JANTAR COMPLICADO



CAPÍTULO 2


 


JANTAR COMPLICADO


 


 


 


 


 


 


 


 


O dia de retornar a Hogwarts aproximava-se e os irmãos Potter estavam bastante animados. Mas havia algo que ainda os preocupava, bem como a seus pais. Tio Valter havia marcado o jantar para comemorar tanto o excelente negócio que havia fechado quanto o aniversário de Petúnia. Só ficaram mais tranquilos quando Valter garantiu que Guida não iria aparecer.


_Bem, sem a presença daquela horrorosa eu creio que o jantar correrá sem problemas. _ disse Tiago _ Valter anda mais sociável e tolerante com a magia.


_Ainda bem, papai. _ disse Algie _ Senão, vai ser azia na certa.


_Calma, gente. Sem a Guida, não haverá o menor risco de comentários desagradáveis. _ disse Lílian.


_Então, vamos nos planejar. Os quartos no Caldeirão Furado já estão reservados, pois ficaremos umas duas ou três noites lá. _ disse Harry.


_Sim, bem mais fácil e prático do que sair de Chelsea para King’s Cross. Iremos ao Beco Diagonal e lá adquiriremos com calma o material para o ano letivo. E creio que encontraremos os Weasley. _ disse Algie _ Harry deve estar morrendo de saudades de uma certa ruivinha.


_Certamente, mano. E também estou curioso para saber como foi a viagem deles ao Egito.


_Devem estar cheios de novidades e bem bronzeados. Além disso, há lugares bruxos fantásticos naquele país.


_Fora as linhas de energia da Terra. _ disse Lílian.


_Refere-se às Linhas de Ley, mamãe? _ perguntou Algie _ Um dos Pontos Chakra fica exatamente no Cairo.


_Exato. Isso proporciona uma enorme concentração de energia mágica e aumenta o poder de certos objetos. Acredito que devam ter trazido alguns de lembrança.


_Está tudo pronto e o carro está carregado. _ disse Tiago _ Em um instante, estaremos em Surrey.


 


Entraram na BMW X-5 e Tiago acionou o motor. Na estrada deserta, a SUV desaparatou, ressurgindo perto de Surrey. O tempo estava fresco graças às chuvas recentes, o céu vespertino nublado e as ruas molhadas. Logo estavam chegando a Little Whinging e estacionando na Rua dos Alfeneiros, em frente ao número 4. Ouvindo o barulho, Petúnia Dursley abriu a porta e recepcionou os Potter.


_Lílian, Tiago, vocês estão ótimos. E os garotos, como cresceram!


_Olá, Petúnia. Feliz aniversário. _ disse Lílian, entregando à irmã o presente que trouxera.


_Obrigada. Vamos entrar?


Entraram e cumprimentaram Valter e Duda. Os garotos subiram para o quarto de Duda e Tiago sentou-se à mesa, entregando a ele uma garrafa de uísque de fogo.


_Da Destilaria Ogden? _ perguntou Valter.


_Sim. E de uma reserva especial. Você está meio estranho, Valter. Tem passado bem? _ perguntou Tiago.


_Olha, Tiago, não tive tempo de te avisar.


_Avisar do quê?


_Ela chegou de surpresa, pouco antes de vocês.


_Ela, quem? Espere, não me diga que...


_... Exatamente. _ disse Valter _ Ela disse que não viria, que permaneceria no campo, cuidando dos seus cães, mas apareceu de repente, sem avisar a ninguém.


_Confusão à vista. _ disse Tiago.


 


Com efeito, em seguida ouviram o “tec-tec” de passos caninos, logo sucedidos pela figura atarracada e mal-humorada do buldogue preferido de Guida, o “Estripador”. Atrás dele, a roliça figura de Guida, a irmã de Valter.


Alta e gorda como o irmão, Guida Dursley vivia no campo, em uma fazenda na qual mantinha um canil bastante afamado, onde criava buldogues. Seu preferido era “Estripador”, um dos mais velhos e que no passado já pregara muitos sustos em Harry e Algie. Era bem intolerante quanto à magia, muito mais do que Valter já havia sido, tendo estado a um passo de ser transformada em um Escargot por Lílian, certa vez (LER “HARRY POTTER E A AURORA DOS INSEPARÁVEIS”). Apesar disso, possuía um cartão de acesso Nível 1, devido ao parentesco paralelo com Lílian.


_Ora, estão aqui. Não imaginava que tivessem vindo, pois não vi as vassouras. _ disse ela, em tom de zombaria.


_A bagagem não coube nelas, então viemos com nossa BMW. Ela está estacionada lá fora. _ disse Tiago, aparentando bom humor com o comentário de Guida, mas também dando uma alfinetada. Ela não admitia que bruxos tivessem desenvoltura com coisas trouxas, ainda mais que o marido da irmã de Petúnia, a quem ela sempre julgara um desocupado, fosse proprietário de uma SUV de luxo _ Aliás, para nós também foi uma surpresa. Valter disse que você não estava passando muito bem da coluna e havia resolvido ficar na fazenda.


_Ah, melhorei e vim fazer uma visita-surpresa ao meu irmão e cumprimentar sua esposa pelo aniversário. _ disse Guida.


 


Valter abriu a garrafa de uísque de fogo e serviu três doses.


_Que bom saber que suas opiniões negativas quanto às coisas bruxas não abrangem nossas bebidas, Guida. _ disse Tiago, vendo que Guida sorvia a bebida fumegante, com expressão de quem estava se deliciando.


_Até que vocês têm alguma coisa de bom, Potter. Mas magia é algo que ainda não me passa muito bem na garganta. Principalmente porque vocês devem viver de forma despreocupada, com a magia lhes provendo tudo.


_É aí que você se engana, Guida. _ disse Tiago, tomando um pequeno gole _ Não há muita diferença entre bruxos e trouxas, na verdade. Existe gente boa e gente ruim e a maioria de nós também tem de trabalhar para viver. Nem todos são cheios do ouro, salvo algumas famílias.


 


Petúnia e Lílian chamaram todos para o jantar. Os garotos desceram do quarto, onde estiveram entretidos com o console de videogame de última geração que Duda havia ganho de aniversário. Quando Harry e Algie viram que Guida estava ali, disfarçaram uma careta de desagrado. “Estripador” rosnou para eles, mas alguma coisa no olhar de Harry fez com que o cão logo se calasse. Afinal, para quem havia enfrentado por duas vezes o Lorde das Trevas, um buldogue mal-educado não era nada.


 


O jantar correu de forma tranqüila, embora Guida sempre tentasse fazer alguma espécie de crítica à Bruxidade, no que era educadamente ignorada ou então recebia uma resposta polida, mesmo que estivesse se mostrando cada vez mais desagradável. Depois de brindarem ao aniversário de Petúnia e comerem o delicioso bolo, Harry e Lílian ofereceram-se para ajudar Petúnia com a louça, enquanto Valter, Tiago e Guida estavam no café e no Brandy. Guida acendeu um cigarro, o que provocou uma leve expressão de desagrado em Tiago.


_Isso faz mal, Guida. _ disse Valter _ Eu mesmo estou parando com os charutos.


_No que você faz muito bem. _ disse Tiago _ Embora muitos bruxos gostem e consumam tabacos bem fortes, eu nunca fui adepto de fumar, na minha profissão não é bom. Temos de manter um bom preparo físico e o tabaco não ajuda em nada, muito pelo contrário.


_Trabalho? _ perguntou Guida, tragando e exalando a fumaça no ar, formando uma pequena nuvem _ Se você já não tivesse mencionado o fato de ser uma espécie de detetive bruxo, eu pensaria que os bruxos não precisassem trabalhar, que tudo fosse provido pela magia.


_Nem tudo, Guida. _ disse Tiago _ Há limites, mesmo para a magia. E é muito bom, pois do contrário todo bruxo seria preguiçoso e milionário, desequilibrando a economia bruxa, com reflexos até mesmo na economia trouxa. Não é possível, por exemplo, conjurar dinheiro, ele tem de ser ganho com trabalho. E estou admirado de você, que sempre se mostrou tão intolerante com a magia, desde que soube que Lílian e eu éramos bruxos, estar tão interessada em detalhes do nosso mundo.


_Mera curiosidade, Potter. Não tenho o menor interesse em penetrar mais do que o necessário. Tanto que o cartão que recebi é Nível 1, para mim basta saber que vocês existem e conhecer alguns, que até já compraram cães do meu canil. Mas você não me parece do tipo que é adepto do trabalho pesado.


_Temos uma boa situação, graças à cerâmica de Godric’s Hollow, que pertence à família há séculos e que administramos. _ disse Tiago, meio incomodado com a grosseria de Guida _ Quanto ao meu trabalho, realmente sou uma espécie de detetive bruxo, mas não é muito bom comentar, por questões de segurança. E Lílian é Medi-Bruxa, o equivalente de um médico trouxa, atendendo em um hospital, o St. Mungus.


_Não imaginava que vocês ficassem doentes. _ disse Guida, servindo-se de mais um pouco de Brandy _ Pensei que a magia curasse tudo.


_Mas nem todos têm conhecimento de Feitiços de Cura e Poções Medicinais, Guida. _ disse Lílian _ Para isso é necessário uma formação superior de, no mínimo, três anos.


Já meio embriagada, Guida continuava disparando suas farpas (“É hoje”, pensou Tiago, adivinhando onde ela queria chegar). Valter estava preocupado, pois a irmã nunca havia ido tão longe. Ele também estava admirado com a paciência de Tiago e Lílian, que mantinham a calma ante os comentários desagradáveis dela. Até que chegou um momento no qual Lílian achou melhor intervir.


_Guida, creio que o uísque de fogo do aperitivo e o Brandy depois do jantar lhe subiram um pouco. _ disse ela _ Temos uma coisa muito boa para isso, uma Poção Para Curar Bebedeiras. Um gole e você estará nova em folha.


_Acho melhor aceitar a oferta de Lílian. _ disse Valter _ De outro modo, a dor de cabeça será certa.


_Está insinuando que estou embriagada, Valter? _ perguntou Guida, com a voz meio pastosa.


_Creio que nem é necessário, Guida. _ disse Petúnia _ Acontece que tanto o Brandy quanto o uísque de fogo são de muito boa qualidade, então a gente pode perder a medida, sem perceber.


_Vou aceitar, então. _ disse Guida, tomando um gole. Os sinais e sintomas de embriaguez passaram, instantaneamente. Pena que os comentários venenosos dela não foram embora junto _ Então, com a magia para facilitar suas vidas, vocês acabam ficando mais folgados.


_Não é assim Tia Guida. _ disse Harry, que havia ficado em silêncio até aquele momento _ Papai deixou bem claro que as coisas são bem semelhantes à sociedade trouxa. Também temos pobreza e até miséria, com muitos bruxos sem-teto que só não passam fome graças à magia.


_O que reforça minha idéia de que vocês são um bando de aberrações, que usam a magia para substituir um ofício decente.


_Tia Guida, com todo o respeito, se a senhora ainda estivesse embriagada, teria uma desculpa para falar assim. _ disse Harry _ Mas agora eu acho que está nos ofendendo, deliberadamente. E isso não é bom.


O tom com que Harry disse as últimas palavras foi educado, mas não disfarçava que a situação não estava boa. Principalmente porque a taça de Brandy que Guida havia usado trincou, sem razão aparente. Aquilo não passou despercebido a Valter, que revirou os olhos para o alto, rezando para que a irmã se contivesse, mas tudo indicava que seria em vão.


_Guida, acho que você está indo longe demais. Posso não ser um dos maiores admiradores da magia e meu relacionamento com Tiago sempre foi meio tenso até há pouco tempo atrás. Mas nós nos aceitamos, eles são nossos convidados e pega mal você agir assim. _ disse ele.


_Ora, Valter, não pensava que você se importasse tanto.


_Acontece que Valter é civilizado. _ disse Lílian, começando a se cansar da venenosa verborragia de Guida _ Ele entende que não aceitar a Bruxidade não irá fazer com que ela deixe de existir.


_Mamãe está certa, Tia Guida. Criticar o que não se conhece ou é medo ou é preconceito. _ disse Algie.


_Ora, ora. Em outros tempos, pirralhos que se metessem a argumentar com adultos levariam um belo corretivo.


_Então, ainda bem que esses tempos medievais já ficaram bem longe, no passado. _ disse Harry.


_É como eu acabei de dizer. _ disse Guida _ Mas já era de se esperar, não pelo lado paterno, que já sabemos como é. Mas devo dizer e você certamente irá me desculpar, Petúnia, pois Lílian é sua irmã e não deve ser agradável ouvir, mas eu já notei que entre as pessoas é muito semelhante ao que ocorre com os cães. Quando o sangue de um filhote é ruim, geralmente vem da mãe.


 


Tiago, Lílian, Harry e Algie se seguraram, Valter preparou-se para repreender a irmã, Petúnia e Duda ficaram brancos.


_Tia Guida, eu acho que a senhora já está pegando pesado e sem necessidade. _ disse Duda.


_Acho que não, Duda. Veja só, o comportamento dos seus primos comprova a minha tese. Relaxados, insolentes e desrespeitosos. É o resultado de uma educação errada, bem diferente da que você recebeu. _ disse Guida.


_Agora já chega, Tia Guida. _ disse Harry, começando a perder a calma com a tia _ A senhora está passando dos limites.


_Viram só? Isto prova o que eu digo. _ disse Guida, apontando o dedo para Harry _ Escute, garotinho malcriado, se sua mãe não lhe deu educação, eu me ofereço para proporcionar o que falta.


 


Algumas coisas aconteceram. A taça trincada acabou de quebrar, uma atmosfera elétrica percorreu a sala, os cabelos de Harry ficaram mais arrepiados, seus olhos brilharam e algumas faíscas douradas estalaram ao seu redor.


_Seu showzinho de fogos de artifício não me assusta, Harry Potter. E fique sabendo de uma... _ e não completou a frase.


 


O dedo que Guida mantinha apontado para Harry começou a engrossar e aumentar, seguido pela mão, punho e braço, completado pelo corpo. Guida, que já era roliça, ia ficando redonda como um balão e começou a flutuar. Os botões do seu Tailleur foram projetados à distância, como balas, fazendo com que todos se abaixassem para que não fossem atingidos.


_Harry teve uma emissão mágica involuntária! _ exclamou Algie;


_Aquelas descargas de magia bastante fortes, que fogem ao controle do bruxo? _ perguntou Valter, admirado e assustado.


_Sim. Vou tentar reverter. _ disse Tiago, sacando a varinha e apontando-a para Guida _ Não estou conseguindo! As emissões costumam ser muito concentradas e a reversão é difícil!


_Tiago, o colar de Guida! _ exclamou Lílian, também sacando a varinha e lançando um feitiço _ “Liberum”!


O feitiço de Lílian Potter abriu o fecho do colar de pérolas de Guida e ele se soltou, antes que ela fosse estrangulada pela sua própria jóia. A descarga de energia exauriu Harry, que ia caindo. Duda e Algie seguraram o garoto e logo colocaram-no sentado em uma poltrona.


 


_Valter! Tiago! Façam alguma coisa! _ exclamou Guida, flutuando pela sala, enorme e redonda como um grotesco dirigível desgovernado. Mas o mais sério ainda estava para vir. Vendo que Harry estava meio pálido, Petúnia abriu uma janela para que o ar fresco reanimasse o sobrinho. A corrente de ar formada acabou impulsionando o Balão-Guida em direção à porta que dava para o solário e o jardim dos fundos.


 


_Essa não! _ exclamaram Tiago e Valter, correndo atrás da gorda flutuante, tentando impedi-la de voar para longe. Conseguiram segurá-la, cada um por um braço, mantendo-a parada, com dificuldade _ Vamos segurar você, Guida!


_Nem pensem em soltar! _ Mesmo naquela situação Guida ainda conseguia ser desagradável, só que ainda não era tudo. Perturbado pela confusão, “Estripador” avançou e Valter sentiu uma dor aguda na perna, onde o velho buldogue mordeu.


_AAAAIIIIEEEE!!! ME SOLTA, SEU BULDOGUE ESTÚPIDO!! _ exclamou Valter _ Esse cão está velho, mas ainda está mordendo bem forte!


 


Com a dor da mordida, involuntariamente Valter largou o braço de Guida. Esta começou a subir, levando Tiago consigo. Ao mesmo tempo, Lílian usava um Feitiço Morpheus para adormecer “Estripador” e tirar a perna de Valter de suas mandíbulas.


 


Guida subia cada vez mais, com Tiago dependurado em seu braço.


_Guida, vou soltá-la e pedir ajuda especializada.


_O quê?!


_O Departamento de Reversão de Feitiços Acidentais pode fazê-la voltar ao normal em um instante. Só que não posso chamá-los enquanto estiver te segurando. Terei de soltar.


_Tiago Odisseus Potter, não se atreva a me largar!


_Até mais, Guida. _ Tiago soltou-se e começou a cair. Próximo ao solo, freou sua queda com um “Aresto Momentum” e, ao aterrar suavemente, sacou do bolso do Blazer um celular tecnomagizado, novidade entre os bruxos _ Alô, Fontaine?! Que bom que é você no plantão! Aqui é Tiago Potter, preciso rapidamente de um grupo de Reversão de Feitiços Acidentais em Little Whinging, nas proximidades da Rua dos Alfeneiros, Nº 4. Uma emissão mágica involuntária de Harry fez com que a tia virasse um balão e saísse flutuando. Já está mandando alguém? Excelente, muito obrigado. Gente, já estão mandando um grupo e logo vão trazê-la de volta ao chão e desinflá-la.


_Que bom. _ disse Valter, enquanto Lílian tratava da mordida do buldogue neurótico _ Como foi que isso aconteceu?


_As emissões mágicas involuntárias geralmente ocorrem durante a infância, quando o bruxo ainda não tem controle sobre seus poderes. _ disse Lílian, limpando o ferimento e colocando uma compressa com Poção Antisséptica _ Mas elas podem ocorrer em qualquer idade, em situações de medo, tensão, paixão, prazer, enfim, emoções fortes. “Cautherium, Hemostatikós”! Pronto, o ferimento não vai deixar marca nenhuma.


_E tivemos emoções fortes mais do que de sobra hoje. _ disse Valter, suspirando _ Por mais que não sejamos chegados em magia, Guida passou e muito dos limites. Para que Harry explodisse daquele jeito, a coisa foi feia.


_Sinto pelo que fiz, Tio Valter. _ disse Harry, que já se recuperara e viera até o jardim _ Ela vai se recuperar?


_Sim, filho. _ disse Tiago _ Um grupo de Reversão de Feitiços Acidentais já está em ação.


_Que bom. Olha, papai, eu não estou me sentindo muito bem. Acho que a descarga de energia mágica foi muito intensa.


_Você quer que o levemos para Londres? _ perguntou Lílian, preocupada com o filho _ Podemos ir ao St. Mungus.


_Não precisa, mamãe, muito obrigado. Não quero atrapalhar a noite de vocês, sei que não se viam há algum tempo. Posso ir até um lugar tranquilo e pegar o Nôitibus Andante, ele chega imediatamente após ser chamado.


_Tem certeza, Harry? _ perguntou Petúnia _ Acha que é seguro sair à noite, mesmo que seja aqui em Little Whinging?


_Sim, Tia Petúnia. Vou até o Playground da Rua das Magnólias, que fica vazio a esta hora. Não haverá problema algum.


_Então está bem, filho. _ disse Tiago _ A gente se encontra no Caldeirão Furado, mais tarde.


_OK, papai. Tia Petúnia, feliz aniversário e tudo de bom. Tio Valter, novamente peço desculpas. Gostaria de não ter feito o que fiz.


_Tudo bem, Harry. Segundo seu pai, ela vai se recuperar totalmente. Ela realmente exagerou, conseguiu ser muito pior do que eu já fui. Além disso, aquele velho buldogue dela está ficando cada vez mais neurótico, babão e insuportável.


 


Harry saiu, em direção ao Playground, respirando o ar fresco da noite e pensando no que houvera. Olhando para cima, ainda viu Guida flutuando, ao longe (“Tomara que revertam logo o feitiço ou ela poderá até mesmo atrapalhar o tráfego aéreo”, pensou o bruxinho). Seguiu e virou à esquerda, entrando no Crescente das Magnólias, uma rua curva que terminava na Rua das Magnólias.


O garoto estava preocupado com várias coisas além de ter inflado a tia. As aulas estavam para começar, as Trevas poderiam tentar uma nova investida, mas o que mais o afligia era que, mesmo que a emissão tivesse sido involuntária, de alguma forma ele gostara um pouco do que havia feito. Bem, não que a tia não tivesse merecido, de todas as vezes em que ela ofendera os bruxos, aquela havia sido uma das piores. Mas seria algum “Traço Voldemort”, resultante da ligação mental que ae estabelecera entre eles? O que dissera a ela era bem certo (“Realmente, se Tia Guida fosse uma bruxa seria das Trevas, uma bela parceira para Voldemort... não, nem mesmo o velho Cara-de-Cobra seria capaz de suportá-la”, pensou o bruxinho).


Ainda absorto em seus pensamentos, Harry chegou ao Playground e se preparou para tirar a varinha do bolso da jaqueta e chamar o Nôitibus quando coisas estranhas começaram a acontecer. Não havia vento, mas os balanços começaram a se mover e uma energia perpassava o ar, semelhante a quando um bruxo poderoso se aproximava ou quando um feitiço potente estava para ser lançado.


Imediatamente, Harry sacou a varinha e colocou-se em posição de defesa, procurando ampliar seus sentidos aguçados pelo Ninjutsu o máximo que podia. Mas o que ocorreu foi algo totalmente inesperado.


Uma impressionante criatura de quatro patas, um peludo cão negro de altura e físico intermediários entre um Mastim Napolitano e um Dogue Alemão, com faiscantes olhos amarelos que refletiam a luz do poste, saiu de trás de uma cerca viva e aproximou-se, com os dentes arreganhados parecendo algo entre um sorriso e uma careta de ameaça. Com o susto, Harry caiu sentado na calçada e seu braço direito se elevou.


 


No mesmo instante, ouviu-se um estalo e o Nôitibus Andante, um “Triple-Decker” roxo, surgiu na rua, bem à frente de Harry. A porta se abriu e o cobrador, um jovem bruxo de uniforme e quepe, portador de uma acne que só não era pior graças ao uso de loção de seiva de bubotúberas, apareceu, começando seu anúncio ensaiado.


_Boa noite. Bem-vindo ao Nôitibus Andante, o transporte para bruxos e bruxas perdidos... ei, você não é Harry Potter? Estou reconhecendo sua cicatriz. Eu sou Stanislau Shunpike, Lalau, o cobrador. Para onde você quer ir?


_Para o Caldeirão Furado, em Londres. _ respondeu Harry.


_OK, Rua Charing Cross, lá vamos nós, então. _ disse Lalau, vendo que Harry olhava com atenção para o local onde vira o enorme cão, que já não estava mais lá _ O que você está olhando, Harry?


_Nada, Lalau. _ respondeu Harry, agora em dúvida sobre se realmente vira o descomunal cachorro ou se não passara de uma ilusão, talvez o garoto ainda não estivesse totalmente recuperado da intensa descarga de magia.


_Vamos indo, pode embarcar. _ disse o jovem cobrador.


 


Harry entrou no Nôitibus, cujos três andares eram providos de poltronas durante o dia e de camas durante a noite. Ernesto Prang, o motorista, usava óculos de lentes grossíssimas e mancava de uma perna, lembranças amargas dos Dias Negros, quando fora torturado pelos Death Eaters.


_OK, jovem Harry Potter, boa noite. _ disse Ernesto _ Indo para Londres?


_Sim, Ernesto. As aulas estão para começar e preciso ir ao Beco Diagonal para adquirir os materiais para o terceiro ano.


_OK. Então, vamos lá. _ disse o motorista.


 


BANG! O Nôitibus Andante desaparatou de Little Whinging e seguiu sua rota, deixando os bruxos em suas paradas. Naquele horário, ninguém mais estava embarcando, já era meio tarde. Harry serviu-se de um chocolate na máquina e sentou-se na beirada da cama que Lalau lhe indicara.


_É, parece que Sirius Black não constituiu exceção à família e revelou-se partidário das Trevas. _ disse Lalau, que tinha nas mãos a edição daquele dia do “Profeta Diário”, com a foto-bruxa de Sirius na primeira página.


_Não sei, Lalau. _ disse Harry _ Eu ainda acho que meu padrinho é inocente.


_Difícil, Harry, difícil. _ disse Lalau, enquanto o ônibus sacolejava com as desaparatações e o bruxinho se segurava, tentando não derrubar o chocolate, quase no final _ O passado dos Black, salvo algumas exceções, é negro como seu nome. Tirando Andrômeda, Alphard e uns poucos, todos os outros são das Trevas, principalmente aquela maluca da prima de Sirius, Bellatrix.


_Nem fale. Aquela lá está no lugar que bem merece, embolorando em Azkaban. _ disse Harry, terminando o chocolate.


_Mas o fato de Sirius ter fugido de Azkaban vai fazer com que o considerem ainda mais culpado, principalmente porque nunca alguém tinha conseguido tal coisa. _ disse Ernesto, puxando uma alavanca e fazendo o Nôitibus estreitar e passar no exíguo espaço entre dois Double-Deckers vermelhos normais. Mesmo que Harry já tivesse viajado antes no Nôitibus, aquelas maluquices sempre deixavam o garoto entre admirado e assustado. A magia do veículo era mpressionante, pois os objetos e outros veículos desviavam-se dele, ele se estreitava, se achatava e se torcia para passar pelos lugares _ Podem achar que ele usou Artes das Trevas muito poderosas para passar pelos Dementadores.


_De qualquer forma, não creio de forma alguma que Sirius Black seja partidário de Lord Voldemort. _ disse Harry, enquanto Lalau ficava branco e Ernesto quase perdia a direção do Nôitibus.


_Cara, não diga o nome dele! _ disse Lalau _ Acho que envelheci uns dez anos só com o susto.


_Sinto muito. _ disse Harry _ É que lá em casa nós nunca tivemos medo de dizer o nome do velho Cara-de-Cobra.


_Nem todos são como você, que não tem medo de dizer o nome daquele monstro, Harry. _ disse Ernesto _ E alguns, como eu, que sofreram na carne a crueldade dele e dos Death Eaters têm motivo de sobra para não quererem ouvi-lo, tanto por medo quanto por raiva. Bem, já estamos chegando ao Caldeirão Furado.


Com efeito, o Nôitibus seguia pela Rua Charing Cross, até estacionar na frente do hotel-restaurante bruxo, entre uma pequena livraria e uma loja de discos usados. Mal Harry desceu e dirigiu-se à porta, para tocar a campainha, o Nôitibus desaparatou com um estalo e a porta se abriu, dando passagem ao calvo e curvo proprietário, Tom.


_Senhor Potter, eu já estava à sua espera. Seu pai entrou em contato comigo, dizendo que o senhor chegaria pelo Nôitibus. Vamos, entre. Há alguém aqui que deseja vê-lo. _ disse Tom.


_Boa noite, Tom. Alguém está à minha espera, você disse?


_Sim, mas não é a jovem Srta. Weasley, como o senhor gostaria. Vamos até uma das salas reservadas.


 


Na sala reservada, a pessoa que esperava por ele estava sentada em uma poltrona e cumprimentou o bruxinho, assim que ele entrou.


_Boa noite, Harry. Deu tudo certo com sua tia. O feitiço foi revertido, com alguma dificuldade, a sua Emissão Mágica Involuntária foi bastante forte. Mas a Srta. Dursley está bem e nós julgamos mais conveniente que sua memória fosse apagada e seu cartão de acesso fosse recolhido. Guida Dursley não é a pessoa mais apropriada para ter conhecimento do nosso mundo _ trajando seu costumeiro terno risca-de-giz, ali estava o Ministro da Magia, Cornelius Oswald Fudge _ Você deve estar se perguntando por que eu estou aqui.


_Na verdade sim, Ministro. _ disse Harry _ Creio que não foi só para me comunicar sobre o sucesso na reversão do feitiço de Tia Guida, não é?


_Não, Harry. Quem dera fosse só isso. _ disse Fudge, com um suspiro, fazendo um gesto para que o garoto se aproximasse _ Sente-se, Harry. Tome uma xícara de chá.


Harry sentou-se em uma poltrona, em frente ao Ministro e serviu-se de uma xícara de chá e de uma torrada.


_Acho que já sei, Ministro. O senhor deve estar falando de Sirius.


_Exato, Harry. Você sabe que ele conseguiu fugir de Azkaban, foi o primeiro que conseguiu. Não há outra explicação a não ser que ele tenha usado Artes das Trevas. Só assim para passar pelos Dementadores.


_Sinto muito, Ministro, mas não acredito. _ disse Harry, depois de tomar um gole de chá _ Aquela entrevista do senhor com Rita Skeeter, com todo o respeito, me deu vontade de rir.


_Sei que você gosta de Sirius, que ele é seu padrinho, amigo de infância do seu pai, mas é um Black e o sangue pode ter falado mais alto. Tudo indica que ele pode estar atrás de você.


_Que absurdo é esse, Ministro?


_Se você seguir o meu raciocínio, verá que não é tão absurdo assim. Você-Sabe-Quem atacou sua família porque o Fiel do Segredo os traiu.


_Eu soube que Sirius seria o Fiel mas, na última hora, meus pais e ele escolheram outro, para despistar Voldemort e seus Death Eaters... desculpe, Ministro.


_Evite falar esse nome, Harry. Não é boa coisa.


_Nós nunca tivemos medo, lá em casa.


_Ah, Harry, a maioria da Bruxidade ainda se borra, mesmo que ele esteja desaparecido há doze anos (Harry ainda ficava admirado de como o Ministro da Magia se recusava a admitir que Voldemort estava tentando retornar e que, por duas vezes, quase conseguira. Só a coragem de Harry e dos Inseparáveis havia evitado o pior). Mas no julgamento você viu que a tese da Acusação, de que Sirius não havia delegado o papel de Fiel do Segredo a outro, mas sim ele próprio assumido essa incumbência e depois revelado o segredo a Você-Sabe-Quem. Tudo indica que Sirius era do Círculo Interno da Ordem das Trevas.


_Absurdo, Ministro. _ disse Harry _ Se assim fosse, onde estaria a Marca Negra? Já vi Sirius de mangas curtas por várias vezes e aquela marca não pode ser disfarçada, quer por maquiagem quer por feitiços.


_Sua família seria o “Cordeiro de Sacrifício” de Sirius, para que ele finalmente recebesse a Marca Negra, pelo que deduzimos depois de analisar as provas que nos entregaram. _ disse Fudge _ O único que descobriu tal fato foi o outro bruxo, aquele que seria o Fiel do Segredo. Tanto que Sirius foi atrás dele para silenciá-lo e parece que conseguiu.


_Como assim? _ perguntou Harry, que não sabia daquele detalhe.


_Os primeiros a chegar aos destroços da Mansão Potter foram Hagrid e Sirius. Eles tiraram vocês de lá e os levaram para o St. Mungus. De lá, Sirius foi atrás do outro bruxo, pois vendo que o atentado não havia acabado com vocês, seu disfarce corria risco de ser descoberto.


_Torno a dizer que acho um absurdo, Ministro. _ disse Harry.


_Mas o fato é que Sirius fugiu de Azkaban, o que não confere a ele nenhuma presunção de inocência. E nós vimos o que aconteceu com o Pet...


 


A porta da sala reservada se abriu e os Potter entraram.


 


_Harry, como você está? _ perguntou Lílian _ Boa noite, Ministro. Ao que devemos a visita?


_Vim ver Harry e avisá-lo para tomar cuidado. Sirius pode estar atrás de vocês e, principalmente, dele.


_Essa história de novo, Ministro? _ perguntou Tiago _ Sirius Black é inocente.


_Mas a fuga e as frases que ele repetia, sobre ter de pegar alguém que estaria em Hogwarts, nos fazem desconfiar justamente do contrário. Bem, eu os preveni. Espero que pelo menos procurem tomar cuidado, principalmente Harry e Algie que estarão longe, em Hogwarts.


_Não se preocupe, Ministro. _ disse Harry _ Qualquer lugar onde Alvo Dumbledore estiver será o mais seguro do mundo.


_Espero que esteja certo, Harry. Eu realmente me preocupo com sua segurança. _ disse Fudge _ Boa noite.


_Boa noite, Ministro. _ os Potter despediram-se e foram para seus quartos.


Harry e Algie revisaram a bagagem e prepararam-se para dormir, prontos para um dia movimentado em busca do material para aquele ano letivo.


_A viagem foi boa, mano? _ perguntou Algie.


_As sacudidas de sempre, Algie. _ respondeu Harry _ Mas todos estão achando que Sirius é culpado.


_Papai diria que Fudge está obcecado em negar que Voldemort ainda está vivo.


_Como se não soubéssemos e como se ele não tivesse tentado retornar por duas vezes.


_E só não conseguiu graças aos Inseparáveis, principalmente você, mano. No final foi sempre você quem teve de encarar o Cara-de-Cobra pessoalmente.


_Mas o que será que deu na cabeça de Sirius em fugir antes de julgarem seu recurso? E por que ele ficava repetindo algo sobre ter de ir a Hogwarts?


_Não sei, Harry. _ disse Algie _ Só sei que tudo isso só serve para que a Bruxidade em peso o considere culpado. Mas eu estou certo de que ele não será pego facilmente.


_Tem razão, Algie. _ disse Harry, bocejando _ Com a experiência de combate dos Dias Negros, ele só será pego se quiser. Vamos dormir, amanhã teremos muito o que fazer.


_É isso aí, mano. Boa noite.


_Boa noite, Algie. _ e Harry apagou a luz do quarto.


 


Deitaram-se e logo Algie estava dormindo. Quanto a Harry, este demorou um pouco mais para pegar no sono. Pensava no enorme cachorro negro, ainda em dúvida se havia sido ilusão ou verdade. Só que aquilo lhe lembrava antigos presságios de desgraça, só que não lembrava direito qual. Bem, ficar pensando naquilo não iria ajudar o bruxinho a dormir. Começou a pensar em Gina, a quem veria no dia seguinte e aquilo o ajudou a relaxar. Dali a pouco, Harry Potter estava dormindo.


 


E ele teria de estar bem descansado, pois aquele ano prometia novas emoções e, quem sabe, outros perigos.

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