Capítulo único



 


Ela veste branco


(pov Severus Snape)


 


Estou perto, mas de seu calor sempre estive longe,


Quando vagueia devagar e entre as árvores se esconde.


Afasta-se a minha pequena, como dourada estrela fugaz


Que à noite etérea não anseia pertencer mais.


 


É manhã e Luna desfruta do vaivém do balanço,


E meu olhar fixo segue seu ininterrupto movimento.


Estendo minha mão trêmula, só que nunca a alcanço,


É guerra perdida querê-la, é este também meu tormento.


 


Se o infalível destino está mesmo em nossas mãos,


Por que mal posso senti-lo eu com meu tato?


Por que a vida é um amontoado de caminhos vãos,


Para guiar-nos a um vil álibi, em anonimato?


 


Acostumei-me a vestir novos disfarces todos os dias,


Mas cada um deles cai ao observá-la do meu abrigo.


Tortura-me pensar se ela me é alívio ou outro castigo


A este condenado a idealizá-la perpetuamente em poesias.


 


Se o céu acima for de fato o limite, que então farei eu?


Se tem passe-livre neste mesmo céu, por que se recolheu?


Não tomo por estranha ou aluada a minha eterna menina,


Há como enxergar como diminuta tal criatura divina?


 


Ela veste branco e tem olhar cândido, mas anjo não é,


Pois indigno sou para mirá-la através do portão do Paraíso.


É ela fada ou uma doce criança em corpo de mulher


Que me arrebata a alma retalhada sem sobreaviso?


 


Sempre peregrinei só, ditando o ritmo de cada braçada,


Navegando no mar da incerteza, sem ondas de liberdade.


Em marés de memórias, sonhei que ela era minha metade,


Perdido e ascético, diante da sorte para sempre lançada.


 


Enclausura-se, imaginando-se só, sem deixar a porta aberta.


Acende a vela, mas por que sopra a chama que desperta?


Malmequer – pois flor em solo estéril tampouco nasce.


Jamais me quis – a chama ela deixou que se apagasse.


 


O sono é eterno sob o véu de estrelas, mas é dia,


E estou desperto, padecendo como a suave melodia


Que anunciava o raiar de mais esta fascinação pueril:


Falso alívio a meu peito, combustível à ilusão febril.


 


Meus joelhos fraquejam, dobram-se contra o chão.


É ainda dia, por que me rondas então, ó escuridão?


Arranho a pena no papel, e as lágrimas são a tinta


Que consome em desespero esta paixão faminta.


 


Sou primogênito do inverno, ela a é dama do outono


Permitindo à folha cair e que ruja o frio do abandono.


Mas – oh! – o frio sou eu, e o abandono em verso,


Que não ruge, silva ou uiva, como o vento obsesso.


 


Meu castelo é de areia, que a brisa pode levar,


Mas minha devoção é perene e jamais morrerá.


E rimo outra vez, porque de rima e dor vive este poeta,


Assim que a rima cessa, porém, a dor não se aquieta.


 


Abro meus olhos, está a tempestade indo embora?


Estou enlouquecendo, ou meu nome ela chama agora?


Devo estar, pois, ao acostumarem meus olhos com a luz,


Noto seu vestido com alças caídas, revelando os ombros nus.


 


Neste meu estado de espírito, o silêncio é quase crime,


Assim como deixar de beber da fonte da vaga sabedoria


E passar a se embriagar pela boca que me sorria,


Encontrando redenção naquele ato tão sublime.


 

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Comentários (1)

  • Amanda Regiane

    Ameei Thai! É a primeira vez que leio sobre o shipper, e adorei.Sou fã da sua escrita e você sabe disso! Parabéns

    2013-09-19
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