Será útil aprendê-lo, principalmente porque os Dementadores parecem ter uma predileção toda especial pela minha pessoa.


_E Remus Lupin é a pessoa mais indicada para ensiná-lo. Não se esqueça de tomar a poção, Lupin.


_Pode deixar, Severo. _ disse Lupin, vertendo um pouco da poção em uma taça e esvaziando-a _ O gosto continua horrível. Tem certeza que não dá para adoçar?


_Infelizmente, Lupin, ainda não consegui fazer com que o açúcar deixasse de reduzir os efeitos da poção. Lembre-se de que essa mesma pergunta foi feita uma vez pelo Pett...


_Severo, creio que vou liberar o Harry. _ disse Lupin _ Creio que ele já se esforçou demais por hoje.


_Tem razão, Lupin. Ainda mais que eu vi a Srta. Weasley vindo para cá e estou certo de que, já que o Sr. Potter não foi para Hogsmeade, ela irá querer passar o dia de hoje em sua companhia.


_Obrigado, Prof. Lupin, Prof. Snape. Bom dia. _ e Harry saiu da sala.


 


Lupin olhou para Snape, depois que Harry saiu.


 


_Foi por pouco, Severo.


_Tem razão, Lupin. _ disse Snape _ Há certas circunstâncias do passado das quais ainda é cedo para que o Sr. Potter tome conhecimento. Bem, vamos torcer para que peguem logo o Black.


_Você ainda não está convencido de que Sirius é inocente? _ perguntou Lupin.


_Não totalmente, Lupin. _ respondeu Snape _ De qualquer forma, espero que a verdade surja logo. Assim aquelas criaturas sairão logo de Hogwarts.


 


Harry saiu da sala, com algo a lhe formigar na mente (“Mais uma vez eles interrompem a conversa quando mencionam o nome daquela pessoa. Quem será e por que eles fazem isso? Bem, ainda vou descobrir”, pensou o bruxinho). Mas seus pensamentos logo voltaram-se para coisas mais agradáveis. Gina Weasley estava vindo em sua direção. Mais atrás, Algie e Luna disfarçavam sorrisos.

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